segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Canonizações são Atos Infalíveis dos Papas?


Ontem, o Papa Francisco canonizou o Papa Paulo VI. Muitos teólogos e estudiosos da Igreja não concordam que Paulo VI teve vida virtuosa que fundamente a santificação dele e também reclamam do novo processo de canonização da Igreja que facilitou as canonizações, ao não se permitir o chamado "advogado do Diabo", processo em que se contrapõe com os problemas na vida do indicado a santo. O Papa Francisco também canonizou ontem Osar Romero que também sofre muitas críticas.

Eu que já estudei a vida dos papas, sempre entendi primeiro que os papas são seres humanos e como tais são pecadores, por outro lado, também sei que santos devem ser pessoas muito especiais na devoção e nas ações em favor de Deus. Sobre Paulo VI, ele escreveu uma encíclica muito importante para a Igreja, a Humanae Vitae, por outro lado sei, de seus problemas na fraqueza para lidar com o mundo comunista na época, que permitiu o avanço do comunismo até entre os clérigos, e também sei dos erros dele relacionados ao enfraquecimento da liturgia da Igreja.

Também defendo que os processos de canonização devem ser muito rigorosos. Não gostei da decisão de João Paulo II de facilitar esse processo que permitiu que centenas e centenas fosse declarados santos. Aliás, João Paulo II também sofreu críticas quando foi canonizado, especialmente pelo fato de ter lidado muito mal com as denúncias de abusos sexuais na Igreja, que eram do conhecimento dele e também por conta do apoio, por omissão ou não, a Marcial Maciel que tinha vida dupla, além de ações do Papa João Paulo II em favor de um ecumenismo que chegou até ao momento em que ele beijou o Alcorão.

A questão aqui é: os católicos devem aceitar como atos infalíveis dos papas a declaração de canonização? Os católicos obrigatoriamente devem fazer devoção aos canonizados?

Sobre isso, eu gostei da resposta do Dr. John Lamont.

É um assunto complexo, mas em resumo Dr. Lamont argumenta que:

1) A Igreja não ensina que as canonizações são infalíveis. Isso significa que não há pecado nos católicos em negar sua infalibilidade por motivos sérios, mas isso não implica que eles não sejam infalíveis.

2) O que precisa ser estabelecido é se as canonizações, no sentido dos decretos finais e definitivos pelos quais o supremo pontífice declara que alguém foi admitido no céu e deve ser venerado por todos, não são de fato atos infalíveis do magistério papal.

3) Precisamos voltar ao processo mais rigoroso de canonização.

4) Uma canonização que não é infalível não quer dizer que as outras também não são.

No artigo, Dr. Lamont vai observar os decretos do processo de canonização para ver se eles são infalíveis no sentido formal. Pois para um ato papal ser infalível envolve três coisas: o papa deve exercer sua autoridade como sucessor de Pedro; seu ensinamento deve ser declarado como uma questão que diz respeito à fé ou à moral; e ele deve afirmar que seu ensinamento é uma decisão final que vincula toda a Igreja a acreditar em seu conteúdo sob pena de pecado contra a fé.

Dr. Lamont diz que a fórmula de canonização não segue estritamente a fórmula de uma decisão infalível do Papa.

E concluiu o artigo dizendo:

Uma canonização parece não ser infalível quando existem falhas graves no processo de canonização em si. Tais falhas significam que a Igreja falhou em tomar as medidas necessárias para conseguir a ajuda do Espírito Santo na prevenção de uma canonização equivocada. A falta de infalibilidade não significa, naturalmente, que a pessoa canonizada não seja um santo. Padre Pio, por exemplo, foi canonizado sob o processo de canonização seriamente falho introduzido por João Paulo II em 1983, mas isso não significa que ele não é um santo ou que ele não deveria ser venerado como tal. Uma canonização parece ser realmente errônea quando o equilíbrio das probabilidades, dada a evidência completa sobre o processo de canonização e a vida da pessoa canonizada, é muito fortemente a favor do processo de canonização ter sido seriamente falho, e também da pessoa canonizada não tendo exibido virtude heroica, mas em vez disso ter cometido pecados sérios que não foram expiados por alguma penitência heroica. O julgamento que uma dada canonização é errônea requer, é claro, uma investigação muito substancial, completa, objetiva e inteligente, e tais julgamentos não serão aventados neste artigo.

