sexta-feira, 14 de março de 2014

Misericórdia é a Suprema Lei da Igreja?


O grande especialista em lei canônica, Dr. Edward Peters, discutiu um assunto muito em voga em tempos de sínodo dos bispos sobre a família, convocado pelo Papa Francisco: a comunhão para pessoas divorciadas que casaram novamente. Ele critica o que disse o arcebispo Vincenzo Paglia, que é simplesmente o presidente do Conselho Pontifício para a Família.

Paglia disse que a questãos dos divorciados que casaram novamente deve ser olhada com misericórdia, pois a misericórdia é a lei suprema da Igreja.

O título do artigo de Peters é bem interessante: When Faced with Pratical Problems, Rely on Principles not in Platitudes (Quando Enfrentar Problemas Práticos, Confie nos Princípios e não em Chavões).

Vou traduzir aqui parte do artigo de Peters:

A linha entre princípios e chavões é estreita. Ambos os tipos de afirmações são verdadeiras e podem colocar em palavras alguns conceitos que de outra forma exigiriam muitos parágrafos para explicar. Mas princípios e chavões não são a mesma coisa, em face de questões concretas que precisam de resolução prática, os princípios informam a boa tomada de decisão, enquanto chavões levam ao erro.

O Catholic World News relata que o presidnete do Conselho da Família disse que  "a situação dos católicos divorciados novamente casados ​​deve ser olhada com um olhar misericordioso. Misericórdia não é cega, e não se opõe a verdade, [ mas ] a misericórdia é a suprema lex".

Para começar, não, a misericórdia não é a lei suprema da Igreja. Primeiro, é preciso estar alerta para platitudes substituindo princípios quando confrontados com perguntas concretas sobre o divórcio.

Deve-se perguntar, o que realmente significa dizer que os católicos divorciados e recasados ​​devem "ser encarados com um olhar misericordioso"?

Quem, na Igreja, ou melhor no mundo, não deve ser olhado "com um olhar misericordioso"? Ninguém, eu arriscaria dizer. Mas se todo mundo precisa de um olhar misericordioso, então destacar uma parte da humanidade como merecedor de ser olhado com um olhar misericordioso ou não nos diz nada ou diz que esta parte da humanidade não recebia esta misericórdia. A advertência para os outros para que olhem para os católicos divorciados e recasados ​com olhos misericordiosos é uma platitude, isto é, é uma afirmação verdadeira que não gera a resolução prática de uma questão pastoral.

Agora, sobre a misericórdia ser a "lei suprema" da Igreja .

Claro, pode-se defender esta afirmação. O problema é que, pode-se defender uma dúzia de outras coisas como sendo a "lei suprema" da Igreja. E quanto ao amor ? E quanto a caridade? E sobre a evangelização? E sobre a divina liturgia e adoração a Deus? E assim por diante. Devemos ter muito cuidado em afirmar qualquer princípio de ação como sendo o supremo em algo tão complexo como o Corpo Místico de Cristo. (Quer um exemplo canônico? Leia Cânones 331 e 336, e diga-me onde reside o poder supremo e pleno na Igreja.)


(O 331 diz que o Papa é o poder supremo da Igreja, enquanto o 336 diz que o colégio de bispos é o poder supremo da Igreja)

Mas desde que o prelado invocou a lei canônica, deixe-me francamente observar que o direito canônico não cita "misericórdia" como a lei suprema da Igreja. Em vez disso, Canon 1752, o último artigo do cânone final do Código 1983 , afirma que "a salvação das almas ... deve ser sempre a lei suprema da Igreja." Variações sobre o tema (por exemplo, salus animarum et bonum Ecclesiae ) são comuns na literatura teológica.

Aqueles que invocam platitudes como se fossem princípios desfrutam de uma vantagem retórica, é claro, na medida em que é difícil não concordar com o teor da maioria das platitudes, sendo, como são, quase sempre é verdade. No entanto, a gravidade e a clareza do ensinamento de Cristo contra o divórcio e o novo casamento são indiscutíveis e a obrigação da Igreja para manter a integridade dos sacramentos, de todos os sacramentos , é clara.



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Como sempre, Dr. Peters detona argumentos rasteiros. O site dele é obrigatório para quem estuda lei canônica.

Rezemos pelo Papa e bispos, que eles sigam Cristo.


2 comentários:

  1. Leonardo Santana de Oliveira.15 de março de 2014 às 02:11

    Muito prezado Pedro, Salve Santíssima Imaculada Maria, Mãe de Deus, Co-redentora pois trouxe ao mundo O Redentor!!

    Muitíssimo obrigado, prezadíssimo amigo Pedro, essa sua postagem me deu o argumento que eu queria para acabar, ou melhor, esmagar esse sofísma pacifista políticamente correto desses modernistas.

    Ora, quando a gente defende a Sã Doutrina que Nosso Senhor confiou a Sua única Igreja, sempre me algum católico conciliar morno e tíbio me vem com esse sofísma.

    Nas Sagradas Escrituras Nossa Senhora diz que a misericórdia de Deus vai de geração por geração para aqueles que O temem.

    Mas os modernistas da "igreja" conciliar estacionaram na misericórdia de Cristo fazendo dEle um hippie pacisfista maconheiro do paz e amor.

    Ora,Nosso Senhor é Deus, e Ele é o Absoluto Juíz e Sua misericórdia são para aqueles que O Temem e se arrependem de coração e não para aqueles que O desafiam com soberba herética, pagã ou ateia.

    Eu sou um pecador e rezo para Nosso Senhor tenha misericórdia de mim, mas nem por isso eu abuso da misericórdia dEle e faço tudo que me dá na cabeça sabendo que Ele é misericórdioso.

    Prezadíssimo Pedro, você me deu o argumento que eu precisava para meus debates (polémicos e quentes) com os modernistas que adoram estacionar na misericordia de Deus e com isso promoverem suas agendas revolucionárias e anticatólicas.

    É por existir católicos como você prezado amigo que Nosso Senhor disse que as portas do inferno não prevalecerão contra Sua única Igreja.

    Satanás semeia joio mas a Sagrada Tradição da Santa Imaculada Igreja Católica está protegida em católicos como você, prezado amigo.

    VIVA CRISTO REI!!VIVA A SANTÍSSIMA IMACULADA VIRGEM MARIA!!VIVA A SANTA IMACULADA IGREJA CATÓLICA NA QUAL QUERO VIVER E MORRER!!

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  2. Ficou honrado em lhe ajudar, meu amigo.

    Que Deus esteja contigo. Como Cristo disse, confie no Espírito Santo para lhe inspirar nos debates.

    Edward Peters sabe tudo de lei canônica e é um grande debatedor também. O blog dele é obrigatório para quem deseja se aprofundar na lei da Igreja.

    ICXC NIKA

    Abraço,
    Pedro Erik

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Certa vez, li uma frase em inglês muito boa para ser colocada quando se abre para comentários. A frase diz: "Say What You Mean, Mean What Say, But Don’t Say it Mean." (Diga o que você realmente quer dizer, com sinceridade, mas não com maldade).