segunda-feira, 9 de maio de 2011

Revista Veja - Estou Começando a Detestá-la.



A Revista Veja é a melhor revista semanal do país e merece esse posto. Tenho bastante respeito por alguns jornalistas que escrevem para a revista ou para o site da revista, como Augusto Nunes (considero o melhor deles), J.R. Guzzo, Isabela Boscov e Diogo Mainardi (que parou de escrever para a revista). Naturalmente, como qualquer leitor, também tenho aqueles que não gosto (esses procuro nem ler para não me chatear) ou tenho dificuldades para lidar (leio de vez em quando), como André Petry, Ricardo Setti, Caio Blinder e Reinaldo Azevedo.

Mas nas últimas semanas a Revista impressa foi um desastre para mim. 

Tudo começou com o belíssimo rosto de Kate Middleton na capa. Não entendi bem, era um casamento de uma pessoa estrangeira, que iria fazer parte de uma monarquia que apenas marginalmente teve presença na história do Brasil, e a revista tem um viés mais político, não é revista de celebridades. Na edição anterior a essa, tinha uma boa entrevista do Padre Marcelo, fiquei interessado em ver como a Revista iria publicar as cartas do leitor, como iria posicionar as cartas em favor ou contra o Padre.

Na semana seguinte, era a beatificação de João Paulo II. E o que a Veja trouxe como capa? Uma pesquisa sobre a saúde da mulher e a Kate de novo (!!!). E o papa? Mereceu apenas duas paginas, recheadas apenas de informações mínimas. Não foi escrito nem o histórico do seu pontificado. A preocupação pareceu-me era criticar o processo de sua beatificação (Bento XVI eliminou apenas um estágio: espera por cinco anos) e no final lembrar os casos de pedofilia.

Depois dessa segunda edição com a Kate, fui ler os comentários na carta do leitor sobre a reportagem sobre João Paulo II (eu mesmo enviei uma carta na qual critiquei a reportagem, mas não esperava que a revista publicasse, pois nunca publicou minhas críticas ao Petry, apenas quando eu o elogiei).

Ao contrário do que aconteceu com o Padre Marcelo, quando a revista Veja publicou uma carta a favor, outra contra e outra da Arquidiocese de São Paulo,  a revista Veja, sobre João Paulo, só publicou uma mísera carta que corroborava com as críticas do processo de beatificação e relembrava os casos de pedofilia, isto é, a carta fazia o mesmo que a reportagem.

Aí chegamos na edição dessa semana, que tem na capa o Bin Laden. Nada mais natural. Interessei-me  especialmente pela promessa da revista de revelar o Islamismo em 17 perguntas.

Eu já li livros e gosto de pesquisar sobre o assunto, por isso não sou tão leigo em islamismo, mas queria ver o que a Revista dizia. Meu Deus, foi um desastre, a começar pela descrição de Maomé, como rico comerciante.

Maomé não era rico comerciante até se casar com Hadija aos 25 anos. Hadija era viúva rica. Depois da morte de Hadija, ele se casou mais 11 ou 13 vezes (há debates sobre isso), ao mesmo tempo, incluindo crianças de nove anos (ele tinha por volta de 55 anos). Recentemente, Bangladesh quis proibir o casamento entre homens e meninas, mas os líderes religiosos não permitiram justamente porque Maomé se casou com crianças.

Não houve também nenhuma descrição das conquistas do Islamismo no norte da África. A região que era cristã antes do islamismo chegar entre os séculos sétimo e décimo.

A revista também não mostrou nenhuma explicação das divisões de poder depois da morte de Maomé (dos quatro primeiros sucessores, três foram assassinados).

E para finalizar, não houve nenhuma descrição da Lei Sharia!!! Meu Deus, como falar dos problemas do Islã sem definir o que é a Sharia?

Ontem vi uma notícia mostrando que, depois que a Sharia foi estabelecida no estado de Bauchi na Nigéria, muitos cristãos foram assassinados. 17 cristãos, incluindo o pastor, foram assssinados na semana passada.

Isso são apenas alguns problemas que estou lembrando de cabeça, não estou com a revista aqui para descrever todas as bobagens escritas.

Claro que eu não quero que a revista seja especialista em Islã, mas a vida de Maomé e a Sharia são fundamentais para entender!! Além disso, parece-me que a revista perde o foco quando esquece o que deve ser notícia em favor de assuntos que potencialmente atrai compradores dela.

2 comentários:

  1. Realmente, o ocaso da revista com a beatificação de João Paulo II foi um pecado que considero imperdoável. Ainda me lembro de minha avó (que Deus a tenha) dizendo que "esse papa merecia virar santo". Queria que ela estivesse viva para ver isso acontecer. É quase um desrespeito com o leitor dar mais ênfase a um casamento estúpido que nada irá acrescentar na vida dele do que a um acontecimento histórico desse porte.

