sexta-feira, 30 de julho de 2021

Papa Francisco como Pai Abusivo - Disso Eu Entendo, Infelizmente

 


Li ontem no site One Peter Five um texto chamado Can We Love Pope Francis? (É Possível Amar o Papa Francisco?). O autor, Kennedy Hall, argumenta que Francisco é como um pai abusivo, e assim a solução para lidar com isso é simplesmente não se importar com o que ele diz e se afastar dele.

Infelizmente, eu tenho muita experiência com pai abusivo. Este meu post será muito pessoal. Mas acho que pode ajudar a entender sobre como lidar com Francisco. O que vou dizer aqui pode parecer agressivo, mas peço ao leitor que tome como verdade dita por uma pessoa que sabe exatamente o que está dizendo.

Vou descrever meu pai, vocês podem substituir pelo Papa Francisco para ver se faz sentido.

Meu pai, durante a minha infância foi um não-pai, e durante a minha juventude e vida adulta foi um anti-pai. Agiu abertamente contra minha pessoa e contra minhas irmãs. Agiu contra aqueles que deveria cuidar.

Meu pai detestava ser pai e mesmo ser avô. Desprezava tudo isso.

Ele era completamente ignorante e obtuso, não era possível conversar com ele sobre qualquer coisa que envolvesse uma raciocínio mínimo. Só aceitava pessoas que concordassem com ele. 

Sofri muito durante toda a minha vida e ainda sofro. Seu último ato, que descobri depois de sua morte foi um um crime financeiro contra mim e minhas irmãs. Até hoje, quase dez anos depois de sua morte, ainda não consegui resolver isso. O mal de um pai abusivo se estende.

Meu pai em vida me disse palavras agressivas e de abandono. Teve muitas chances de se redimir, mas, pelo contrário, ficou pior no tempo.

Um pai não pode ser substituído, uma mãe não pode fazer a parte de pai. No meu caso, me tornei, nas palavras de minha mãe, o pai de minha mãe. Meu apoio na juventude veio com meu avô, da melhor forma que um avô pode ser, mas sem conseguir substituir um pai. Outro apoio, foi a religião católica, nunca a abandonei, nem com sugestão de pessoas que eu amava sugerindo outra coisa,

Sofri muito e sofro por conta do fato que tive um pai abusivo? "You bet" (pode acreditar que sim)

Me senti muito perdido na vida em vários momentos? You bet.

Tive que recomeçar várias vezes? You bet.

Fiz besteira na vida por conta de completo abandono? You Bet

A dor que senti vai passar e vou superar isso? Não, "these tears are going nowhere". Apenas aprendi a conviver, aprendi a aceitar que se leva lágrimas no coração.

O que meu pai me fez em ajudou como pessoa? Não. Não mesmo. Como diz repetidamente a filósofa católica Elizabeth Anscombe, de um mal não se pode gerar um bem. Certa vez, meu pai me disse que o mal que ele me fez foi o que levou a ter sucesso. Reagi fortemente e neguei isso. Meu sucesso se deve a Deus, a mim e àqueles que me ajudaram. Ele foi um peso que ainda carrego.

Cheguei ao fundo do poço na vida? Sim.

Como eu consegui superar? Justamente depois de chegar ao fundo do poço, em um momento que não conseguia nem sentar no banco da igreja, sentava no chão a implorar  a Nossa Senhora das Graças para interceder por mim. A partir daí, depois de um bom tempo, cheguei a finalmente me sentir bem na vida.

O que eu fiz diante de um pai abusivo? Me afastei dele, mesmo contra as recomendações de minha própria mãe. 

Sofri sem apoio dele?  Sim, muito, mas ele nunca me deu apoio, como podia esperar por isso?

Venci na vida (pelos critérios humanos)? Sim, fiz coisas que não poderia imaginar nem nos melhores sonhos de juventude.

Lutei contra meu pai abusivo? Sim, até hoje luto, mesmos depois dele morto. 

Essa luta me fez bem? Sim, especialmente quando protegia a mim mesmo, a minha mãe e a minhas irmãs. Era muito claro que ele era anti-pai, era lutar ou me destruir.

