sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Deus e Alá, nos Livros e na Vida - Seminário em Oxford


Por uma graça divina, minha vida acadêmica e profissional já me permitiu participar de seminários e debates em todos os continentes e sobre assuntos diversos, relacionados a economia, a relações internacionais e a religião.

Seguramente, para mim, seminários da disciplina economia são os mais inúteis, a economia se especializou demais, se distanciou demais da realidade e do que é moral, não consegue prover ideias novas, e os economistas ficam disputando quem é o que mais se perde em modelos econômicos inúteis.

Seminários de religião são, para mim, os mais interessantes, mas também os mais sensíveis e perigosos. O assunto é muito delicado. E tenho uma regra: quanto menos ateus tem um seminário, mais o seminário fica interessante. O ateísmo é uma religião que odeia e tenta diminuir todas as outras religiões. O seminário sobre religião é o único que pode ter maioria dos palestrantes que odeia a própria disciplina.

Participei nessa semana de um seminário sobre religião na famosa universidade de Oxford.

Apesar do famoso local do seminário, foi talvez um dos seminários mais fracos sobre religião que já participei, tinha ateu demais. Talvez o seminário só perca em termos de fraqueza para o que fui na Suécia, na universidade de Uppsala. Mas acho que não. Interessante como renomadas instituições estão devastadas intelectualmente em termos de teologia.

Quando eu participo de um seminário, eu realmente procuro aprender com os tópicos que estão sendo falados pelos palestrantes, assim costumo fazer perguntas e dar sugestões.

Vou fazer aqui um pequeno resumo sobre alguns palestrantes do seminário em Oxford. Não assisti a todas às palestras, pois tive um compromisso em parte do tempo, e tive que voltar ao Brasil no último dia.

A minha palestra foi escalada para o primeiro dia. Isso é realmente perigoso em um seminário sobre religião, muito especialmente quando se vai tratar de Alá. Pode haver muçulmanos agressivos na plateia e você não teve tempo de conhecê-los. Se esses agressivos forem mulheres, você está ainda em pior situação, por ficar mais acuado, pois tem de calibrar sua própria agressividade.

O seminário foi liderado pelo vigário da Igreja Anglicana Brian Mounford. Ele foi educado durante o seminário, como costumam ser os ingleses, mas sua posição de extrema esquerda em alguns temas religiosos ficou clara em alguns momentos.

Aqui vão os resumos críticos das palestras que assisti. Se não quiserem ler sobre todas, sugiro que leiam a minha (número 3) e a última sobre casamento gay.

1) A primeira palestra, de uma professora da Irlanda, tentou conciliar o que se chama de "abordagem de capacidade" (capabilities) com religião. A apresentadora certamente favorece essa abordagem contra religião, especialmente contra a Doutrina Social da Igreja Católica. Essa abordagem de capacidades trata sobre "o que uma pessoa é "capaz de ser" e centra seus princípios em "emoções".
E ela ainda trouxe temas econômicos, dizendo que a desigualdade estava aumentando no mundo.

Na hora das perguntas, eu a lembrei que a Doutrina da Igreja tem como base fundamental a realidade do pecado, o que uma pessoa pode ser depende disso. Ela simplesmente respondeu que levaria meu argumento em consideração (hummm... será?).

2) A segunda palestra, era uma senhora idosa, professora nos EUA. O que ela falou em resumo foi atacar Trump, ele seria um monstro que trouxe o armagedom. Nem lembro direito o tema dela. Bom, bobagem, não merecia comentário sério.

3) Daí, chegou minha vez.

Meu artigo chama-se "God and the Dystopias". Eu considero 4 distopias, livros que prevêem um futuro terrível, e procuro ver onde os 4 autores colocaram Deus nos seus futuros terríveis. Usei os livros de Robert Benson, Aldous Huxley, George Orwell e Boualem Sansal.

