terça-feira, 21 de maio de 2013

Religião nas Academias pelo Mundo (parte 2)

 
Bom, dizem que blog é  apenas desabafo. Eu não concordo, mas muitas vezes leio desabafos em até excelentes blogs. Então, acho que posso também fazer um pouco disso.

Acabo de sair da minha segunda conferência que trata de religião e terrorismo. Desta vez na Suécia, na universidade mais antiga da Escandinávia (Uppsala University).

O meu artigo, que trata de Islã e terrorismo, surgiu de uma constatação muito simples: estudiosos simplesmente ignoram o Alcorão nas suas análises sobre terrorismo islãmico, mesmo sabendo que a lei islâmica não pode contradizer o livro sagrado e que terroristas islâmicos sempre mencionam o livro sagrado islâmico.

Mas percebi que a coisa é bem pior do que isso.

Em todas as palestras que eu assisti (sem exceção, infelizmente), o professor (não importa quão famoso ele era) não expressou o menor conhecimento sobre teologia. Eles falam de religião, mas não estudam teologia. Eles não lêem nem o livro sagrado (Bíblia ou Alcorão) nem têm a menor idéia de teologia natural (que busca Deus sem usar os livros sagrados). É impressionante e estúpido, mas é verdade.

Como pode uma conferência inteira sobre religião, com gente de todo mundo, não se mencionar nenhuma vez a Bíblia ou o Alcorão (a não ser na minha apresentação), as duas maiores religiões do mundo?

Vejam alguns exemplos:

1)   Um professor famoso observou nas sua pesquisa empírica que os muçulmanos eram menos propensos para a democracia. Mas ele disse  que os crentes (de qualquer religião) são menos propensos. A solução para ele: secularismo, eliminar a religião nas escolas. Ele acha que a religião é a fonte de mal, então deve ser eliminada. Ele nem sequer considerou que a sociedade ocidental atual é moldada sobre um sistema de crença (cristianismo), e este sistema de crença fez surgir a democracia. Também não considerou em sua pesquisa que há diferentes tipos de crentes, os que apenas se declaram crentes e aqueles que seguem realmente uma religião;

2)   Outro professor resolveu relacionar o ataque terrorista da Noruega perpetrado por Anders Breivik como sendo islamofobia e uma ação contra as mulheres, já que Breviik declarou ser contra as mulheres no poder. E começou a falar contra o cristianismo. 
 
Daí eu fiz a seguinte pergunta:

Do ponto de vista cristão, a pessoa mais importante da história humana é uma mulher, é Nossa Senhora, uma vez que Cristo também é Deus, Nossa Senhora é só humana. Nossa Senhora é theotokos (mãe de Deus, o professor apesar de dar aula sobre religião não conhecia a expressão theotokos). Para os Católicos, ela é imaculada. No Alcorão, Nossa Senhora também aparece, e também deu a luz virgem. Apesar de ser uma pessoa bem diferente, ela pode ser uma ponte entre os cristão e os muçulmanos. Mas temos diferentes comportamentos em relação a mulher entre os cristão e muçulmanos. Você acha que o cristianismo justifica os ataques de Breivik? Por favor, responda comparando com a idéia de mulher no Islã.

O cara simplesmente ignorou a pergunta e continuou falando de islamofobia. Como pode isso se todos sabem o que acontecem com as mulheres nos países islâmicos, todos sabem como Maomé tratou as mulheres e todos sabem como a mulher é vista no Alcorão?

3)   Com relação ao meu artigo, no final eu argumento, com base no Alcorão, que o Islã é contraditório, mas que a idéia de jihad contra os infiéis é bem consolidada no Alcorão e entre os mais importantes muçulmanos da antiguidade (Averroes, Ghazali, Khaldun, etc) e de hoje e que o Alcorão se diferencia fortemente do cristianismo porque nele está escrito várias vezes que Alá odeia os infiéis ou pecadores, então a idéia de “ame seus inimigos” está completamente ausente.

4)   Geralmente as reações são de que eu estou apresentando um problema frente a uma situação problemática européia, no qual os muçulmanos não se adaptam à sociedade. Em geral,  eu respondo que é verdade mas não se pode fugir disso sob pena de falar no vazio, especialmente em conferencia sobre religião. Não se pode abandonar a teologia na discussão de lei e guerra atualmente. Eles ficam raivosos, procuram não discutir os versos do Alcorão que apresento e simplesmente fogem do que diz meu artigo, para falar de outras coisas, como conhecem um muçulmano que não defende jihad, ou que eu devo estudar mais. Em suma, fazem “cheap shots” como dizem os americanos, usam argumentos que podem ser usados em qualquer circunstância. Claro que existem diferentes pessoas e todos têm que estudar mais.

Apesar de tudo, eu recebo muitos elogios, em especial pela coragem de levar o assunto. Alguns até dizem que eu disse a verdade. Mas estes dizem isto no coffee break, não na hora da apresentação.

Outros me pedem cópias do meu artigo e alguns procuram meu nome na internet. Como eu sei disso? Recebi o seguinte email de um site acadêmico:
Hi Pedro Erik,
Someone from Sweden just searched for you on Google and found your page on Academia.edu. (Oi Pedro Erik, alguém procurou por você no Google e encontrou você na página do Academia.edu)

Mas talvez eu já tenha cumprido o que eu devia fazer nesta área, talvez seja hora de mudar de assunto e deixar a academia moderna discutindo religião sem estudar religião.


 

2 comentários:

  1. Estanislau Tallon Bozi17 de junho de 2013 às 20:43

    Excelente, meu Amigo!

    Disponibilize seu texto, quando puder, ou indique a fonte da publicação e o modo de adquiri-la.

    Muito obrigado!

    Abração,

    Stan

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  2. Obrigado, Stan.

    Apareceu um editor de journal interessado em publicar o artigo. Não sei ainda se vai dar certo, pois devo passar pela análise de referees.

    Mas assim que conseguir publicar eu disponibilizo.

    Abraço,
    Pedro

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Certa vez, li uma frase em inglês muito boa para ser colocada quando se abre para comentários. A frase diz: "Say What You Mean, Mean What Say, But Don’t Say it Mean." (Diga o que você realmente quer dizer, com sinceridade, mas não com maldade).