sexta-feira, 29 de abril de 2011

No Irã: Cachorros, Hipocrisia e Impeachment



Eu li ontem três notícias reveladoras sobre o Irã. Vamos começar pela engraçada (mas estúpida), depois falamos da hipocrisia dos países que se relacionam com o Irã e finalmente falamos sobre a briga subterrânea entre Ahmadinejad e Khamenei, que pode levar ao impeachment do presidente.

Bom, a engraçada mas estúpida é que os parlamentares do Irã querem proibir que as pessoas tenham cachorros nos país, acham que cachorros são sujos e anti-islâmicos e que são influências da mente ocidental nojenta, que os iranianos assistem nos filmes. Foi Azadevi Moaveni da Time que deu a notícia. A lei proposta prevê punições para quem "caminhar com e manter animais impuros e perigosos". Há multa de até 500 dólares e não se estabelece o que será feito dos cachorros, mas deve ser a morte deles, já que são impuros. O pior é que nós ocidentais também somos.

O podcast do The Young Turks discute essa estupidez com humor, veja abaixo:


A segunda notícia é que os países europeus que deveriam evitar negócios com o Irã, por causa das sanções impostas ao regime daquele país, esquecem tudo isso quando sentem o cheiro do dinheiro. É o que noticia Ken Timmerman do Newsmax.


Centenas de empresas do ramo petrolífero do mundo inteiro, inclusive do Brasil (deve ser a Petrobrás, eu suponho),  se encontraram em Teerã no último sábado para discutir negócios com o país, fazendo chacota das sanções aprovadas nos Estados Unidos e na Europa. Uma coalizão de organizações em favor dos direitos humanos e contra as armas nucleares no Irã condenou os países europeus por serem hipócritas. Ao que parece companhias americanas evitaram o vexame.

O pior exemplo veio da Alemanha, com maior número de participantes do governo e de empresas presentes entre os europeus, enquanto a primeira ministra Angela Merkel se apresenta em favor das sanções. Mas Itália, Espanha, França e Reino Unido também estavam presentes. A China levou o maior contingente de participantes.

A última notícia foi divulgada pelo jornal inglês The Guardian, que fala que um racha entre o presidente Ahmadinejad e o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, pode provocar impeachment do presidente. Alguns parlamentares pedem a cabeça de Ahmadinejad e desde sexta-feira o presidente não é visto em público.

Segundo a reportagem o principal motivo é a influência de Esfandiar Rahim Mashaei (foto abaixo atrás do presidente), que é pai da esposa do filho de Ahmadinejad.

Mashaei foi primeiro vice-presidente, cotadíssimo para assumir a presidência depois que Ahmadinejad deixasse o poder. Mas Khamenei pediu a cabeça dele, Ahmadinejad tirou Mashaei do cargo de vice-presidente, mas o colocou como chefe de governo.  Mashaei tem um visão mais nacionalista, menos teocrática, com menos controle social, mas Khamenei que manter a teocracia forte, é a fonte de poder dele.


Há outros problemas além de Mashaei. No dia 17 de abril, sob pressão do presidente, o ministro da inteligência, Heydar Moslehi, pediu demissão, mas Khamenei mandou ele voltar ao cargo e ele assim o fez. Constitucionalmente não há poderes para Khamenei, mas todo mundo sabe quem manda. E ele provou isso para Ahmadinejad.

Khamenei apoiou publicamente Ahmadinejad durante as eleições de 2009, mas parece que se arrependeu, vendo que o presidente tenta aumentar seu poder de comando.

Bom, o mundo vai tateando na política iraniana, de cachorro a possível impeachment. Ninguém sabe muito bem o que há por lá. Todos meio perdidos, como cachorros em dia de mudança.


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Certa vez, li uma frase em inglês muito boa para ser colocada quando se abre para comentários. A frase diz: "Say What You Mean, Mean What Say, But Don’t Say it Mean." (Diga o que você realmente quer dizer, com sinceridade, mas não com maldade).