O gráfico acima mostra que aquela expectativa (por vezes considerada dogma) das finanças (tantas vezes escrita em livros-textos) de que a "financialização" da economia iria distribuir renda aos mais pobres "deu ruim". Pelo contrário, a financialização concentrou muito a renda entre os mais ricos (aqueles que usam especialmente os hedge funds).
Esse gráfico está em um texto do site Of Two Minds. Além desse resultado de concentração de renda dentro do mercado financeiro, o autor do texto, Charles Hugh Smith, diz que se a verdade sobre os métodos do mercado financeiros forem conhecidas o mercado desaba, pois o "mercado é uma fraude".
Recentemente, eu comentei aqui o crescimento das ações do Gamestop frente à tentativa de hedge funds (fundo financeiro de ricaços) de reduzir o preço da economia por meio de venda "short" (pega-se emprestado a ação, vende-se e depois a recompra com preço reduzido pois o preço da ação caiu no mercado. Em suma, uma aposta segura feita na base de que muita gente poderosa vendeu a ação). Pequenos investidores (e alguns não tão pequenos) compraram as ações da GameStop em massa, fizeram o preço das ações explodir e assim provocaram enorme prejuízo para alguns ricaços.
Comentei que a jogada foi interessante demais, mostrou que o mercado financeiro não passa de um jogo de cartas marcadas pelos fundos ricaços que são "too big too fail", mas o método utilizado é simplesmente semelhante ao método usado pelos ricaços, neste sentido não tinha muito mérito, e facilmente seria derrubado com a reação dos ricaços.
O que estou lendo hoje é justamente que a questão do GameStop teve tiro curto. E que os poderosos, sejam eles do mercado privado ou com cargos públicos continuam vencendo o jogo e dando "waivers" para si mesmos para burlar as regras, como faz Yellen, a nova secretária do Tesouro do governo Biden.
Eu escrevi um livro sobre ética econômica católica, disponível em vários sites (coloco o link das Americanas). No livro, trato muito da questão da usura e do jogo do mercado financeiro.
Eles falaram de "bens instrumentais" (você deve comprar uma casa grande se esta tiver um valor instrumental de abrigar sua família maior, a casa grande não tem valor ético por si, apenas como instrumento para bem), de profissões que enriquecem sem trazer valor moral para sociedade (exemplo investidores do Instagram e Facebook que trazem prejuízo mental especialmente para crianças), e da necessidade de uma visão econômica que envolva a ética e valores familiares.
Esse é o debate. Esse é o caminho.
No meu livro, eu defendo uma abordagem econômica que denomino de Familiarismo, qualquer ação econômica privada ou pública deve ser vista em primeiro lugar pelo ângulo da família. Enriquecer demasiadamente (sem a visão instrumental para o bem) ou dar benefícios públicos a todos sem qualquer critério ético, como o valor do trabalho, não ajuda à família.
A mudança ética da abordagem econômica é um caminho bem mais longo e difícil, especialmente em tempos de financialização. Mas a opção é um caminho curto que usa o método do inimigo, deixa os pobres mais pobres (alguns pequenos investidores pobres amargaram imenso prejuízo ao insistir na ação do GameStop após a reação dos líderes do mercado) e só tem valor momentâneo, que pode até ser falso, uma vez que não há garantia que a questão do GameStop foi uma questão de Davi versus Golias, pode ter sido de dois Golias, sendo que um deles tinha apoio de vários davis.
Poderia por gentileza explicar melhor o gráfico? eu não entendi.
ResponderExcluirClaro. Fala do fruto da financializacao.
ExcluirO gráfico mostra o crescimento da renda entre os mais pobres e os mais ricos. A partir de por volta de 2014 a renda dos mais ricos passou a crescer mais do que a dos mais pobres. No final do gráfico o crescimento da renda foi só dos ricos.
Isso é, eles passam a ficar cada vez mais ricos e os pobres muito mais pobres em relação a eles.
Abraço
Obrigado professor!
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