segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Teologia Católica e a Teologia Humanista Modernista. E o Resultado do Sinodo


 A organização Novus Ordo Watch fez um quadro bem interessante sobre a diferença entre a teologia católica e a teologia modernista que tenta se infiltrar no magistério católico.

Na teologia católica, Deus não demanda o que é impossível aos homens, mas Deus demanda sim que os homens cumpram os mandamentos divinos, e os homens são capazes disso.  Catolicismo parte da verdade revelada para definir como os homens devem agir. É  uma abordagem dedutiva, do geral para  particular. Deus revela a verdade sobre o homem.

A abordagem modernista, Deus não pode exigir o que seria impossível para os homens, limita-se Deus. Assim os modernistas parte da situação particular e das supostas necessidades humanas para adequar os mandamentos divinos. Deus se sujeita aos seres humanos. É uma abordagem indutiva, parte do homem para definir os mandamentos gerais de Deus. O homem é que revela a verdade sobre Deus.

O Sínodo da Sinodalidade nada mais é que um tentativa de incluir a abordagem humanista modernista dentro da Igreja, para desprezar várias partes da Bíblia e da Tradição Católica, que sujeitariam a uma suposta maioria dos católicos que o Sínodo diz representar. 

Sobre o resultado o Sínodo, o site The National Catholic Register fez uma análise das diferenças entre o que era o rascunho (draft) do resultado do Sínodo e o que acabou passando para o texto final.

É uma análise interessante, e observou-se que a perda de tempo de um sínodo que ninguém sabe explicar para que serve, a não ser se for definido como sínodo da homossexualidade resultou ao final em um texto menos radical, em que nem constava o acrônimo LGBT....

Damian Thompson do post abaixo está otimista de que essa ideia destruidora de democracia na definição do magistério da Igreja irá passar. Deus não se sujeita ao homem, nem muito menos à maioria dos homens. 

Mas eu não tenho certeza disso, acho que os grupos de pressão gay e feminista irão continuar.

Vejam o texto do National Catholic Register sobre o texto final do Sínodo clicando aqui.



sábado, 28 de outubro de 2023

"Palaver Synod" (Sínodo Papo Cabeça)

 


O bispo holandês Rob Mutsaerts escreveu um artigo entitulado "O Que o Papa Realmente Quer com o Sínodo"? Eu colhi esse artigo no X (antigo Twitter) do filósofo Ed Feser. Ao ler o artigo, Feser disse que o Sínodo deveria se chamar "Palaver Synod". 

Eu não conhecia a palavra em inglês "palaver", e fui pesquisar. Por incrível, a origem de "palaver" é justamente "palavra" em português, que os ingleses absorveram a partir das negociações dos portugueses na África. 'Palaver" acabou significando, conversa inútil, sem sentido, idiota, para enganar trouxa. Em inglês, poderia ter o sinônimo de "bullshit" ou "rubbish". 

Eu acabei traduzindo a expressão "Palaver Synod" por "Sínodo Papo Cabeça", pois realmente ao ler o ótimo artigo do bispo Mutsaerts certamente nos leva aquela conversa idiota de centros acadêmicos universitários em que jovens estúpidos e sem formação ou experiência na vida ficam falando coisas sem sentido, sem apego a realidade, jogando estupidezes fora, ainda mais quando estão inebriados por drogas ou bebidas, mas nem precisam disso. Eu nunca consegui suportar esse papo de centro acadêmico, nem quando era jovem universitário, por isso, nunca me aproximei de sindicatos de alunos. Meu cérebro e meu catolicismo de berço impediram que eu gostasse de papo cabeça.

Basicamente, qual é a finaldiade do tal Sínodo da Sinodalidade? Ninguém sabe. Parece uma reunão administrativa de várias instâncias de governo que ninguém sabe porque está ali. A Igreja vriando uma imensa ONG afastada de Cristo.

O bispo Mutsaerts deixou bem claro: Jesus é excludente! Ele não teve papo cabeça, pe preto no branco. Siga meus mandamento, caso contrário esteja fora do Reino dos Céus.

Traduzo abaixo o excelente artigo do bispo Mutsaerts.

O que o Papa realmente quer?” - Bispo Rob Mutsaerts

Sobre o que é realmente o Sínodo em curso em Roma? Repetidamente, fontes oficiais do Vaticano nos dizem muitas coisas. Que não se trata de teologia, nem de questões doutrinárias, nem de LGBTQ+, da ordenação de mulheres e da questão do celibato. Nem se trata, acrescentam, de tentar minar ou substituir a natureza hierárquica da Igreja ou de democratizar o processo de tomada de decisões. Não, parece tratar-se da questão do que é sinodalidade. Afinal, este é um sínodo sobre sinodalidade.

Ninguém parece saber o que é isso, e por isso o Papa concluiu que seria melhor organizarmos um sínodo sobre isso. Então, talvez, pudéssemos descobrir. Como? Ouvindo. Mas se assim for, não há como escapar ao fato de que também deve haver conversa. Por quem? Por pessoas convidadas pelo Papa.

Assim, o Papa Francisco convidou um teólogo que proclamou descaradamente: “Se chegarmos ao consenso de que a Igreja é essencialmente sinodal, teremos de repensar toda a Igreja, todas as instituições, toda a vida da Igreja num sentido sinodal”. Um dos bispos presentes confirmou abertamente que será necessário afastar-se da tradição apostólica. Desde então, muitos oradores têm pregado a revolução. Que não se trata de teologia ou doutrina. É principalmente sobre eles. E é isso que veremos.

Dentro de alguns dias o relatório final será publicado (provavelmente já está finalizado há algum tempo) e o povo de Deus também receberá uma carta. Que o Espírito Santo não tem nada a ver com isso já se tornou óbvio.

Seja qual for o significado de sinodalidade, os sínodos existem, de qualquer forma, para descobrir como devemos começar a trabalhar na era atual para encorajar que as pessoas sejam levadas a Cristo. O problema, porém, é que Jesus e a salvação das almas (que é, em última análise, o que é a fé, afinal de contas) dificilmente apareceram em todas as sessões de escuta, esquemas e testemunhos. Não há nenhuma referência aos Padres da Igreja, santos e teólogos e, novamente, muito poucas à Bíblia e à Tradição; o Papa cita principalmente a si mesmo e não há dúvida de qualquer pensamento filosófico. A maior parte da conversa é dominada por sentimentos.

Isto não produziu ideias claras de forma alguma, embora o propósito de um sínodo seja proporcionar clareza. Se há uma coisa que Francisco não faz é isso. Isto foi demonstrado mais uma vez pelas respostas às perguntas de Dubia.

Sem ideias claras, continuamos a tatear no escuro em busca de sombras durante a noite e ficamos com nada além de invenções da mente que estão mais próximas ou mais distantes da verdade. Mas a verdade em si não está sendo procurada. Certamente, porém, não é a verdade que nos liberta? De que adianta enfatizar o aspecto pastoral se não está claro que ele está enraizado na verdade? Palavras como “irregular”, “sodomia” e “sentir-se consciente do pecado” estão sendo cuidadosamente evitadas. Isso pode fazer alguém se sentir chateado ou, pior, excluído!

Então, todos não são bem-vindos na Igreja? Certamente, sim. As únicas pessoas que deveriam ficar em casa são aquelas que sentem que não há nada de errado com elas e que não têm necessidade de conversão. Além deles, todos são bem-vindos. Mas há uma condição: que cheguem ao arrependimento e apelem à misericórdia de Deus. Afinal, esse é o objetivo da religião. Trata-se de reconhecer que existe um padrão – chame-o de verdade – que nos foi revelado, e que você não está à altura desse padrão. É por isso que você vai à Igreja. Pedir perdão e ser fortalecido pela graça de Deus, usando os meios da graça: os sacramentos, a Palavra de Deus, o apoio da comunidade de fé, para que você trabalhe cada vez mais pela santificação da sua vida.

Agora, esse é o cerne da questão: as pessoas estão exigindo que a Igreja aprove estilos de vida que a Bíblia desaprova. As pessoas querem que a Igreja ajuste os padrões! Mas não pode. Jesus disse à adúltera: “Vá em frente e não peque mais”. A comunidade LGBT insiste que a Igreja diga agora: “Vá em frente e não se preocupe, apenas mantenha o seu estilo de vida”. Mas misericórdia barata não deve ser obtida de Jesus. Certamente, Ele é misericordioso, mas apenas sob condição de conversão.

Se alguém pedir minha bênção, eu a darei. Não vou pedir currículo antecipadamente para essa pessoa. Mas se as pessoas me pedirem para abençoar um relacionamento que a Igreja (com base na palavra do próprio Jesus) considera pecaminoso, obviamente não darei isso a elas. Não peça à Igreja para mudar o que Jesus falou claramente. Se isso faz com que as pessoas se sintam excluídas, que assim seja. O próprio Jesus excluiu muitas pessoas. De várias categorias de pessoas, Ele deixou claro que elas não herdariam o Reino de Deus. E para deixar isso ainda mais claro, Ele os chamou de “hipócritas”, “raça de víboras”, “sepulcros caiados” e mais desses tipos de injúrias bíblicas originais. Os participantes do Sínodo que acreditam que a hospitalidade, a inclusão e a diversidade são os principais atributos da Igreja deveriam reler a Bíblia sobre esses aspectos. Recomendo especialmente as cartas de Paulo.

Todo mundo é pecador. E embora devamos amar o próximo, também devemos ser capazes de chamar certos atos de pecados. Respostas vagas e pouco claras não atrairão ninguém para a Igreja de Cristo. A adaptação às normas seculares até mantém as pessoas afastadas de Cristo: faz com que se sintam confirmadas nas suas opiniões anti-igrejas. Também é desamoroso. A Igreja não recebeu de Jesus como primeira missão a ordem de ouvir, mas a ordem de ser missionário: “Ide, portanto, e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo o que te ordenei”.

Então, o que o papa realmente quer? Por que ele convida James Martin? Por que tantos amigos à sua imagem e semelhança? Por que ele escolheu o Cardeal Hollerich como relator do Sínodo? (Hollerich reafirmou mais uma vez que uma série de posições da Igreja são científica e sociologicamente infundadas. Não, querido Cardeal, estas posições são biblicamente fundamentadas!) Por que ele reservou tanto tempo na semana passada, em meio a toda a agitação sinodal, para se reunir com a Irmã Jeannine Gramick, que acredita que o ensinamento da Igreja sobre questões éticas (é claro, envolve novamente LGTBQ+) precisa ser mudado? Sua organização foi condenada no passado. Por que ele está abrindo espaço em sua agenda durante essas semanas ocupadas para receber Whoopi Goldberg com todas as honras? Após a sua visita, ela declarou que foi fantástica devido à aceitação das relações homossexuais por parte do Papa e à sua abertura à ordenação de mulheres. O que ela disse foi correto? O Vaticano não o refutou de forma alguma. Aos vinte e cinco anos, Goldberg já havia abortado sete crianças e ainda é uma forte defensora do aborto.

