segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Investigando Corrupção

O Jornal Wall Street Journal entrevistou Jules Kroll, ontem. Ele fundou, e era dono até 2004, da agência de investigação chamada Kroll. Essa agência ficou famosa por descobrir na década de 80 o paradeiro de milhões de dólares de corrupção do presidente das Filipinas Ferdinand Marcos e de sua esposa Imelda Marcos. Em 1990, em um contrato com o governo do Kuwait, a Kroll também descobriu onde estavam os ativos de Saddam Hussein roubados daquele país.

Jules Kroll criou agora uma nova companhia chamada Kroll Bond Ratings Agency. A sua idéia é desafiar o oligopólio que existe no mundo financeiro dominado por três companhias que fazem avaliação do risco de crédito de empresas, governos e títulos de crédito (Standard and Poor's, Moody's e Fitch).

Essas empresas geralmente são flagradas durante crises financeiras avaliando bem ativos ou governos que já estavam em processo de falência. Para evitar processos, elas sempre se posicionam dizendo que apenas emitem opiniões. Kroll achou a vida delas muito fácil: ganham muito dinheiro para emitir opiniões e não são responsabilizadas por seus erros.

Mas disse que seu intuito é procurar “onde há bagunça”. Ele argumenta que o governo federal norte-americano é geralmente limpo, mas nos municípios há muita discrepância de qualidade. Há bastante fonte de corrupção.

Ainda na entrevista, Kroll faz uma análise rápida de três países: Rússia, China e Índia.

1) Rússia - "the country is increasingly run by a clique of people who have no interest in a democratic form of existence. They have the same values that they had 20 and 25 and 30 years ago. They've just cleaned up a little bit." (o país está sendo cada vez mais dominado por um grupo de pessoas que não tem nenhum compromisso com a democracia. Eles têm os mesmos valores que tinham 20, 25 e 30 anos atrás. Eles estão apenas um pouco mais limpinhos”.

2) China – “China is "endlessly mercantile. I really don't know too many western companies that ever make any money there...and there really is no rule of law." (A China é de natureza mercantil. Eu realmente não conheço muitas companhias ocidentais que conseguiram fazer dinheiro lá...não existe estado de direito por lá”)

3) Índia – “They have a rule of law. Yes, there's a lot of corruption, but it really is a democracy, and it really does have a free press." (Eles seguem as leis. Sim, há muita corrupção, mas é uma democracia, e eles têm imprensa livre).

Ele não disse nada sobre o Brasil ou qualquer país da América Latina, nem foi perguntado. Isso sempre me dá a impressão de que os americanos ou conhecem muito bem a gente para perguntar, ou não tem o menor interesse, ou as duas coisas.

Mas o que diria Kroll sobre o Brasil? Duas coisas são garantidas: há bastante corrupção no Brasil e há grupos políticos que não respeitam a democracia. Acho também que não seria tão complicado encontrar os culpados, como foi no caso de Saddam Hussein ou Ferdinand Marcos. O problema é a fragilidade do nosso estado de direito. Nós não conseguimos punir.

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Certa vez, li uma frase em inglês muito boa para ser colocada quando se abre para comentários. A frase diz: "Say What You Mean, Mean What Say, But Don’t Say it Mean." (Diga o que você realmente quer dizer, com sinceridade, mas não com maldade).