O Fratres in Unum traduziu uma entrevista da Radio Spada com o arcebispo Viganò. Eu vou colocar aqui só a questão feita pela Radio sobre quem foi Bento XVI para a Igreja como chefe do Congregação da Fé e como Papa. Leiam o resto da entrevista no site Fratres in Unum
Vejam a pergunta feita pela Radio sobre Bento XVI:
Rádio Spada: Um tema distinto, mas ligado, é aquele relativo aos protagonistas da temporada conciliar e pós-conciliar. Detenhamo-nos por um momento na figura de Ratzinger: o papel do teólogo bávaro tanto no Vaticano II como depois é inegável, embora com diversas nuances (recordamos que de 1981 a 2005 foi Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, de 2005 a 2013 reinou no Trono de Pedro, desde 2013 é o “Papa Emérito”). De nossa parte, o julgamento sobre o significado do ratzingerismo é certamente negativo: sob a sua administração da Congregação para a Doutrina da Fé, prosperaram os mesmos desvios que hoje vemos “florescer” explicitamente; assim que ascendeu ao sólio pontifício, removeu a tiara do brasão papal; e continuou no caminho do ecumenismo indiferentista, renovando as celebrações escandalosas em Assis; em Erfurt chegou a afirmar que “o pensamento de Lutero, toda a sua espiritualidade era inteiramente cristocêntrica”; no Motu proprio Summorum Pontificum definiu a Missa de todos os tempos e o Novus Ordo como duas formas do mesmo rito (quando, ao contrário, implicam duas teologias totalmente diferentes); depois criou este híbrido improvável do “Papa emérito vestido de branco” que — independentemente das intenções, que não julgamos — parece não ser apenas um mal-entendido perigoso, mas uma engrenagem quase necessária do dualismo que anima a dinâmica atual de dissolução eclesial. Esses poucos exemplos, que poderiam ser seguidos por muitos outros, são, em nossa opinião, reveladores do fato de que Ratzinger sempre esteve do outro lado da cerca, embora com papéis e posições que não são idênticos. Já vimos sua afirmação sobre a “bela fábula da hermenêutica”, mas também em outras ocasiões o V. Exa. apontou alguns aspectos problemáticos do pensamento de Ratzinger. Referimo-nos em particular à sua declaração recente no LifeSiteNews na qual sustentou: “No entanto, seria desejável que, especialmente em consideração ao Julgamento Divino que o aguarda, ele se distancie definitivamente dessas posições teologicamente incorretas — estou me referindo em particular aos da Introdução ao Cristianismo — ainda hoje difundidas nas universidades e seminários que se orgulham de declarar católicos”. Portanto, perguntamos: se resumisse seu julgamento sobre o pensamento do teólogo bávaro, o que diria aos nossos leitores? Além disso, como teve a oportunidade de trabalhar em estreita colaboração com Bento XVI, o que pode nos dizer sobre ele no nível humano? Não é — sejamos claros — uma questão sobre aspectos reservados, mas sobre a sua personalidade, que V.Exa. pôde conhecer de perto.
Viganò: Estou, infelizmente, de acordo, não sem uma profunda dor, com os pontos que você enumerou, embora com algumas nuances. Muitos atos de governo de Bento XVI se alinham com a ideologia conciliar, que o teólogo Ratzinger sempre defendeu com ardor e convicção. Sua formação filosófica hegeliana levou-o a aplicar o esquema tese-antítese-síntese no campo católico. Por exemplo, ao considerar que os documentos do Concílio (tese) e os excessos do pós-concílio (antítese) podem ser resolvidos na famosa hermenêutica da continuidade (síntese); tampouco escapa a invenção do Papado emérito, onde entre ser Papa (tese) e não mais ser Papa (antítese) se opta pela fórmula conciliatória de sê-lo apenas em parte (síntese). A mesma mentalidade determinou tudo o que fez para liberar a liturgia tradicional, que ele coloca ao lado do seu oposto conciliar na tentativa de agradar tanto aos autores da revolução teológica quanto aos defensores do venerável rito tridentino.
O problema é, portanto, de natureza intelectual, ideológica: surgiu todas as vezes que o teólogo bávaro tentou resolver a crise que aflige a Igreja. Em todos esses casos, sua formação acadêmica, influenciada pelo pensamento de Hegel, acredita que é possível combinar água com óleo. Não tenho motivos para duvidar que Bento XVI tenha querido a seu modo fazer um gesto de conciliação com o tradicionalismo católico. Nem que não esteja consciente da situação desastrosa em que se encontra o corpo eclesial; mas a única maneira de reconstruir a Igreja é seguir o Evangelho com uma perspectiva sobrenatural e sabendo que, pelo desígnio de Deus, o Bem e o Mal não podem ser reunidos num meio-termo fantasmagórico, mas que serão sempre contrários e irreconciliáveis, e que servindo a dois senhores acaba não se satisfazendo a nenhum dos dois.
