segunda-feira, 29 de junho de 2020

Padre se Levanta para Defender São Luís e as Cruzadas Arriscando a Própria Vida


Deve-se honrar a enorme coragem do padre Stephen Schumacher. O site The American Catholic disse que que ele foi ordenado em maio deste ano. Ele é um gigante em frente a tantos padres, bispos e cardeais que se escondem e escondem a Luz de Cristo. Ele se levantou para defender Cristo e o cristianismo justamente em um período que é extremamente mal entendido, as Cruzadas.

Os manifestantes queriam derrubar a estátua de São Luís. O padre quis ensinar aos manifestantes iliterados e irracionais quem era São Luís (que morreu durante uma Cruzada) e o que o foram as Cruzadas.

Os ouvintes são uma turba muito estúpida para entender. Este tipo de turba, infelizmente, já domina os departamento de história do mundo. 

O padre jogou pérolas aos porcos? Certamente. Eu costumo dizer que em boa parte do tempo eu faço isso quando dou aula no Brasil, pois os alunos estão imbecilizados demais. Os manifestantes só entendem a força física? Certamente. Por isso mesmo sabemos que o padre Stephen arriscou a própria vida.

Meu blog está aqui para se somar àqueles que acham que mesmo diante desta turba imbecilizada, a ação do padre Stephen Schumacher não vai morrer naquele momento, vai chegar a mais gente. E se Deus quiser vai fazer mais gente se levantar para defender a Luz de Cristo e se preparar mais para a guerra cultural, estudando o que realmente foram as Cruzadas, que eu tratei no meu livro Teoria e Tradição da Guerra Justa, mostrando grandes autores sobre o assunto, que reafirmam o que disse o padre Stephen.


domingo, 28 de junho de 2020

Cardeal Brandmuller e a Dificuldade de se Interpretar o Vaticano II


Cardeal Branmuller, um dos signatários do Dubia de 2017 que até hoje Francisco não respondeu, fez uma palestra para o Scuola Ecclesia Mater sobre o Vaticano II. Talvez isso tenha sido estimulado pela posição do arcebispo Viganò de que o Vaticano II deve ser abandonado.

Brandmuller procurou ficar no meio termo, não quer negar completamente o Vaticano II, mas ao mesmo tempo acha que alguns documentos do Concílio, como Nostra Aetate e Dignitatis Humanae, estão errados e devem ser abandonados. Na opinião dele também, o concílio falhou ao não condenar o comunismo e que tinha um "otimismo mudano", explícito no documento Gaudum et Spes, que foi prejudicial.

Ele afirma que Vaticano II foi "superlativo" pela enorme quantidade de clérigos e também pela enorme quantidade de documentos.  Ele também disse que Vaticano II foi diferente de todos os  outros concílios, pois não julgou ninguém, nem fez afirmação dogmática.  Foi apenas pastoral, com uso do "remédio  da misericórdia" nas palavras de João XXIII. Apesar disso, o cardeal diz que alguns documentos pareceram dogmáticos e foram tratados como tal, gerando confusão. Para finalizar, Brandmuller acha que se deve ter em conta o momento que a Igreja estava vivendo para considerar os documentos. Ele acha que o "horizonte hermenêutico" muda com o tempo.

O que eu achei da análise dele sobre o Vaticano II?

Achei boa em geral, mostrou muito conhecimento dos documentos do concílio. Gosto também da crítica de Nostra Aeatate, coisa que Bento XVI já tinha feito (eu coloquei essa objeção de Bento XVI no meu livro sobre Guerra Justa). Brandmuller lembra aliás essa crítica de Bento XVI. Gosto também da exaltação que faz do Sílabo dos Erros e da encíclica Mirari Vos.

Mas acho que faltou a análise prática do Vaticano II. Ficou muito acadêmica.  Visão acadêmica tem valor muito limitado.  Faltou considerar o que fizeram e fazem dos textos do concílio. Faltou analisar o chamado "Espírito do Vaticano II". Em especial, faltou considerar o terrível impacto litúrgico do concílio. Também não gostei de certo relativismo que Brandmuller traz ao reforçar a necessidade de que se considere o período que o Vaticano II foi realizado, para se considerar os documentos pseudo dogmáticos do concílio. Concedo obviamente que deve-se considerar o período histórico de qualquer concílio e que o período em que se vive ressalta um ou outro aspecto da Verdade, mas tenho muito receio dessa ideia de que o "horizonte hermenêutico" muda, pois isso abre brechas enormes para esvaziamento da Tradição, o apego a algumas partes da Verdade, pode ser a senha para as heresias. Afinal, como disse Chesterton, heresias nada mais são doe que uma verdade levada ao extremo, assim como ocorre com o extremismo da misericórdia que vivemos que abandona a tradição..

Faltou também ressaltar que o concílio trouxe muita misericórdia sem tradição. Este tipo de misericórdia anda de mãos dadas com a confusão e a perdição das almas. Hoje em dia só se ouve falar de misericórdia nos púlpitos.  Misericórdia vazia. Bobinha. Politicamente correta. Humanista. Temos uma nova religião. Acho que o "otimismo mundano" não é justificável, vivia-se o comunismo em vários países e há muito o processo de secularização estava presente no mundo.

Além disso, ele ressalta que os documentos posteriores ao Vaticano II devem ser levados em consideração, querendo sugerir que os documentos posteriores corrigiram os erros alimentados pelos documentos do concílio. Temo que isso não seja verdade, especialmente, as encíclicas anteriores à queda do muro de Berlim e as encíclicas e documentos de Francisco. 

Brandmuller foca muito no que escreveu Bento XVI e abandona os outros papas pós-concílio.Francisco não é mencionado nenhuma vez em seu discurso.

Finalmente, não concordo com Bradmuller de que a usura tornou-se uma questão obsoleta. Na verdade, todos os papas pós-concílio continuam falando dela e o pecado da usura é muito corriqueiro, muito comum no Brasil, por exemplo (descrevo essa questão em detalhes no meu livro Ética Católica para Economia).

Mas tirem suas próprias conclusões.

Vou traduzir aqui o que ele disse, que foi disponibilizado no site Stilum Curiae (qualquer problema na tradução, por favor me avisem). Vejam abaixo.
---

Vaticano II: as dificuldades de interpretação

Ao interpretar documentos conciliares é possível obter opiniões conflitantes, isso certamente não é novidade para a história dos concílios. Formular a verdade da fé significa expressar o mistério indizível da verdade divina na linguagem humana. No entanto, é e continua sendo um empreendimento ousado, que Santo Agostinho já comparou à tentativa de uma criança de esvaziar o mar com um balde.

E nesse empreendimento, mesmo um concílio ecumênico não pode fazer muito mais do que essa criança.

Nada de estranho, portanto, que mesmo as declarações doutrinais infalíveis de um concílio ou de um papa podem realmente definir a verdade revelada - e, portanto, delimitá-la com respeito ao erro -, mas nunca compreendam a plenitude da verdade divina.

Este é o fato essencial de que não devemos perder de vista, as dificuldades de interpretação colocadas pelo Vaticano II. Para ilustrá-las, nos limitaremos aos textos conciliares que são percebidos como particularmente difíceis pelos chamados círculos tradicionalistas.

Antes de tudo, porém, é bom dar uma olhada nas particularidades que distinguem o Vaticano II dos concílios ecumênicos anteriores.

A esse respeito, existe uma premissa: para o historiador do concílio, o Vaticano II aparece, em muitos aspectos, antes de tudo como um concílio de superlativos. Começamos com a observação de que na história da Igreja nenhum outro concílio foi preparado tão intensamente quanto o Vaticano II. Certamente, mesmo o concílio que o precedeu estava muito bem preparado quando começou em 8 de dezembro de 1869. 

Provavelmente, a qualidade teológica dos esquemas preparatórios era ainda maior do que a do concílio que o seguia. No entanto, é impossível ignorar que o número de idéias e propostas enviadas de todo o mundo, bem como a maneira como elas foram elaboradas, foram maiores do que todas as que foram vistas até então.