É isso que é sinodalidade: ouvir qualquer pessoa que tenha alguma coisa a dizer? É por isso que o Papa está a ouvir precisamente... estas pessoas? Sem uma única refutação? Ou ele deseja lenta mas seguramente amadurecer os membros do Sínodo para esses outros sons, porque na verdade ele endossa as ideias que eles expressam? Se não, porque é que ele está a criar tanta confusão ao não responder de forma clara a uma única pergunta?

Seja qual for o caso, a divisão dentro do Sínodo só aumentou durante o Sínodo. Que isto não é um fruto do Espírito Santo deveria ser óbvio. Que este sínodo sobre a sinodalidade é um desastre também já deveria estar claro. O mesmo vale para quem pensou nisso.

Bishop Rob Mutsaerts

terça-feira, 24 de outubro de 2023

O Pentecostalismo Herético do Sínodo


Se for decidido algo herético no Sínodo, a culpa é do Espírito Santo? Os participantes do Sínodo, do papa aos leigos, estão exaltando que o Espírito Santo "falará no Sínodo", que os participantes estão em "conversas com o Espírito Santo",  "ouvindo o Espírito Santo", que o "Espírito Santo quer ouvir os participantes", que o Sínodo é um "diálogo com Deus", e o  "Espírito Santo dialoga com Deus e espera a voz dos participantes".

A primeira vez que ouvi isso me lembrei imediatamente das igrejas pentecostais, que exaltam a participação do "espírito", que exaltam a relação direta entre o membro da Igreja e Deus. Uma heresia do ponto de vista do catolicismo, que determina que os católicos conheçam a Tradição e a Bíblia.

Quanto ao Sínodo, sempre me pareceu uma vontade de esquecer a Tradição apostólica e mesmo Cristo, com seus mandamentos. Um dos participantes declarou exatamente isso recentemente, que o Sínodo iria colocar de lado a Tradição apostólica. Isto é, iria colocar de lado tudo que representou a Igreja antes de Francisco.

Mas hoje, para minha satisfação, um arcebispo colocou as coisas em seu devido lugar. Arcebispo Anthony Fisher disse que "se as decisões do Sínodo contradizem os evangelhos não podem ser a voz do Espírito Santo. O Espírito Santo é o Espírito de Cristo. Ele é o Espírito do Pai e do Filho, e por isso só dirá coisas que sejam consistentes com o que Cristo nos revelou na tradição apostólica". 

Ufa!!!!

O arcebispo também, em suas palavras, parece dizer que o Sínodo é uma tremenda perda de tempo, pois discute problemas minúsculos e já resolvidos, como ordenação das mulheres, e esquece do problema gigante do ateísmo entre os jovens.

Sim, é uma perda de tempo, mas é muito danosa ao catolicismo.

Vou traduzir a o abaixo o texto do The National Catholic Register que traz as palavras do arcebispo Fisher.

Arcebispo: Se uma proposta do Sínodo está em desacordo com o Evangelho, ‘Isso não é do Espírito Santo’

“Temos que ter cuidado ao culpar tudo – todas as nossas opiniões, os nossos interesses, lobbies e facções – colocando tudo isso no Espírito Santo”, disse o Arcebispo Fisher.

Courtney Mares/CNA

Vaticano

20 de outubro de 2023

Durante o Sínodo sobre a Sinodalidade, devemos ter cuidado ao “culpar tudo o Espírito Santo”, disse o Arcebispo Anthony Fisher, de Sydney, observando que se uma proposta está radicalmente em desacordo com o Evangelho, então “isso não é do Espírito Santo”.

“O Espírito Santo é o Espírito de Cristo. Ele é o Espírito do Pai e do Filho, e por isso só dirá coisas que sejam consistentes com o que Cristo nos revelou na tradição apostólica”, disse o Arcebispo Fisher à CNA numa entrevista em Roma esta semana.

Muita ênfase foi colocada em ouvir a voz do Espírito Santo durante a assembleia de outubro, com os delegados do Sínodo reunindo-se quase diariamente para “conversas no Espírito” em pequenos grupos, descritas no site do Sínodo como “uma dinâmica de discernimento em uma Igreja sinodal”. .”

O dominicano australiano explicou que se alguma proposta sinodal está “radicalmente em desacordo” com o Evangelho e a tradição apostólica, “isso não é do Espírito Santo porque não podemos ter Cristo e o Espírito Santo em guerra um com o outro”.

“Temos que ter cuidado ao culpar tudo – todas as nossas opiniões, os nossos interesses, lobbies e facções – colocando tudo isso no Espírito Santo”, disse o Arcebispo Fisher.

“Os católicos gostam de pensar que o Espírito Santo elege o papa, o Espírito Santo escolhe os nossos bispos e padres para nós, o Espírito Santo faz isto e aquilo. E não há dúvida de que a mão de Deus, a providência de Deus, está presente em todas essas coisas importantes em nossas vidas e na vida da Igreja. Mas também tivemos alguns papas terríveis na história. Tivemos alguns padres e bispos horríveis e coisas terríveis aconteceram na vida das pessoas. E o Espírito Santo estava ausente? Não, mas ele permitiu que essas coisas acontecessem.”

“Cristo nos deu tudo o que precisamos para a nossa salvação, já revelado. Transmitimos isso de geração em geração, o Evangelho e os ensinamentos da Igreja”, disse ele.

“Já temos todo um corpo de ensino, de reflexão, de milhares e milhares de pessoas ao longo das gerações, guiadas pelo Espírito Santo em todos os tipos de questões para nos ajudar, o depósito de fé, como o chamamos, está lá para ser minerado.”

“Portanto, não somos deixados apenas à nossa própria sorte, ao nosso próprio pensamento – seja qual for o estado de espírito na assembleia sobre um assunto específico. Na verdade, temos algo sólido em que confiar e testar os humores e as intuições”, disse ele.

O arcebispo de Sydney, de 62 anos, observou que houve “uma longa discussão sobre a ordenação de mulheres” na assembleia sinodal.

“Não acho que isso revele algo que as pessoas já não soubessem”, acrescentou. “E há muita tensão e emoção em torno de uma questão como essa.”

Ele disse que é difícil saber o que a assembleia como um todo pensa sobre esta questão porque as pessoas ouvem um relatório de cada uma das 35 mesas na sala, mas “não se sabe se esse relatório está relatando o que uma pessoa disse ou o que todas as 12 pessoas naquela mesa [disseram].”

“Então você não sabe se esse é o entusiasmo de uma ou duas pessoas em cada mesa ou um entusiasmo que realmente é mantido por quase toda a sala”, disse ele.

O Arcebispo Fisher disse à EWTN News que acha que o Sínodo poderia ser uma oportunidade para falar sobre questões maiores na Igreja hoje, como quantos jovens estão dizendo que não têm religião alguma.

“É muito mais urgente, no final das contas, muito mais sério do que mexer nos limites sobre se 0,001% das mulheres podem ser diaconisas ou mulheres diaconisas”, disse ele.

“É trivial comparado à enorme perda de fé que estamos acontecendo, especialmente em gerações inteiras neste momento.”

Ele acrescentou que quando as pessoas perdem a fé, elas vão para outro lugar em busca de significado, e “as pessoas vão para muitos lugares muito destrutivos em busca de significado, esperança e felicidade”.

“Para o bem deles, temos que ser muito mais ativos na evangelização da nossa cultura e especialmente dos nossos jovens”, acrescentou.

“O que eu adoraria que saísse do Sínodo seria um entusiasmo em trazer a fé de volta às pessoas que deveriam tê-la e que por qualquer motivo estão desconectadas”, disse ele.

‘Este Sínodo é uma experiência’

O Arcebispo Fisher, que serviu como arcebispo de Sydney durante quase uma década, observou que o Sínodo sobre a Sinodalidade é “bastante diferente” do anterior Sínodo dos Bispos do qual participou.

Ele descreveu todo o processo como “uma experiência”, acrescentando: “Isso levanta todo tipo de questões teológicas bastante sérias”.

O Sínodo dos Bispos instituído por Paulo VI depois do Concílio Vaticano II “pretendia ser uma expressão da colegialidade episcopal do colégio dos bispos em conjunto”, explicou ele, “como o grupo dos apóstolos juntos… e em particular o seu magistério, ensinando juntos."

Considerando que o Sínodo sobre a Sinodalidade é mais como “um híbrido” do Sínodo dos Bispos e de outros tipos de reuniões da Igreja e reuniões com bispos, padres, religiosas e leigos.

“É ao mesmo tempo ser um Sínodo dos Bispos e ser um encontro eclesial. E há questões que isso levanta. Então, qual é a sua natureza eclesial? Qual é a sua autoridade? …É tentar ser os bispos como a reunião dos apóstolos? Ou está tentando ser a reunião de todos os batizados?”

“Acho que provavelmente precisamos pensar muito mais sobre, bem, o que tudo isso significa eclesiologicamente, canonicamente, praticamente?”

O Arcebispo Fisher disse que também há discussão sobre a proporção de leigos, especialmente mulheres, no Sínodo sobre a Sinodalidade.

“Há mais mulheres do que nunca e, no entanto, [o Sínodo] ainda enfrenta muitas críticas de que ainda não tem mulheres suficientes”, observou ele.

O arcebispo australiano acrescentou que uma das vantagens do Sínodo sobre a Sinodalidade foi a ampla gama de católicos de todo o mundo reunidos no Vaticano este mês.

“Conheci um número maior de bispos nas últimas duas semanas do que provavelmente nos meus 20 anos anteriores. E isso tem que ser positivo”, disse ele.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Lista de Papas Que Erraram Doutrinalmente ou Foram Heréticos.


Com a presença de Francisco muito se discute se ele é herético (fiz um e-book sobre isso) ou se ele é um antipapa (pessoa que se estabelece como papa em oposição a quem seria o verdadeiro papa). A Igreja já teve por volta 30 antipapas na história.

William Patrick traz esse debate no texto "Is Francis a False Prophet". Na oportunidade, ele indicou um artigo do filósofo Edward Feser que eu não conhecia, que trata das possibilidade de falibilidade de um papa. 

Ao final do texto, Feser apresenta uma lista de erros doutrinais de papas na histórias, erros algumas vezes muito sérios (heréticos).

Embora as crenças e ações de alguns papas da sua lista sejam bastante chocantes, Feser não acusou nenhum deles de heresia formal. Existe a "heresia material, heresia cometida sem conhecimento, e a "heresia formal", cometida com conhecimento e insistência. Feser não acusou nenhum talvez, como disse Patrick, porque as suas declarações não foram promulgadas ex Cathedra. 