Depois de mostrar onde estar ou não estar Deus nesses livros, eu discuti se o Deus cristão é idêntico a Alá. Trago a contribuição de muitos filósofos e teólogos sobre o assunto.

Recebi 4 perguntas ao final. Uma delas queria saber como a teologia pode ter efeito prático. Eu respondi dando o exemplo de políticos que dizem que o Islã é religião de paz, será que esses políticos sabem o que dizem?

Outro disse que o Islã tem muitas seitas e em uma delas Alá pode ser conhecivel. Eu respondi que não conhecia essa seita e isso seria difícil pois Maomé disse que nem mesmo ele veria ou conheceria Alá, quando morresse.

Outro perguntou sobre a importância das distopias para o debate. Eu lembrei o quanto os livros de Orwell e Huxley são usados por estudiosos e políticos nos dias de hoje, para tentar explicar o mundo.

Daí, um muçulmano me disse que apesar de Maomé não ser conhecivel, ele podia senti-lo e ama-lo. Eu disse que sim, mas o fato do homem ser a imagem de Deus no cristianismo faz toda diferença, aproxima Deus do ser humano.

E eu iria provar isso na apresentação desse mesmo muçulmano, apesar de achar que ele não se deu conta no momento.

Na hora do cafezinho, 4 professores me elogiaram e pediram meu artigo. E debatemos mais um pouco.

4) Artigo de uma professora dos EUA sobre a neurobiologia da fé. Questões biológicas. Interessante. Mas eu não tenho conhecimento para avaliar.

5) Artigo de professor americano sobre a tolerância religiosa em Ciro, rei persa, que libertou os judeus e aprovou reconstrução do templo. Bem interessante.

6) Artigo de professora dos EUA sobre a imagem do Bom Pastor, de Jesus Cristo. Bem legal, ela realmente ama essa representação.

Perguntei sobre as imagens de peixe e de pelicano de Cristo. Ela respondeu apenas sobre a do peixe que foi usada por cristãos protestantes americanos no século passado.

7) Professora americana falou da "religião da terra", "espírito das montanhas". Não tenho paciência para isso. Deixei passar.

8) Duas professoras iniciantes dos EUA, falaram de forma muito confusa e totalmente despreparada da relação entre religião e direitos humanos. Um lixo de apresentação. Uma delas falava extremas bobagens, com muita firmeza, parecia um gênio que encontrou a verdade e pode ensinar a todos. Putz. Elas também usaram a tal  abordagem de capacidades.

9) Professor de Hong Kong falou sobre a feiúra e a beleza na arte religiosa. Bem legal. Gostei. Ele exibiu a imagem do Altar de Isenheim.

10) Estudante de PhD dos EUA falou sobre o livro de Crônicas da Bíblia, foi bem interessante. Talvez tenha faltado a ela relacionar com a modernidade.

11) Palestra do muçulmano que me questionou. O artigo dele é uma simples comparação entre um estudioso ocidental e um estudioso muçulmano sobre o meio ambiente. Ele queria dizer que o Islã era melhor pois dizia que a religião prega que o ser humano é administrador da natureza mas também deve cuidar bem dela.

Apresentação boba.

Ao fim, eu disse que a Bíblia, logo em Gênesis, diz que o homem é administrador da natureza e como o homem é a imagem de Deus isso pressupõe que deve cuidar bem da natureza.

Ele não quis comentar meu argumento. Só agradeceu. Ficou feio pra ele na hora.

12) Artigo sobre espiritualidade da peregrinação, de professora americana. Horrível. Ela não falou nem muito do assunto. Em suma ela disse que quem não tem lar se volta contra Deus e atinge nova espiritualidade. Chegou a mencionar a teologia da libertação.

13) Palestra de muçulmano sobre a lei muçulmana contra crimes juvenis. Interessante. Não prestei muita atenção, no entanto, porque ele me pediu para filmar a apresentação dele. Eu estava sentado do lado dele. Mas pareceu-me boa.