O Vaticano II, concílio de superlativos, surgiu em 11 de outubro de 1962, quando um imenso número de bispos - dois mil quatrocentos e quarenta - entrou na procissão na Basílica de São Pedro.  Se o Vaticano I, com seus aproximadamente 642 Padres, havia encontrado um lugar no transepto da Basílica, agora toda a nave central havia sido transformada em um salão sinodal.  Nos cem anos entre os dois conselhos, a Igreja tornou-se, como emergiu tão visivelmente tão impressionante, uma Igreja universal, não apenas em nome, mas também de fato, uma realidade que agora se refletia no número dos 2440 Padres e seus países de origem.  Acrescente a isso que, pela primeira vez na história, um concílio pôde votar com a ajuda da tecnologia eletrônica e que os problemas acústicos, que ainda incomodavam os participantes do Vaticano I, nem eram mais mencionados.

 E como estamos falando da mídia moderna: antes disso, nunca havia acontecido que, como em 1962, cerca de mil jornalistas de todo o mundo tivessem sido credenciados para o concílio. Isso também fez do Vaticano II o concílio mais conhecido de todos os tempos, um evento de primeira classe na mídia.

 O conselho de superlativos, no entanto, é particularmente verdadeiro em relação aos seus resultados.  Das 1135 páginas que compõem a edição dos decretos de todos os concílios geralmente considerados ecumênicos, vinte, apenas o Vaticano II produziu 315, ou seja, bem mais de um quarto.  Portanto, sem dúvida, ocupa um lugar especial na série de todos os conselhos ecumênicos, mesmo que apenas de acordo com critérios externos, materiais.

Além disso, porém, existem outras particularidades que distinguem o Vaticano II dos concílios que o precederam, por exemplo, no que diz respeito às funções do concílio ecumênico.  Os concílios são supremos, legisladores supremos, juízes supremos, sob e com o papa, a quem esses papéis pertencem mesmo sem um concílio.  Nem todos os conselhos desempenharam essa função.

 Se, por exemplo, o primeiro concílio de Lyon, em 1245, com a excomunhão e deposição do imperador Frederico II agiu como tribunal e, além disso, aprovou leis, o Vaticano I não realizou julgamentos ou aprovou leis, mas decidiu exclusivamente  questões doutrinárias.

 O Concilio de Vienne de 1311/12, no entanto, julgou e aprovou leis, e também decidiu sobre assuntos doutrinários.

 O mesmo se aplica aos concilios de Constança de 1414/18 e de Basiléia-Ferrara-Florença de 1431/39.

 O Vaticano II, por outro lado, não pronunciou julgamentos, não decretou leis e nem sequer tomou decisões definitivas sobre questões de fé.

Na verdade, deu forma a um novo tipo de concilio, ou seja, um concílio pastoral, portanto, de cuidar de almas, com o objetivo de tornar conhecidas ao mundo o ensino e as instruções do Evangelho de uma maneira mais atraente e orientadora. 

 Em particular, ele não expressou condenação doutrinária.  João XXIII, em seu discurso para a solene abertura do conselho, falou explicitamente sobre isso: "Não há tempo em que a Igreja não se oponha a esses erros;  ela freqüentemente os condenou, e às vezes com a maior severidade.  Quanto aos dias atuais, [...] ela prefere usar o remédio da misericórdia [...];  ele acha que as necessidades de hoje devem ser atendidas, expondo o valor de seu ensino mais claramente do que condenando ".

Bem como sabemos cinquenta anos após sua conclusão, o concílio teria escrito uma página gloriosa se, nos passos de Pio XII, ele tivesse encontrado a coragem de uma condenação repetida e expressa ao comunismo.

O medo de pronunciar condenações doutrinárias e definições dogmáticas, no entanto, levou à conclusão de que, no final do concílio , havia declarações conciliares com um grau de autenticidade e, portanto, também com um caráter vinculativo completamente diferente.  

Assim, por exemplo, as Constituições Lumen gentium sobre a Igreja e Dei Verbum sobre revelação divina certamente têm a natureza e o caráter vinculante dos ensinamentos doutrinários autênticos - embora aqui também nada tenha sido definido estritamente no sentido estrito - enquanto, por exemplo,  a Declaração sobre a liberdade de religião Dignitatis Humanae, de acordo com Klaus Mörsdorf, "toma posição sobre questões da época sem um conteúdo normativo claro".  

De fato, isso se aplica a documentos disciplinares, que regulam a prática pastoral.  A natureza vinculativa dos textos conciliares é, portanto, de um grau diferente.  

Dando um próximo passo, a pergunta deve ser feita sobre a relação entre o Vaticano II e toda a Tradição da Igreja.  Encontramos uma resposta analisando quanto os textos conciliares se baseavam na Tradição.  Basta examinar, nesse sentido, a título de exemplo, a constituição Lumen gentium.  Basta dar uma olhada nas notas do texto.  Assim, pode-se ver que os dez concilios anteriores são mencionados no documento.  Entre eles, o Vaticano I é tomado como referência 12 vezes, o Tridentino até 16. 

 Ainda mais próxima é a relação com a Tradição, se pensarmos que, entre os papas, Pio XII é mencionado 55 vezes, Leão XIII em 17 ocasiões e Pio XI em 12 passagens. Temos também menções a São Bento XIV, Bento XV, Pio IX, Pio X, Inocêncio I e Gelasius.

 Contudo, o aspecto mais impressionante é a presença dos Padres nos textos de Lumen gentium.  Os pais a cujos ensinamentos o concílio  se refere são até 44. Entre eles destacam-se Agostinho, Inácio de Antioquia, Cipriano, João Crisóstomo e Irineu.

 Os grandes teólogos, ou os doutores da Igreja, também são mencionados: Tomás de Aquino em 12 vezes, juntamente com outros sete nomes de peso.

Essa lista é suficiente para ilustrar até que ponto os pais do Vaticano II se entenderam na corrente da tradição, integrada ao processo de recebimento e transmissão, que é a razão de ser da Igreja: "De fato, recebi do  Senhor, o que te passei ", diz o apóstolo.  É evidente que também nesse aspecto não se pode falar de um novo começo da Igreja, portanto de um novo Pentecostes.

Isso leva a importantes consequências para a interpretação do concílio e mais precisamente não do "evento do concilio", mas de seus textos. 

Uma preocupação central e tangível em muitas das declarações de Bento XVI tem sido destacar a estreita conexão orgânica do Vaticano II com o restante da tradição da Igreja, destacando assim que esteja errada  uma hermenêutica que acredita que o  Vaticano II rompeu com a tradição.

Essa "hermenêutica da ruptura" é feita tanto por aqueles que no Vaticano II vêem um afastamento da fé autêntica da fé, portanto um erro ou até uma heresia, como por aqueles que, com essa ruptura com o passado, queriam ousar uma partida corajosa para  novas margens.

No entanto: a presunção de uma interrupção no ensino  doutrinário e na ação sacramental da Igreja é impossível, mesmo por razões teológicas.  

Pois se cremos na promessa de Jesus Cristo de permanecer com sua Igreja até o fim dos tempos, de enviar o Espírito Santo que nos apresentará a riqueza da verdade, é até absurdo pensar que o ensino da Igreja, transmitido autenticamente, em um tempo pode estar errado em algum ponto  ou que um erro que sempre foi rejeitado pode ser revelado em algum momento como verdade.  

Qualquer um que considere possível seria vítima desse relativismo, para o qual a verdade está essencialmente sujeita à mutabilidade, ou seja, ela realmente não existe.

Cada concílio dá sua contribuição específica a essa tradição.  Certamente, também pode não consistir em adicionar novo conteúdo ao depósito da fé da Igreja.  E menos ainda na eliminação dos ensinamentos da fé proferidos até agora.  Em vez disso, o que é realizado aqui é um processo de desenvolvimento, esclarecimento, discernimento, e isso com a ajuda do Espírito Santo, um processo que leva a fazer com que cada concílio, com suas declarações doutrinárias definitivas, entre como parte integrante do  Tradição geral da Igreja.  

Deste ponto de vista, os concílios estão sempre abertos, para um anúncio doutrinário mais completo, claro e atual, nunca para trás.  Um concilio nunca pode contradizer aqueles que o precederam, mas pode integrar, especificar e continuar.

No entanto, as coisas são diferentes para o concílio como um corpo legislativo.  Este último pode - e certamente deve - abordar, mas sempre dentro dos limites indicados pela fé, as necessidades concretas de uma situação histórica específica e, desse ponto de vista, está em princípio sujeito a alterações.

A partir dessas observações, uma coisa deveria ter emergido claramente: tudo o que foi dito também se aplica ao Vaticano II.  Também não é nada mais - mas também nada menos - que um concílio ao lado e depois dos outros.  Não está acima nem mesmo fora, mas faz parte da série de concílios ecumênicos da Igreja.