Chegamos, portanto, a uma conclusão ainda mais estrita do que a sugerida no início deste artigo. Não precisamos sustentar que as canonizações de João XXIII e João Paulo II eram infalíveis, porque as condições necessárias para tal infalibilidade não estavam presentes. Suas canonizações não estão ligadas a nenhuma doutrina da fé, não foram o resultado de uma devoção que é central para a vida da Igreja, e não foram produto de um exame cuidadoso e rigoroso. Mas não precisamos excluir todas as canonizações do carisma da infalibilidade. Ainda podemos argumentar que as canonizações que seguiram o procedimento rigoroso dos séculos passados ​​se beneficiaram desse carisma. Assim, embora a conclusão de nossa investigação seja mais restrita do que o previsto, sua lição é mais ampla. Essa lição nos diz que um retorno à antiga abordagem à canonização significaria recuperar a orientação do Espírito Santo em uma área de grande importância para a Igreja.


Leiam todo o artigo do Dr. Lamont, clicando aqui.


4 comentários:

  1. Interessantíssima postagem; bastante esclarecedora sobre a canonização. O texto do Dr. John R. T. Lamont é realmente rico e bem informativo. Não fosse o Thyself perderíamos muitas notícias como essa. Sobre esses dois processos de canonização. Osar Romero e Paulo VI, realmente é algo preocupante. Pergunto: será que Dom Helder Câmara pode ser canonizado? Bem, é forte esse apelo em Pernambuco, pois o esquerdismo no seio católico naquele estado é desanimador, desde tempos remotos. Além disso, a teologia da libertação fez e faz muito estrago por lá. Espero que o Bernardo termine logo seu documentário sobre tema. Me pergunto como o Vaticano tomou o atual caminho na História. Recentemente, assisti a um documentário chamado 'A juventude hitlerista', título em português, onde se mostra o recrutamento de jovens adolescentes por Hitler nos meses finais da Guerra. No documento aparece o papa Bento XVI, então um jovem adolescente recrutado pela SS. Estou pensando até o momento sobre isso. Evidentemente, não estou condenando nosso ex-papa. Todavia, considerando que muitas das grandes empresas que financiaram o Nazismo e projetos racistas na época são corporações globalistas hoje, não é de duvidar que infindáveis documentos daquele momento histórico estejam nas mãos dessa gente. Certamente muitos sobreviventes daquele horror que sobreviveram e se tornaram pessoas bem sucedidas tiveram e têm suas vidas vigiadas. Daí minha preocupação: é possível que se tenham documentos e imagens da época capazes de comprometer o clérigo Joseph Ratzinger e que possam ter sido usados para forçá-lo a renunciar e em seu lugar eleger Bergoglio papa? Não afirmo nada, apenas conjecturo. Nossos dias são difíceis. Deus me guarde. Eis um bom momento para rezarmos, e muito.

    ResponderExcluir
  2. Verdade, meu amigo. Devemos rezar e muito. E nos mantermos firmes na defesa da fé.

    Abraço,
    Pedro Erik

    ResponderExcluir
  3. Uma pergunta: os nobres comentaristas e autor do blog já leu e estudou as Constituições, Decretos do Concílio Vaticano II? Por curiosidade a pergunta!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, meu caro. Minha pesquisa na igreja é mais centrada em questões de guerra, que resultou no meu livro sobre Guerra Justa, e agora em questões de política econômica, que estou preparando outro livro.

      Para esses dois assuntos, eu li e estudei os atos formais do Vaticano II.

      Sobre o tópico do post, parece-me que Dr Lamont tem razão.

      Você tem alguma critica?

      Abraço,
      Pedro Erik

      Excluir

Certa vez, li uma frase em inglês muito boa para ser colocada quando se abre para comentários. A frase diz: "Say What You Mean, Mean What Say, But Don’t Say it Mean." (Diga o que você realmente quer dizer, com sinceridade, mas não com maldade).