Traduzo aqui essa lista de papas que erraram, para que sejamos menos exaltadores de papa no poder. E aprendermos a conhecer a nossa belissima religião, olhando para Cristo. Para que caso o papa no poder não siga, nem respeite, Cristo, saibamos reconhecer isso.

Além do mais, mesmo a presença de um papa herético pode fortalecer a Igreja.

Vejam a lista abaixo sabendo que a lista, como diz Feser, não é exautiva (há muito mais erros a serem considerados), e leiam as explicações de Feser repletas de sabedoria.

São Pedro (d. c. 64): Como se quisesse alertar a Igreja com antecedência de que os papas são infalíveis apenas dentro de certos limites, permitiu-se que o primeiro papa caísse em grave erro. Antes da crucificação, ele negou a Cristo. Em outra ocasião, ele evitou comer com convertidos gentios, para não ofender os cristãos judeus mais radicais, o que levou São Paulo a repreendê-lo. Diz a Enciclopédia Católica:

Como esta ação era totalmente contrária aos princípios e práticas de Paulo, e poderia levar à confusão entre os pagãos convertidos, este Apóstolo dirigiu uma reprovação pública a São Pedro, porque sua conduta parecia indicar um desejo de obrigar os convertidos pagãos a se tornarem judeus e aceitar a circuncisão e a lei judaica... Paulo, que viu com razão a inconsistência na conduta de Pedro e dos cristãos judeus, não hesitou em defender a imunidade dos pagãos convertidos em relação à lei judaica.

Papa São Vítor I (189-98): Os cristãos ocidentais e orientais há muito discordavam sobre a data em que a Páscoa deveria ser celebrada. Embora os papas anteriores tivessem tolerado esta diferença, São Vítor tentou forçar a questão e excomungou vários bispos orientais por causa do assunto. Por esta excessiva severidade e afastamento da política papal anterior, ele foi criticado por Santo Irineu.

Papa São Marcelino (296-304): Durante uma perseguição aos cristãos, o imperador Diocleciano ordenou a entrega dos livros sagrados e a oferta de sacrifícios aos deuses. Diz-se que um temeroso São Marcelino obedeceu e mais tarde se arrependeu de ter feito isso. Os historiadores discordam sobre se isso realmente ocorreu. No entanto, como diz a Enciclopédia Católica:

Por outro lado, é notável que no “Cronógrafo” romano, cuja primeira edição foi em 336, apenas o nome deste papa esteja faltando, enquanto todos os outros papas, a partir de Lúcio I, estejam disponíveis…

[Deve-se de fato admitir que em certos círculos de Roma a conduta do papa durante a perseguição de Diocleciano não foi aprovada... É possível que o Papa Marcelino tenha conseguido se esconder em um local seguro de ocultação no devido tempo, como muitos outros bispos fizeram. Mas também é possível que na publicação do edital ele tenha garantido sua própria imunidade; nos círculos romanos isso teria sido imputado a ele como fraqueza, de modo que sua memória sofreu com isso, e ele foi por isso omitido… do “Cronógrafo”…

Papa Libério (352-366): Com a heresia ariana tendo sido endossada por muitos bispos, e sob pressão do imperador, o Papa Libério concordou com a excomunhão do firmemente ortodoxo Santo Atanásio e concordou com uma fórmula teológica ambígua. Mais tarde, ele se arrependeu de sua fraqueza, mas seria o primeiro papa a não ser venerado como santo.

Papa Honório I (625-638): O Papa Honório pelo menos aceitou implicitamente a heresia do monotelismo, foi condenado por isso pelo seu sucessor, o Papa Santo Ágato, e criticado pelo Papa São Leão por ser pelo menos negligente. Embora as suas acções não sejam de forma alguma incompatíveis com a infalibilidade papal - Honório não estava a apresentar uma pretensa definição ex cathedra - elas causaram graves danos ao fornecerem alimento aos críticos do papado. Como diz a Enciclopédia Católica: “É claro que nenhum católico tem o direito de defender o Papa Honório. Ele era um herege, não de intenção, mas de fato…

Papa Estêvão VI (896-897): No notório “sínodo dos cadáveres” - um evento que alguns historiadores consideram o ponto baixo do papado - o Papa Estêvão exumou o cadáver do seu antecessor, o Papa Formoso, vestiu-o com vestes papais e colocou-o em um trono, levou-o a julgamento por supostas violações da lei eclesiástica, considerou-o culpado e declarou todos os atos de Formoso enquanto papa nulos e sem efeito, depois fez com que o cadáver fosse atirado no Tibre. Os apoiadores de Formoso mais tarde depuseram Estêvão e o colocaram na prisão, onde foi estrangulado.

Papa João XII (955-964): E. R. Chamberlin, em seu livro The Bad Popes, descreve o personagem do Papa João XII da seguinte forma:

No seu relacionamento com a Igreja, João parece ter sido instado a seguir um caminho de sacrilégio deliberado que ia muito além do gozo casual dos prazeres sensuais. Era como se o elemento sombrio da sua natureza o incitasse a testar até ao limite o seu poder, um Calígula cristão cujos crimes se tornaram particularmente horríveis devido ao cargo que ocupava. Mais tarde, foi feita especificamente contra ele a acusação de ter transformado o Latrão em um bordel; que ele e sua gangue violaram mulheres peregrinas na própria basílica de São Pedro; que as ofertas dos humildes colocadas sobre o altar foram arrebatadas como saque casual.

Ele gostava muito de jogos de azar, nos quais invocava os nomes daqueles deuses desacreditados, agora universalmente considerados demônios. Sua fome sexual era insaciável – um crime menor aos olhos romanos. O que era muito pior era que os ocupantes casuais de sua cama eram recompensados não com presentes casuais de ouro, mas de terras. (págs. 43-44).

Sobre sua morte, J. N. D. Kelly escreve no The Oxford Dictionary of Popes: “[Ele] sofreu um derrame, supostamente enquanto estava na cama com uma mulher casada, e uma semana depois morreu.”

Papa Bento IX (1032-44; 1045; 1047-8): Bento IX foi eleito através de subornos pagos por seu pai. Kelly nos conta que “sua vida pessoal, mesmo admitindo relatos exagerados, era escandalosamente violenta e dissoluta”. A Enciclopédia Católica julga: “Ele foi uma vergonha para a Cátedra de Pedro.”

Papa João XXII (1316-34): O Papa João XXII ensinou a visão heterodoxa de que as almas dos bem-aventurados não veem Deus imediatamente após a morte, mas apenas na ressurreição - uma versão do que é chamado de teoria do “sono da alma”. Por isso ele foi severamente criticado pelos teólogos de sua época, e mais tarde retratou essa visão. Tal como aconteceu com Honório, as ações de João não eram incompatíveis com a infalibilidade papal – ele expressou a opinião num sermão e não através de uma declaração doutrinal formal. Mas, como James Hitchcock julga na sua História da Igreja Católica, “este continua a ser o caso mais claro na história da Igreja de um papa possivelmente herético” (p. 215).

Papa Urbano VI (1378-89): Urbano é descrito pela Enciclopédia Católica como um homem “inconstante e briguento”, cujo “reinado inteiro foi uma série de desventuras”. Os cardeais tentaram substituí-lo por outro papa, Clemente VII – dando início ao infame Grande Cisma do Ocidente, que durou quarenta anos, no qual inicialmente estes dois homens, e mais tarde um terceiro homem, reivindicaram o trono papal. Teólogos, e até mesmo santos, ficaram divididos quanto à controvérsia. Santa Catarina de Siena estava entre os santos que apoiaram Urbano, enquanto São Vicente Ferrer está entre os santos que apoiaram Clemente.

Papa Alexandre VI (1492-1503): Este papa Borgia, que teve muitos filhos com suas amantes, usou notoriamente o ofício papal para promover os interesses de sua família.

Papa Leão X (1513-21): Leão X é o papa que teria dito: “Desfrutemos do papado, já que Deus o deu a nós”. Diz a Enciclopédia Católica:

[A] frase ilustra bastante a natureza amante do prazer do papa e a falta de seriedade que o caracterizava. Ele não prestou atenção aos perigos que ameaçavam o papado e entregou-se irrestritamente às diversões, que eram fornecidas em abundância. Ele era possuído por um amor insaciável pelo prazer, traço distintivo de sua família. A música, o teatro, a arte e a poesia atraíam-no como a qualquer mundano mimado.

Leão foi papa durante a época da revolta de Lutero, com a qual não lidou sabiamente. A Enciclopédia Católica continua:

[Quando] nos voltamos para os acontecimentos políticos e religiosos do pontificado de Leão… o esplendor brilhante que se difunde sobre o seu patrocínio literário e artístico, logo se transforma na mais profunda escuridão. As suas conhecidas inclinações pacíficas tornaram a situação política numa herança desagradável, e ele tentou manter a tranquilidade através de exortações, às quais, no entanto, ninguém deu ouvidos…

O único veredicto possível sobre o pontificado de Leão X é que foi infeliz para a Igreja… Von Reumont diz pertinentemente – “Leão X é em grande parte culpado pelo facto de a fé na integridade e no mérito do papado, na sua os poderes morais e regeneradores, e até mesmo as suas boas intenções, deveriam ter caído tão baixo que os homens poderiam declarar extinto o antigo e verdadeiro espírito da Igreja.