 Que isso é verdade não é menos evidente pelo entendimento de quase todos os concílios.

 Apenas lembre-se de suas respectivas declarações, bem como as dos primeiros Padres, sobre o assunto.  Eles reconhecem na tradição a própria natureza dos concílios.

 Vincenzo di Lerino († antes de 450) já reflete expressamente sobre isso em seu Commonitorium: “O que a Igreja aspira através de seus decretos do Concílio, senão para garantir que o que antes o Concílio  era simplesmente acreditado, fosse acreditado com maior diligência;  que o que foi anunciado anteriormente sem força fosse posteriormente anunciado com maior intensidade;  que o que foi celebrado pela primeira vez com absoluta certeza, fosse posteriormente adorado com maior zelo?  Creio que isso, e nada mais, a Igreja, abalada pelas inovações dos hereges, sempre obteve através de seus decretos conciliares: o que anteriormente havia recebido dos 'antepassados' apenas por tradição, agora a depositou por escrito também para os  'posteridade'.  Ele fez isso resumindo muito em poucas palavras e, freqüentemente, com o objetivo de um entendimento mais claro, expressando o conteúdo inalterado da fé com novas definições "(Commonitorium, cap. 36).

Essa convicção autenticamente católica encontra expressão na definição do segundo concílio de Nicéia em 787, que afirma: "Desse modo, prosseguir na rota real, seguindo em todos os aspectos o ensino inspirado de nossos santos pais e a tradição da Igreja Católica.  reconhecemos, de fato, que o Espírito Santo vive nele, definimos ... ";  siga os princípios centrais do decreto conciliar.  

O último dos quatro anátemas também é particularmente importante: "Se alguém rejeita qualquer tradição eclesiástica, seja escrita ou não, seja anátema".
 Ao realizar um conselho, a Igreja realiza sua natureza mais profunda.  A Igreja - e, portanto, o conselho - transmite vivendo e vive transmitindo.  A tradição é a verdadeira realização de sua essência.

 O elemento decisivo do horizonte interpretativo é a transmissão autêntica, não o espírito da época.  Isso absolutamente não pode significar rigidez e imobilidade.  O olhar de hoje não deve falhar.  As perguntas atuais são as que requerem resposta.  Mas os elementos que compõem a resposta só podem vir da Revelação divina, oferecida uma vez e para sempre, que a Igreja nos transmite autenticamente ao longo dos séculos.  Essa transmissão, portanto, também constitui o critério ao qual cada nova resposta deve se referir para que seja verdadeira e válida.

 Essas considerações fundamentais também devem ser levadas em conta na interpretação dos textos do Conselho mais debatidos.

Estas são principalmente as Declarações Nostra Aetate e Dignitatis humanae, que levantaram objeções da Fraternidade de São Pio X. Esta última acusa o conselho de ter cometido um erro na fé.  Para isso, no entanto, devemos responder com decisão.

É bastante claro que um texto conciliar formulado em 1965, que na época se destinava a partir da situação em que nasceu e com base na intenção de suas afirmações, quando proclamado no mundo de hoje, deve necessariamente ser contemplado no  horizonte interpretativo atual.

 Tomemos, por exemplo, Nostra aetate.  Aqueles que acusam este texto de indiferentismo religioso hoje devem lê-lo à luz de Dominus Jesus, que excluiria categoricamente qualquer mal-entendido no sentido de indiferentismo ou sincretismo.  Com impulsos sempre novos, o magistério pós-conciliar, através de seus esclarecimentos, removeu a base para qualquer interpretação errônea dos textos conciliares, tanto no sentido tradicional quanto no progressista.

Após essas observações fundamentais, gostaria agora de explicar outro princípio interpretativo que resulta da historicidade de cada texto.  Assim como todos os textos - e, portanto, também todos os textos magisteriais - surgem de uma situação histórica específica e também são determinados pela situação concreta de sua concepção, eles também são proclamados com uma intenção específica em um momento histórico específico.

Não devemos perder de vista esse princípio quando hoje vamos interpretar um desses textos.

Também devemos levar em conta o fato de que o horizonte hermenêutico assim determinado muda, é modificado, na mesma medida em que o intérprete atual está distante do momento em que o texto nasceu. Isso significa que interpretações passadas, dependendo de quanto tempo estão ao longo do tempo, podem fazer mais ou menos apenas reivindicações de interesse histórico. Essa conscientização é particularmente importante quando se trata dos textos do ministério magisterial e pastoral da Igreja.

Alguém poderia objetar imediatamente que a verdade, especialmente a da revelação divina, é uma verdade eterna e imutável, que não pode ser alterada. Certamente isso não pode ser questionado. "O céu e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão", diz o Senhor.

No entanto, é igualmente verdade que o reconhecimento dessa verdade eterna pelo homem sujeito a mudanças históricas está sujeito a mudanças, assim como o homem que reconhece. Ou seja, dependendo do momento histórico, um ou outro aspecto da verdade eterna é apreendido, reconhecido e compreendido de uma maneira nova e mais profunda.

Precisamente por esse motivo, mesmo um texto conciliar, se contemplado no contexto espiritual, cultural etc. e à luz do nosso tempo, isso pode ser entendido de uma maneira nova, mais profunda e clara.

Na medida em que levarmos esse conceito em consideração em nossos esforços para entender os ensinamentos do Vaticano II hoje, seremos capazes de superar vários conflitos que surgirem.

Obviamente, a interpretação do conselho é a tarefa do debate teológico, que sempre lidou com ele. De fato, os resultados desse debate finalmente encontraram espaço nos documentos do magistério pós-conciliar.

À luz do que foi dito, seria um erro grave não levar isso em consideração na interpretação do concílio para o tempo presente e agir como se o tempo tivesse parado em 1965.

Gostaria de ilustrar o que foi dito com três exemplos que me parecem particularmente característicos.

Nesse sentido, destacam-se imediatamente a Declaração Nostra Aetate sobre a relação entre a Igreja e as religiões não-cristãs e o Decreto Unitatis sobre ecumenismo. Durante muito tempo, os dois documentos foram objeto de críticas dos chamados círculos tradicionalistas. Ambos são acusados ​​de falta de clareza e de não tomar decisão na defesa da verdade, isto é, trouxe sincretismo, relativismo e indiferença. No momento da aprovação dos textos, era difícil prever que eles pudessem ter essas críticas.

Foi a experiência do totalitarismo na primeira metade do século XX e das perseguições vividas em conjunto por judeus e cristãos - católicos, protestantes e ortodoxos - das coisas fundamentais que eles tinham em comum. O compromisso de superar as hostilidades antigas e de uma nova convivência era geralmente percebido como um dever imposto pelo Senhor. Leia com esse espírito e contra esse pano de fundo, para isso os dois documentos deram impulsos muito fortes.

Mas então passou-se o tempo. Apenas algumas décadas após a conclusão do concílio, uma visão teológica das religiões não-cristãs foi desenvolvida, sobretudo na região anglo-saxônica, que falava de diferentes formas de salvação para o homem, mais ou menos equivalentes, e que, portanto, questionavam a missão cristã. Acreditava-se que o anúncio da Igreja visava fazer um muçulmano se tornar um muçulmano melhor, e assim por diante. 

Foi o britânico John Hick que espalhou esse tipo de idéia mais ou menos desde 1980. De fato, nesse novo cenário, uma ou outra formulação do Nostra aetate poderia ser mal compreendida. 

Além disso, a Nostra Aetate "fala da religião apenas de maneira positiva e ignora as formas doentes e perturbadas da religião, que, de um ponto de vista histórico e teológico, têm um amplo escopo" (Bento XVI, vol. VII / 1, prefácio).

Neste ponto, é necessário lembrar em particular a passagem do Nostra aetate que se refere ao Islã. O texto não é apenas acusado de indiferença. Deve-se notar, no entanto, que o decreto diz que deve-se respeitar também os muçulmanos ("cum aestimatione quoque muslimos respicit"), não o islamismo. Seu ensino não é entendido. O fato de que nas formulações subsequentes por trás de palavras idênticas ou semelhantes oculta um entendimento muito diferente é evidente para o estudioso do Islã hoje. Neste ponto do documento, que pretende preparar o caminho para um diálogo pacífico, o padrão rígido da terminologia dogmática não deve ser aplicado, embora um compromisso nesse sentido seria desejável. De fato, o texto foi publicado em 1965.

