Bom, dizem que blog é apenas desabafo. Eu não concordo, mas
muitas vezes leio desabafos em até excelentes blogs. Então, acho que posso
também fazer um pouco disso.
Acabo de sair da minha segunda conferência
que trata de religião e terrorismo. Desta vez na Suécia, na universidade mais
antiga da Escandinávia (Uppsala University).
O meu artigo, que trata de Islã e
terrorismo, surgiu de uma constatação muito simples: estudiosos simplesmente
ignoram o Alcorão nas suas análises sobre terrorismo islãmico, mesmo sabendo
que a lei islâmica não pode contradizer o livro sagrado e que terroristas islâmicos sempre mencionam o livro sagrado islâmico.
Mas percebi que a coisa é bem pior do que
isso.
Em todas as palestras que eu assisti (sem
exceção, infelizmente), o professor (não importa quão
famoso ele era) não expressou o menor conhecimento sobre teologia. Eles falam de religião,
mas não estudam teologia. Eles não lêem nem o livro sagrado (Bíblia ou Alcorão)
nem têm a menor idéia de teologia natural (que busca Deus sem usar os livros
sagrados). É impressionante e estúpido, mas é verdade.
Como pode uma conferência inteira sobre
religião, com gente de todo mundo, não se mencionar nenhuma vez a Bíblia ou o
Alcorão (a não ser na minha apresentação), as duas maiores religiões do mundo?
Vejam alguns exemplos:
1)
Um professor famoso observou
nas sua pesquisa empírica que os muçulmanos eram menos propensos para a
democracia. Mas ele disse que os crentes (de qualquer religião) são menos propensos. A solução para ele:
secularismo, eliminar a religião nas escolas. Ele acha que a religião é a fonte
de mal, então deve ser eliminada. Ele nem sequer considerou que a sociedade ocidental
atual é moldada sobre um sistema de crença (cristianismo), e este sistema de
crença fez surgir a democracia. Também não considerou em sua pesquisa que há
diferentes tipos de crentes, os que apenas se declaram crentes e aqueles que
seguem realmente uma religião;
2)
Outro professor resolveu
relacionar o ataque terrorista da Noruega perpetrado por Anders Breivik como
sendo islamofobia e uma ação contra as mulheres, já que Breviik declarou ser
contra as mulheres no poder. E começou a falar contra o cristianismo.
Daí eu fiz a seguinte pergunta:
Do ponto de vista cristão, a pessoa mais
importante da história humana é uma mulher, é Nossa Senhora, uma vez que Cristo também é Deus, Nossa Senhora é só humana. Nossa Senhora é theotokos (mãe de Deus, o professor
apesar de dar aula sobre religião não conhecia a expressão theotokos). Para os Católicos, ela é imaculada. No Alcorão, Nossa
Senhora também aparece, e também deu a luz virgem. Apesar de ser uma pessoa bem
diferente, ela pode ser uma ponte entre os cristão e os muçulmanos. Mas temos
diferentes comportamentos em relação a mulher entre os cristão e muçulmanos.
Você acha que o cristianismo justifica os ataques de Breivik? Por favor,
responda comparando com a idéia de mulher no Islã.
O cara simplesmente ignorou a pergunta e continuou falando de islamofobia. Como pode isso se todos sabem o que acontecem com as mulheres nos países islâmicos, todos sabem como Maomé tratou as mulheres e todos sabem como a mulher é vista no Alcorão?
O cara simplesmente ignorou a pergunta e continuou falando de islamofobia. Como pode isso se todos sabem o que acontecem com as mulheres nos países islâmicos, todos sabem como Maomé tratou as mulheres e todos sabem como a mulher é vista no Alcorão?
3)
Com relação ao meu artigo, no
final eu argumento, com base no Alcorão, que o Islã é contraditório, mas que a
idéia de jihad contra os infiéis é bem consolidada no Alcorão e entre os mais
importantes muçulmanos da antiguidade (Averroes, Ghazali, Khaldun, etc) e de
hoje e que o Alcorão se diferencia fortemente do cristianismo porque nele está
escrito várias vezes que Alá odeia os infiéis ou pecadores, então a idéia de
“ame seus inimigos” está completamente ausente.
4)
Geralmente as reações são de
que eu estou apresentando um problema frente a uma situação problemática
européia, no qual os muçulmanos não se adaptam à sociedade. Em geral, eu respondo que é verdade mas não se
pode fugir disso sob pena de falar no vazio, especialmente em conferencia sobre
religião. Não se pode abandonar a teologia na discussão de lei e guerra
atualmente. Eles ficam raivosos, procuram não discutir os versos do Alcorão que
apresento e simplesmente fogem do que diz meu artigo, para falar de outras
coisas, como conhecem um muçulmano que não defende jihad, ou que eu devo
estudar mais. Em suma, fazem “cheap shots” como dizem os americanos, usam
argumentos que podem ser usados em qualquer circunstância. Claro que existem
diferentes pessoas e todos têm que estudar mais.
Apesar de tudo, eu recebo muitos elogios, em especial pela coragem de levar o assunto. Alguns até dizem que eu disse a verdade. Mas estes dizem isto no coffee break, não na hora da apresentação.
Outros me pedem cópias do meu artigo e alguns procuram meu nome na internet. Como eu sei disso? Recebi o seguinte email de um site acadêmico:
Hi Pedro Erik,
Someone from Sweden just searched for you on Google and found your page on Academia.edu. (Oi Pedro Erik, alguém procurou por você no Google e encontrou você na página do Academia.edu)
Mas talvez eu já tenha cumprido o que eu devia fazer nesta área, talvez seja hora de mudar de assunto e deixar a academia moderna discutindo religião sem estudar religião.
Excelente, meu Amigo!
ResponderExcluirDisponibilize seu texto, quando puder, ou indique a fonte da publicação e o modo de adquiri-la.
Muito obrigado!
Abração,
Stan
Obrigado, Stan.
ResponderExcluirApareceu um editor de journal interessado em publicar o artigo. Não sei ainda se vai dar certo, pois devo passar pela análise de referees.
Mas assim que conseguir publicar eu disponibilizo.
Abraço,
Pedro