Outros exemplos poderiam ser dados, mas estes são suficientes para mostrar quão gravemente os papas podem errar quando não exercem o seu Magistério extraordinário. E se os papas podem errar gravemente mesmo em questões que dizem respeito à doutrina e ao governo da Igreja, é evidente que podem errar gravemente no que diz respeito a questões de política, ciência, economia e afins. Como escreveu o Cardeal Raphael Merry del Val no seu livro de 1902, A Verdade das Reivindicações Papais:

Por maior que seja o nosso dever filial de reverência para com tudo o que [o papa] possa dizer, por maior que seja o nosso dever de obediência à orientação do Pastor Supremo, não sustentamos que cada palavra dele seja infalível, ou que ele deva esteja sempre certo. Muito menos sonhamos em ensinar que ele é infalível, ou em qualquer grau superior a outros homens, quando fala sobre assuntos científicos, ou históricos, ou políticos, ou que não pode cometer erros de julgamento ao lidar com acontecimentos contemporâneos. , com homens e coisas. (pág. 19)

Mesmo hoje, um bispo pode… protestar contra um papa, que, em sua opinião, pode estar agindo de uma forma que pode enganar aqueles que estão sob sua responsabilidade… A hipótese é bastante concebível e de forma alguma destrói ou diminui a supremacia do Papa. (pág. 74)

E como escreveu o teólogo Karl Adam em seu livro de 1935, The Spirit of Catholicism:

[Os] homens através dos quais a revelação de Deus é mediada na terra são, pela lei de seu ser, condicionados pelas limitações de sua época. E estão condicionados também pelas limitações da sua individualidade. Seu temperamento, mentalidade e caráter particulares estão obrigados a colorir, e colorem, a maneira pela qual eles distribuem a verdade e a graça de Cristo... Assim pode acontecer, e deve acontecer, que pastor e rebanho, bispo, sacerdote e os leigos nem sempre são mediadores e destinatários dignos da graça de Deus, e que o infinitamente santo é por vezes distorcido e distorcido ao passar por eles. Onde quer que haja homens, você certamente terá uma perspectiva restrita e uma estreiteza de julgamento. Pois o talento é raro e o gênio só surge quando Deus o chama. Papas eminentes, bispos de grande força espiritual, teólogos de génio, sacerdotes de graças extraordinárias e leigos devotos: estes devem ser, não a regra, mas a excepção… A Igreja tem de Deus a garantia de que não cairá em erros de fé ou moral; mas ela não tem nenhuma garantia de que todo ato e decisão da autoridade eclesiástica será excelente e perfeito. Mediocridade e até defeitos são possíveis. (págs. 248-9)

Que os papas são falíveis da forma como o são é tão importante que os católicos tenham em mente como o fato de os papas serem infalíveis quando falam ex cathedra. Muitos católicos bem-intencionados esqueceram esta verdade, ou parecem querer suprimi-la. Quando papas recentes disseram ou fizeram coisas estranhas ou mesmo manifestamente imprudentes, estes apologistas recusaram-se a admiti-lo. Eles se amarraram em nós lógicos tentando mostrar que a declaração ou ação questionável é perfeitamente inocente, ou mesmo transmite algum insight profundo, se ao menos estivéssemos dispostos a vê-lo. Se blogueiros católicos e apologistas pop existissem em épocas anteriores, alguns deles sem dúvida teriam assegurado aos seus leitores que os bispos orientais excomungados pelo Papa Vítor deviam ter merecido isso e que Santo Irineu deveria ter ficado em silêncio; ou que o Papa Estêvão estava tentando nos ensinar alguma verdade espiritual profunda com o sínodo dos cadáveres, se ao menos ouvíssemos; ou que Libério, Honório e João XXII estavam realmente aprofundando a nossa compreensão da doutrina em vez de confundir os fiéis.

Este tipo de “spin doctoring” só faz com que aqueles que se envolvem nisso pareçam ridículos. Pior ainda, causa graves danos à Igreja e às almas. Faz com que o catolicismo pareça orwelliano, como se um papa pudesse, por decreto, transformar até mesmo as novidades e reversões de ensinamentos passados, de alguma forma, numa transmissão disfarçada do depósito da fé. Os católicos que não conseguem suportar tal dissonância cognitiva podem ter a sua fé abalada. Os não-católicos, repelidos por tal desonestidade intelectual, julgarão erroneamente que, para ser católico, é preciso tornar-se um trapaceiro.

A verdade é que Cristo às vezes deixa o seu Vigário errar, apenas dentro de limites definidos, mas às vezes gravemente. Por que? Em parte porque os papas, como todos nós, têm livre arbítrio. Mas, em parte, precisamente para mostrar que (como disse o Cardeal Ratzinger) “a coisa não pode ser totalmente arruinada” – nem mesmo por um papa. Mais uma vez para citar a Enciclopédia Católica, no seu julgamento sobre o resultado do Grande Cisma Ocidental:

Gregorovius, de quem ninguém suspeitará de respeito exagerado pelo papado… escreve: “Um reino temporal teria sucumbido a ele; mas a organização do reino espiritual era tão maravilhosa, o ideal do papado tão indestrutível, que este, o mais sério dos cismas, serviu apenas para demonstrar a sua indivisibilidade”… De um ponto de vista muito diferente, de Maistre mantém a mesma opinião: “Este flagelo dos contemporâneos é para nós um tesouro histórico. Serve para provar quão imóvel é o trono de São Pedro. Que organização humana teria resistido a esta provação?”



quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Meu Breve Encontro com Arcebispo Schneider



O arcebispo Athanasius Schneider esteve em Brasília para lançar seu excelente livro "A Missa Católica". Na oportunidade, eu lhe presenteei com meus livros.

D. Schneider fez um fenomenal discurso sobre a necessidade urgente de restauração da liturgia católica.


 

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Sínodo da Homossexualidade



Não há muito o que se perguntar por que foi feito esse Sínodo,  não é Sínodo da Sinodalidade mas Sínodo da Homossexualidade.

O brilhante jornalista Edward Pentin escreveu artigo sobre quem são os responsáveis por escreverem a conclusão do Sínodo no sumário (a mídia global costuma ler apenas essa parte da conclusão). 

São apoiadores de homossexuais ao ponto de serem maus radicais que políticos eleitos. Isso está claro nos nomes e ainda pode ser pior, o Vaticano não revela o nome dos apoiadores do texto.

Traduzo abaixo texto dele publicado no National Catholic Register.

Sínodo sobre a Sinodalidade: quem escreverá o relatório resumido crucial do Sínodo?

Além de omitir os nomes de quem está sentado em quais pequenos grupos, o Vaticano também se recusa a partilhar com os jornalistas a lista completa daqueles que irão redigir o relatório de síntese final que reunirá todas as contribuições dos pequenos grupos e dos Congregações Gerais.

O porta-voz principal do Sínodo, Paolo Ruffini, disse aos repórteres em 11 de outubro que os principais redatores, os dois secretários especiais do Sínodo, estão sendo assistidos por “especialistas” sinodais, a quem chamou de “sherpas”, mas acrescentou que “não faz sentido fornecer seus nomes”.

Alguns participantes do Sínodo, bem como alguns membros do conselho ordinário – prelados que desempenham um papel importante na assistência no funcionamento geral do Sínodo – também não foram informados sobre quem exatamente está redigindo o documento, de acordo com fontes do Register.

Ruffini disse aos repórteres que “basta saber” os nomes dos 13 membros da comissão do relatório de síntese, anunciada em 10 de outubro, cuja tarefa, segundo os estatutos do Sínodo, “não é escrever, mas supervisionar, alterar e aprovar periodicamente”. a preparação do projecto de relatório com vista à sua apresentação à assembleia.”

“Toda a assembleia irá aprová-lo, não apenas aqueles que ajudarem a escrevê-lo”, disse Ruffini. “Pela quantidade de discursos que foram feitos, é evidente que para fazer um bom trabalho e ter em conta os discursos feitos e os discursos proferidos, é necessária uma equipa que ajude a levar tudo em conta.”

O relatório sumário é um documento crucial, pois terá como objetivo incluir uma síntese de todas as discussões votadas nos pequenos grupos.

Cada rodada de discussão — ou módulo — será resumida e votada. Estes são então discutidos em congregações gerais envolvendo todos os participantes do Sínodo (embora a falta de tempo signifique, em termos práticos, que apenas relativamente poucos têm a oportunidade de partilhar os seus pontos de vista). Uma congregação geral no final da assembleia receberá o texto completo do relatório resumido e os participantes terão uma última oportunidade de incorporar quaisquer alterações antes do seu retorno à assembleia para uma votação final sobre o documento.

De acordo com o regolamento (regras sinodais), o relatório sumário não é um “documento conclusivo”, mas sim “visa regular a próxima fase do processo sinodal, que conduzirá à sessão de outubro de 2024, do ponto de vista da metodologia, etapas e temas."

Nomeados secretários especiais

Já são conhecidos os dois “secretários especiais” da assembleia encarregados de preparar o documento, juntamente com a assistência de especialistas sinodais. Eles são o padre jesuíta Giacomo Costa, da Itália, que chefiou o “grupo de trabalho sintetizador” para a etapa continental do Sínodo no ano passado, e Mons. Riccardo Battocchio, reitor do Almo Collegio Capranica e presidente da Associação Teológica Italiana.

Ambos os sacerdotes demonstraram interesse público pela questão da homossexualidade, que tem sido tema de debate durante este Sínodo.

O Padre Costa apoiou a legislação italiana anti-homofobia em 2021, que foi contestada tanto pelos bispos italianos como pelo Vaticano e que acabou por não ser aprovada no Senado italiano. Mons. Battocchio falou na apresentação de um livro chamado Amor Homossexual em 2015, que visava abrir a discussão sobre o tema após sua predominância no Sínodo Extraordinário sobre a Família de 2014.

Mas tão cruciais quanto os secretários do Sínodo serão os “sherpas” especialistas que ajudarão a redigi-lo.

O cardeal Jean-Claude Hollerich, relator geral do Sínodo, disse na abertura da assembleia sinodal que os “especialistas” sinodais terão a “tarefa exigente de sintetizar progressivamente os frutos do trabalho dos Circuli Minori [pequenos grupos] e dos Congregações Gerais em vista da elaboração do relatório de síntese sobre o qual trabalharemos no módulo conclusivo”.

Prováveis Especialistas

O Register apurou que dos especialistas, dois deverão ser autores principais: Anna Rowlands, professora associada de pensamento e prática social católica na Universidade de Durham, Inglaterra, e membro do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, e Padre Eamon Conway, sacerdote da Arquidiocese de Tuam, na Irlanda, e atualmente professor de Desenvolvimento Humano Integral e Teologia Sistemática na Universidade Notre Dame, na Austrália.

Rowlands, que apresentou uma reflexão teológica ao Sínodo em 9 de outubro sobre o tema “Comunhão: A Festa das Bodas do Cordeiro”, é Professora Santa Hilda de Pensamento e Prática Social Católica, no Departamento de Teologia e Religião de Durham, e membro do Centro de Estudos Católicos da Universidade.

Ela está passando dois anos trabalhando com a Secretaria Geral do Sínodo e com o Dicastério do Vaticano para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral.

O seu papel incluiu trabalhar em estreita colaboração com a equipe que gere o processo sinodal global e no ano passado desempenhou um papel fundamental no trabalho com o Padre Costa na elaboração do relatório da fase continental, no qual sublinhou a importância de atribuir mais papéis de liderança na Igreja às mulheres, argumentando que isso foi frequentemente sublinhado nos relatórios que receberam.

A sua universidade afirma que o seu papel no Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral é “apoiar o principal trabalho de investigação do departamento da Santa Sé que trata de questões de política, economia, clima e migração”.

Rowlands é um aliado próximo de Austen Ivereigh, um facilitador do Sínodo, e tem inclinações progressistas semelhantes às dele, frequentemente republicando suas postagens nas redes sociais junto com outras pessoas que têm perspectivas políticas e religiosas semelhantes. Em 16 de outubro, o Vaticano anunciou que Rowlands receberia o Prêmio Razão Expandida da Fundação Vaticano Joseph Ratzinger-Benedict XVI por um artigo que ela apresentou intitulado: “Rumo a uma Política de Comunhão, Ensino Social Católico em Tempos Obscuros”.