Para nosso entendimento atual, o problema assume um aspecto completamente diferente: é o Islã que mudou profundamente no último meio século, como evidenciado pelo grau de agressão e hostilidade islâmica em relação ao Ocidente "cristão". No contexto da experiência das décadas, um decreto desse tipo deveria dizer outra coisa.

Para os propósitos de uma hermenêutica conciliar séria, portanto, não há sentido em se enfurecer e argumentar contra o texto de 1965: o decreto agora tem apenas um interesse histórico.

Foi então o magistério, com a Declaração Dominus Jesus, que removeu as bases de todo indiferentismo e indicou inequivocamente Jesus Cristo como o único caminho para a salvação eterna e a única, santa, católica e apostólica Igreja de Jesus Cristo como a única comunidade de salvação para todo homem.

Algo semelhante aconteceu com os vários esclarecimentos sobre o significado da famosa "subsistência". Se no discurso ecumênico houve declarações que pudessem despertar a impressão de que a Igreja Católica era apenas um dos muitos aspectos da Igreja de Jesus Cristo, a interpretação de "subsistência", também confirmada por Dominus Jesus, eliminou qualquer mal-entendido. Outro escândalo é representado para muitos pela Declaração Dignitatis humanae sobre liberdade de religião. Ela também é acusada de indiferença, traição da verdade da fé e contradição ao Syllabus Errorum do Beato Pio IX.

O fato de não ser esse o caso é evidente se os princípios interpretativos formulados acima forem aplicados: os dois documentos nasceram em um contexto histórico diferente e devem responder a diferentes situações.

O Syllabus errorum - como a Encíclica Mirari Vos de Gregório XVI anteriormente - visavam a refutação filosófica da reivindicação de absoluto da verdade, especialmente da verdade revelada pelo indiferentismo e pelo relativismo. Pio IX havia enfatizado que o erro não tem razão em relação à verdade.

Dignitatis humanae, por outro lado, parte de uma situação completamente diferente, criada pelos totalitarismos do século XX que, por constrangimento ideológico, denegriram a liberdade do indivíduo, da pessoa. Além disso, os pais do Vaticano II tinham diante deles a realidade política de seu tempo, que sob diferentes condições, mas não em menor grau, ameaçava a liberdade da pessoa. Por essa razão, no centro de Dignitatis humanae não havia a incontestável intocabilidade da verdade, mas a liberdade da pessoa de qualquer restrição externa à convicção religiosa. 

Nesse sentido, é bom garantir aos defensores da "a-historicidade absoluta da verdade" que nenhum teólogo ou filósofo com bom senso falaria em mutabilidade, na inconstância da verdade. Em vez disso, o que muda, que está sujeito a mudanças, é o reconhecimento, a consciência da verdade pelo homem, que muda totalmente. Aqui ocupa um lugar de excelência a profissão de fé do Povo de Deus, que Paulo VI proclamou no clímax da crise pós-conciliar.

Em resumo: Os conteúdos programáticos defendiam a verdade, o Vaticano II, a liberdade da pessoa.

É difícil discernir uma contradição entre os dois documentos se eles são contemplados em seu contexto histórico e compreendidos de acordo com quais eram as intenções de suas declarações.

Além disso, para fins de uma interpretação correta, hoje todo o magistério pós-conciliar deve ser levado em consideração.

Por fim, deve-se mencionar também o otimismo mundano, evidentemente um pouco ingênuo, que animara os pais do Conselho durante a redação de Gaudium et spes.

Assim que o conselho terminou, tornou-se evidente que esse "mundo" estava passando por um processo cada vez mais rápido de secularização, que levou a fé cristã e a religião em geral às margens da sociedade.

Era, portanto, necessário redefinir a relação entre a Igreja e "este mundo" - como João o chama - e completar, interpretar, o texto conciliar, por exemplo, no sentido dos discursos de Bento XVI durante sua visita à Alemanha.

Isso significa, no entanto, que uma interpretação atual do Concílio, que traz à tona a essência do ensino conciliar, tornando-o frutífero para a fé e o ensino da Igreja do presente, deve-se ler seus textos à luz de todo o magistério pós-conciliar e entender sua documentos como atualização do conselho.

Como destacado no início: o Vaticano II não é o primeiro nem será o último concílio. Isso significa que suas declarações magisteriais devem ser examinadas à luz da tradição, ou seja, interpretadas de maneira a serem capazes de identificar, com relação a ela, uma extensão, um aprofundamento ou mesmo um esclarecimento, mas não uma contradição.

A transmissão, tradição, não implica a entrega simples de uma embalagem bem selada, mas um processo orgânico e vital, que Vincenzo di Lerins compara à transformação progressiva da pessoa de criança para homem: é sempre a mesma pessoa que passa pelos estágios de desenvolvimento.

Isso se aplica às áreas da doutrina e à estrutura hierárquica-sacramental da Igreja, mas não à sua ação pastoral, cuja eficácia continua sendo determinada pelas necessidades das situações contingentes do mundo ao seu redor. Certamente, aqui também, qualquer contradição entre prática e dogma deve ser excluída.

É um "processo ativo de recepção", que também deve ser realizado em razão da unidade dentro da Igreja. De fato, também existem casos - não no contexto das verdades da fé, mas no da moral - em que hoje o que foi proibido ontem pode ser apropriado.

Se, por exemplo, antes do Vaticano II, a proibição absoluta de cremar os mortos resultasse na excomunhão dos católicos que haviam escolhido a cremação, numa época em que a cremação perde sua aparência de protesto contra a fé na ressurreição dos mortos, era possível levantar esta proibição.

Isso se aplica de maneira semelhante no caso da proibição das taxas de juros no século XV-XVI, quando os franciscanos e dominicanos - e mais precisamente em Florença - se desafiaram em duelos amargos nos púlpitos, onde os competidores se acusavam de heresia por causa da adoção da taxa de juros e se ameaçava o oponente queimar nas chamas do inferno. Era um problema moral, nascido com as mudanças das reformas econômicas e depois tornou-se obsoleto.

Devemos ir devagar, portanto, também no debate sobre o Vaticano II e sua interpretação, que por sua vez deve ocorrer no contexto da situação que mudou com o tempo. Nesse sentido, o magistério dos papas pós-conciliares fez importantes contribuições, que, no entanto, não foram suficientemente levadas em consideração, embora devam ser notadas precisamente no atual debate.

Então, nesta discussão, é bom lembrar o aviso à paciência e modéstia de São Paulo em Timóteo (2 Tim 4, 1 s.).

Infelizmente, essas comparações continuam tendo formas que não concordam bem com o amor fraterno. Deveria ser possível conciliar zelo pela verdade com justiça e amor ao próximo. Em particular, seria apropriado evitar a "hermenêutica do suspeito" que acusa o interlocutor na partida de concepções heréticas.

Em resumo: As dificuldades na interpretação dos textos conciliares não derivam apenas do seu conteúdo. A maneira pela qual nossas discussões são conduzidas deve ser cada vez mais levada em consideração.

---


Rezemos para que todos entendam que pelo menos alguns documentos do Vaticano II foram muito prejudiciais à Igreja e que o tal "espírito do Vaticano II" não nos serve.



sexta-feira, 26 de junho de 2020

Vídeo: Geopolítica e Teologia com Prof. Ricardo Felício, Eu e Prof. Syer.


Ontem, tive o prazer de participar de um debate sobre geopolítica e teologia em tempos de coronavírus.

A live foi feita pelo canal do ilustre professor Ricardo Felício e além de mim (representante católico) contou com a participação do professor Syer Rodrigues (presbiteriano (calvinista)).

Espero que gostem. 


quarta-feira, 24 de junho de 2020

Bispo Barron: "Ei, se Virem Aí Leigos Católicos"



O bispo Robert Barron disse que não ia fazer nada para impedir os ataques a igrejas católicos ou monumentos católicos porque o Concilio Vaticano II disse que a "arena secular" (política, economia, violência,...) era assunto dos leigos!  

Eu, heim? Essa parte do Vaticano II eu perdi. Cristo não tratou de nenhuma questão da "arena secular"? O Vaticano II superou Cristo? O dia a dia das pessoas não importa para a Igreja? E aquele negócio de santiticar cada ato de nossas vidas? E se a política destruir todas as igrejas, os padres ficaram tranquilos com isso? A Igreja não tem escolas para ensinar às pessoas? Os padres deve orientar apenas os que estão presos em mosteiros? E esse negócio de justiça social que inúmeros padres pregam?...