Eu rezo pela alma de meu pai? Sim. E rezo também pelas almas de meu avô e de minha avó. 

Meu pai merece minhas orações?  Não é uma questão de merecer. 

Há uma diferença óbvia com papa Francisco, no entanto.  Os cardeais podem tirar Francisco de lá.





9 comentários:

Rafael Pauli disse...

Caro Pedro,

Falar de algo assim publicamente não deve ser algo fácil. Mas você preferiu a coragem.

Lembro aqui que dias atrás escrevi aqui em seu blog sobre o Papa ao Adilson, onde hipoteticamente num derradeiro momento (de maneira análoga à Profecia de Fátima) a misericórdia de Deus alcançaria seu coração arrependido, mesmo após tantos males.

Ontem, coincidentemente à frase acima, minha sogra teve um momento de quase morte. E aquela mulher forte naqueles momentos de agonia (não faleceu, os médicos reverteram) perdeu todo e qualquer orgulho ao ver a morte há poucos segundos de ser consumada.

Seu medo derrubou toda a pose autossuficiente que normalmente ela demonstra. E rezo para que essa situação seja o início de um grande processo de conversão.

Creio que Deus em sua Divina Providência permitiu na queda de Adão (e o surgimento da morte) a existência física desse momento de agonia. Não simplesmente um "apagar", mas um processo (às vezes rápido, às vezes lento) no qual o ser humano possa alcançar a misericórdia divina, o arrependimento dos pecados, e a possível salvação.

Vejo nessa agonia o amor de Deus, que espera como Pai até o último segundo.

Rezar por seu pai é o que um bom filho pode fazer por ele, mesmo que ele não tenha sido o melhor dos pais. Quantos estariam por aí já falando com certeza que o pai não estaria salvo, que ele não mereceria a salvação etc.

Aliás, quem merece? Somos vermes que atentam contra Deus como define Santo Afonso. Como poderíamos merecer o céu?

Rezar pelos defuntos é uma obrigação que temos. Principalmente alguém tão próximo como seu pai.

Eu fui abusado nos meus primeiros anos de vida, sexualmente. Não pelo meu pai, mas por alguém extremamente próximo. Eu era tão pequeno que sequer tive lembranças disso. Embora, inconscientemente cresci com algumas revoltas que eu nunca soube a origem. Odiava odiar. Sofria por ser como eu era.

Soube já adulto, formado, com minha própria família.

Com a Graça de Deus (somente assim para fazer algo bom) percebi que o que ocorreu é que eu fui vítima de outra vítima. Quem fez o que fez havia sofrido também males semelhantes.

E assim, também com suas revoltas, apenas replicou um padrão.

Geralmente quando vemos algumas pessoas não tão boas conseguimos (com algum conhecimento mais aprofundado sobre ela) identificar que elas mesmas também um dia sofreram com algo. Obviamente existem as exceções, mas em sua maioria percebo que exista esse padrão.

E assim, são vítimas fazendo outras vítimas.

De forma alguma quero diminuir a culpa, não me entenda mal.
Não sofro de nenhuma Síndrome de Estocolmo.
Mas acho errado quando muitas pessoas dizem "leva pra sua casa então" que é o clichê de um mundo sem compaixão alguma.

Sim, malfeitores precisam pagar pelo que fazem.

Mas nós católicos devemos olhar com misericórdia por essas pessoas. Como Nosso Senhor Jesus Cristo do alto da cruz exclamou: “Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem.”

Como?

Fazendo como você mesmo colocou. Rezando por elas. Pedindo a Deus sua infinita misericórdia, como provavelmente assim iremos querer em nosso juízo particular. E pedindo à Deus para que Ele cure as feridas que muitas vezes carregamos, e às vezes não são poucas.

Lembro aqui de Nosso Senhor Jesus Cristo, após ressuscitar quando apareceu aos Apóstolos escondidos, permaneceu com as marcas da Sua Paixão.

Isso tem um simbolismo muito forte.

Nossas marcas não desaparecerão. Porém não serão mais vistas de forma humana (cruenta), mas glorificadas.

