Sempre que me fazem esta pergunta, eu respondo que Judas Iscariotes fez a mesma pergunta a Cristo. Está em João 12:2-7:
Ali ofereceram um jantar a Jesus. Marta servia e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Jesus.
Então Maria levou quase meio litro
de perfume de nardo puro e muito caro. Ungiu com ele os pés de Jesus e
enxugou-os com os seus cabelos. A casa inteira encheu-se com o perfume.
Judas Iscariotes, um dos discípulos, aquele que ia trair Jesus, disse: «Porque não se vendeu este perfume por trezentas moedas de prata, para dar aos pobres?»
Judas disse isto, não porque se
preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão. Ele tomava conta da
bolsa comum e roubava do que nela era depositado.
Jesus, porém, disse: «Deixai-a. Ela guardou este perfume para Me ungir no dia da minha sepultura. No meio de vós sempre haverá pobres; ao passo que Eu não estarei sempre convosco»
Seguindo Maria que honrou Cristo com "perfume puro e muito caro", a Igreja honra Cristo também com as riquezas que possui. E no meio de nós, "sempre haverá pobres", se a Igreja vendesse suas riquezas ficaria ainda menos capaz de servir aos pobres.
O blog Aggie Catholics mostrou 10 razões que explicam por que a Igreja não deve vender suas riquezas e doar aos pobres. Ele tambémm encionou a passagem que Cristo diz que "pobres, vocês sempre terão", mas usou a versão de São Mateus (26: 7-11). Eu gostou mais da versão de São João, pois ele é explícito sobre quem faz a pergunta a Cristo.
As 10 razões que o blog fala são bem conhecidas, mas vamos a elas. Eu adiciono a 11a:
- A Igreja Católica não é tão "rica", como alguns podem pensar. A maioria de suas "riquezas" está em ativos que foram dados como presentes.
- O que acontece depois de todo o dinheiro que se foi? Onde isso nos leva? Os pobres continuam pobres e agora a arte da Igreja, edifícios, etc estão nas mãos daqueles que podem não apreciá-los, nem permitir a visitação deles.
- A "Igreja" não é apenas a hierarquia, é de todos nós. O dinheiro de arte, edifícios é controlado por algumas pessoas, mas pertence a todos nós. O Papa e/ou Bispos não podem simplesmente vender tudo fora, porque acham uma boa idéia.
- O Povo de Deus tem dado à Igreja as riquezas que ela tem. Portanto, as pessoas têm o direito de ver as doações sendo preservadas. Se eu desse ao Vaticano uma obra de arte de valor inestimável para preservar e ela vendesse pelo maior lance, eu ficaria ofendido.
- Alguém já perguntou ao pobre se ele quer dinheiro dos ativos da igreja? Se eu fosse pobre e desse o pouco que tenho para se construir uma igreja e visse o edifício sendo vendido, eu ficaria apoplético. Pergunte a um católico pobres e piedosos da próxima vez que tiver a chance.
- A Igreja Católica faz mais para ajudar os pobres do que qualquer outra organização privada. Isso aponta que o argumento não é sobre os pobres ou sobre as "riquezas" da Igreja Católica, mas sobre o coração dos homens. Lembre-se que muitos religiosos irmãos, irmãs e padres fazem voto de pobreza e renunciam a tudo para Deus. Mas, nem todos são chamados a isso.
- A questão da pobreza não é sobre uma quantia de dinheiro, mas sobre a ganância pessoal, a corrupção, a injustiça, os problemas governamentais, sistemas econômicos, etc.
- A maior necessidade é a pobreza espiritual - não a pobreza material. Assim, a Igreja deve usar os dons que lhe foi dado para apagar esta pobreza em primeiro lugar.
- Adoração de Deus é a primeira questão de justiça. Nós devemos a Deus nossa adoração, devemos antes de qualquer outra coisa humana. Assim, se de arte, edifícios, vasos de ouro, etc, podem ajudar-nos a adorar a Deus, então estamos cumprindo as exigências da justiça.
- O orçamento total do Vaticano é de cerca de 365 milhões de dólares. A maioria das universidades de grande porte têm orçamentos muitas vezes maiores que isto. A riqueza da Igreja não iria fazer muito mais para os pobres
- Imaginem a quantidade de pobres apenas no Brasil, China e Índia, e mesmo nos Estados Unidos.E o que é pobre mesmo materialmente? O que não tem nenhuma fonte de renda? O que tem fonte de renda mas está endividado? O que tem fonte de renda mas está muito doente?...
Caro Pedro, e muito ainda poderia ser adicionado, nessa contraposição.
ResponderExcluirUm problema sério que costuma não ser mencionado é a filtragem política pela qual, inevitavelmente, passaria/passa toda e qualquer doação a pessoas miseráveis de um país. Considere-se, a respeito, o caso de países africanos como a Etiópia e a Somália, ambos governados por tiranos e, como quase todos os outros países do continente, ainda assolados por profundas rivalidades tribais.
Por isso, antes de se pensar em direcionar doações a miseráveis de um país deveria-se estudar o modo como o governo desse país trata o seu próprio orçamento; qual a sensibilidade em relação aos seus problemas sociais; como a sociedade se porta em relação a isso. Neste último ponto, já pensou no caso brasileiro? Que moral teria qualquer pessoa de nosso país para exigir a desintegração patrimonial da Igreja Católica, quando faz vista grossa para uma imbecilidade televisiva chamada BBB que consegue arrecadar milhões numa única noite, em ligações telefônicas de gente ocupada com um bando de desocupados descerebrados?
Inclusive, o mesmo povinho que também faz vista grossa para um megaesquema de corrupção. Hoje, caçam um pastor por ser contra o "casamento" gay e ter sido empossado presidente de uma comissão da Câmara, enquanto sequer fazem uma mísera objeção aos dois condenados do Mensalão empossados na Comissão de Constituição e Justiça da mesma Câmara. Pode esse povinho cobrar da Igreja que se desfaça de seu patrimônio para ajudar os pobres?
Você tem toda razão, Eduardo, assino embaixo.
ResponderExcluirSobre as doações à África, eu costumo dizer que doação não faz nenhum país rico, apenas o trabalho.
Sobre o pastor Feliciano, fico triste de ver alguns jrnalistas que gosto, como Augusto Nunes, entrando nessa de atacar o pastor e não ver o que você falou sobre os caras do mensalão. E esses jornalistas mostram que nem sabem por que a Igreja é contra o casamento gay.
Abraço,
Pedro Erik
Excelente postagem!
ResponderExcluirNunca pensei a questão pelos ângulos apontados em seu texto.
Fico feliz por ter esses argumentos, doravante.
Interessante a citação de Judas, porque mesmo os não-católicos brasileiros sabem quem foi a personagem.
Abração,
Stan
Obrigado, Stan.
ResponderExcluirGrande abraço,
Pedro Erik