14) Palestra sobre o Papa Inocêncio III. Eu achei que a professora dos EUA ia falar de Cruzadas, mas ela falou da relação do papa com os judeus. A palestra não foi tão boa porque ela se vestia de forma muito estranha e tinha um penteado estranhíssimo, além disso ficou segurando um computador enorme e não usou Power Point. Mas foi bem interessante o que ela falou.

Ao final, eu sugeri, em particular, que ela usasse o Power Point e que mostrasse logo no título que não ia falar das Cruzadas. Ela foi bem gentil e agradeceu minhas sugestões.

16) Palestra de uma professora americana de "raízes africanas'. Um desastre, só se aceita aquilo, porque ela exaltava toda hora suas "raízes africanas". Passava 20 minutos falando de coisas diversas, sobre como ela plantava seus próprios vegetais, e outras bobagens. O Power Point era só fotos e ideias de animalismo. Na hora das perguntas, foi uma viagem total em meio a sorrisos para agradar. Precisei de muita paciência para não ir embora.

15) Palestra de professor americano em defesa do casamento gay dentro do cristianismo.

Na verdade, o que ele fez foi pegar um livro de um seminarista gay protestante da década de 50, que foi publicado por conta própria, e fez um resumo.

Eu não teria coragem de fazer isso. É picaretagem demais.

Mas, em suma, ele quis dizer que um seminarista gay escreveu esse livro há bom tempo defendendo o que ele defende agora.

Ele insistiu que o cristianismo deve aceitar os gays e esquecer o foco em procriação, o foco deve ser o amor.

O cara ainda teve a petulância de usar a imagem de Cristo com São João para sugerir que Cristo apoiava os gays.

Nessa hora, eu não aguentei e disse um pouco alto, em inglês: "Não, assim não, aí já é demais."

Na hora das perguntas, começou um forte debate entre eu e ele, que teve de ser interrompido pelo vigário anglicano.

Eu comecei dizendo: "Você sabe que o pecado do ato homossexual é um dos que clamam aos céus por vingança, você sabe a história de Sodoma, você sabe que os católicos acreditam nas visões dos santos. Um desses santos, Santa Catarina, falou com Deus, e Ele disse que o ato homossexual era tão grave que até o demônio tinha nojo. Então, pergunto se o seminarista do livro confrontou as ideias dele com as da Bíblia."

Ele não me respondeu, começou a falar  que a Igreja Católica era contra a usura e agora é a favor.

Eu disse: "Usura? Nós não estamos falando disso, e perguntei sobre o seminarista de novo"

Ele se enrolou, falou que a Igreja apoiava a escravidão.

Eu disse novamente que esse não era o assunto, e fiz novamente minha pergunta.

Daí, o vigário interveio dizendo que era melhor parar. Mas, para minha raiva, o vigário disse que o cardeal Newman, que era anglicano e virou católico, defendia o desenvolvimento da doutrina e assim a Igreja Católica ainda iria aceitar o casamento gay e a contracepção.

Minha vontade, era simplesmente dizer que Newman não saiu da Igreja Anglicana para a Católica atrás desse tipo de desenvolvimento. E que a teologia dele de desenvolvimento da doutrina não era assim.

Mas se eu fizesse isso corria o risco do simpósio virar um caos. Fiquei quieto e deixei pra lá, achei que já tinha mostrado meu ponto sobre casamento gay.

É isso, amigos, uma guerra.

Finalmente, acabo de chegar de volta ao Brasil, e como saiu o acordo do Brexit hoje, resolvi acessar o site do The Telegraph para ler sobre o assunto. A capa é sobre Brexit, mas havia um artigo que me lembrou a educação que se tem hoje em dia. O artigo dizia que a educação universitária britânica é uma fraude educacional e financeira. Se é assim em Oxford o que será que temos no Brasil?




