Outro dia, eu critiquei aqui a Revista Veja por usar Max Weber contra o Papa Francisco. É uma coisa muito popular achar que Max Weber estava certo quando considerou que o protestantismo é a base filosófica/religiosa para o capitalismo, o que justificaria que a América Latina católica é pobre e a América protestante é rica.
Nós precisamos aprender a criticar esta abordagem de Max Weber que é errada tanto historicamente, como filosoficamente, como teologicamente.
Para começar, a América protestante rica é apenas os Estados Unidos, pois o Canadá é (e foi) católico na maioria.
Hoje, eu li um texto de Samuel Gregg que é parte de seu livro Tea Party Catholic. O texto trata da abordagem equivocada de Max Weber.
Vocês podem ler o texto completo clicando aqui, mas aqui vão os pontos dele:
1) Max Weber errou sobre o "espírito protestante", não havia nada na abordagem teológica protestante calvinista que dissesse que ficar rico era demonstração de ser predestinado por Deus para ir para o céu. Gregg mostra que a Confissão de Fé de Westminster (confissão de fé do calvinismo) nem tratou disso, a profissão de cada um para o calvinismo deveria servir a Deus e não para acumular riquezas;
2) Durante séculos na Idade Média, antes da reforma protestante, os países católicos desenvolveram o sistema bancário, vários métodos comercias e inúmeras tecnologias. O espírito comercial precedeu a reforma protestante em pelo menos dois séculos.
3) Já no século 11, cinco séculos antes da reforma protestante, aparecia a expressão em latim Deus enim et proficuum (Por Deus e lucro) em livros de comerciantes italianos e holandeses.
4) Muito antes da reforma protestante, os padres em seus confessionários estavam tratando de questões comerciais como preço justo, usura, taxa de juros, etc.
5) Padres jesuítas e dominicanos precederam Adam Smith na análise da importância do dinheiro e do livre comércio, como Francisco de Vitória e Juan Maria.
6) O historiador Jacques Delacroix disse que os ricos da Holanda e Alemanha, países que Weber baseou para dizer que o protestantismo significava capitalismo, eram católicos em sua maioria.
7) O que explica o baixo desenvolvimento da América Latina não o é o catolicismo e sim o absolutismo (poderio maior do estado) e o mercantilismo (doutrina econômica que apoia o subsídios às exportações e tarifas elevadas para importação, coisa que o Brasil faz até hoje, somos o país mais fechado às importações do mundo,segundo o Banco Mundial, se olharmos a relação importações/PIB).
---
Eu acrescentaria que vários mosteiros já praticavam (e praticam ainda) o espírito ascético que Weber achava que era uma vertente apenas do protestantismo.
O ascetismo trata como comedimento ou procura anular os prazeres da carne. Para Weber, os protestantes faziam isso e por isso poupavam dinheiro, ajudando no crescimento econômico. Bom, vários mosteiros só trabalhavam (e ainda trabalham), sem qualquer gasto com prazeres da carne, muito antes da reforma, e produziam (e produzem) vários bens (como os melhores vinhos e cervejas do mundo)
---
O livro de Gregg, pelo título do livro, deve tratar de unir o catolicismo com o livre mercado (capitalismo), contra o estatismo.
Bom, não sei até que ponto ele vai nessa união, mas certamente o catolicismo não é contra o livre mercado per si, mas tem também outras preocupações, como com a alma humana.
Deve ser um livro bem interessante.
(Agradeço a indicação do texto de Samuel Gregg ao site Big Pulpit)
Boa tarde.
