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Ontem, eu li que se você for um utilitarista, você tende a ser psicopata. É o que diz um trabalho científico de dois psicólogos. Mas antes o que é utilitarismo?
Jeremy Bentham (foto abaixo), um jurista do século XVIII, revolucionou a economia. Ele introduziu o conceito de utilitarismo. Nesta teoria, o ser-humano raciocina em termos de prazer e dor, e sempre buscaria o máximo prazer. Mas ao contrário de Adam Smith, seu contemporâneo, ele dizia que não havia uma harmonia de interesses, a busca egoísta pelo prazer não ia gerar o bem para todos de forma natural (pelo menos com isso, eu concordo ele e não com Smith).
O utilitarismo lembra a doutrina hedonista dos gregos e é isso mesmo, a diferença é que o utilitarisa busca um bem geral provindo do egoísmo individual e o hedonista é mais modesto, apenas foca no indivíduo. O utilitarista busca regras artificiais que tragam a felicidade para o maior número de pessoas. As regras da sociedade deveriam ser voltadas para a felicidade de todos, sem observar quaisquer restrições (morais, sociais ou religiosas) que inibissem o maior alcance de felicidade para o maior número de pessoas.
O utilitarismo iniciou uma explosão teórica na economia. Estimulou James Mill, seu filho John Stuart Mill, Alfred Marshall, León Walras e tantos outros economistas. Mas há vários problemas reconhecidos no utilitarismo de Bentham.
Para começar: como se deve medir a felicidade? Como deve-se comparar a felicidade entre as pessoas (a felicidade de um pode ser o veneneo do outro)? A felicidade de um maior número de pesssoas é sinônimo de uma sociedade melhor, mais desenvolvida? Como podem ser definidos os prazeres e as dores? Os prazeres do corpo são tão ou mais improtantes que os prazeres da mente? O que é a dor? A felicidade pode ser somada? Nenhum destas perguntas foram respondidas.
Mas muito do que se discute na teoria econômica tem base no utilitarismo, que ausenta qualquer conceito de moral, sem definir prazer e dor. A Teoria dos Jogos, por exemplo, de Neumann e Mogerstern estaria completamente perdida sem a idéia utilitarista. Como definir o objetivo das pessoas se eu não sei o que é o prazer para elas? Quantos trabalhos acadêmicos de economistas são baseados em maximizar a utilidade, sem definir a utilidade? Os economistas esquecem este tipo de questão para estabelecer seus argumentos.
Pois é, os psicólogos Daniel Bartels e David Pizarro publicaram um artigo que mostra que pessoas que aprovam ações que são consistentes com o utilitarismo tendem a possuir uma psicopatia maquiavélica e pouco apreço pela vida.
Olhem o que dizem os autores (traduzo em azul):
Researchers have recently argued that utilitarianism is the appropriate framework by which to evaluate moral judgment, and that individuals who endorse non-utilitarian solutions to moral dilemmas (involving active vs. passive harm) are committing an error. We report a study in which participants responded to a battery of personality assessments and a set of dilemmas that pit utilitarian and non-utilitarian options against each other. Participants who indicated greater endorsement of utilitarian solutions had higher scores on measures of Psychopathy, machiavellianism, and life meaninglessness. These results question the widely-used methods by which lay moral judgments are evaluated, as these approaches lead to the counterintuitive conclusion that those individuals who are least prone to moral errors also possess a set of psychological characteristics that many would consider prototypically immoral. (As pesquisas têm recentemente argumentado que o utilitarismo é o método apropriado pelo qual deve-se avaliar julgamentos morais, e que indivíduo que endorsam soluções não utilitaristas para dilemas morais (envolvendo danos passivos e ativos) estão cometendo erros. Nós descrevemos aqui um estudo no qual os participantes respondem a uma bateria de avaliações pessoais e um conjunto de dilemas que colocam opções utilitaristas e não-utilitaristas uma contra a outra. Os participantes que indicaram maior acordo com soluções utilitaristas têm maiores pontuações em medidas de Psciopatia, maquiavelismo e falta de significado para a vida. Estes resultados colocam em cheque métodos extremamente usados pelos quais julgamentos morais são avaliados, na medida em que estas abordagens levam a conclusões contra-intuitivas de que aqueles indivíduos que têm menos chances de cometerem erros morais possuem características psicológicas que são consideradas imorais)
(Agradeço a indicação do artigo dos psicológos ao blog Creative Minority Report)
Caro Pedro Erik,
ResponderExcluirVocê tem toda razão. Deveríamos saber mais sobre o que é ser católico, pois somente assim identificamos aqueles que realmente o são. Tenho visto muitos que se dizem católicos e que são a favor do aborto. Uma contradição primária. Não sei nos Estados Unidos, mas, no Brasil, penso que sabemos pouco, não procuramos saber mais e, pior, achamos que estamos em posição confortável perante Cristo.
É verdade, mas acho que você está se referindo ao post anterior, não é?
ResponderExcluirAbraço,
Pedro Erik