Talvez a frase mais lembrada do Papa Francisco é "Quem sou eu para julgar?", dita em relação aos gays. Essa frase está tendo um efeito gigantesco dentro da Igreja e fora dela. Talvez seja essa frase que faz com que a mídia global proteja tanto o Papa.
Biblicamente, isso remete a Mateus 7, quando Cristo nos fala de que não devemos julgar antes de olhar para nossos próprios pecados. A parte em destaque na imagem acima deixa isso claro. Para aconselhar sobre como remover o pecado do próximo, devemos antes ter consciência de nossos próprios pecados
Vejamos Mateus 7:1-5 (Bíblia de Jerusalém):
Não julgueis para não serdes julgados. Pois com o julgamento com que julgais sereis julgados, e com a medida com que medis sereis medidos. Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu? Ou como poderás dizer ao teu irmão: 'Deixa-me tirar o cisco do teu olho', quando tu mesmo tens uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão.
O filósofo Anthony Esolen fez, como é usual, um texto sensacional sobre o assunto, comentando Mateus 7, publicado no The Catholic Thing
Eu não vou traduzir o texto, porque não tenho tempo, vou apenas descrever os principais pontos.
1) Esolen logo no primeiro parágrafo diz: "Cristo nunca falou para ignorar o pecado do próximo, porque todos nós somos pecadores". Pelo contrário, Cristo deixou claro no mesmo capítulo que o pecado é danoso e que muitos serão levados por ele para a perdição. Mateus 7:13 diz: "Entrai pela porta estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição. E muitos são os que entram por ele. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à Vida. E poucos são os que o encontram.". Para Cristo, o pecado é como um câncer que precisa ser extirpado.
2) Esolen deixa claro que aqueles que se penduram na misericórdia desenfreada na verdade não acreditam no pecado, não acreditam que a perdição seja uma coisa real, em suma, não acreditam em Deus.
3) A Igreja sendo "não fundamentalista", aliviando a importância do pecado, acaba ajudando na condenação de mais pessoas.
4) Deus nos fez para que livremente sigamos a lei moral que ele colocou no nossos corações, quando não fazemos isso, morremos. A Igreja deve ressaltar o risco da morte.
5) Chame do que você quiser, mas um pecado continua sendo um pecado.
6) Aqueles que se escondem por trás da misericórdia desenfreada, que desprezam a ideia do pecado são "hipócritas não-julgamentais", são simplesmente covardes que causam danos aos outros e a si mesmos.
7) O pensamento misericordioso desenfreado leva a exaltação da morte: "por que me importar com a morte de alguém se todos morrem no final?", "por que me importar com o pecado de alguém se todos pecam?"
Aqui vai parte do brilhante artigo de Esolen, leiam todo no site do The Catholic Thing:
Splinters,
Beams, and Clear Sight
Anthony
Esolen, August 3, 2017.
If you
see a splinter in your brother’s eye,” Jesus never said, “ignore it, because
you probably have a splinter in your eye, too, or something worse.” A splinter
in the eye hurts. He warns us against spiritual pride, against believing
ourselves better than our brother because we happen not to be afflicted with
that particular splinter. That’s why he calls the proud man, in the parable he
really told, a hypocrite. But notice what he adds: “First take the plank out of
your own eye, and then you
will see well enough to take the splinter out of your brother’s eye.”
Jesus
waves no banner for splinters. He wants them out. He commands a serious
examination of our consciences, a spiritual house cleaning; we must be merciful
with sinners, but intolerant of sin, beginning with our own. Are we angry with
our brother? Did we gaze with lust at that woman? Do we seek the highest place
at table? Do we pray conspicuously, to be noticed? Have we nursed vengeance
against those who have hurt us?
Hypocrisy,
pride, wrath, lust, covetousness, vanity, vindictiveness – these are all sins
or sinful dispositions, to be hated as we hate diseases of the body, because
they, like cancer, actually do harm to the real moral constitution with which
God has endowed us. Think of serious sins as foreign bodies lodged in the bone,
the blood, the brain, the heart. Jesus wants them out.
We can
draw a sharp distinction between the realism of the Church and what I’ll call
the “irrealism” of our time, a failure to understand the reality of sin. When I
say, “Detraction is a sin,” I mean more than that detraction hurts its victim’s
reputation, or that God has condemned it, or, to be a sophist, that “society”
frowns upon it. I mean that God condemns it in the same way that a doctor hates
cancer.
Plato understood the
point – how can Christians miss it? Detraction really does gnaw out the insides
of the detractor: the
sinner is the sin’s first and most terrible victim. We do not follow the moral
law as an arbitrary set of cultural restrictions. God has made us so as to
thrive by obeying the moral law and to sicken, decay, and die by ignoring it or
violating it.
