domingo, 30 de outubro de 2011

Nesta Escola, Eu Queria Estudar.

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Em 2008, o presidente da American Chesterton Society, Dale Ahlquist, e Tom Bengston fundaram a Chesterton Academy, uma escola ginasial e faculdade (High School e Faculty), em Minneapolis (Estados Unidos). Inicialmente,  a escola teve apenas 10 alunos, hoje tem mais de 60.

Nesta escola, eu realmente queria ter estudado, pergunto-me quanto tempo eu teria poupado de minha vida acadêmica se eu tivesse aprendido no ginásio, o que hoje eu luto para ter tempo para aprender. A minha vida na escola foi péssima em termos de aprendizado para me tornar um profissional que sabia o que estava fazendo. A minha escola nunca incentivou a leitura de qualquer livro que me desse uma explicação da importância das disciplinas na minha vida, e eu saí da faculdade de economia sem ter a mais tenra idéia da base filosófica do curso. Tive três disciplinas de marxismo na faculdade que não ensinaram nem economia nem muito menos quem é o ser humano. Só depois do doutorado, e de ter um emprego estável, foi quando eu pude nas horas vagas me dedicar  a leituras que explicam o que eu estudo desde a escola primária.

Pergunto-me também onde se conseguiria os professores se fosse montada um Chesterton Academy no Brasil. Sem falar na reação dos sindicatos e do governo contra a escola.

No Brasil, quando se discute melhorias no ensino, geralmente sugere-se foco na meritocracia, aprimoramento dos professores e um currículo escolar menor. Eu estou plenamente de acordo que é preciso reforçar o mérito nas escolas tanto para alunos como para professores, mas falta ainda dizer que é preciso ensinar a base filosófica da humanidade,  por que os alunos estão estudando aquelas disciplinas, quais são os princípios que as determinam, qual é relação filosófica entre as disciplinas de estudo e esclarecer que fé e razão não são inimigas. Sem falar da importância de se cuidar das almas dos estudantes.



Vou traduzir em azul aqui partes do texto sobre a Chesterton Academy que eu li na revista Gilbert Magazine, para vocês terem uma idéia do que falo. O artigo é de Emily de Rotstein.

Há mais de um século GK Chesterton disse que a educação estava em declínio e desarranjo e que todo mundo sabia disso. O impressionante é que as escolas estavam naquele tempo muito melhor do que elas estão agora. A maioria dos estudantes estudava Latim e os Clássicos. Eles eram bem versados em Homero, Dante e Shakespeare. Eles podiam escrever ensaios coerentes com boa gramática e sofisticadas alusões literárias. Eles podiam resolver problemas complexos de matemática no papel, ou mesmo mentalmente, que fariam os estudantes de hoje procurar as calculadoras.

A possibilidade de incutir conhecimentos gerais nos estudantes de hoje está prejudicada pela tendência de  forte especialização, os estudantes tem o foco estreito desde cedo. Se um estudante mostra tendência para humanidades, ele é completamente afastado das ciências e vice versa. As matérias estão ficando cada vez mais fragmentadas e os estudantes estão aprendendo cada vez menos.

Infelizmente, nossas escolas sofrem de sérios problemas que vão além do currículo. Nós temos saído de um ensino em que a moral está ausente para um que ataca a própria moral. Pode-se perguntar se Chesterton teria imaginado uma escola com detector de metais na porta  e com distribuição de contraceptivos.

Ao invés de ficar sentado reclamando sobre este problemas nas escolas, dois homens decidiram que tinham de fazer algo. Eles tinham toda a motivação que eles precisavam: eles eram pais.

Dale Ahlquist, presidente da Sociedade Chesterton Americana, e o microempresário, Tom Bengston fundaram uma nova escola. Como Católicos, eles sabiam que acima de tudo o ensino deve ter a fé como fundamento, que todo conhecimento deve ter uma ponto de referência eterno e que toda verdade está conectada com a Verdade. Eles também sabiam que eles queriam restaurar os estudos clássicos e criar um currículo integrado, para que os estudantes aprendessem a serem pensadores completos (e escreverem com sentenças completas). Eles também queriam contra-atacar a tendência cultural que é contra a vida e a família. Além disso, eles queriam resolver um dos problemas mais escandalosos da educação moderna: a catástrofe dos custos. A Chesterton Academy foi o resultado disto.

A escola abriu suas portas no outono de 2008 com apenas 10 estudantes; no ano seguinte tinha 20; no ano passado, 42, e neste ano, mais de 60. A escola tem chamado atenção nacionalmente e mesmo internacionalmente. Pessoas de todo mundo têm procurado contato porque querem montar escolas similares. Nós queremos ajudá-las.