Quanto ao meu conhecimento direto de Bento XVI, posso dizer que nos anos de seu pontificado, em que servi a Igreja na Secretaria de Estado, no Governo da Cidade do Vaticano e como Núncio nos Estados Unidos, a ideia que me fiz é a de que ele se cercou de colaboradores inadequados, nos quais não se podia confiar, e até de alguns corruptos, que se aproveitaram muito de sua suavidade de caráter e do que poderia ser considerada uma espécie de síndrome de Estocolmo, em particular com o Cardeal Bertone e seu secretário particular.
Saudações Professor. Fico feliz com a volta das postagens e espero que Deus Onipotente conceda ao senhor e sua família cada dia mais saúde e paz! Sobre a postagem, com a resposta do Arcebispo Viganó, ela reforça algo que tenho observado: como a inteligência pode se tornar um labirinto quando a pessoa fica demasiado preso ao mundo. Explico: O intelecto hegeliano, e mesmo outros arcabouços filosóficos, se não houver o cuidado de sempre estar sujeito à Revelação Divina e ao Evangelho, acaba por se tornar um caminho onde o detentor da inteligência vai aos poucos se perdendo no labirinto intelectual, afastando-se da Luz, que é Cristo, e assim cego quanto às soluções de problemas temporais. A pessoa acaba por se convencer de que está no caminho certo, sem perceber que na verdade está se perdendo, como em um labirinto. Só para citar os que me recordo, Tertuliano e Orígenes: homens muito inteligentes, mas que se perderam nessa mesma inteligência. Creio que o Papa Bento XVI, desde antes de se tornar pontífice, e a despeito da honestidade e sinceridade em suas ações, percorreu o mesmo caminho ao tentar conciliar as "coisas" temporais com a Verdade Revelada. Creio que um católico é místico por natureza, devendo viver a fé de maneira sobrenatural e pedir a Deus que conceda sabedoria e discernimento para identificar as artimanhas do demônio, escondidas sob todas as formas. Penso que o Papa "emérito", mesmo tentando com esforço, foi traído pela própria inteligência, infelizmente. Rezemos cada vez mais!
ResponderExcluirIsso mesmo, caríssimo Horácio. Concordo plenamente.
ExcluirFoi traído pela "ciência" do mundo, achou que ela se iguala à sabedoria de Deus.
Grande abraço
Pedro Erik
... Os hereges sempre usaram a ambiguidade e a dissimulação para insinuar e difundir as suas heresias, e para dar-lhes um parecer de serem inofensivas. De facto, o sucesso do herege na sua trama e o seu sucesso em servir o Demónio são geralmente correlativos. O herege Ário difundiu eficazmente a sua negação da divindade de Cristo porque ele impressionou as pessoas com a sua aparência de ascetismo e devoção.
ResponderExcluirPapa Pio XI, Rite expiatis, #6, 30 de Abril de 1926: “… as heresias pouco a pouco nasceram e cresceram na vinha do Senhor, propagadas tanto por hereges manifestos ou por enganadores astutos que, em virtude de professarem uma vida de uma certa austeridade e darem uma falsa aparência de virtude e piedade, facilmente conduziram pelo mal caminho as almas frágeis e simples.”
O Papa Pio VI conclui ao dar instruções aos católicos de como lidar com tais maquinações e ambiguidades dos hereges contidas nos seus escritos:
“De modo a expor estas astúcias – algo que torna-se necessário com certa frequência em todo século – não existe a necessidade de outro método além deste: SEMPRE QUE FOR NECESSÁRIO EXPOR AFIRMAÇÕES SUSPEITAS DE CONTEREM ALGUM ERRO OU PERIGO OCULTADOS SOB O VÉU DA AMBIGUIDADE, É DEVER DENUNCIAR O SENTIDO PERVERSO SOB O QUAL O ERRO OPOSTO À VERDADE CATÓLICA ESTÁ CAMUFLADO.”
O Papa Pio VI nos ensina que se alguém encobre uma heresia na ambiguidade, um católico deve expor o significado herético e denunciar o significado herético camuflado na ambiguidade. Mas isto é senso comum: se um homem diz que é contra o aborto, mas vota repetidamente a favor desse, ele é um adepto do aborto e é um herege. O facto de às vezes afirmar que segue a doutrina da Igreja acerca do aborto não significa coisíssima alguma.
Do mesmo modo, o facto de Bento XVI dizer algumas coisas conservadoras, ambíguas ou contraditórias não muda o facto de ele ensinar assombrosas heresias e não ser um católico.
igrejacatolica.org, site anti V II, sedevacantista.
Não seria o caso de o papa Francisco ser verbalmente contra o GLBTQ+ e manter adeptos propagandistas deles no Vaticano disseminando-os?