O caso do bispo Baron é um caso que merece análise. Conheci ele nos tempos de Bento XVI, por meio de uma série chamada Catholicism que ele preparou e que ficou ótima. Durante a eleição de Francisco ele torceu por um cardeal americano chamado Dolan. 

Com Francisco, bispo Barron mudou completamente. O espírito guerreiro em defesa da Igreja assumiu a posição de "diálogo, diálogo, diálogo". Ele foi indicado a bispo por Francisco, e é conhecido como um bispo todo sorrisos para todos os que odeiam a Igreja. Sempre sorrindo e com palavra amiga. Chegou a dizer que todos podem ir para o céu e quando leu a benção no Congresso americano parecia um pastor protestante, nem fez o sinal da cru. Recentemente foi espancado em debate sobre misericórdia com o psicólogo Jordan Peterson, que não é nem católico (coloquei aqui no blog).

Hoje soube que ele bloqueou meu ex-professor de Teologia, Dr. Taylor Marshall, porque este insistiu que Barron deveria reagir aos ataques da Igreja.



Em suma, a vida de Barron era mais fácil com Bento XVI, ele podia ficar só no discurso. Agora ele tem fazer o que ele pregava. Como diz aquele lema que os americanos gostam de dizer: "put your money where your mouth is", isto é, aja de acordo com suas palavras.



segunda-feira, 22 de junho de 2020

O Mundo de Hoje É Melhor que Durante a Segunda Guerra?


No vídeo, o psicólogo Viktor Frankl nos coloca em outra perspectiva frente ao otimismo de alguns hoje em dia quando comparam com o terrível século XX. 

Viktor Frankl foi sobrevivente de dois campos de concentração nazista. 

Otimistas têm dito que o sofrimento do século XX foi muito pior, quando ocorreram duas guerras globais terríveis, bombas atômicas, revoluções comunistas e suas matanças gigantescas, além de pandemias. 

Mas, outro dia, eu coloquei aqui a opinião de Dale Alhquist assustado com a destruição feita pelo Black Lives Matter nos Estados Unidos, no momento.  

Na oportunidade, eu disse que senti falta de uma análise da Igreja Católica nas considerações dele. 

O século XX foi o mais sangrento da história da humanidade.  Fruto de séculos destruição do sagrado, desde pelo menos a Revolução Francesa ou mesmo antes, desde a Reforma Protestante. 

Mas na imensa parte do século XX ainda tínhamos a Igreja reagindo a cada avanço da destruição do sagrado.  


Acho que o mundo está perdendo sua última coluna: a Igreja, e com apoio da maior hierarquia. Por exemplo, Francisco hoje esquece Deus para defender a natureza em suas homilias que falam da pandemia.  Um negócio grotesco.

O mundo não sabe o quanto depende da Igreja.

Temos jovens mimados sem fé e sem verdadeiros pastores da fé. 

Leiam texto de George Neumayr. 


Visitando o Futuro do Progressistas. Eles Vão Construir um Mundo Melhor, Né?


Acima, um "observador" faz uma visita a parte da cidade tomada pelos manifestantes da Antifa. O que ele encontra? Ora, ele encontra o que é muito comum nas ruas, bairros e "comunidades" do Brasil.

Os manifestantes também andam derrubando a estátua de gente do passado como o missionário franciscano (São Junípero Serra) em São Francisco sob aplausos dos "cidadãos do futuro".



Além de estátuas de muitas odiadas personalidades do passado como o escritor e ex-escravo Miguel de Cervantes e George Washington, que eles acham que não fez nada por eles.





 

sábado, 20 de junho de 2020

Entramos na Idade das Trevas que Chesterton Previu? Dale Alquist Responde


Eu gosto de imaginar o que Chesterton pensaria sobre o nosso tenebroso mundo moderno. No meu outro blog, chamado Bloco 11 Cela 18, que dedico mais para debater o Distributismo, eu já imaginei o que Chesterton (ou Distributismo) falaria do futebol e da maconha  e também sobre o coronavirus.

Assim, fiquei bem curioso de ver a opinião de Dale Alhquist, presidente da Sociedade Chesterton dos Estados Unidos, sobre como ele acha que Chesterton veria o desastre social, político e religioso que vivemos hoje.

O episódio do The Van Maren Show, mostrado acima, pergunta se estamos entrando na idade das trevas que Chesterton previu. Dale Alhquist se propõe a responder a esta pergunta olhando especialmente para o que acontece nos Estados Unidos, país mais rico do mundo que está sofrendo manifestações violentas com apoio de políticos do partido Democrata. 

Alhquist mora no estado de Minnesota, estado que está no foco dos protestos devastadores do Black Lives Matter, que ocorreram em Minneapolis, a cidade mais populosa do estado. Foi lá que George Floyd foi morto. Alhquist está vendo de perto os problemas.

Alhquist concorda comigo na minha análise sobre o que Chesterton diria sobre o coronavirus, no ponto em que Chesterton detestaria ver estados se metendo na nossa fé e proibindo missas enquanto liberam muitas outras atividades que aglomeram. 

Infelizmente, Alhquist não avança muito sobre outros problemas que enfrentamos, especialmente na nossa própria religião. O foco de Alhquist é a necessidade de os pais evitarem as escolas públicas e tomar as rédeas da educação de seus filhos.

Ouvir o vídeo acima é melhor e mais completo, mas o site Life Site News fez um relato da opinião de Dale Alhquist.

Vou traduzir aqui o texto.

Estamos entrando na Idade das Trevas que G.K. Chesterton previu?


 G.K. Chesterton é um famoso autor e filósofo do século XX. Durante seu tempo, Chesterton viu o início da civilização desmoronando e previu que uma idade das trevas estava chegando. Com tudo o que está acontecendo, com os lockdowns e agora os tumultos, é difícil não pensar que esse tempo possa estar chegando mais cedo do que pensávamos.

No episódio de hoje do The Van Maren Show, Dale Ahlquist, famoso estudioso de Chesterton e fundador da sociedade Chesterton e das escolas de Chesterton, se junta a Jonathon Van Maren para discutir o que G.K. Chesterton pensaria do estado do mundo. Ahlquist e Van Maren falam sobre os tumultos, as próximas "idades das trevas" da sociedade e o que precisamos fazer para salvar a cultura para as gerações futuras, incluindo tirar as crianças das escolas públicas.

Ahlquist mora por volta de Minneapolis e começa compartilhando a devastação que varreu a cidade. Partes da cidade foram deixadas em escombros. Os prédios estavam cobertos de madeira compensada com apelos pintados com spray para os manifestantes não destruírem as empresas familiares. Algumas áreas ainda ardem com o fogo.

Felizmente, os subúrbios ficaram praticamente intocados, mas Ahlquist compartilha que algumas pessoas podiam ver o brilho das Cidades Gêmeas (Minneapolis e Saint Paul) pegando fogo a 32 quilômetros de distância.

Chesterton disse que todas as cidades foram "construídas em um vulcão" e estão apenas esperando para entrar em erupção. Ahlquist diz aos ouvintes: “em todos os lugares em que existe esse grupo concentrado de pessoas, elas realmente têm um senso de tensão o tempo todo e as coisas podem explodir por um motivo ou outro. A civilização é um trabalho árduo e você tem que trabalhar para isso. E assim que você para com esse trabalho, isso se desfaz às pressas. ”

Chesterton falou da chegada da "idade das trevas" quando nossas bases morais, religiosas e culturais começaram a se degradar. Ahlquist culpa o sistema público de educação por acelerar esse declínio. Ahlquist aponta para a necessidade de ensinar a verdade, a bondade e a beleza para restaurar a cultura e a civilização.

Ahlquist ressalta que os progressistas geralmente buscam progresso em prol do progresso e desprezam a história.

"Eles olham para frente com entusiasmo porque têm medo de olhar para trás", escreveu Chesterton.

Além do sistema de ensino público, Ahlquist aponta para a influência da mídia na filtragem da verdade e no desencorajamento da discussão. Chesterton preferiu incentivar a discussão verdadeira, em vez de permitir que a mídia filtrasse a verdade e impedisse o diálogo real.

Ahlquist aponta para a censura da mídia à Marcha da Vida, apesar do grande número de pessoas que participam do evento. Margaret Sanger e Planned Parenthood tiveram como alvo os bebês negros há décadas, matando milhões de vidas negras, mas a mídia e os manifestantes ignoraram completamente esse fato.