E qual é o modelo de ensino da Chesterton Academy? Ele começa com um currículo integrado clássico. Com risco de esquecer alguém, veja aqui alguns nomes que os estudantes encontram nesta parte: Homero, Platão, Aristóteles, Euclides, Virgílio, Dante, Chaucer, Shakespeare, São Francisco de Assis, São Tomás de Aquino, St. Teresa Dávila, Dostoyevsky,...e G.K. Chesterton. Eles estudam o Velho Testamento, o Novo Testamento, o Catecismo da Igreja Católica, com a ajuda de alguns padres. História, literatura, filosofia e teologia são encadeadas conjuntamente. As ciências e as humanidades estão intimamente conectadas, da maneira que a lógica matemática é vista no estudo de filosofia e a teologia é estudada em ciências. Fé e Razão se encontram todas as aulas. Ênfase idêntica é dada para as artes, todo estudante aprende a desenhar, pintar, cantar em um coral, representar, a discursar e debater. E aprender Latim ajuda-os a aprender Inglês. Cada ano de estudo é construído sobre o que foi ensinado no ano anterior.

Todo dia, as aulas começam com uma missa e o calendário escolar inclui peregrinações religiosas, retiros espirituais para a faculdade, atividades em defesa da vida e palestras de pessoas ilustres.

A responsabilidade última da Academia é dos pais, os administradores confiam pesadamente na participação deles na escola. 

Como nós fazemos isso? Nós temos um claro entendimento do que nós queremos. Nós sabemos que nada é mais importante que a alma de nossos filhos. Nós sabemos que quaisquer coisas que fizermos deve ser para a glória de Deus.

Como nós nos sustentamos? Nós temos um compromisso com a frugalidade. Nós não gastamos o dinheiro que nós não temos. Nós temos voluntários, professores de tempo integral e professores que são de apenas um período. E também convidamos recém graduados para ensinar no programa "Ensine para Cristo", eles aprendem a ensinar, ensinando.

Nós alugamos um espaço de uma escola no subúrbio de Minneapolis e também descobrimos que um laboratório pode ser montado gastando-se centenas e não milhares de dólares. 

O que temos pela frente? Nosso plano é desenvolver livros-textos e planos de ensino que podem ser usadas por outras escolas no país, incluindo escolas em casa (home schools). Livros-textos não precisam pesar 40 libras e custar 200 dólares cada. E eles não precisam ser ausentes de Deus. 

Nós também começamos a ter aulas noturnas (Chesterton University!) que não apenas proporciona enriquecimento para adultos mas uma receita extra para a escola e a faculdade. 

Nós mantemos o preço do curso baixo, mas conseguimos dar ajuda de custo para aqueles que realmente precisam. Também recebemos doações.

Somos completamente independentes, nós não recebemos ajuda do Estado ou da Igreja. Esta independência nos dá liberdade para montarmos o currículo que desejamos.

4 comentários:

  1. Que animador, para um estudante tentando entrar na faculdade, seus primeiros parágrafos. Quero fazer Administração e, no dia do Enem, vecham só, me sento ao lado de uma senhora que fez Administração por volta de 80. O engarrafamento fez começar uma conversa e ela me falou que o problema da Administração é que "qualquer um pode (estudar sem faculdade) fazer"...

    Agora, por que essa escola seria atacada por sindicato e governo? Acho que a escola seria atacada por evangélicos, ateus (afins) e outras religiões, pois o currículo parece muito cristão (não acho isso problema).

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    Coisas que li/vi sobre educação, esses dias: http://www.lendo.org/a-educacao-ontem-e-hoje/ e http://livroseafins.com/educacao-hoje/

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  2. Caro Eduardo, eu ja dei aulas para administracao. Eu acho o curso com grande potential, mas eh o curso mais complicado para ministrar aulas, para mim, pois os perfis dos alunos sao muito diferentes.

    Eu falei sobre o governo e os sindicatos porque acho que uma escola do tipo Chesterton Academy no Brasil seria impossivel, pois o governo e os sindicatos exigem um tipo de curriculo legalmente e tambem dificultam contratacao de professores nao alinhados ao modelo atual.

    Boa sorte no curso.

    Abraco,
    Pedro Erik

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  3. Obrigado, mas ainda tenho que vencer meus concorrentes e o Inep...

    A cada ministro que se vai eu acho o governo mais próximo de um ponto onde uma mudança forte será necessária. Daqui a pouco, espero, discursos não serão o suficiente.

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  4. É verdade, Eduardo, mas, como o Marco Antonio Villa disse em um texto que li no blog do Augusto Nunes, há uma letargia muito grande na sociedade.

    Além disso, alguns coisas me assustam no Brasil, como o roubo das vassouras que estavam próximo do Congresso em manifestação contra a corrupção. Como um povo que rouba vassouras pode rclamar de político ladrão?

    Boa sorte nos estudos.

    Abraço,
    Pedro Erik

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Certa vez, li uma frase em inglês muito boa para ser colocada quando se abre para comentários. A frase diz: "Say What You Mean, Mean What Say, But Don’t Say it Mean." (Diga o que você realmente quer dizer, com sinceridade, mas não com maldade).