Agradeço à Deus não pelos atos que ocorreram comigo, afinal foram grandes pecados.

Mas agradeço à Deus por ter utilizado desses atos para me tornar o homem que hoje sou.

E finalizo, dizendo que você também Caro Pedro, já demonstra o quanto a Graça de Deus agiu em sua vida para que suas marcas não definissem quem você é. Mas você redefiniu o que essas marcas são na sua vida.

Essa é prefiguração da nossa ressureição, quando por Graça de Deus teremos todas as nossas marcas glorificadas, demonstrando que o Amor de Deus vence, sempre.

Deus o Abençoe.

Pedro Erik Carneiro disse...

Gratissimo por suas belas palavras, meu caro Rafael.

Amém. Que o amor e a graça divina continue lhe iluminando.

Abraço
Pedro Erik

Isac disse...

Ter-se-ia impressão de o papa Francisco como pai espiritual comportaria-se como o acima, teria até mesmo se excomungado com o Traditionis Custodes - suponho que eu e v não comungamos com mais essa do papa Francisco - considerando-se a Santa Missa Católica, conhecida como a de sempre, embora algo errôneo, pois prevalece é aquela: a original Missa Católica Apostolar, a mesma desde os primórdios do cristianismo, a celebrada ante V II e ratificada no Concílio de Trento!
Invencionices, não; isso seria mais um documento que teria sido maquinado pelos vassalos da NOM e o papa Francisco avalizou!
Confira esse vídeo, apenas 13,45'.
https://www.youtube.com/watch?v=tbh6TYWDvOI

Anônimo disse...

Olá amigo!
Muito comovente seu depoimento. Me fez lembrar de Santa Rita de Cássia e o que ela passou com o marido.
Que ela interceda por ti e lhe dê a paz.
Conte com minhas orações.
Gustavo.

Pedro Erik Carneiro disse...

Meu caro amigo Gustavo, que honra gigantesca ter meu sofrimento lembrado Santa Rita. Não devo merecer tamanha honra. Mas fiquei muito grato.

Preciso sim muito de suas orações. Muito grato. Conte com as minhas.

Grande abraço,
Pedro Erik

Anônimo disse...

Olá, Pedro!


Embora tenha silenciado as críticas aos posts devido ao teu pedido (as discordâncias sobre alguns pontos permanecem :D), permaneço leitor do blog e não posso me furtar em te deixar um abraço fraterno pelo teu relato.

Que a Virgem Maria te abençoe e que Jesus te ilumine com a paz espiritual.


Grande abraço,

Jonas

Pedro Erik Carneiro disse...

Gratissimo, meu caro Jonas.

Amém. Que Nossa Senhora ilumine e proteja sempre você e sua família.

Grande abraço,
Pedro Erik

Adilson disse...

Olá, Dr Pedro.

Esta foi uma das maiores, senão a maior, postagem que li no Thyself O Lord. Desculpe a demora em comentar. Estive em dias tribulados.

Suas palavras me deram ainda mais motivo para continuar incluindo o senhor e sua família no Santo Rosário diário. Creio que já virou hábito, pois raramente esqueço.

O Rafael e outros seguidores do Blog já deixaram bons e eloquentes comentários, e creio que as palavras deles foram suficientes para dar uma reforçada de reanimação em sua alma, a qual certamente já tem tem se mantida animada por Nosso Senhor.

Em todas aquelas lutas e sofrimentos por que passou, Nosso Senhor, por intermédio da Santíssima Virgem Maria, agiu misteriosamente em sua vida. Disso, nem eu mesmo duvido. Só o senhor e Ele sabem dos frutos que foram produzidos em seu coração, em sua vida.

A Santíssima Virgem o ampare, e ampare seu lar.

Viva Cristo Rei.

Pedro Erik Carneiro disse...

Amém, meu caríssimo amigo Adilson. Você já é amigo do peito há anos.

Sim, you bet, Nossa Senhora me cobriu de graças.

Muito obrigado. Conte com minhas orações para você e sua família.

Grande abraço,
Pedro Erik