    Mas uma coisa me incomodou um pouco na sua abordagem sobre alguns comentaristas da revista. Eu não acho que o Reinaldo Azevedo mereça estar na mesma categoria que Caio Blinder e Ricardo Setti. É claro que tenho muitas discordâncias com ele, particularmente em relação ao casamento gay e à adoção de crianças por homossexuais. Mas enquadrá-lo junto com Blinder e Setti já é exagero. Falo isso por experiência própria.

    No começo do ano, como você sabe, a data do centenário de Reagan se aproximava. Na minha ânsia por saber cada vez mais sobre este grande homem, comecei a vasculhar edições antigas da Veja no Acervo Digital em busca de notícias sobre ele. Eu tive uma enorme surpresa ao descobrir que Ricardo Setti era o enviado especial da revista na primeira eleição de Reagan em 1980. Ele cobriu em detalhes aquele que eu considero um dos maiores eventos da história recente do país. Entusiasmado, escrevi um comentário no blog dele pedindo que mencionasse o assunto. Acrescentei que era o ano do centenário do Gipper e que seria interessante se ele escrevesse um artigo descrevendo a experiência.

    Muito bem, o que ele respondeu? Nada. Nem chegou a publicar o comentário. Apesar da minha decepção, resolvi insistir no assunto (eu não desisto fácil). Escrevi outros 3 comentários na página dele abordando o mesmo assunto. NENHUM DELES FOI PUBLICADO! Ele simplesmente me ignorou. Tempos depois, eu comentei sobre algo completamente diferente: a saída de Kassab do DEM para formar um novo partido oportunista. Ele não só publicou o comentário como também opinou sobre ele, dizendo que concordava com tudo o que eu havia dito. "Está excelente, meu caro!" Não sei... me parece que ele só gosta de meter o bedelho em assuntos com os quais concorda.

    E o que dizer de Caio Blinder então? Ele posa de centrista, tenta transparecer certa imparcialidade, mas não passa de um democrata liberal assumido. Seus textos não são ruins (em geral), mas dê uma olhada nos comentários... um horror! Ele odeia os republicanos e o Tea Party. Já deu a entender que o único republicano que ele poderia apoiar contra Obama é o RINO Mitt Romney. Em todas as batalhas políticas americanas ele escolheu o lado democrata. Sua descrição do governador de Wisconsin Scott Walker foi a de um "aproveitador cínico e oportunista". Quando eu critiquei essa visão ele me acusou de estar simplesmente repetindo os talking points conservadores e me sugeriu que parasse de assistir à Fox News. A gota d'água veio quando eu fiz uma observação sobre Obama, dizendo que ele ainda pensava ser um ativista comunitário quando deveria estar se preocupando em ser o presidente dos Estados Unidos da América. Blinder se ofendeu e disse que eu tinha uma "mentalidade Sarah Palin" e que devia parar de ouvir comícios do Tea Party. Desde então nunca mais comentei em seu blog.

    Eu admito que o Reinaldo muitas vezes diz coisas que me incomodam, mas acho injusto que ele mereça a mesma classificação que esses outros dois. Ele nunca deixou de publicar um comentário meu e nunca escreveu respostas ácidas. De qualquer jeito vou continuar lendo a Veja. Ela continua a ser de longe a melhor revista do Brasil.

    Abraços, André.

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  2. Grande André,

    Como sempre, ótimo comentário.

    Com relação às suas críticas a Setti e Blinder, o que eu acrescentaria só corrobaria com sua posição.

    Sobre Reinaldo Azevedo, concordo com suas críticas com relação a posição dele sobre casamento gay e adoção de crianças sobre homossexuais. Isto é realmente absurdo. Poderia falar mais disso, mas deixe eu dizer porque não gosto de Reinaldo Azevedo e pior nem abro seu blog.

    Fui leitor desde o início de Reinaldo Azevedo até que chegou um ponto que não consegui mais acompanhá-lo, pois seu orgulho é de um tamanho que não deve caber em um cristão.

    Tenho aqui em meu computador uma lista de momentos em que discuti com ele, mostrei que ele se contradisse, e o corrigi por email e ele ou nem publicou o que eu disse (e tenha certeza que eu nunca apelo para a ignorância) ou nem agradeceu a correção.

    Chamo meu arquivo de "memória contra Reinaldo Azevedo". Só cataloguei porque eu o respeitava muito e tive realmente muito o que criticar. Mas não é saudável fazer isso. Parei de lê-lo, é melhor.

    O que atrapalha não só Reinaldo Azevedo como Olavo de Carvalho é o maior pecado capital: orgulho.

    Por isso, posso até ler Setti e Blinder (apesar de com certeza terei raiva por isso), mas Reinaldo Azevedo perdeu-me como leitor.

    Grande abraço,
    Pedro Erik

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Certa vez, li uma frase em inglês muito boa para ser colocada quando se abre para comentários. A frase diz: "Say What You Mean, Mean What Say, But Don’t Say it Mean." (Diga o que você realmente quer dizer, com sinceridade, mas não com maldade).