Pois é, nas universidades da idade média já se sabia disso. Se desejarem conhecer mais sobre como a idade média estudava, leiam God's Philosophers de James Hannam.
Falo desse assunto, pois no dia 11 passado o papa Bento XVI lançou o que é considerado o mais importante documento sobre as escrituras da Bíblia desde o Concílio Vaticano II de 1965.
O documento se chama Verbum Domini (A Palavra de Deus) e nele o papa exorta os católicos a lerem mais a Bíblia. Isso pode parecer comum, mas não é. Os católicos, ao contrário de muitos membros das religiões evangélicas, não são conhecidos por lerem a Bíblia. A própria Igreja Católica por séculos tentou restringir a leitura de leigos da Bíblia com receio de interpretações heréticas. Há apenas 100 anos isso mudou e o papa reforça a necessidade de que os leigos se debrucem mais sobre o texto sagrado.
O papa ressalta um método de leitura chamado Lectio Divina. Esse método afirma que o estudo dos textos bíblicos deve ser feito seguido de oração, meditação e contemplação de Cristo. O papa ainda falou que essa leitura deve levar a atos cristãos, como a caridade.
Mas o papa lembrou que deve-se evitar o risco de uma abordagem individualista das escrituras, pois a "Palavra de Deus nos é dada precisamente para construir comunhão, para nos unir na Verdade no nosso caminho para Deus. Sendo uma Palavra que se dirige a cada um pessoalmente, é também uma Palavra que constrói comunidade, que constrói a Igreja... A Escritura não pertence ao passado, porque o seu sujeito, o Povo de Deus inspirado pelo próprio Deus, é sempre o mesmo e, portanto, a Palavra está sempre viva no sujeito vivo. Então é importante ler a Sagrada Escritura e ouvi-la na comunhão da Igreja, isto é, com todas as grandes testemunhas desta Palavra, a começar dos primeiros Padres até aos Santos de hoje e ao Magistério atual."
Interessante e mais técnico é quando o papa fala da interpretaçao acadêmica dos textos bíblicos, quando se usa uma metodologia histórica e crítica das escrituras. Ele ressalta a necessidade que isso seja feito, mas lembra o valor da Teologia no estudo da bíblia para que não se afaste Deus da história. Há dois níveis metodológicos que devem ser observados: histórico-crítico e teológico. Estes níveis metodológicos não devem ser contrapostos, nem justapostos. Eles só funcionam em reciprocidade.
A Escritura para a Igreja Católica deve ser interpretada usando três critérios para se respeitar a dimensão divina da Bíblia: "1) interpretar o texto tendo presente a unidade de toda a Escritura; isto hoje chama-se exegese canônica; 2) ter presente a Tradição viva de toda a Igreja; 3) observar a analogia da fé. Somente quando se observam os dois níveis metodológicos, histórico-crítico e teológico, é que se pode falar de uma exegese teológica, de uma exegese adequada a este Livro".
O documento é fruto da XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, celebrada em Roma de 5 a 26 de outubro de 2008. Foi publicado em latim, italiano, inglês, francês, espanhol, alemão, português, polonês. Consta de uma introdução, três partes e uma conclusão.
Se desejar ler o texto completo em português clique aqui.
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Certa vez, li uma frase em inglês muito boa para ser colocada quando se abre para comentários. A frase diz: "Say What You Mean, Mean What Say, But Don’t Say it Mean." (Diga o que você realmente quer dizer, com sinceridade, mas não com maldade).