ResponderExcluirÉ meio que fora do assunto mas tem uma lógica tremenda nas "falas" a seguir. Como entendo que concorda em relação o assunto é um texto que merece até um post seu..:
Olavo de Carvalho
Já escrevi tempos atrás, mas volto a resumir: Um dos princípios fundamentais do Direito é que ninguém pode ser obrigado a fazer o impossível ("ad impossibilia nemo tenetur"). A forma mais perfeita da impossibilidade é a contradição: por exemplo, estar deitado e de pé ao mesmo tempo. A PL-122 entra em flagrante contradição com o Art. 208 do Código Penal, que define o crime de "ultraje a culto": "Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa." Nenhum Estado pode proteger por igual a consciência religiosa e o direito de achincalhá-la ou criminalizá-la como "homofóbica". Se um religioso cita um versículo da Bíblia que condena a sodomia e um gayzista o acusa de "homofóbico" por isso, ambos terão cometido delitos: o gayzista será condenado por ultraje a culto e o religioso por crime de homofobia. Leis contraditórias anulam-se uma à outra, praticamente impedindo o juiz de decidir ou forçando-o a fazê-lo segundo qualquer preferência arbitrária do momento, isto é, a cometer injustiça sempre. Aprovada a PL-122, o Estado terá se concedido o direito de promulgar leis mutuamente contraditórias, isto é, de tornar o impossível obrigatório. A partir desse instante, todo o edifício legal ruirá inevitavelmente. Isso -- e não o mero ataque à liberdade religiosa -- é o aspecto pior, mais destrutivo e quase demoníaco dessa proposta. A PL-122 é como um vírus de computador planejado para suprimir, de um só golpe, toda noção de direito ou de obrigação legal. O simples fato de que a proposta seja aceita para discussão já abre um precedente para esse fim, precedente que deveria e poderia ser bloqueado "in limine" mediante sentença declaratória do STF, sentença que nenhum moralista se lembrou de pedir até agora, tão embriagados todos se encontram com a retórica da "defesa da liberdade religiosa". Para que entrar nesse particular, alimentando mais ainda a discussão, quando se poderia matar a questão no terreno simples e neutro da lógica jurídica?
SE ACHAR QUE VALE ESTÁ AI.
Abraços.
Interessante, Juscelino
ResponderExcluirO grande Olavo tem que parar apenas de escrever atacando toda vez que escreve.
Ele mostrou uma contradição legal.
Mas a questão de liberdade religiosa é mais importante
Para começar, quantas contradições legais ja existem no ordenamento jurídico brasileiro?
Obrigado pelo post Pedro. Isso apenas faz lembrar que todas as verdades que estão contidas no protestantismo são vindas do catolicismo.
ResponderExcluirLi outro disse desses "Raízes Históricas da Crise Política Brasileira" do grande jurista católico José Pedro Galvão de Souza. No livro ele vai fazendo comparações entre a América Anglo-Saxônica, a América Portuguesa e a América Espanhola. Mostrando que o sucesso dos EUA não tem a ver, porque eles são abstratamente uma República Federativa, mas sim porque eles respeitaram sua história, suas tradições e a formação de seu povo. Enquanto o Brasil de 1889 estava justamente indo na contra-mão daquilo tudo que os americanos do norte fizeram, chegando a ter o nome mudado para "Estados Unidos do Brasil" em 1891, para se ver que eles copiaram apenas o superficial e não o essencial com os valores certos.
O livro é muito bom e importante, te recomendo a ler.
Abraço
Obrigado, grande avmss.
ResponderExcluirPara mim, o sucesso dos Estados Unidos é explicado pela Declaração de Independência quando eles se declararam abaixo de Deus enquanto a revolução francesa quis abandonar Deus.
Grande abraço amigo.
ResponderExcluirSeu texto embora seja de cunho apologético é muito bom.Infelizmente, vc não apresenta as fontes bibliografias para consulta.
Quanto a Weber, ele se equivocou, a sua tese comprovadamente falha. Não é nada disso que ensina o calvinismo. Nem os teólogos calvinistas concordam com Weber. No livro "O Futuro do Calvinismo”, onde, entre outras coisas, Rev Leandro Lima faz uma analise desta tese do Weber e refuta.
