terça-feira, 23 de março de 2021

Vacinas, Uso de Células Abortivas e Princípio do Duplo Efeito


Hoje, li textos bem interessantes escritos pelo Dr. Bob Kurland (pesquisei sobre ele, imagino que seja o físico Robert Kurland) sobre a relação entre vacinas e uso de células provenientes de abortos para testá-las e produzi-las.

Para começar, Kurland me indicou um site muito interessante do Instituto católico Charlotte Lozier que traz uma análise de todas as vacinas relacionadas ao Covid em relação ao uso ou não de células abortivas.

Cliquem no site e analisem todas, mas para nosso caso vou mostrar aqui a questão para três vacinas (Chinesa (Sinovac), Americana- Alemã (Pfizer) e a de Oxford (AstraZaneca)).

A Sinovac (coronovac), que usa vírus inativado, não usa células abortivas HEK293 (célula de um rim de criança feminina abortada) na produção da vacina, mas usou nos testes.

A vacina Pfizer, que usa como modelo de vacina o RNA, é a mesma coisa da Sinovac, usou células abortivas nos testes, mas não usa na produção das vacinas.

A vacina inglesa de Oxford, que adota modelo vetor viral, usa a HEK293 tanto na produção da vacina, como usou nos testes.

Em suma, todas usaram as células abortivas de uma maneira ou de outra.

Em posts, muito interessantes e que trazem links também interessantes, Bob Kurland mostra a relação da Doutrina Católica com vacinas abortivas.

Em um desses posts, eles nos diz (traduzo):

"O diácono Tom, meu diretor espiritual, disse-me que a Igreja havia emitido uma diretiva sobre essa questão há cerca de 15 anos. Em 2003, a Sra. Debra Vinnedge, Diretora Executiva - Filhos de Deus para a Vida, escreveu ao Papa Bento XVI. Ela pediu ao Papa Bento XVI orientações sobre o uso de vacinas preparadas a partir de linhagens celulares de fetos humanos abortados. Dois anos depois, a Pontifícia Academia para a Vida produziu um documento com essas orientações; os principais pontos de seu estudo são resumidos a seguir.

Em “Moral Reflections on Vaccines Prepared from Human Cells Derived from Aborted Human Foetuses,", os seguintes princípios éticos gerais são apresentados em relação aos graus de "cooperação no mal":

Cooperação formal - a pessoa coopera e compartilha da má intenção do pecador;

Cooperação material - a pessoa coopera, mas não compartilha da má intenção do pecador;

Cooperação Material Imediata (direta) - a pessoa participa da execução do ato pecaminoso;

Cooperação Material Mediata (indireta) - fornece os meios para a execução, mas não participa do ato;

Cooperação Material Passiva (negativa) - não se denuncia nem impede a prática do ato pecaminoso, visto que tem o dever moral de fazê-lo.

É claro que não se deve usar vacinas derivadas de ou que façam uso de linhagens celulares de tecido fetal, se houver vacinas alternativas disponíveis ou se não houver risco à saúde decorrente do não uso de uma vacina. 

E se vacinas alternativas não estiverem disponíveis e houver um risco considerável para a saúde? O documento fornece as seguintes diretrizes:

… Se estes últimos [a população em geral] estão expostos a consideráveis ​​perigos para sua saúde, vacinas com problemas morais que lhes dizem respeito também podem ser usadas temporariamente. A razão moral é que o dever de evitar a cooperação material passiva não é obrigatório se houver graves inconvenientes. Além disso, encontramos, em tal caso, uma razão proporcional. op.cit.

Obviamente, o “motivo proporcional” é evitar ser uma fonte de infecção. 

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Nos três posts que li de Kurland sobre o assunto, eu diria que ele defende o uso de qualquer vacina para casos em que a pessoa estejam em grupos de risco, como ele mesmo (ele tem 90 anos) e sua mulher (que tem várias comorbidades e tem mais de 85 anos), mas ele apoia que os católicos devam buscar as melhores alternativas, se elas existirem

Ele se pergunta se uso das células abortivas já condenaria a vacina. Parece dizer que sim, mas deve ser tomada se não houver alternativas.

Também questiona a ação de católicos contras as vacinas que usam células abortivas, se perguntando se isso ajudaria a causa contra o aborto.

Ele diz que aqueles condenam as vacinas que usam células abortivas, na melhor das hipóteses, usam argumentos ligeiros e na pior das hipóteses podem prejudicar aqueles que devem tomar a vacina.

Kurland gosta também de usar o Princípio do Duplo Efeito de São Tomás de Aquino para analisar o ato de tomar a vacina:

Em resumo o Princípio de Duplo Efeito possui 4 peneiras:

  1. O ato, em si mesmo, não deve ser mau;
  2. A pessoa que pratica o ato deve ter a intenção de fazer o bem, não o mal;
  3. O bom efeito do ato deve proceder diretamente, ao invés de indiretamente do ato (fins bons não justificam maus meios);
  4. Os bons efeitos do ato devem superar os efeitos negativos (a condição de proporcionalidade)

Daí, Kurland responde

"Vamos ver como isso pode ser aplicado ao problema da vacina covid-19. Com relação à condição 1 acima, podemos certamente dizer que o ato da vacinação em si é moralmente neutro. (Assim como pregar um prego na parede é um ato moralmente neutro.) Com relação à condição 2, podemos dizer que a intenção é fazer o bem, para evitar que alguém contraia covid-19. E certamente o bom efeito do ato procede diretamente da própria vacinação, de modo que a condição 3 é satisfeita. Eu afirmo que os bons efeitos do ato são muito maiores do que os maus, então a condição 4 é satisfeita."

Talvez o ponto mais fraco da argumentação dele é quando diz que se tivesse 30 anos ele rejeitaria a vacina, mas que não pode rejeitar na idade dele.

Em todo caso, eu gostei da argumentação dele.


6 comentários:

  1. Qual vacina Pedro tomaria tendo opções.

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    1. O catálogo de vacinas que coloquei traz inúmeras vacinas. Mas muito poucas estão disponíveis. Em todo caso, acho que as vacinas têm se mostrado eficientes, talvez sejam ainda aperfeicoadas, mas parecem funcionar.

      Abraço

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  2. Olá amigo! boa noite!
    Dias atrás conversamos sobre isso. O assunto é muito importante para o momento.
    A vacina contra covid é que tem gerado toda essa discussão, mas como dissemos, outras vacinas já são feitas há décadas com essas células: rubéola, hepatite, etc.
    As células usadas hoje provém de uma cultura celular imortalizada, não havendo a adição de novas células fetais. A meu ver, a discussão toda gira em torno da origem dessas células, pois as culturas celulares de hoje não têm mais nenhuma ligação com as células retiradas dos fetos.
    Cordialmente em Cristo,
    Gustavo.

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    1. Sim, Gustavo. Essa sua argumentação é importante para o debate.

      Grande abraço
      Pedro Erik

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  3. Caro Pedro Erick, a respeito desse tema, há um sacerdote, vivo, no Brasil, Padre Carlos Lodi, da Associação Pró-vida, que escreve e tem aulas em vídeo sobre o assunto. Eis o link do site:
    https://www.providaanapolis.org.br/
    Deus abençoe!

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Certa vez, li uma frase em inglês muito boa para ser colocada quando se abre para comentários. A frase diz: "Say What You Mean, Mean What Say, But Don’t Say it Mean." (Diga o que você realmente quer dizer, com sinceridade, mas não com maldade).