segunda-feira, 16 de março de 2020

Três Vídeos: Coronavírus e a Lógica


Eu costumo ensinar lógica e dizer aos meus alunos que qualquer um que saiba lógica consegue destronar qualquer dito especialista.

Trago hoje para vocês três vídeos feitos por Jack Chapple. Eles me servem muito bem para explicar onde encontrar o erro de lógica na maioria dos argumentos sobre o coronavírus, especialmente aqueles que assumem uma posição muito radical, seja de que é o fim do mundo ou de que é apenas uma gripe.

Vejam a análise que fiz dos três vídeos que são colocados em ordem cronológica para facilitar o entendimento de Chapple.

- Primeiro vídeo de 28 de fevereiro de 2020

No primeiro vídeo, temos a posição do Chapple sobre coronavírus. Para ele é mais fácil morrer sendo chifrado por um alce do que morrer por coronavírus. Em suma, ele tem uma posição estatística.



Essa posição estatística é muito comum e costuma colocar a culpa do caos que vivemos na mídia e nos políticos. Justamente o que Chapple faz.

Qual é o problema da posição estatística?

Bom, medicina lida com a vida humana, estatística lida com quantidade, isso não se mistura. Quanto vale uma vida humana? Além disso, infelizmente ou felizmente (dependendo do caso), as vidas humanas são tratadas de forma diferente. Quando se vence uma batalha? Quando 10.000 soldados morrem ou quando o general morre? Um general vale quantos soldados? Não é possível dizer. Se apenas o presidente Bolsonaro falece por conta do coronavírus quanto custará isso para o país? Se morrem 3 mil brasileiros será mais barato? Quanto vale um velhinho? É preferível que morram velhinhos a jovens? Quanto vale a sua mãe? É melhor que 1.000 jovens morram e sua mãe continue viva? Não se pode fazer essa conta ou análise, pois vida não tem preço.

Colocar a culpa na mídia é um argumento muito fraco porque não é falseável (não se consegue provar o contrário). Não é um argumento científico. Acho que se pode dizer que a mídia procura cliques e acessos para vender mais, mas isso também é verdade para aqueles que dizem que a mídia é a culpada.

Se a AIDS mata 700 mil por ano, ou se a gripe comum mata 2 milhões, isso não se mistura com um fato de que uma doença desconhecida deva ser tratada com seriedade se ela mata apenas 100. Toda vez que alguém fala que a gripe comum mata muito mais, pergunte se a presença do coronavírus diminuiu as mortes pela gripe comum.

Outros dizem que a crise do coronavírus é uma questão econômica, não tem nada a ver com vidas humanas. Esse argumento não é falseável, então não é científico. Além disso, mostra um desprezo com análises não econômicas, como a análise médica.

Outros dizem que assim que se inventar uma vacina o mercado financeiro melhora. Sim, por óbvio, pois o mercado financeiro lida com perspectivas de futuro, mesmo que ocorra demora na implementação da vacina, se ela está provada que salva pessoas, é suficiente para se imaginar um futuro melhor.

- Segundo vídeo de 9 de março de 2020.

O segundo vídeo fala um pouco de história e diz que a China se tornou a grande máquina industrial do mundo, pois as grandes empresas do mundo ocidental foram produzir lá por conta dos baixos custos pagos aos trabalhadores chineses. Produzir na China virou uma obrigação dos países capitalistas.

Mas, por conta do coronavírus, a China parou praticamente toda a sua produção industrial, assim, o mundo ficará sem suprimentos industriais.




Como esse vídeo se relaciona logicamente com o vídeo anterior?

O governo da China é completamente estúpido por parar o país por conta de uma doençazinha que mata menos que chifrada de alce?

Alguns dizem que isso é um golpe da China para dominar o mundo.

Para se pensar assim, a pessoa tem que imaginar não apenas que a China é uma ditadura poderosa, mas que é quase Deus. O país pode controlar uma doença contagiosa, aceitando matar milhares de seus cidadãos, pode controlar a destruição econômica do mundo e depois pode controlar economicamente o mundo.