À medida que a sociedade continua seu deslize para a "idade das trevas" prevista por Chesterton, Ahlquist incentiva as pessoas a formar comunidades sólidas. As pessoas devem "estabelecer comunidades de fiéis que educam seus filhos e ensinam a verdade, ensinam como é a justiça e também como são a verdade, a beleza e a bondade".

Ahlquist, que fundou as Academias Chesterton, vê que o sistema escolar público está alimentando nosso declínio moral.

“Acho que, ao vermos uma crescente adoção da ilegalidade, isso terá um efeito cascata. As pessoas perderam o respeito pela autoridade. E, portanto, as leis normais serão difíceis de aplicar, porque as pessoas não reconhecem a autoridade de nossos políticos e policiais ”, afirma Ahlquist.

Com os lockdowns da COVID-19 e a discriminação contra as igrejas, mas não as lojas de bebidas ou os campos de golfe "essenciais", o respeito das pessoas pelo governo está em queda.

À medida que esse sentimento continua, seremos forçados a ter que remodelar nossa civilização, para que saiamos de um governo de cima para baixo, administrado por algumas grandes corporações, para um governo de baixo para cima, dirigido por e para o povo, como ele pretendia originalmente.

Novamente, Ahlquist aponta para a importância de educar nossos filhos adequadamente, a fim de salvar a civilização. Ele incentiva os ouvintes a construir suas pequenas comunidades em torno de escolas que ensinam sobre verdade, bondade e beleza, como as escolas de Chesterton.

"Acho que pessoas de todas as religiões precisam tirar seus filhos das escolas públicas porque estão destruindo as almas de seus filhos", diz Ahlquist aos ouvintes. "E essas escolas estão criando uma barreira entre alunos e pais, ensinando-lhes algo completamente alternativo ao que os pais estão tentando ensinar".

Ninguém sabe exatamente quando a sociedade entrará na "idade das trevas" prevista por Chesterton, mas a conversa de hoje com Dale Ahlquist fornece às famílias bons conselhos sobre como podemos começar a nos preparar agora.



quinta-feira, 18 de junho de 2020

Hermenêutica da Falha. Vaticano II (ou Vaticano Too)


Após o artigo do arcebispo Viganò, no qual ele declara que o Concílio Vaticano II é a origem da criação de uma falsa Igreja Católica dentro da Igreja Católica, o assunto tenebroso Vaticano II, que nunca nos deixou, voltou à tona. Ontem, eu li um artigo bem interessante, pela simplicidade e verdade que exala, do Dale Price, no site Duspeptic Mutterings. O artigo consegue identificar com clareza que o Vaticano II (ou Vaticano Too, como Price chama, porque o Vaticano II é sempre usado como justificativa para o bem ou para mal) foi uma falha retumbante. 

Hoje, infelizmente eu não tenho tempo para tradução. Aqui vai o  excelente texto de Dale Price.

It's OK to admit failure. Sometimes it's a necessity.

And now for something completely-different:
 
It was only sixteen months ago--but it seems like a lifetime, doesn't it?

Remember the newsworthy joint declaration from the pontiff and the Sunni head of the Al Azhar University in Cairo? That bit about the Almighty willing religious diversity the same way He willed us to be male and female?

In defending that heretofore-unrevealed spin on Catholic teaching, the pontiff was adamant: "From the Catholic point of view, the document does not pull away one millimeter from Vatican II."

Interpreting what Vatican II said or what the footnotes supposedly help it say is an exercise reminiscent of late-stage scholasticism: a lot of ink spilled over puzzling/ambiguous minutiae to no benefit at all. Except for the publishing prospects or feuds of a ring of clerics or clericalized-laity who have the parchment license to use the cant of the initiated.

No, for the purposes here, the important thing is that, once again, Vatican II is invoked. In my snarkier moments I call it "Vatican Too," because like "too," the council is inserted into an embarrassing number of church contexts.

No ecumenical council insists upon itself quite like the 21st.

But why do we let our thinking be dominated by a failed enterprise?


FAILED ENTERPRISE?!

How can you say any such thing about an ecumenical council of the Catholic Church?

Well, why don't we do a couple of things before we flee to our fainting couches? First, let's consider the stated intent of that council.

Back in 1963 Pope Paul VI identified the goals of the Second Vatican Council as follows:
  
"You know the purpose of this council, which has more participants than any other: As it was expressed by our illustrious predecessor [Pope John XXIII], the Church must appear in its perennial vigor, the instrument of salvation for all; to her Our Lord Jesus Christ has entrusted the deposit of the Faith, to be guarded faithfully and in an apt and convenient way. This energetic vigor of the Church, which illuminates, attracts, moves souls, can take new strength from the council, which meets at the tomb of St. Peter.”

And how has that worked out for us, three generations later? The Church is dead in Western Europe, moribund in Latin America, withering or barely holding its own in Asia and well on the way to irrelevance in North America.

Only sub-Saharan Africa is a place of consistent growth, but that can hardly be taken for granted.

Thus, according the stated goals as set forth by Paul VI, one of the presiding popes of that council, Vatican II has failed. 

Some of you are mentally recoiling in horror right now (or haven't stopped)--but why? 

The second thing you have to remember is that
the long history of the Church tells you you should not be freaked out. A searching look back across the centuries demonstrates that a failed ecumenical council is Just One of Those Things

Councils have failed before and will fail in the future. Is anyone still talking about the Spirit of Vienne, or asking about Lateran IV?

I hear the sputtering "Butbutbut--it's *you* who aren't taking the long view. Everyone knows it takes a century for a council to take effect!!!”

And where is that written? That’s just one of the popular apologetics slogans, right alongside the no True Scotsman-y "hasn't been implemented properly," "it's not in the actual documents" and "bad translation." It's spin--pure ahistorical, corporate spin.
And it’s especially laughable if you peruse Church history. Lateran V closed in 1517, but by 1545 it had been justly forgotten after half of Europe had become Protestant. Certainly, there was no one in the Catholic world dumb enough to suggest that Lateran V just needed some more time to leaven the dough of faith, or some similar happy metaphor defending the downward trajectory.

Unfortunately for our time, the one thing that unites the entire leadership of the Church, regardless of label, is that Vatican II Was Just Fine, no matter what the statistics say about the disintegration of Catholic observance across three continents. So instead of accepting the fact that VToo was, by virtue of its pastoral mindset and focus on the moment, reaching out to the world of the 1960s, making it a council with a built-in sell-by date...it is turned into a platonic Form. It is a super-council, "a language event" unconstrained by time or place, a totally unique episode in the Church untethered from her past.

While the “hermeneutic of continuity” scholastics would argue against the last clause, it really has been treated like that, even by the 'conservative' popes. Both of whom unswervingly took the Council as the unalterable touchstone and functional super-event in one way or another. And they agreed that, of course, “these things take time.”
The only difference with the current pontiff is that he takes the gestalt of the council to its logical end. He’s a true believer in singing a new church and has not the slightest qualms. Forward, forward, always forward! The only problems he sees in the Church are with those who object—rigidly, of course—to another half-century of giddy autodemolition praised as a fruit of the spirit.

When you consider the undeniable ambiguity of the conciliar documents, the wholesale re-constitution of the liturgy which followed and the declarations of independence from the magisterium which were only occasionally and half-heartedly reined in, the much-derided “spirit of the council” is usually the council itself on laughing gas.

And the fact that 'conservatives' and 'liberals' alike insist on using "*the* council" as *the* polestar in the face of disintegration….well, that makes Vatican II the wordiest suicide note in history.

....



quarta-feira, 17 de junho de 2020

Perguntaram a Viganò o que Fazer. Ele respondeu.


Em tempos em que heresias são exaltadas nos mais altos escalões da Igreja, em que a Doutrina, a Tradição e virtualmente todos os dogmas que têm fontes biblicas estão sob ameaça, enquanto clérigos dizem que está tudo bem e até maravilhoso, perguntaram ao arcebispo Viganò o que o católico deve fazer.


Aqui vai uma tradução rápida da resposta dele para o português. 

-------

Querido  Tosatti,

 Li com interesse o apelo que o “Pezzo Grosso" me dirigiu nas páginas da Stilum Curiae.  Como se trata de uma pergunta muito séria que está no coração de muitos de seus leitores e de grande preocupação para eles, eu me apresso em responder.