That’s
regardless of opinion. It is the law written on our hearts; the law by which
our hearts work, and in this respect every single human person is like every
other. There are not two or three kinds of human hearts that pump blood to
every cell in the body; only one. There are not two or three separate
testimonies of the moral law written upon the heart; only one. The physical
heart is formed for blood, not water or glue. The moral heart is formed for
what really is good, not for hypocrisy, pride, wrath, lust, covetousness,
vanity, or vindictiveness.
...
So you say you believe that
fornication is wrong, because God has condemned it, but you do not really
believe that fornication is
wrong, and that therefore God’s condemnation is a guardrail, an
alarm. God will, you say to yourself, ignore the wrong, just as you yourself
ignore it, because it is more comfortable that way.
You are not a
judgmental hypocrite. You
are a non-judgmental hypocrite, congratulating yourself for a
broad-mindedness that in reality is just indifference or cowardice.
Or you
call it a beauty mark because that’s what everybody else calls it, and somehow
you hope that God too will play along. You say that since everybody’s a sinner,
it hardly matters which sin disfigures you or your brother. God will wipe them all out in the end.
But
that attitude cannot be reconciled with the words and the example of Jesus, nor
can it make any sense of the Cross. Why bother dying for people palsied with
sin, when it would be much easier to shrug at the palsy, wave a magic wand at
the resurrection of the dead, and, hey presto, everybody’s a saint?
There
is no love in that. If you see the cancer, you don’t say, “Well, everybody is
going to die of something eventually, so what’s the big deal?” If you see the
man in the ditch, beaten within an inch of his life, you don’t say, “Well, if
it weren’t this it would be something else,” and go on your way.
...
Time, dear readers, to return
to reality.
Padre Rodrigo Maria costuma falar sobre isso. Acompanho ele pelo Facebook.
ResponderExcluirObrigado, meu caro, pela dica.
ExcluirAbraço,
Pedro
Olá, Pedro!
ResponderExcluirAcho que a frase final do trecho que citaste já diz tudo:
"Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão."
Quando Cristo diz "para tirar o cisco do olho do teu irmão", claramente manifesta o desejo de que corrijamos os homens no caminho errado; de outro modo, Cristo diria: "e não tire o cisco do olho do teu irmão".
O ponto central da crítica de Cristo neste trecho não é o "julgamento", mas, sim, a hipocrisia do homem que não pratica o que prega. Cristo nos diz: "Vive o que pregas!". Esse é o ponto.
Essa distorção do conceito de misericórdia já está enchendo o saco.
Você tem toda razão, Jonas.
ExcluirÉ "vive o que tu pregas" a mensagem principal. Muito obrigado.
Abraço, meu amigo
Opa, esqueci de assinar a mensagem anterior, Pedro.
ResponderExcluirGrande abraço,
Jonas
Realmente, o "quem sou eu para julgar" deveria ser complementada com um "nem por isso devemos deixar de condenar o pecado da sodomia e admoestar quem a pratique pois, se falecer nesse estado abominabilíssimo, quase certamente NÃO se salvaria, iria para o inferno"!
ResponderExcluirNo entanto, como mais trechinhos de certos textos seriam confusos, deixariam margem a subinterpreações, alguns achariam que seriam propositais, como agem as esquerdas, deixando sempre uma chance de existirem capciosidades, reinterpretações subjetivistas sob o "quanto mais confusão, tanto melhor"!
A misericordia, por ex., em 100 vezes pronunciada e ultra entronizada, talvez 1 sobre a justiça! Mesmo assim, sem aprofundamento, enquanto as condenações gerais ao inferno apontando os erros do povo em detalhes e mais ainda denunciando os promotores, praticamente extintas das homilias "para não discriminar a ninguém".
Bem dito, Isac, o mundo ainda aguarda uma correção do "quem sou eu para julgar?".
ExcluirPapa escancarou uma porta para o pecado.
Abraço,
Pedro Erik
Olá, Pedro!
ResponderExcluirPara complementar, acho ótima esta frase de Santo Tomás:
"Justiça sem misericórdia é crueldade, e misericórdia sem justiça conduz à ruína."
Muito da confusão está resolvida nesta pequena frase do Doutor Angélico.
Grande abraço,
Jonas
São Tomás, como sempre, diz tudo de forma simples, direta e divinamente verdadeira.
ResponderExcluirAbraço, meu caro Jonas.
Li só agora esta matéria e realmente, tirou a trave do meu olho! Agora posso ver que o discurso relativista, da esquerda em especial, de não julgar, só nos afasta de Deus que é o Sumo Bem. O que Cristo nos alerta é que não podemos julgar cometendo o mesmo pecado ou até maiores, isso é hipocrisia! O efeito do não julgar é extinguir o pecado, assim caímos na porta larga da perdição e nem nos damos conta.
ResponderExcluirObrigado por disponibilizar o texto Pedro!
Obrigado, meu caro. Muito bom ter lhe ajudado com o artigo do brilhante Anthony Esolen.
ExcluirGrande abraço,
Fique com Deus.