O raciocínio lógico da pessoa imagina a China como um demiurgo diabólico super poderoso, que sabe o presente e o futuro.


- Terceiro vídeo de hoje, 16 de março de 2020

Neste vídeo, Chapple vai comparar a crise financeira de 2008, que muitos consideram a pior crise de todos os tempos (e para alguns essa crise nem acabou ainda, eu defendo essa ideia) com a crise do coronavírus.

Ele vai defender que a crise do coronavírus deve ser pior que a de 2008.



Como isso se relaciona com os vídeo anteriores?

Bom, tem um ótimo relacionamento com o segundo vídeo, mas não com o desprezo com que trata a doença coronavírus.

Será que a China exagerou ao parar o país por conta de um vírus idiota que só mata velhinho? Será que a China não viu o caos total nos seus hospitais como extramente sério para que se brincasse com isso? Será que houve fatores políticos e sociais para que a China fizesse o que fez? Sim, certamente, sempre há, afinal há governo e há sociedade. O Brasil pode aguentar o caos nos hospitais? Nós não vivemos já no caos hospitalar?

O nosso Jack Chapple parece que começa a entrar no modo pânico.



9 comentários:

  1. Olá amigo! A "Preparação para a morte" de Santo Afonso é um livro que pode trazer muita consolação nesse momento de incertezas. Me pergunto até que ponto as medidas contra essa epidemia são legítimas, posto que têm o enorme potencial de colapsar a economia de vários países.
    Grande abraço,
    Gustavo.

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  2. Não entendi bem essa sua pergunta, grande Gustavo.

    Bom, o que temos de certeza é que a epidemia foi devastadora na China e está sendo devastadora na Itália e no Irã. Nos Estados Unidos, já há dezenas de mortos e milhares d einfectados. Em toda a Europa também.

    No Brasil, apenas uma pessoa morreu e o que se diz é que o pior será no período de frio. No entanto, já temos centenas de infectados.

    Isso acima são fatos. O que fazer com eles é que é o problema. Como amenizar o impacto da doença? Será parando as aulas agora? Parar só as aulas? E o trabalho das pessoas? Com quem ficam as crianças?...

    Abraço,
    Pedro Erik

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  3. No início de fevereiro, quando nem se falava do corona na Itália, meu irmão que mora lá, disse que ao visitar a Igreja de Santa Catarina de Sena o padre o abordou e contou que essa epidemia seria vencida com a reza do terço. Naquele momento ele não entendeu o motivo do padre ter-lhes dito isso (estava com mais dois amigos).
    O que me entristece nem é o colapso econômico, mas o religioso: meu irmão disse que os padres italianos não podem celebrar os sacramentos - Confissão, Eucaristia, Unção.
    Não é curioso que essa epidemia tenha se agravado após o acordo Vaticano-China? E que no último dia 13, no aniversário de 7 anos de pontificado de Francisco, a Cidade Eterna estava vazia? Para nós que temos Fé, esses fatos dizem muito.
    Rezemos e peçamos a Deus Misericórdia. E claro, nada de sair espirrando por aí!!!
    Abraço!
    Gustavo.

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  4. O Sr. conhece o canal "Casando o Verbo "?

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    1. Não, conheço não. É sobre o quê?

      Abraço,
      Pedro Erik

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    2. É sobre geopolítica. Seria bom o Sr. dar uma olhada. O canal é muito bom.

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  5. Cara to amando seu blog.sou protestante, pentecostal e assembleiano . Achei seus artigos são bem convincentes.

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  6. Obrigado, José Sandro Cardoso. É uma honra tê-lo aqui.
    Muito bom saber que acha que meus artigos são convincentes. Peço-lhe que tenha paciência e compreensão comigo caso alguns deles não forem adequados para o que você pensa.

    Grande abraço, amigo.
    Pedro Erik

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  7. Ok, meu amigo Anomino. Vou dar uma checada no canal.

    Grande abraço,

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Certa vez, li uma frase em inglês muito boa para ser colocada quando se abre para comentários. A frase diz: "Say What You Mean, Mean What Say, But Don’t Say it Mean." (Diga o que você realmente quer dizer, com sinceridade, mas não com maldade).