 A resposta que imediatamente vem à minha alma é a que encontramos no evangelho: “Estote parati, quia nescitis diem, neque horam” [vigie, porque você não conhece o dia ou a hora] (Mt 24:44).  Devemos estar preparados, não apenas para a vinda do Filho do Homem, mas também para as provações que a precederão e que nos obrigarão a escolher de que lado estamos: com Cristo ou contra Ele.

 Se é verdade que “quem observa o vento nunca semeia, e quem olha para as nuvens não colhe” (Ec 11: 4), é igualmente verdade que o tempo disponível para nós não nos permite esperar o vento  acalmar ou para que as nuvens que escurecem a Igreja sejam dissipadas.  Se quisermos semear um pouco de bom e colher seus frutos, com a graça de Deus, devemos agir como as virgens prudentes: aguardando com lâmpadas acesas a vinda do Noivo - segurando as lâmpadas da Fé e da Santa Missa, os Sacramentos  e oração.  As virgens tolas, que não tomaram o cuidado de manter suas lâmpadas cheias do óleo da vida de graça e virtude, tarde demais descobrirão que são incapazes de ir e encontrar o Senhor que vem.

Outra coisa importante é saber decifrar o que está acontecendo neste momento histórico.  Devemos aprender a conhecer e avaliar os fatos, não apenas tomados em si mesmos individualmente, mas também em sua colocação no mosaico geral, o que nos permite descobrir todo o design à luz da fé.

 Por décadas, ouvimos palavras infladas que enfatizaram apenas uma dimensão escatológica genérica da existência, negligenciando a pregação sobre as Últimas Coisas.  Isso certamente não nos preparou para enfrentar o julgamento final e nos deixou despreparados para nos defender do inimigo, somos mesmo completamente incapazes de reconhecê-lo e seus enganos secretos.  Com firme determinação, devemos nos opor às frases vazias daqueles que procuram nos cercar com as eternas palavras da Palavra de Deus, contra as quais os discursos politicamente corretos das virgens tolas se chocam.  Segundo alguns, a visão do Evangelho é uma visão simplista que horroriza aqueles que, amando o mundo e sua mentalidade falsa e hipócrita, não podem amar o Senhor, a Verdade ardente que não admite exceções: divisora ​​como a luz em comparação com as trevas e como  bom comparado ao mal.

Vamos aprender a chamar as coisas pelo nome, com simplicidade e calma;  paremos de seguir, por uma questão de viver em silêncio, as ilusões daqueles que nos falam de tolerância e aceitação somente quando se trata de abrir espaço para erros e vícios;  paremos de usar suas palavras mágicas como "diálogo", "solidariedade" e "liberdade" que ocultam o engano do adversário e escamoteiam a exploração, a tirania e a perseguição dos dissidentes.

 Nós somos cristãos, então vamos falar a língua de Cristo!  “Deixe seu 'Sim' significar 'Sim' e seu 'Não' signifique 'Não' '. Tudo mais é do Maligno” (Mt 5:37).  Estamos em guerra com um inimigo que quer mesmo decidir as armas com as quais somos capazes de resistir a ele.  Deixamos que ele penetrasse a ponto de profanar nossos altares, sacramentos e Santíssima Eucaristia!  As regras nos foram impostas para favorecer descaradamente o lado oposto.  Chegou a hora de nos recusarmos a aceitar essa invasão obscena e a maneira pela qual o inimigo impossibilita qualquer ação eficaz de nossa parte para expulsá-lo!

A primeira coisa a fazer é estar ciente de que estamos em guerra com o mundo, a carne e o diabo.  Nesta guerra, não podemos permanecer neutros, não podemos ignorá-la e muito menos podemos tomar partido do inimigo.  Nós nos encontramos na situação absurda em que nosso próprio comandante parece se recusar a nos guiar.  Parece até que ele flerta com nosso adversário, apontando um dedo para nós como inimigos da concórdia e fomentadores do cisma, enquanto nossos generais se aliam ao oponente e ordenam que suas tropas largem suas armas.  É evidente que, sem a ajuda de Deus, toda a esperança falha.  E, no entanto, devemos lutar, devemos estar prontos, devemos manter nossas lâmpadas acesas e nossos lombos cingidos, certos de que, juntamente com Cristo, já conquistamos.  Tudo o que podemos fazer - oração, especialmente o Santo Rosário, fidelidade aos deveres de nosso estado na vida, responsabilidade para com as pessoas confiadas a nossos cuidados, testemunho de fé e caridade, compromisso social - tudo isso deve ser realizado como  é possível para cada um de nós, de acordo com o que a Providência dispõe para cada um de nós.  Vamos nos deixar guiar pelo Senhor com total confiança e entenderemos o que é exigido de nós, dia após dia, momento a momento.

Juntamente com o “Pezzo Grosso”, retomo a bela Oratio Universalis [Oração Universal] de Clemente IX: Redde me prudentem in consiliis, constantem in periculis, Patientem in adversis, humilem in prosperis.  Torne-me prudente no planejamento, corajoso em perigo, paciente em adversidade, humilde em prosperidade. 

Discam a Te quam tenue quod terrenum, quam grande quod divinum, quam breve quod temporaneum, quam durabile quod aeternum.  Que eu possa aprender com você o quão frágeis são as coisas da terra, quão grandes são as coisas do céu, quão breve é ​​o que acontece aqui na terra e quão duradouro é o que está na eternidade.

 + Carlo Maria Viganò



terça-feira, 16 de junho de 2020

Sínodos da Alemanha Terminam em Cisma. Temos Mais um em 2020.



    Em tempos de pandemia e de estupidez do Black Lives Matter pelo mundo, não se tem falado muito do "Synodale Weg" (sínodo alemão da Igreja Católica). Mas o jornalista Sandro Magister está atento a todas as tentativas "progressistas" que estão saindo de lá. É aquela velha vontade de tornar a Igreja Católica mais uma "igreja protestante" na liturgia e na teologia (eliminando as diferenças entre catolicismo e protestantismo, desconfessionalizando), de apoiar o que se considera "progresso científico", de  acabar com o celibato, de permitir mulheres como padres, de permitir aceitação de gays, de retirar a condenação a Lutero, de retirar o poder de Roma, de eliminar a tradição católica (peregrinações, relíquias,...),em suma, de destruição da Igreja Católica.

A Igreja Católica na Alemanha é conhecida como a sede da Igreja mais rica do mundo. Lá, a Igreja é alimentada por impostos coletados pelo Estado que a sustentam. Não é estranho que a riqueza, o conforto estimule a destruição. Isso é muito facilitado pelo estado secular progressista alemão que controla a Igreja.  Sempre lembro que muitos líderes marxistas eram ricos, da classe dominante ou filhos de ricos, como Marx, Engels, Lenin, Trostsky, Fidel, Luckacs...Hoje em dia, vimos os homens mais ricos do mundo em apoio ao Black Lives Matter, ao aborto, ao casamento gay, à redução forçada da população mundial em nome do clima, etc.

Hoje, Magister trouxe uma perspectiva histórica interessante sobre conflitos sínodais da Igreja Católica da Alemanha. Todos terminaram em cisma. O atual sínodo nada mais é que mais uma tentativa de protestantizacao que vem sendo tentada desde o século 18 na Alemanha. 


Aqui vai uma tradução (avisem-me se virem algum problema na tradução, fiz de forma muito rápida).

A Igreja alemã entre o "Apelo Nacional" e a Primazia de Roma

por Roberto Pertici

As contribuições de Sandro Magister e Pietro De Marco no “Synodale Weg” em andamento na Alemanha e na possível deriva cismática da Igreja alemã são de grande interesse para aqueles que buscam entender a relação entre a Igreja Católica e a sociedade contemporânea.

E, no entanto, o historiador, mesmo que não seja um especialista na intrincada história religiosa da Alemanha, tem a impressão de "déjà-vu". Embora com conteúdos parcialmente novos, impostos pelo desenvolvimento sociocultural dos últimos cinquenta anos, estamos diante de mais uma tentativa de indivíduos e grupos - hoje, ao que parece, a maioria - do catolicismo alemão de estabelecer uma espécie de Igreja nacional, com a objetivo de reconstituir a médio e longo prazo a unidade religiosa da Alemanha e reconstituí-la com uma substancial protestantização de sua teologia, liturgia e estrutura interna.

Se alguém não se lembra dessa aspiração nacional - outros diriam essa tentação nacional - há o risco de reduzir tudo a uma deriva teológica, a uma luta entre ortodoxia e heterodoxia, a um conflito intra-eclesial: tudo o que existe , mas que talvez não sejam suficientes para explicar completamente o fenômeno que temos diante de nossos olhos.