No ano passado, Thierry Bonaventura, porta-voz do Secretariado do Sínodo, disse ao Register que Rowlands e Ivereigh foram escolhidos para participar no processo sinodal simplesmente pelas suas capacidades de comunicação, mas a sua influência dentro da organização do Sínodo cresceu nos meses seguintes.

O Padre Conway escreveu e editou vários livros e serviu em vários órgãos consultivos do governo irlandês, incluindo a Comissão da Sociedade da Informação e o Painel Consultivo do Gabinete Nacional Irlandês de Aprendizagem sobre o Desenvolvimento Económico e Social.

Em 2012, o Papa Bento XVI nomeou-o conselheiro especialista do Sínodo sobre a Nova Evangelização. Desde 2011, o Padre Conway é presidente da Fundação Peter Hünermann para o Avanço da Teologia Católica na Europa. Em 2014 foi nomeado para um painel de peritos da Agência da Santa Sé para a promoção da garantia de qualidade nas universidades pontifícias e faculdades eclesiásticas por um período de cinco anos, e em 2015 foi nomeado para o Comité de Teologia da Conferência Episcopal Irlandesa.

Os seus interesses de investigação incluem os trabalhos de Karl Rahner e Hans Urs von Balthasar; fé e cultura, especialmente a interface entre cultura, tecnologia e religião. Nos últimos anos, ele tem estado na vanguarda da pesquisa e da defesa do caráter distintivo da Educação Católica e é cofundador do projeto internacional Global Researchers Advancing Catholic Education (G.R.A.C.E.).


Comissão de Síntese

Uma vez redigido o documento, ele será repassado aos membros da comissão do relatório de síntese, que inclui o Cardeal Hollerich; Cardeal Mario Grech, secretário-geral da secretaria do Sínodo; o cardeal Fridolin Ambongo Besungu, de Kinshasa, Congo; o cardeal Gerald LaCroix, de Quebec; Cardeal George Marengo, prefeito apostólico de Ulaanbaatar, Mongólia, e Bispo Shane Mackinlay de Sandhurst, Austrália.

No início deste mês, o Cardeal Besungu, presidente do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar, disse que o resultado do Sínodo seria “a vontade de Deus” e que “o próprio Senhor através do discernimento colectivo nos dirá” se o mesmo -as bênçãos sexuais deveriam ser permitidas, enquanto o Bispo Mackinlay disse que é a favor da ordenação de mulheres como diáconas.


sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Cardeal Müller Diz que Francisco Age Contra Doutrina Católica


O jornalista Sandro Magister divulgou carta do cardeal Müller ao cardeal Dominik Duka, de Praga. Nesta carta, Müller cumprimenta o amigo e diz que o cardeal Victor Fernandez ("Tucho") e o próprio Papa Francisco agem contra a Doutrina Católica.

Leiam todo o texto de Magister e a carta de Müller,  são muito reveladores de Francisco. Acho que tudo que se precisa saber sobre a personalidade traiçoeira (infelizmente) dele está escrito nestes textos. Francisco usou de subterfúgios e carta privada para tentar mudar doutrina da Igreja. 

Traduzo abaixo o que escreveu Magister e também a Carta de Müller.

Exclusivo. Müller escreve a Cardeal Duka: Fernández vai contra a doutrina católica e com ele está o Papa

13 de outubro de 2023

(s.m.) Na carta aberta ao amigo Cardeal Dominik Duka publicada hoje exclusivamente por Settimo Cielo, o Cardeal Gerhard Ludwig Müller critica em profundidade a resposta dada em 25 de setembro passado pelo Cardeal Victor Manuel Fernández, novo prefeito do dicastério para a doutrina da fé, a uma série de perguntas do próprio Duka sobre a comunhão eucarística para os divorciados recasados.

Duka, arcebispo emérito de Praga, encaminhou essas questões em julho passado, em nome da Conferência Episcopal Tcheca, ao dicastério chefiado pelo Cardeal Fernández, que teve em ninguém menos que o Cardeal Müller seu penúltimo antecessor, demitido abruptamente em 2017 pelo Papa Francisco, que é amigo íntimo de Fernández.

Mas antes de ler a carta de Müller, é útil relembrar o que levou ao conflito dramático.

No dia 4 de outubro passado, no discurso de abertura do Sínodo sobre a sinodalidade, Francisco abordou “a pressão da opinião pública” de que “quando houvesse o Sínodo sobre a Família” queria que se acreditasse “que a comunhão seria dada para os divorciados.”

Mas ele não mencionou que ninguém menos que ele, o papa, em fevereiro de 2014, poucos meses antes da abertura daquele sínodo, convocou um consistório de dois dias a portas fechadas entre todos os cardeais, obrigando-os a discutir uma introdução de discurso do cardeal Walter Kasper em total apoio à comunhão para os divorciados recasados.

E tal foi a irritação de Francisco com a recusa de muitos cardeais, incluindo alguns proeminentes, em endossar essa tese, que na véspera do Sínodo sobre a família ele deu esta instrução ao secretário especial da assembleia, o arcebispo de Chieti, Bruno Forte, de acordo com o que o próprio Forte relatou publicamente em 2 de maio de 2016:

“Se falarmos explicitamente sobre a comunhão para os divorciados e recasados, vocês não têm ideia da bagunça que esses caras [os cardeais e bispos contra ela - ed.] farão para nós. Portanto, não vamos falar diretamente sobre isso; você estabelece as premissas e então tirarei as conclusões."

Não é preciso acrescentar que, por ter dado essa olhada nos bastidores, Forte, até então um dos favoritos do papa, caiu em desgraça e saiu do registro público.

Mas o que aconteceu foi exatamente o que ele havia dito. Depois que as duas sessões do Sínodo sobre a família terminaram sem nenhum acordo sobre a questão, Francisco tirou suas conclusões inserindo em algumas pequenas notas de rodapé em sua exortação pós-sinodal “Amoris laetitia” um sinal verde tácito sobre a comunhão para o divorciado e casado novamente. E quando questionado por jornalistas no avião que regressava de Lesbos, em 16 de abril de 2016, não teve medo de dizer: “Não me lembro dessa nota de rodapé”.

E chegou a hora do “dubia”. Em setembro de 2016, quatro importantes cardeais pediram ao papa que finalmente desse respostas claras às suas perguntas sobre essa e outras questões. Mas Francisco recusou-se a responder e também impôs silêncio à Congregação para a Doutrina da Fé, que na época tinha Müller como prefeito. Em novembro, os quatro cardeais decidiram, portanto, tornar públicas os “dubia”. Novamente sem obter resposta, muito menos audiência com o papa.

Que entretanto se encarregou de organizar tudo à sua maneira.

Na babel das interpretações da “Amoris laetitia”, de fato, os bispos da região de Buenos Aires também deram a sua opinião, a favor da comunhão para os divorciados recasados, numa carta aos seus sacerdotes datada de 5 de setembro de 2016, aos que Francisco respondeu com entusiasmo no mesmo dia com sua carta de aprovação:

O escrito é muito bom e explica cabalmente o sentido do capítulo VIII de ‘Amoris laetitia’. Não há outras interpretações. E estou certo de que será muito bom”.

Restava determinar que autoridade para a Igreja mundial poderia ser atribuída a uma carta privada de Jorge Mario Bergoglio ao secretário dos bispos da região de Buenos Aires.

E isso foi conseguido com a reimpressão de ambas as cartas, em 7 de outubro, na “Acta Apostolicae Sedis”, órgão oficial da Santa Sé, acompanhadas de um “rescriptum” que as promoveu a “magisterium authenticum”.

Foi neste “rescrito” que o Cardeal Fernández, ao responder às dúvidas de Duka no passado dia 25 de setembro, se baseou para validar a autoridade magisterial da aprovação dada pelo Papa Francisco à comunhão dos divorciados recasados. Com uma série de outras diretrizes sobre sua implementação.

Mas agora esbarramos no total desacordo do Cardeal Müller, seu antecessor à frente do mesmo dicastério.

Que nesta carta ao amigo Cardeal Duka desmonta ponto por ponto os argumentos de Fernández, cuja aprovação do Papa também é mal expressa – assinala Müller – afixada como está “com uma simples assinatura datada no final da página” com as fórmulas canônicas habituais.

CARTA DO CARDEAL MULLER AO CARDEAL DUKA

Vossa Eminência, querido irmão Dominik Cardeal Duka,

Li com grande interesse a resposta do Dicastério para a Doutrina da Fé (DDF) às suas “dubia” sobre a Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Amoris Laetitia” (“Risposta a una serie di domande”, doravante “Risposta” ) e gostaria de compartilhar minha avaliação com você.

Uma das dúvidas que você apresentou ao DDF diz respeito à interpretação de “Amoris Laetitia” encontrada em uma carta dos Bispos da Região de Buenos Aires datada de 5 de setembro de 2016, que permite o acesso aos sacramentos da Confissão e da Eucaristia às pessoas divorciadas que celebraram uma segunda união civil, mesmo quando continuam a comportar-se como marido e mulher, sem intenção de mudar de vida. A “Risposta” afirma que este texto de Buenos Aires pertence ao magistério papal ordinário, tendo sido aprovado pelo próprio Papa. Na verdade, Francisco afirmou que a interpretação oferecida pelos bispos de Buenos Aires é a única interpretação possível de “Amoris Laetitia”. Consequentemente, a “Risposta” indica que o texto de Buenos Aires, como outros textos do Magistério ordinário do Papa, deve receber uma submissão religiosa de mente e vontade (cf. “Lumen Gentium” 25,1).

Em primeiro lugar, é necessário esclarecer, do ponto de vista da hermenêutica geral da fé católica, qual é o objecto desta submissão de espírito e de vontade que cada católico deve oferecer ao autêntico Magistério do Papa e dos Bispos. Em toda a tradição doutrinal, e especialmente na “Lumen Gentium” 25, esta submissão religiosa da mente e da vontade refere-se à doutrina da fé e da moral, que reflete e garante toda a verdade da Revelação. As opiniões privadas dos papas e bispos estão expressamente excluídas do Magistério. Qualquer forma de positivismo magisterial é também contrária à Fé Católica, uma vez que o Magistério não pode ensinar o que nada tem a ver com a Revelação, nem o que é explicitamente contrário à Sagrada Escritura (“norma normans non normata”), à Tradição Apostólica e às anteriores. decisões definitivas do próprio Magistério (“Dei Verbum” 10; cf. DH 3116-3117).

