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Eu costumo dizer aos meus alunos que se jornalistas conhecessem as falácias lógicas derrubariam muita gente no poder hoje. E qualquer pessoa que conheça estas falácias vai ser bem mais exigente ao ler um artigo de jornal ou livro. Muitos autores considerados excelentes serão vistos como medíocres.
Uma das razões que se deve estudar primeiro filosofia e depois teologia nos seminários é que a filosofia ensina a pensar, a observar os erros de lógica de raciocínio.
As falácias mais comuns, aliás, extremamente comuns, são duas: 1) Falácia do Espantalho e 2) Falácia Ad Hominem. Todo dia alguém as comete na televisão. Acima, vai a foto de um pôster com diversas falácias que pode ser comprado pela internet. A primeira que vemos no pôster é a do espantalho (strawman) e a quarta mostra a do ad Hominem. Se você quiser ver um site (em inglês, infelizmente) com a explicação de falácias lógicas, clique aqui.
A Falácia do Espantalho é não discutir aquilo que o interlocutor falou,
trocar o assunto e discutir outra coisa que não é o argumento inicial. É como se a pessoa rebatesse o argumento de um espantalho e não o do interlocutor. Por exemplo: Zé diz que o país precisa aumentar os gastos
com segurança para evitar entrada de drogas. Aí, o Chico, usando a falácia, responde que o Zé
está querendo deixar as crianças sem livros e merenda escolar. O Chico
não discutiu a argumentação do Zé e falou um coisa que o Zé não disse.
Isto é extremamente comum em debates políticos. Um político faz uma pergunta e o outro responde sobe outra coisa, deixando o tempo passar. Geralmente o político procura levar toda a discussão para um tópico que ele tenha vantagem. Se o cara fez uma péssima política de segurança pública, a quem o acusa ele responde que a pessoa quer deixar as crianças com fome, como fez o Chico no exemplo acima.
A Falácia ad Hominem ocorre quando se ataca o caráter do interlocutor sem responder o que ele falou. Por exemplo: "o Chico diz que não vai discutir segurança pública com o Zé, porque o Zé traiu a esposa".O caráter de uma pessoa deveria ser dissociado do assunto.
Ontem, eu li um artigo que acompanhou quantas vezes Obama cometeu a Falácia do Espantalho durante seu discurso de posse. O autor identificou 10 Falácias do Espantalho em 20 minutos do discurso. Isto é, Obama cometeu este erro de lógica a cada 2 minutos! Impressionante. E muita gente acha que o discurso foi muito bom.
A retórica de Obama é em favor de maior presença do governo na economia, então boa parte das falácias se encontram neste aspecto.
Vejamos alguns exemplos (traduzo em azul o que Obama disse e explico a falácia em seguida):
Obama disse:
1) “No single person can train all the math and science teachers we’ll need
to equip our children for the future, or build the roads and networks
and research labs that will bring new jobs and businesses to our
shores.” (Nenhuma pessoa sozinha consegue obter toda a matemática e ciências que os professores precisam para equipar nossas crianças para o futuro, ou construir pontes e estradas e estabelecer laboratórios de pesquisa para gerar novos empregos para nós)
Onde está a falácia? Ora, ninguém jamais argumentou que uma pessoa ou mesmo uma empresa consegue prover tudo para todos. Obama está batendo em um espantalho. Além disso, não existir esta pessoa não quer dizer que o governo deva fazer o serviço, mesmo porque o governo também não consegue fazer tudo e muitas vezes faz com enorme ineficiência.
2) “We do not believe that in this country freedom is reserved for the lucky, or happiness for the few.” (Nós não acreditamos que este país defenda a liberdade apenas para os sortudos, ou felicidade para poucos).
Onde está a falácia? Novamente, ninguém jamais defendeu isso. Liberdade para sortudos? Acho que ele está chamando os ricos de sortudos, como se as pessoas não trabalhassem muito para serem ricas. Ele está defendendo a distribuição de riqueza dos ricos para os pobres argumentando contra um espantalho. A distribuição de riqueza já foi defendida retoricamente várias vezes na história humana, e o resultado é sempre o mesmo, os que estão no poder ficam ricos e todo o restante fica pobre, ver Cuba, Venezuela, Coréia do Norte, China, etc.
3) “We, the people, still believe that enduring security and lasting peace do not require perpetual war.” (Nós, o povo, ainda acreditamos que segurança pública e paz não demanda guerra permanente).
Novamente, Obama bate em um espantalho. Aqueles que defendem a continuação da guerra, dizem sempre que se o conflito for abandonado o pior acontecerá ao país e à região do conflito. Não argumentam por uma guerra permanente.
4) “Our journey is not complete until our gay brothers and sisters are
treated like anyone else under the law, for if we are truly created
equal, then surely the love we commit to one another must be equal as
well.” (Nossa jornada não estará completa até que nossos
irmãos gays sejam tratados de forma igual na lei - pois se eles foram
criados iguais, então certamente o maor que nós temos para o outro deve
ser igual também").
Ninguém defende a discriminação com gays na lei, eles devem ter os mesmos direitos. Os cristãos argumentam, no entanto, que o casamento é entre homem e mulher, para melhor formação das crianças e do próprio país, pois tanto pai como mãe são imprescindível. Além disso, a frase faz pensar que aqueles que são contra o casamento gay são contra o amor entre as pessoas. Não tem nada a ver com argumento cristão.
É triste ver que a lógica não é mais estudada por todos os profissionais
como ensino básico, como era na Idade Média. E o
pessoal ainda fala mal da Idade Média.
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Certa vez, li uma frase em inglês muito boa para ser colocada quando se abre para comentários. A frase diz: "Say What You Mean, Mean What Say, But Don’t Say it Mean." (Diga o que você realmente quer dizer, com sinceridade, mas não com maldade).