O catolicismo alemão frequentemente oscilou entre esse "apelo nacional" (na prática, uma atração, talvez não confessada), ao protestantismo, com o qual - não deve ser esquecido - vive em simbiose) e o reconhecimento da primazia romana: uma oscilação tornada ainda mais dolorosa e dramático pelo fato de que, a partir de Lutero e Ulrich von Hutten, a identidade germânica foi formada precisamente em oposição à "Babilônia" romana. Pode-se ser um "bom alemão" e ao mesmo tempo católico, ou seja, obediente a um poder distante odiado por tantos compatriotas? Essa questão se desenrolou ao longo dos séculos da história alemã, até o Kulturkampf de Bismarck e a política religiosa do Terceiro Reich.

No início do século XIX, a figura mais eminente desse "apelo nacional" e da proposta teológico-educacional subjacente era Heinrich Ignaz von Wessenberg (1774-1860), vigário geral e administrador do bispo da diocese de Konstanz, que propôs e defendeu seu programa de uma igreja nacional alemã em nada menos que o Congresso de Viena. Ele tinha atrás de si as clássicas teses anti-romanas da tradição "febroniana" (a redução das prerrogativas papais a um simples primado da honra e não da jurisdição; maior importância dada ao corpo episcopal; a supremacia do concílio sobre o papa; o direito das prerrogativas do Estado contra a interferência da Sé Papal) e a luta do catolicismo iluminista contra a mania das peregrinações, o culto às relíquias, o autoritarismo das estruturas eclesiásticas.

Franz Schnabel, o grande historiador da Alemanha do século XIX, resume as idéias religiosas de Wessenberg assim: a suspeita da ciência racionalista pela ciência escolástica; a instituição de parlamentos eclesiásticos nas dioceses; a formação do clero de acordo com a ciência mais moderna; o questionamento do celibato eclesiástico; a reforma da vida litúrgica, tornando a pregação “a parte mais importante de cuidar das almas”; a introdução da missa em alemão e a germanização do breviário, do canto e dos livros devocionais; hostilidade em relação a peregrinações e ordens mendicantes; a reforma da arquitetura eclesiástica de acordo com o uso protestante ou puritano, o mais austera e cinzenta possível (para o altar principal, ninguém, exceto Cristo, foi admitido, imagens de santos foram evitadas, exceto para os patrões da igreja, que, no entanto, precisavam ser colocados apenas pelos altares laterais "enquanto estes permanecerem"). Uma de suas ordenanças sobre casamentos permitiu a bênção de casamentos confessionais, desde que os filhos seguissem a confissão do pai e as filhas da mãe.

Sem criar curtos-circuitos históricos, não há uma certa semelhança familiar com as teses do atual "Synodale Weg"?

Outro exemplo sensacional do "apelo nacional" foi o cisma do padre silesiano Joahannes Ronge em meados da década de 1840, quando três décadas se passaram desde o Congresso de Viena, décadas nas quais a consciência nacional alemã havia sido enormemente desenvolvida e superexcitada, enquanto o ultramontanismo dominou a política papal.

Ronge também tinha a tradição "febroniana" por trás dele, ainda viva na Silésia. Em outubro de 1844, ele escreveu uma carta aberta ao bispo de Trier Arnoldi para denunciar a ostentação que ele atribuiu a uma famosa relíquia, a “Túnica de Cristo”, para a qual meio milhão de peregrinos corria. Ronge acusou Arnoldi de manipular conscientemente os fiéis católicos incautos através de "teatros não-cristãos" para engordar os cofres eclesiásticos e promover a "escravidão material e espiritual da Alemanha" a Roma. O padre silesiano estava se dirigindo a dois públicos diferentes, proporcionando a cada um deles um objetivo específico: ele convidou os racionalistas presentes no clero católico a se oporem ao conformismo teológico e os "compatriotas alemães, católicos e protestantes" a vencer a divisão confessional da Alemanha. Após a excomunhão em dezembro de 1844, ele anunciou o estabelecimento de um “Igreja Geral Alemã” (ver Todd H. Weir, “Secularismo e Religião na Alemanha do século XIX: a ascensão da Quarta Confissão”, Cambridge University Press, 2014).

Como muitos seguidores de Wessenberg após 1830, Ronge também radicalizou suas posições políticas e religiosas: ele participou dos eventos do parlamento de Frankfurt de 1848-49 e depois foi exilado para a Grã-Bretanha, onde se tornou um defensor do "secularismo" e pensamento livre.

Um cisma de professores e intelectuais - mesmo que não faltasse a adesão de um ilustre prelado e historiador como Ignaz von Döllinger - foi o de Altkatholiken, os antigos católicos, em 1871, em oposição à proclamação do dogma da infalibilidade papal aprovada pelo Concílio Vaticano I em 18 de julho de 1870. Segundo um de seus líderes, o grande canonista Johann Friedrich von Schulte, esse dogma mudou a natureza da Igreja e sua constituição apostólica e constituía uma ameaça aos Estados, porque daria à Santa Sé enormes possibilidades de intervenção em sua vida interna, exigindo a obediência cega de episcopados, clérigos e fiéis. Esse perigo era particularmente evidente para o novo império germânico fundado em 18 de janeiro de 1871, no qual havia uma forte presença católica, particularmente influente em alguns estados, e um novo partido católico, o Zentrum, que corria o risco de se tornar a "longa manus" do Vaticano em Política alemã.

Preocupações dogmáticas e religiosas, portanto, e preocupações nacionais e anti-romanas coexistiram em Schulte e no Altkatholiken, na ilusão de encontrar apoio no episcopado alemão, que em vez disso - com poucas exceções - se uniu à maioria infalibilista. Então os Altkatholiken procuraram um interlocutor no topo do novo Reich, em particular no príncipe de Bismarck, e sabe-se que essa aliança era então uma das bases do Kulturkampf subsequente.

Essas três tentativas encontraram a firme condenação da Santa Sé, com provas canônicas e excomunhão, e tiveram pouco acompanhamento no clero e nos leigos, embora a seita de Ronge, a dos Deutschkatholiken, tenha sobrevivido por várias décadas. Sem - repito - exagerando nos paralelos históricos, parece que a “jornada sinodal” empreendida hoje (cuja radicalidade certamente teria surpreendido Wessenberg e talvez também Ronge e Döllinger) conquistou a hierarquia da Alemanha em sua totalidade.

Acredito que a filosofia subjacente do “Synodale Weg” de hoje foi indicada anos atrás por um eminente clérigo alemão, cardeal Walter Kasper. Já tive ocasião de indicar aos leitores de Settimo Cielo uma conferência sobre Lutero, realizada em 18 de janeiro de 2016 (W. Kasper, “Martin Luther. Uma perspectiva ecumênica”, Brescia, Queriniana, 2016) e a proposta nela contida. “Desconfissionalização” das confissões protestantes e da Igreja Católica: uma espécie de retorno ao “status quo ante” da eclosão dos conflitos religiosos do século XVI. Uma vez que essa “desconfissionalização” já ocorreu em grande parte no campo luterano, é o mundo católico que deve seguir com mais coragem nessa direção: Kasper fala de uma “redescoberta da catolicidade original, não restrita a um ponto confessional". É claro que as propostas de Kasper são dirigidas à Igreja universal, mas suas raízes alemãs são igualmente evidentes.

A “jornada sinodal” que a hierarquia católica alemã propõe é precisamente em vista dessa “desconfissionalização” e, portanto, também de um encontro com os outros componentes do cristianismo germânico. Certamente tem por trás os caminhos teológicos claramente indicados por Pietro De Marco, mas parece um processo histórico clássico "por exaustão". A impressão é que as razões e motivos clássicos da teologia e eclesiologia católica que De Marco recorda não interessam mais a ninguém na maioria da hierarquia e ao mundo católico alemão, que agora tem uma abordagem mais "política" - como De Marco também adverte - do que “teológica” a questões fundamentais, de acordo com a centralidade cada vez maior da política no discurso católico. Se a “jornada sinodal” continuar e for realizada, o que realmente falta para reerguer a unidade religiosa da Alemanha, pelo menos na vida dos fiéis que permanecem?

E Roma? "Lint intanceance suivra!" Tenho a impressão de que é isso que os bispos alemães pensam: que até Roma, com seus comboios, mais cedo ou mais tarde aparecerá.