É necessário aderirmos com um assentimento religioso ao texto de Buenos Aires? Formalmente, é problemático exigir dos fiéis uma submissão religiosa de intelecto e vontade a uma interpretação teologicamente ambígua de uma conferência episcopal parcial (a região de Buenos Aires), que por sua vez interpreta uma afirmação de “Amoris Laetitia”e que requer explicação e cuja coerência com o ensinamento de Cristo (Mc 10,1-12) está em questão.

Além disso, o texto de Buenos Aires está em descontinuidade pelo menos com os ensinamentos de João Paulo II (“Familiaris Consortio” 84) e de Bento XVI (“Sacramentum Caritatis” 29). Embora a “Risposta” não o diga, os documentos do Magistério ordinário destes dois Papas também devem receber a nossa submissão religiosa de mente e vontade.

Agora, a “Risposta” afirma que o texto de Buenos Aires oferece uma interpretação de “Amoris Laetitia” em continuidade com os papas anteriores. É assim?

Vejamos primeiro o conteúdo do texto de Buenos Aires resumido na “Risposta”. O parágrafo crucial da “Risposta” é a resposta ao terceiro “dubium”. Depois de afirmar que João Paulo II e Bento XVI já tinham permitido o acesso à Comunhão caso o divorciado aceitasse viver em continência na nova união, a “Risposta” indica a novidade de Francisco

“Francisco mantém a proposta de continência total para os divorciados recasados [civilmente] numa nova união, mas reconhece que podem surgir dificuldades na sua prática, e por isso permite, em certos casos e após o devido discernimento, a administração do sacramento da Reconciliação mesmo quando não se consegue ser fiel à continência proposta pela Igreja” .

A frase “não conseguem ser fiéis à continência proposta pela Igreja” pode ser interpretada de duas maneiras. A primeira: estes divorciados tentam viver na continência, mas por causa das dificuldades e por causa da fraqueza humana, não conseguem. Neste caso, a “Risposta” poderia estar em continuidade com o ensinamento de João Paulo II. A segunda: estes divorciados não aceitam viver em continência e nem sequer tentam fazê-lo (não há mais resolução de não pecar) por causa das dificuldades que experimentam. Neste segundo caso haveria uma ruptura com o Magistério anterior.

Tudo parece indicar que a “Risposta” se refere à segunda possibilidade. Na verdade, esta ambiguidade é resolvida no texto de Buenos Aires, que distingue o caso em que se tenta ser continente (n. 5) de outros casos em que nem sequer se tenta (n. 6). Neste último caso, os bispos de Buenos Aires afirmam: “Em outras circunstâncias mais complexas, e quando não foi possível obter a anulação do casamento anterior, a opção mencionada [de tentar viver na continência] pode de fato não ser viável”.

É verdade que há outra ambiguidade na última frase, que afirma: “não foi possível obter a anulação”. Alguns, notando que o texto não diz “e quando o casamento foi válido”, limitaram estas “circunstâncias complexas” àquelas em que, embora o casamento não seja válido por razões objectivas, estas razões não podem ser provadas perante o fórum eclesiástico. Como vemos, embora o Papa Francisco tenha apresentado o documento de Buenos Aires como a única interpretação possível da “Amoris Laetitia”, a questão hermenêutica não desaparece, porque ainda existem diferentes interpretações do documento de Buenos Aires. Em suma, o que observamos, seja na “Risposta” ou no texto de Buenos Aires, é uma falta de precisão na redação, o que pode permitir interpretações alternativas.

Contudo, à parte estas imprecisões, parece claro o que significam tanto o texto de Buenos Aires como a “Risposta”. Poderia ser formulado da seguinte forma: há casos especiais em que, depois de um tempo de discernimento, é possível dar a absolvição sacramental aos baptizados que, tendo previamente contraído um casamento sacramental, tenham relações sexuais com alguém com quem vivam em regime de união estável, segunda união, sem que esses batizados tenham que tomar a decisão de não continuar essas relações sexuais, seja porque pensam que não é possível, seja porque julgam que não é a vontade de Deus para eles.

Vejamos primeiro se esta afirmação pode estar em continuidade com os ensinamentos de João Paulo II e Bento XVI. A “Risposta” argumenta que João Paulo II já tinha admitido à Comunhão algumas destas pessoas divorciadas e que Francisco estava, portanto, apenas dando um passo na mesma direção. Este raciocínio, no entanto, não é sólido. A continuidade ou descontinuidade não reside no fato de alguém poder ou não receber a comunhão, mas no critério de admissão. De fato, João Paulo II e Bento XVI permitem a recepção da Comunhão por pessoas que, por motivos graves, vivem juntas numa segunda união sem relações sexuais. Mas não permitem a comunhão quando estas pessoas têm habitualmente relações sexuais, porque neste caso há um pecado objectivamente grave no qual estas pessoas querem permanecer e que, por se tratar do sacramento do matrimónio, assume um carácter público. A ruptura entre o ensinamento do documento de Buenos Aires e o Magistério de João Paulo II e de Bento XVI pode ser percebida quando se olha para o ponto essencial, que, como disse, é o critério de admissão aos sacramentos.

Para ver isto mais claramente, imaginemos, por uma questão de argumentação, que um futuro documento do DDF apresentaria um argumento semelhante no caso do aborto, dizendo: “O Papa João Paulo II, Bento XVI e Francisco permitiram o aborto em alguns casos, como quando a mãe tem câncer uterino e esse câncer precisa ser tratado; agora é permitido em alguns outros casos, como nos casos de deformidade fetal, em continuidade com o que estes Papas ensinaram”. Pode-se ver a falácia deste argumento. O caso da cirurgia para câncer uterino é possível porque não se trata de um aborto direto, mas de uma consequência involuntária de uma ação terapêutica sobre a mãe (de acordo com o chamado princípio do duplo efeito). Não há continuidade, mas sim descontinuidade entre os dois ensinamentos, porque o último nega o princípio subjacente ao primeiro, que mostra o mal moral de qualquer aborto direto.

Mas a dificuldade com o ensinamento da “Risposta” e do texto de Buenos Aires não é apenas a descontinuidade com o ensinamento de João Paulo II e Bento XVI. Pois acontece que o ensinamento da “Risposta” é contrário a outros ensinamentos da Igreja, que não são apenas afirmações do Magistério ordinário, mas foram ensinados de forma definitiva como pertencentes ao depósito da fé.

O Concílio de Trento ensina as seguintes verdades: Que a confissão sacramental de todos os pecados graves é necessária para a salvação (DH 1706-1707); Que viver em uma segunda união como marido e mulher enquanto existe o vínculo conjugal é um grave pecado de adultério (DH 1807); Que uma condição de absolvição é o arrependimento do penitente, que inclui a tristeza pelo pecado cometido e a resolução de não pecar mais (DH 1676); Que é possível a todos os batizados guardar os mandamentos divinos (DH 1536,1568). Todas estas afirmações não exigem apenas a submissão religiosa da mente e da vontade, mas devem ser acreditadas com fé firme, na medida em que estão contidas na revelação divina, ou pelo menos firmemente aceites e mantidas como verdades propostas pela Igreja de forma definitiva. Por outras palavras, já não se trata de escolher entre duas proposições do Magistério ordinário, mas de aceitar elementos constitutivos da doutrina católica.

Com efeito, os ensinamentos de João Paulo II, de Bento XVI e do Concílio de Trento dão testemunho da Palavra de Deus, que o Magistério ministra. Toda a pastoral dos católicos nos segundos matrimónios depois do divórcio civil deve basear-se neste testemunho, porque só a obediência à vontade de Deus pode servir à salvação das pessoas. Jesus diz: “Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra comete adultério contra ela. E se ela se divorciar do marido e casar com outro, comete adultério” (Mc 10,11s.). E a consequência é: “Nem os fornicadores nem os adúlteros [...] herdarão o reino de Deus” (1 Cor 6, 9). Portanto, estes divorciados e recasados não são dignos de receber a Sagrada Comunhão até que tenham recebido a absolvição sacramental, o que por sua vez exige o arrependimento dos seus pecados, juntamente com a intenção de não pecar mais. Aqui não falta misericórdia, muito pelo contrário, porque a misericórdia do Evangelho não consiste em tolerar o pecado, mas em regenerar o coração dos fiéis, para que vivam segundo a plenitude do amor que o próprio Cristo viveu e nos ensinou a viver.

Segue-se que aqueles que rejeitam a interpretação da “Amoris Laetitia” contida no texto de Buenos Aires e na “Risposta” não podem ser acusados de dissidência. Pois não é que vejam uma oposição entre o que consideram verdadeiro e o que ensina o Magistério, mas que encontram uma oposição entre diferentes ensinamentos do mesmo Magistério, um dos quais já foi definitivamente afirmado. Santo Inácio de Loyola nos convida a aceitar que o que vemos como branco na verdade é preto, se a Igreja hierárquica assim o disser. Mas Santo Inácio não nos convida a aceitar, confiando no Magistério, que o que o próprio Magistério nos disse anteriormente e definitivamente que é preto agora é branco.

Mas as dificuldades levantadas pelo texto da “Risposta” não terminam aqui. Pois a “Risposta” vai além do que é afirmado na “Amoris Laetitia” e no documento de Buenos Aires em dois pontos de graves consequências.

A primeira diz respeito à questão: quem decide sobre a possibilidade de conceder a absolvição sacramental no final do processo de discernimento? O seu quinto “dubium”, querido Irmão, levanta várias alternativas que lhe parecem possíveis: poderia ser o pároco, o vigário episcopal, aquele que dá a penitencia… Mas a solução proposta pela “Risposta” deve tê-lo surpreendido muito, porque você nem sequer mencionou isso. Na verdade, segundo o DDF, a decisão final deve ser tomada na consciência dos fiéis que vivem numa segunda união (n. 5). Deve-se concluir que o confessor se limita a seguir esta decisão em consciência. Vale ressaltar que a “Risposta” diz que a pessoa deve “colocar-se diante de Deus e revelar-lhe a sua própria consciência, com suas possibilidades e limites” (ibid.). Ora, dado que a consciência é a voz de Deus no homem (“Gaudium et Spes”, 36), o que poderia significar “colocar a própria consciência diante de Deus”? Parece que, para a DDF, a consciência é antes o ponto de vista privado de cada pessoa, que é então colocado diante de Deus.