Valeu
Ferreira
Caro Ferreira,
ExcluirBasta clicar nos links (em amarelo) para ver as fontes
Abraço,
Pedro
Antes de mais nada quero dizer que sou católico, mas, por outro lado, entendo que o trabalho de Max Weber tem muito fundamento, até porque ninguém conseguiu refutar de foram objetiva o trabalho dele. Weber não disse em seu livro que a ética protestante é responsável pelo desenvolvimento do capitalismo. Aliás, para que o capitalismo começasse a florescer não precisaria nem da reforma protestante, bastava o fim da igreja católica que o desenvolvimento do capitalismo já se livraria das amarras da igreja católica, a qual, naquela época, controlava tudo e a todos, de forma similar a uma economia planificada nos moldes de Cuba. Quanto ao Canadá, apesar de grande parte da população canadense ser católica (basicamente os franceses da provincia de Quebec), o Canadá fazia parte da coroa britânica e, portanto, estava fora do alcance do julgo da Igreja Católica, já que a Inglaterra, através do Rei Henrique VIII, também se livrou da Igreja católica no século XVI. Vejo que seus comentários são muito pobres e demonstram ser baseados em ilações. Quando Weber fala de capitalismo não está falando da mera troca de mercadorias como fizeram os citados mercadores da itália e de Flandres. Ele está falando do capitalismo que fomentou o desenvolvimento industrial. O fato de mercadores escreverem "Deus enim et Proficuum" em seus balanços, por si só, não é suficiente para fomentar a revolução industrial, tanto é, que ela só veio a ocorrer 200 anos após a reforma protestante. Eu já li várias criticas ao trabalho de Weber e muito bem embasadas por sinal e você, pelo que diz ao final do seu texto, nem leu o livro e sugere a leitura para os demais. O grande problema é que você está, talvez, cometendo o mesmo erro de Weber: usando uma religião para dar suporte às suas convicções. Apesar de eu ser católico, a religião não me cega e não tenho dúvida nenhuma de que os países que se livraram do julgo da igreja católica há vários séculos atrás estão muito bem obrigado. A França é católica e é uma exceção, não porque teve uma reforma protestante, mas porque se livrou do julgo da Igreja católica na revolução francesa que ocorreu no século XVIII. Tivesse ela continuado de joelhos para o papado e estaria hoje como portugal, espanha e itália, os países com maiores indices de corrupção da Europa Ocidental, pois o grande lance da ética protestante foi incutir nas pessoas a honestidade e o respeito ao próximo, coisa que a igreja católica não fazia na época (faz hoje), aliás a própria igreja era considerada pelos próprios cristãos como uma instituição corrupta. Se no século XVI existisse separação entre estado e igreja, a reforma protestante nem teria acontecido, pois não precisaria dessa reforma para fazer com que a economia prosperasse. Não existia capitalismo antes da reforma, o que existiam eram mercadores que faziam comércio, banqueiros que emprestavam dinheiro etc, mas tudo com o controle "estatal" da igreja. Não havia livre iniciativa, pois só poderia entrar no jogo aqueles que o clero permitia. Essa é a diferença do capitalismo de Weber com o "capitalismo" católico. Um abraço e vamos todos estudar mais antes de tirar conclusões precipitadas e pautadas nas nossas crenças religiosas.
ResponderExcluirCaro Fernando,
ExcluirMuito obrigado, pelo seu comentário.
Mas saiba que eu não só li o Ética Protestante de Weber como estou escrevi um capítulo inteiro de um livro sobre esse péssimo livro de Weber.
Parece-me que você aprecia Weber. Eu por outro lado o detesto. Não só porque o livro é uma porcaria em termos históricos como é também em termos religiosos.
Weber não entendia nem de religião nem de história.
Ele no livro comete tantos erros históricos e religiosos e se contradiz tanto que eu nem sei nem.por onde começar para lhe falar.
Por exemplo, Weber parece no livro odiar Lutero e usa a ideia de protestantismo completamente, inclusive a sua religião calvinista. Em relação à Igreja Católica, ele chega a elogiar monges católicos por seu trabalho mas não entende que foram esses monges que alavancaram o conhecimento científico.
Sem falar, que os dados do livro que usa são de terceiros. Ele não fez pesquisa para escrever as bobagens que escreveu.
Tenha mais cuidado antes de dizer que alguém não leu um livro.
Weber era um idiota que tinha ódio dos poloneses católicos e favorecia a ideia de ditadura alemã.
Abraço,
Pedro Erik
Ah, lembrei de um detalhe, Fernando Gabriel.
ExcluirO Ética Protestante só foi publicado porque não passou pelo crivo de ninguém.
Foi escrito originalmente em dois artigos publicados pelo próprio Weber que era editor da revista acadêmica. Se ele tivesse mandado para um "peer review" não tinha passado.
Aquilo não passaria por ninguém com mínimo conhecimento de religião e história.
Tão ruim que o próprio Weber reescreveu 15 anos depois.
Temos duas versões do Ética Protestante, geralmente se usa a última.
Mas saiba que li uma versão que traz as duas juntas, mostrando onde o idiota do Weber mudou o texto
Abraço,
Pedro Erik