Ataques Terroristas na França

Por que a França virou alvo terrorista recentemente?  Países vizinhos, como a Espanha e o Reino Unido, já foram atacados. Aparentemente a França tinha sido poupada até agora. Aparentemente, porque alguns suspeitam que a queda do avião da Air France que saiu do Brasil foi um ataque terrorista.  Além do que, a minoria muçulmana, que vive em cortiços franceses, estava fortemente presente nos levantes de rua que resultaram em muita destruição em outubro de 2005 e novembro de 2007. Essa minoria é fonte para terrorismo agora. Sem falar também que a França já enfrentou por longos anos os ataques de militantes argelinos islâmicos, que inclusive seqüestraram um avião da Air France em dezembro de 1994.

Na lista de possíveis causas das ameaças recentes estão a participação do país na guerra do Afeganistão, o colonialismo histórico, o apoio a países considerados anti-islâmicos na África (como Marrocos, Argélia e Tunísia)  e o banimento de uso de burcas. Essa última causa é considerada a mais provável por alguns. No dia que o senado francês aprovou o banimento da burca (14 de setembro) houve uma ameaça na Torre Eiffel.  

Mas, no dia 16 de setembro, cinco franceses foram seqüestrado pela al-Qaeda in the Islamic Maghreb (AQIM), um ramo da al-Qaeda. Em abril, o grupo havia matado um refém francês, o que fez com que a França atacasse o grupo e matasse alguns militantes.

Como mostra esse último caso, o banimento da burca não explica sozinho os ataques. Cabe lembrar também que o banimento da burca está sendo seguido inclusive por países islâmicos, como a Síria. Será que o regime sírio também será atacado ou seus cidadãos seqüestrados? Duvido. A preocupação geral é a de que a burca esconde demais e dificulta a convivência entre as pessoas, especialmente entre as crianças, além de explicitar as diferenças. Eu já comentei levemente esse assunto quando falei de Richard Dawkins no mês passado.

Quando se levanta essa questão, muitos anticristãos usam os crucifixos em prédios públicos como contrapontos.  Voltamos à guerra cultural de que falo no cabeçalho desse blog. Os países ocidentais têm de aprender a defender seus valores (estado de direito, capitalismo e cristianismo).  Historicamente, foi o cristianismo que forneceu o estado de direito. A lei canônica é anterior a Common Law e é o mais antigo ordenamento jurídico ainda em vigor da Europa ocidental. As leis civis da região se basearam no ordenamento canônico. É a lógica cristã que sustenta as leis nos países ocidentais. Além disso, o cristianismo, como eu sempre repito, estabelece uma relação individual com o Deus. Por isso, não há causas comunitárias ou relativas a algum país. O individualismo é base filosófica do capitalismo. A exigência de burcas por uma religião, seria como a igreja católica exigisse que todos usassem um crucifixo, quebrando o individualismo. Sem falar no fato que a burca pode ser usada como disfarce em ataques terroristas.

No dia 28 do mês passado, a Torre Eiffel teve de ser evacuada de novo por outra ameaça a bomba e no dia anterior a estação de trem Gare Saint-Lazare, que é sempre superlotada, teve de ser abandonada por causa de um pacote suspeito. Por que será que os alvos são sempre inocentes, que inclusive podem ser islâmicos ou ateus? Porque é uma causa em que o inimigo não é um país, mas uma guerra cultural geral. Todo mundo que não professa o credo islâmico é culpado.

Até agora nenhuma bomba foi encontrada, mas as autoridades estão recebendo telefonemas ameaçadores constantemente. Bernard Squarcini do DCRI (Direction Centrale du Renseignement Intérieur), agência de inteligência francesa, disse que o risco de uma taque terrorista na França nunca esteve tão alto.

Como diz Scott Stewart, do site The Stratfor, a França usa um sistema de alerta chamado Vigipirate com quatro níveis: Amarelo (amaeça incerta), Laranja (ataque plausível), Vermelho (ataque altamente provável) e Escarlate (ataque certo ou conhecido). Desde julho de 2005, quando houve ataques a Londres, a França mantém o Vigipirate no Vermelho, o que cansa a opinião pública e dá certo descrédito. Alguns podem até dizer que Sarkozy usa o DCRI para desviar a atenção de problemas domésticos, mas um ataque terrorista é catastrófico para a população e para os turistas. Se o chefe do DCRI alertou nos jornais, pode ser porque há muito fora do controle da agência de inteligência.