Mas deixemos este último ponto de lado para nos concentrarmos na surpreendente afirmação feita pelo DDF. Acontece que são os próprios fiéis que decidem se querem ou não receber a absolvição, cabendo apenas ao padre aceitar essa decisão! Se aplicarmos esta conclusão a todos os pecados, o Sacramento da Reconciliação perde o seu significado católico. A confissão já não é o humilde pedido de perdão de quem se apresenta diante de um juiz misericordioso, o sacerdote, que recebe a sua autoridade do próprio Cristo, mas é uma autoabsolvição depois de ter examinado a própria vida. Isto não está longe de uma visão protestante do sacramento, condenada por Trento quando insiste no papel do sacerdote como juiz no sacramento da Confissão (cf. DH 1685; 1704; 1709). O Evangelho, referindo-se ao poder das chaves, afirma: “Tudo o que desligares na terra será desligado no céu” (Mt 16,19). Mas o Evangelho não diz: «Tudo o que as pessoas decidirem na sua consciência que desligareis na terra, será desligado no céu». É surpreendente que o DDF possa apresentar ao Santo Padre para assinatura, durante uma audiência, um texto com tais falhas teológicas, comprometendo assim a autoridade do Santo Padre.

A surpresa é ainda maior porque a “Risposta” procura basear-se na “Ecclesia de Eucharistia” de João Paulo II para sustentar que a decisão pertence a cada fiel, ocultando assim o fato de esta encíclica contradizer directamente a “Risposta”. A “Risposta” cita “Ecclesia de Eucharistia” 37b, que afirma, no caso da recepção da Eucaristia: “O julgamento do próprio estado de graça pertence obviamente apenas à pessoa envolvida, pois se trata de examinar a própria consciência ”. Mas vejamos agora o que João Paulo II acrescenta a seguir, que a “Risposta” não menciona, e que é a ideia principal do parágrafo citado da “Ecclesia de Eucharistia”: “No entanto, nos casos de conduta exterior que seja séria, clara e firmemente contrária à norma moral, a Igreja, na sua preocupação pastoral pela boa ordem da comunidade e no respeito pelo sacramento, não pode deixar de se sentir diretamente envolvida. O Código de Direito Canônico refere-se a esta situação de manifesta falta de disposição moral adequada quando afirma que aqueles que “persistem obstinadamente em manifesto pecado grave” não devem ser admitidos à comunhão eucarística”. (ibid.). Como pode ser visto, o DDF selecionou uma pequena parte do texto de São João Paulo II, omitindo o argumento principal, o que é contrário ao argumento apresentado pelo DDF. Se a DDF quiser apresentar um ensinamento contrário ao de São João Paulo II, o mínimo que pode fazer é não tentar usar o nome e a autoridade do Santo Pontífice. Seria melhor admitir honestamente que, segundo o DDF, João Paulo II errou neste ensinamento do seu Magistério.

A segunda inovação incluída na “Risposta” é que cada diocese é encorajada a desenvolver as suas próprias orientações para este discernimento. Segue-se uma conclusão: se houver orientações diferentes, alguns divorciados poderão receber a Eucaristia numa diocese e não noutra. Ora, a unidade da Igreja Católica sempre significou unidade na recepção da Eucaristia: comendo o mesmo pão, somos o mesmo corpo (cf. 1 Cor 10,17). Se um fiel católico pode receber a Comunhão numa diocese, poderá receber a Comunhão em todas as dioceses que estão em comunhão com a Igreja universal. Esta é a unidade da Igreja, baseada e expressa na Eucaristia. Portanto, o facto de uma pessoa poder receber a comunhão numa Igreja local e não noutra é uma definição exacta de cisma. É inconcebível que o DDF queira promover tal coisa, mas estes são os efeitos prováveis da aceitação dos seus ensinamentos.

Diante de todas estas dificuldades, qual a saída para os fiéis que querem permanecer fiéis ao ensinamento católico? Já assinalei que os textos de Buenos Aires e da “Risposta” não são precisos. Eles não afirmam claramente o que querem dizer e, portanto, deixam em aberto outras interpretações, por mais improváveis que sejam. Esta imprecisão permite que surjam dúvidas sobre a interpretação destes documentos. Por outro lado, é incomum a forma como a “Risposta” traz a aprovação do Santo Padre, com uma simples assinatura datada no final da página. A fórmula habitual tem sido: “O Santo Padre aprova o texto e ordena (ou permite) a sua publicação”, mas nada disto aparece neste descuidado “Appunto”. Abre-se aqui mais uma janela de dúvida sobre a autoridade da “Risposta”.

Nestas hesitações podemos encontrar apoio para suscitar um novo “dubium”: há casos em que, depois de um período de discernimento, é possível dar a absolvição sacramental a um batizado que mantém relações sexuais com alguém com quem vive em regime de união estável em segunda união civil, se este batizado não quiser tomar a decisão de não continuar a ter relações sexuais?

Caro Irmão, enquanto este “dubium” não for resolvido, a autoridade da “Risposta” e do documento de Buenos Aires permanecerá em dúvida, dada a imprecisão que refletem. Esta imprecisão deixa um pouco de esperança de que haja uma resposta negativa a este “dubium”. Os primeiros beneficiários desta resposta negativa não seriam os fiéis, que em qualquer caso não seriam obrigados a aceitar uma resposta positiva ao “dubium”, pois tal resposta seria contrária à doutrina católica. O principal beneficiário seria a autoridade que responde ao “dubium”, que seria preservado intato, pois não exigiria mais dos fiéis uma submissão de espírito e de vontade a verdades contrárias à doutrina católica.

Na esperança de que esta explicação esclareça o significado da resposta que recebeu do DDF, envio-lhe a minha saudação fraterna “in Domino Iesu”,

Cardeal Gerhard Ludwig Müller, Roma



quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Cardeal Zen Responde à Resposta de Francisco



Como mostrei no blog, no dia 10 de julho, 5 cardeais, de 5 continentes,  fizeram um Dubia (lista de questões) sobre vários problemas heréticos dentro da Igreja ao papa Francisco.  No dia seguinte,  eles receberam uma resposta assinada do papa, que eu  também coloquei no blog. Mas a resposta tinha muitos problemas de doutrina, eu mesmo alertei para várias passagens da resposta que eram bem ruins teologicamente. Os 5 cardeais resolveram enviar outro Dubia em agosto procurando respostas mais diretas às perguntas. Mas o papa não respondeu. 


Cardeal Zen disse suspeitar firmemente que quem respondeu ao Dubia não foi o Papa. Bom, também acho, mas acho que isso não vem ao caso, se o papa assinou é do papa. Eu já fiz inúmeras notas para meus chefes assinarem, e eu não assinei essas notas. Assim, as notas eram do chefe, não minhas.

Cardeal Zen fez excelentes ponderações à fraca resposta de Francisco, muito pontos importantes. Ele fez isso sozinho, sem ajuda dos outro 4 cardeais. Tenho certeza que se tivesse a ajuda dos outros as respostas teriam sido ainda bem mais importantes e brilhantes. 

Traduzo o texto de Zen abaixo:

ANÁLISE DAS RESPOSTAS DADAS AO PRIMEIRO DUBIA DOS 5 CARDEAIS

Os cinco Cardeais apresentaram ao Papa em 10 de julho de 2023  um Dubia, mas não publicaram as respostas do Papa dadas no dia 11 de julho, porque não eram respostas precisas e não resolviam as dúvidas. Agora, uma vez que a Santa Sé as publicou, parece-me oportuno que respondamos a essas respostas, para que os fiéis compreendam por que nós cinco não as consideramos adequadas como respostas. Dada a pressão do tempo, não consultei os outros quatro Cardeais e, portanto, sou o único responsável por esta iniciativa.

Premissa

Não é presunçoso questionar as respostas do Papa? Não, pelos seguintes motivos:

1. Nenhum católico maduro acreditará que “quem contradiz o Santo Padre é herege e cismático”, como afirmou Sua Eminência Víctor Manuel Fernández. Na verdade, o nosso Santo Padre é maravilhosamente humilde ao reconhecer os erros, os seus próprios e os erros daqueles que o precederam na Igreja (por exemplo, ele viajou para o Canadá e passou seis dias dizendo “mea culpa” pelas chamadas crueldades cometidas muitos anos atrás contra jovens aborígines em escolas residenciais). [NOTA MINHA (PEDRO ERIK) - Essas crueldades não existiram, foram provadas serem falsas, mas Francisco não se corrigiu]

2. No presente caso, tenho fundadas dúvidas de que essas respostas na verdade não provenham da pena do Sumo Pontífice, pois desta vez posso citar a meu favor o que disse o Eminentíssimo Fernández sobre um documento assinado com a autoridade do Papa: “Não consigo sentir o cheiro do Papa nele.” Na verdade, a incrível rapidez das respostas (11 de julho), especialmente em contraste com o caso dos outro famoso Dubia de 2016 que foram simplesmente ignorados, faz suspeitar que essas respostas façam parte do arsenal de respostas que os organizadores do o Sínodo, provavelmente com a ajuda dos 'Mais Eminentes', já se tinha preparado para responder aos perturbadores da sua agenda.

3. Além disso, no que direi, concordo com o Papa em grande parte do que ele diz, apenas excetuando o fato de que as suas respostas não são respostas precisas aos nossos Dubia, na verdade, por vezes, as suas respostas confirmam os nossos Dubia. Vamos à análise.

Análise da Resposta a Primeira Questão do Dubia

Posso concordar com os parágrafos (a) (b) (c) (d) (e) onde se fala de progresso, melhor compreensão, melhor expressão, melhor interpretação, alguns aspectos sendo mais explícitos, julgamento mais maduro…

Tudo isto está bem, mas não a ponto de negar o que foi afirmado anteriormente pelo Magistério. São John Henry Newman disse com razão que o desenvolvimento da doutrina da Igreja é sempre homogêneo. Ele escreveu um livro inteiro sobre isso.

Os parágrafos (f),(g), e (h) são mais complicados.

Parágrafo (f)

O caso dos escravos. A escravidão era uma parte essencial da ordem da sociedade. Mesmo os filósofos mais respeitados, como Platão e Aristóteles, reconheceram os seres humanos como divididos em três categorias: filósofos, soldados e escravos. A incipiente comunidade cristã não poderia sequer pensar em poder mudar tudo isto. Mas a Carta de São Paulo a Filemom mostra como a concepção do ser humano como filho de Deus já começava a mudar radicalmente a relação entre senhor e escravo e acabaria por pôr em causa a própria instituição da escravatura.

O caso da mulher. Quando compreendemos quão preciosos são os carismas petrino e mariano, vemos que são duas tarefas diferentes, mas não se trata de dignidade diferente (a este respeito, pensem quão grande é o poder da mãe devido ao seu peso preponderante na vida). educação de vidas jovens. Mesmo quando essas novas vidas se tornam reis e rainhas, eles acreditam que é seu dever honrar a rainha-mãe).

Parágrafo (g)

A frase “para a salvação de todos” não se refere a uma parte da revelação, mas a toda a revelação, cujo conteúdo forma, sim, uma hierarquia de valores, mas num todo harmonioso e não é permitido colocar um contra o outro.