15 comentários:

  1. Então, meu amigo, o "pau quebrou" na hora do assunto sobre casamento gay... esse palestrante me pareceu mais radical que os muçulmanos!
    Parabéns pelo embate!
    Bom fim de semana.

    Gustavo.

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    1. Obrigado, irmão. Na hora do chá inglês o clima estava meio pesado, hehe.
      Bom fim de semana para você também.
      Abraço,
      Pedro

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  2. Parabéns Pedro.
    Fico feliz por ver católicos como o Sr. não se calando diante de assuntos como estes.
    Em nome da politica de boa vizinhança e do politicamente correto, muitos deixam estes assuntos passarem sem se manifestar.
    Isto me dá animo e encoraja para tentar copiar sua postura, mesmo que bem mais modestamente.
    Queria que você comentasse a decisão de Trump reconhecer Jerusalém como a capital de Israel. Se puder fazer a gentileza.
    Mais uma vez parabéns.
    Um abraço

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    1. Obrigado, carissimo Jacyr.
      Depois vejo se comento algo sobre Trump e Jerusalém.
      Abraço, irmão

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  3. Muito interessantes todos os trechos, uma ligeira amostragem de quanto esterco ideológico pulula nas mentes via lavagem cerebral e subfrutos de facilitação de entrada de infiltrados maçons no Vaticano II, por não combater o maldito comunismo, ainda que seja de pequena, media ou grande parte de facilitação hoje em dia nas influencias maléficas das lavagens cerebrais acometendo bilhões de pessoas.
    Quantos anos tem Israel com o Senhor Deus verdadeiro e a deusa lua Alah de 622DC que é o "mesmo" e instiga os "fieis" muçus a se afastarem dos judeus e cristãos. Ah, tá!
    Seria o muçu alguma réplica de Lula, ligado a algum governo de Alah para ter tanta cara de pau?

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  4. Muçulmanos tem mais respeito com o debate sobre religião cristã que muitos teólogos formados em instituições ditas cristãs. Incrível a que ponto chegamos. E a tolerância com defensor de gay já tá no extremo.

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  5. Sinto muito pelo nível deste seminário ,realmente frustrante. mas deixo aqui meus parabéns a você não somente pela postura firme e fiel a verdade mas , principalmente , pela paciência com o vigário a que se referiu ao Beato Newman ( sick).

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    1. Muito obrigado, caríssima Olivia. Foi muito bom conhecê-la em Oxford. Parabéns pelo seu trabalho com as crianças.

      Grande abraço,
      Pedro

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  6. Caro Pedro,
    Muito bom o resumo sobre o seminário. Será que você poderia me enviar o arquivo da sua apresentação. Que a Santíssima Virgem Maria te proteja. Estou rezando por você. IHS

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    1. Posso sim lhe enviar minha apresentação. Está em inglês, no entanto.
      Basta me enviar seu e-mail aqui na sessão de comentários.
      Seu e-mail não será publicado.
      Abraço,
      Pedro

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  7. Caro Pedro,
    Muito bom o resumo sobre o seminário. Nos dá uma ideia de como a Ciência Sagrada vem sendo atacada. Se possível, tem como me enviar a sua apresentação? Que a Santíssima Virgem Maria te proteja. Rezo por você. IHS

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    1. Claro, carissimo Antônio.
      Basta me enviar seu email por aqui. A minha apresentação, no entanto, está em inglês.

      Seu email não será publicado, fique tranquilo.

      Amém, que a Virgem Maria lhe proteja também.
      Abraço,
      Pedro

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  8. Pedro, parabéns pela postura em defesa da verdadeira fé católica. Hoje parece que as pessoas preferem não desagradar os outros, que defender a verdade, que é Nosso Senhor Jesus Cristo.
    Abraço

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Certa vez, li uma frase em inglês muito boa para ser colocada quando se abre para comentários. A frase diz: "Say What You Mean, Mean What Say, But Don’t Say it Mean." (Diga o que você realmente quer dizer, com sinceridade, mas não com maldade).