A lógica maniqueísta é recorrente na encíclica Laudato Sí, que elevou em muito o
caráter panfletário e confuso da Pacem in
Terris do Papa João XXIII.
Na encíclica, o Papa Francisco condenou os “poderosos”,
as “multinacionais”, os “latifundiários”, os “interesses econômicos”, as “privatizações”
e os “países ricos”. Ora, quando ele escreveu essa encíclica, em 2015, eu diria
que os poderosos estavam de acordo com ele.... Não
sei a que poderosos ele se refere, nem ele nunca esclarece. Vejam algumas
passagens de Laudato Sí, que mostram
esse maniqueísmo do Papa Francisco.
1)
Poderosos se recusam a resolver o desafio ambiental:
“Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise
ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos,
mas também pelo desinteresse dos outros.”;
2)
Privatizações prejudicam o acesso a áreas de beleza
natural e excluem os pobres: “Nalguns lugares, rurais e urbanos, a privatização
dos espaços tornou difícil o acesso dos cidadãos a áreas de especial beleza;
noutros, criaram-se áreas residenciais «ecológicas» postas à disposição só de
poucos, procurando-se evitar que outros entrem a perturbar uma tranquilidade
artificial.”
3)
Poderes econômicos ignoram a dignidade humana e o
meio ambiente. Disse ele: “os poderes económicos continuam a justificar o
sistema mundial atual, onde predomina uma especulação e uma busca de receitas
financeiras que tendem a ignorar todo o contexto e os efeitos sobre a dignidade
humana e sobre o meio ambiente.".
4)
O poder financeiro é o maior culpado pelos
conflitos. Nas palavras dele: “Exige-se da política uma maior atenção para
prevenir e resolver as causas que podem dar origem a novos conflitos.
Entretanto o poder, ligado com a finança, é o que maior resistência põe a tal
esforço”
5)
Multinacionais usam os países pobres para jogar
entulho. Disse ele: “ A isto acrescentam-se os danos causados pela
exportação de resíduos sólidos e líquidos tóxicos para os países em vias de
desenvolvimento e pela atividade poluente de empresas que fazem nos países
menos desenvolvidos aquilo que não podem fazer nos países que lhes dão o
capital: Constatamos frequentemente que as empresas que assim procedem são
multinacionais, que fazem aqui o que não lhes é permitido em países
desenvolvidos ou do chamado primeiro mundo.”
6)
Latifundiários forçam os pequenos agricultores a
vender suas terras ou abandonar as culturas tradicionais: “As economias de
larga escala, especialmente no sector agrícola, acabam por forçar os pequenos
agricultores a vender as suas terras ou a abandonar as suas culturas
tradicionais.”
7)
Os países ricos devem pagar “dívida ecológica” aos
países pobres: “Com efeito, há uma verdadeira «dívida ecológica»,
particularmente entre o Norte e o Sul, ligada a desequilíbrios comerciais com
consequências no âmbito ecológico e com o uso desproporcionado dos recursos
naturais efetuado historicamente por alguns países.”.
Além desse maniqueísmo, há duas outras importantes
características da Laudato Sí:
extensão e confusão. É uma encíclica muito extensa e cansativa de leitura, com
muitas contradições entre os parágrafos e uso muito forçado das passagens
bíblicas para falar sobre meio ambiente.
Uma parte sobre esse uso da Bíblia que me incomodou
bastante em Laudato Sí foi a menção à
passagem em Mateus 6:26, em que a encíclica elimina o final da passagem. De
acordo com o Papa Francisco, a passagem relata: “Olhai as aves do céu: não
semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste
alimenta-as”. Acontece que a passagem termina com uma pergunta de Jesus: "Não
valeis vós muito mais que elas?", que foi eliminada. Em Mateus 6:26, temos
é uma exaltação do humano sobre a natureza, justamente o contrário do que o
Papa faz passar.
Deve-se saber que, na enorme extensão da encíclica,
o Papa pode se defender de todos os argumentos. Por exemplo, ele pode se
defender das frases maniqueístas acima alegando os dizeres da encíclica: “O
rico e o pobre têm igual dignidade”....
Por outro lado, em partes da encíclica o Papa
parece querer se soltar além da Tradição da Igreja, ao apontar rumos teológicos
estranhos à religião cristã:
“Estas situações provocam os
gemidos da irmã terra, que se unem aos gemidos dos abandonados do mundo”
Ou:
“Se tivermos presente a complexidade da crise ecológica e as suas múltiplas causas, deveremos reconhecer que as soluções não podem vir duma única maneira de interpretar e transformar a realidade. É necessário recorrer também às diversas riquezas culturais dos povos, à arte e à poesia, à vida interior e à espiritualidade.”
Em termos de ciência econômica, a encíclica mostra
um pensamento muito reducionista, com análise muito precária. Em relação às
soluções apresentadas pelo Papa Francisco para o “desafio ambiental”, que por
si só envolvem muitas decisões de política econômica...Vejam, por exemplo, essa passagem de Laudato Sí, na qual Francisco critica basicamente tudo, e deixa-nos
sem nenhuma solução:
“Para que apareçam novos modelos
de progresso, precisamos de «converter o modelo de desenvolvimento global», e
isto implica refletir responsavelmente «sobre o sentido da economia e dos seus
objetivos, para corrigir as suas disfunções e deturpações». Não é suficiente
conciliar, a meio termo, o cuidado da natureza com o ganho financeiro, ou a
preservação do meio ambiente com o progresso. Neste campo, os meios-termos são
apenas um pequeno adiamento do colapso. Trata-se simplesmente de redefinir o
progresso. Um desenvolvimento tecnológico e económico, que não deixa um mundo
melhor e uma qualidade de vida integralmente superior, não se pode considerar
progresso. Além disso, muitas vezes a qualidade real de vida das pessoas
diminui – pela deterioração do ambiente, a baixa qualidade dos produtos
alimentares ou o esgotamento de alguns recursos – no contexto dum crescimento
da economia. Então, muitas vezes, o discurso do crescimento sustentável
torna-se um diversivo e um meio de justificação que absorve valores do discurso
ecologista dentro da lógica da finança e da tecnocracia, e a responsabilidade
social e ambiental das empresas reduz-se, na maior parte dos casos, a uma série
de ações de publicidade e imagem.”
ECONOMÊS DE ESQUERDA!
ResponderExcluirO papa Francisco segue as dietas das esquerdas: acrescenta o inconveniente e elimina itens bíblicos desfavorecedores das ideologias!
Pareceria um dos flancos de sustentação delas, facilmente perceptíveis e ostensivos, ou,
conte comigo, Xi Lin Ping, Kim Jong Un e afins!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluircorrigindo o comentário anterior (precisei excluir):
ResponderExcluirSó se de uma coisa: tem algo grande e podre por trás disso. Depois que você entende e reconhece o espirito que opera no papa Francisco NÃO se pode dar-se ao luxo de considerar erro nesses tipos de evento; tampouco deva esperar que ele tenha a Tradição da Igreja como soberana na orientação da Igreja. É difícil esperar isso desse papado. Certamente, não há um papa do tipo progressista-socialista-pró-globalista. O que temos é um progressista-socialista-pró-globalista que chegou ao papado. Não tenho mais dúvidas: esse homem age nas sombras, e a confusão é seu instrumento.
O Papa parece um romântico que vive no mundo da lua.
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