Parágrafo (h)
Onde, no entanto, no parágrafo (h) a teologia e os seus “riscos” são mencionados como calmamente aceitáveis, tenho que perguntar: a autoridade da Igreja não tem o dever de defender os simples fiéis dos riscos que podem ameaçar a pureza da fé? 


Análise da Resposta à Segunda Questão do Dubia

Os parágrafos (a) (b) (c) reafirmaram a única concepção verdadeira do casamento que, além disso, nenhum católico jamais ousou negar. Mas ficamos surpresos com a frase do parágrafo (a), que cita Amoris laetitia: «Outras formas de união o fazem apenas de forma parcial e análoga»!?

Igualmente difícil é a frase do parágrafo (a), onde permite certas formas de bênção das uniões homossexuais. Tal união não implica actividade sexual entre pessoas do mesmo sexo, o que é claramente pecaminoso, tal como qualquer actividade sexual fora do casamento legítimo é pecaminosa?

No que diz respeito à nossa atitude geral em relação aos homossexuais, os parágrafos (e) (f) são tendenciosos ao opor a compreensão e a ternura à “mera” defesa da verdade objectiva, à “apenas” negação, rejeição e exclusão, ao tratamento dos homossexuais “apenas” como pecadores. 

De fato, estamos convencidos de que com compreensão e ternura devemos apresentar-lhes também a verdade objectiva de que a atividade homossexual é um pecado, que é contrária ao plano de amor de Deus. Devemos também encorajá-los a uma metanóia na Igreja e a confiar na ajuda de Deus para carregarem a sua pesada cruz no caminho da felicidade eterna.

O parágrafo (g) é pastoralmente insustentável. Como pode a Igreja, num assunto tão importante, deixar o povo sem uma regra clara e confiar no discernimento individual? Não será assim que irromperá um caos de casuística muito perigoso para as almas?

Análise da Resposta à Terceira Questão da Dubia.

O Dubia original parte do fato de que o atual Sínodo, que não é composto por todo o colégio dos bispos, parece querer resolver questões que só um Concílio ecuménico com o Papa tem o direito de decidir. Isso seria errado.

O parágrafo (a) da resposta, pelo contrário, parece partir da sinodalidade entendida simplesmente como falar e caminhar juntos na Igreja. Neste sentido, o fato de os Cardeais terem apresentado Dubia ao Papa confirma que estão de acordo com este princípio de sinodalidade. 

O parágrafo (b) continua a desenvolver o conceito acima e diz que “todo o povo de Deus participa na missão de diferentes maneiras e em diferentes níveis”. Aqui, é importante não esquecer “de diferentes formas e em diferentes níveis”. Na verdade, os documentos do Sínodo a certa altura reconhecem até a diferença entre “fazer decisões” e “tomar decisões” (isto é, a diferença entre participar no processo em vista de uma decisão e o próprio ato de tomar a decisão). ). Mas os mesmos documentos também sugerem que a hierarquia não deve apenas “ouvir”, mas “escutar”, ou seja, obedecer à voz do povo, ou seja, dos leigos, derrubando a pirâmide da constituição hierárquica da Igreja fundada por Jesus em os Apóstolos.

Análise da Resposta à Quarta Questão do Dubia

Quanto ao sacerdócio ministerial, o Concílio Vaticano II diz que este é diferente do sacerdócio comum “não só em grau, mas essencialmente”, portanto, também em grau. Com a ordenação sacramental, o ministro atua “in persona Christi”, participando em grau superior do sacerdócio de Cristo. Contudo, aqui falamos da função e não da dignidade ou da santidade ou de qualquer outra superioridade das pessoas, como também afirma o Papa, citando Christifideles laici.

No parágrafo (c) ele reconhece que a atribuição exclusiva do sacerdócio ministerial aos homens não é um dogma, mas uma declaração definitiva, clara e autorizada, que deve ser respeitada por todos. Mas a resposta deixa um rastro: «mas pode ser objeto de estudo, como é o caso da validade das ordenações na Comunidade Anglicana». Então, apesar da declaração definitiva, ainda será possível discutir “ad infinitum”?! Entre outras coisas, a comparação aqui utilizada não é adequada, porque a validade das ordenações na Comunidade Anglicana é um problema histórico, enquanto o nosso caso é de natureza teológica.

Análise da Resposta à Quinta Questão do Dubia

Parágrafo (a)
Precisamente porque somos administradores e não mestres dos Sacramentos, devemos seguir as regras, garantir o arrependimento e a resolução. Por que razão, ao fazermos isto, deveríamos transformar a confissão numa “estância aduaneira”?!

Parágrafo (b)
O confessor não deve humilhar o penitente, mas o penitente deve ser humilde, deve saber que é necessário manifestar a intenção de não voltar a pecar (e também de evitar ocasiões de pecado). Sim, uma promessa sincera não exclui a previsão de possíveis recaídas. Mas é importante fazer com que as pessoas entendam que o pecado nos distancia de Deus e da nossa felicidade, não só da felicidade eterna, mas também da felicidade aqui e agora.

Também nós estamos convencidos de que devemos aprender a tornar-nos verdadeiramente mensageiros da infinita misericórdia de Deus, que é capaz de tornar santos até nós, pecadores.

domingo, 8 de outubro de 2023

O Apoio Indireto de Biden ao Hamas


Muitos dizem como o twitter acima que as armas que principalmente a administração Biden está enviando a Ucrânia estão indo parar nas mãos de terroristas como o Hamas, coisa que muitos especialistas previram dado a corrupção reconhecida em todas as esferas que existe na Ucrânia. Ainda mais outros estão dizendo que os 6 bilhões de dólares que o governo Biden liberou mês passado ao Irã para que este país soltasse 5 americanos acabaram sendo usados para armar grupos terroristas. Irã é tido como o maior financiador de grupos terroristas contra Israel, como o Hamas e o Hezbollah.

Bom, as chances de isso ser verdade são bem fortes.

Mas uma análise mais acadêmica foi feita pelo historiador Victor Davis Hanson sobre o apoio do governo Biden ao Hamas. 

Abaixo vai parte do texto de Hanson:


Mas, mais importante ainda, num sentido mais amplo, a administração Biden contribuiu tanto para a noção de que o Hamas era um ator legítimo no Oriente Médio, como para a percepção de que os EUA estavam recuando no seu apoio tradicional a Israel - para deleite do Hamas -. com base nas seguintes políticas inexplicáveis:

1) Em Fevereiro, o Secretário de Estado Blinken gabou-se de que a administração Biden não só tinha retomado a ajuda maciça ao OLP (organização palestina) cancelada por Trump, mas também tinha transferido cumulativamente mil milhões de dólares - mesmo quando as autoridades palestinianas se gabavam de que continuariam a pagar recompensas às famílias dos “mártires” (ou seja, aqueles mortos durante a realização de ataques terroristas contra Israel).

E milhões de dólares americanos também foram para Gaza, dirigida pelo Hamas – apesar dos esforços da administração Biden para manter em grande parte o silêncio sobre a retomada de tal apoio inexplicável. A este respeito, note-se o atual e vergonhoso comunicado de imprensa do website do Departamento de Estado (“Escritório de Assuntos Palestinianos dos EUA”) que foi publicado após o ataque de hoje. Terminou com esta advertência bastante embaraçosa e moralmente equivalente:

“Pedimos a todas as partes que se abstenham de violência e ataques retaliatórios. Terror e violência não resolvem nada.”

"Todos os lados?" “Abster-se de ataques retaliatórios?”

Então Israel é o equivalente moral de terroristas que executam civis e brutalizam os seus cadáveres? E então a IDF (forças de defesa de Israel) não deveriam retaliar esses assassinos?

Esta insanidade do Departamento de Estado de Biden não pode subsistir. Portanto, espere que algum apparatchik retire esta postagem semelhante a Munique o mais rápido possível.

2) A administração Biden tinha recentemente libertado cerca de 6 bilhões de dólares ao Irã através de um acordo de troca de prisões que viu a Coreia do Sul entregar dinheiro iraniano embargado ao Qatar - apesar da crescente retórica anti-israelense de Teerã e da sua grande vanglória sobre a escalada. Deveríamos presumir que o dinheiro para os foguetes (o Hamas afirma ter lançado 5.000 e recebido 100.000 deles através do aeroporto de Damasco) e que as armas em geral para o Hamas foram fornecidas pelo Irã, que mais uma vez é provavelmente o principal catalisador deste ataque surpresa.

3) Quase imediatamente, após a sua tomada de posse, Biden mobilizou-se para retomar o falido acordo com o Irã. E de forma desequilibrada nomeou o fanático anti-israelita e jornalista pró-iraniano Robert Malley como negociador-chefe da América. Note-se que Malley está agora sob investigação do FBI por violações de segurança, envolvendo a divulgação de documentos confidenciais dos EUA e também por supostamente ajudar ativistas e propagandistas pró-iranianos a conseguirem cargos influentes dentro do governo dos EUA.

Em suma, havia uma percepção geral do Hamas e do Irã de que a administração Biden tinha retomado a desacreditada loucura de Obama de capacitar o Irã, o Hezbollah e o Hamas. Esta agenda desacreditada pretendia “equilibrar” o poder de Israel e dos governos árabes moderados do Golfo para alcançar “tensão criativa”, exacerbada pela aversão de Biden ao governo de Benjamín Netanyahu (que foi desprezado por Biden e nunca foi convidado para uma visita oficial). .

Note-se também que a administração Biden desviou armas e munições essenciais dos arsenais dentro de Israel para transferi-las para a Ucrânia. A chamada “Munição de Reserva de Guerra – Israel” está praticamente esgotada apenas dos tipos de armas necessárias na atual crise.

A este respeito, será que não existe um padrão aqui?

Após a ascensão de Biden e suas agendas militares despertadas, vimos o seguinte:

  • a completa humilhação dos EUA em Cabul, na sua fuga mais vergonhosa em 50 anos e no maior abandono de equipamento da sua história;
  • seguida pela invasão oportunista da Ucrânia por Vladimir Putin;
  • seguido pela nova beligerância da China e pelas crescentes ameaças a Taiwan;
  • seguido pela nova aliança de fato da Turquia com a Rússia e pelo recente encontro de drones com a força aérea dos EUA na Síria;
  • seguido pelo ataque de inspiração iraniana/do Hamas a Israel - com mais por vir, infelizmente.

E será que Biden finalmente receberá a mensagem dos ataques às fronteiras da Ucrânia e de Israel, de que as fronteiras são importantes e que também nós estamos a ser invadidos, com o incentivo do governo mexicano e em benefício dos cartéis cujas exportações de fentanil matam 100.000 americanos por ano?

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Outra análise excelente foi feita no The American Catholic.