quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Viganò Responde ao "Responsa ad Dubia" de Francisco

O pontificado de Francisco tenta banir a missa secular da Igreja Católica e assim banir os católicos tradicionais da Igreja. O arcebispo Viganò deu a resposta que os católicos devem ter para isso

No vídeo acima ele fala em italiano.  Recebi a tradução do que disse Viganò feita pelo site Dies Irae de Portugal.

Aqui vai:

Vos estis qui justificatis vos coram hominibus:
Deus autem novit corda vestra:
quia quod hominibus altum est,
abominatio est ante Deum.
Lc 16, 15

Lendo as Responsa ad Dubia recentemente publicadas pela Congregação para o Culto Divino, perguntamo-nos a que níveis a Cúria Romana foi capaz de descer para poder secundar Bergoglio com tal subserviência, numa guerra cruel e impiedosa contra a parte mais dócil e fiel da Igreja. Nunca, nas últimas décadas de gravíssima crise da Igreja, a autoridade eclesiástica se mostrou tão determinada e severa: não o fez com os teólogos hereges que infestam as Pontifícias Universidades e os Seminários; não o fez com clérigos e Prelados fornicadores; não o fez punindo exemplarmente os escândalos de Bispos e Cardeais. Mas contra os fiéis, os sacerdotes e os religiosos que só pedem para poder celebrar a Santa Missa tridentina, nenhuma piedade, nenhuma misericórdia, nenhuma inclusividade. Todos irmãos?    

Nunca como sob este “pontificado” foi tão perceptível o abuso de poder por parte da autoridade, nem mesmo quando dois mil anos de lex orandi foram imolados por Paulo VI no altar do Vaticano II, impondo à Igreja um rito tão equívoco quanto hipócrita. Aquela imposição, a que correspondia a proibição de celebrar no antigo rito e a perseguição dos dissidentes, tinha, pelo menos, o álibi da ilusão de que uma mudança talvez melhorasse a sorte do catolicismo face a um mundo cada vez mais secularizado. Hoje, após cinquenta anos de imensas catástrofes e quatorze anos de Summorum Pontificum, essa frágil justificação não só deixou de ser válida, como a sua inconsistência foi derrotada pela evidência dos factos. Tudo o que o Concílio trouxe de novo revelou-se danoso, esvaziou igrejas, seminários e conventos, destruiu as vocações eclesiásticas e religiosas, dessecou todos os impulsos espirituais, culturais e civis dos católicos, humilhou a Igreja de Cristo e confinou-a às margens da sociedade, tornando-a patética na sua tentativa desajeitada de agradar ao mundo. E vice-versa, desde que Bento XVI procurou sanar aquele vulnus reconhecendo plenos direitos à liturgia tradicional, as comunidades ligadas à Missa de São Pio V multiplicaram-se, os seminários dos Institutos Ecclesia Dei cresceram, as vocações aumentaram, a assistência dos fiéis aumentou, e a vida espiritual de muitos jovens e de tantas famílias encontrou um impulso inesperado.

Que lição se deveria ter tirado desta “experiência da Tradição” invocada no seu tempo também por Mons. Marcel Lefebvre? O mais óbvio e, ao mesmo tempo, o mais simples: o que Deus deu à Igreja está destinado a ser bem-sucedido e o que o homem lhe acrescenta colapsa miseravelmente. Uma alma não obcecada pela fúria ideológica teria admitido o erro cometido, procurando reparar os danos e reconstruir o que, entretanto, tinha sido destruído, para restaurar o que tinha sido abandonado. Mas isto requer humildade, um olhar sobrenatural e confiança na providencial intervenção de Deus. Requer também a consciência, por parte dos Pastores, de que são administradores dos bens do Senhor e não senhores: não têm o direito nem de os alienar, nem de os esconder, nem de os substituir pelas suas próprias invenções; devem limitar-se a guardá-los e a pô-los à disposição dos fiéis, sine glossa, e com o pensamento constante de que devem responder perante Deus por cada ovelha e cada cordeiro do Seu rebanho. Admoesta o Apóstolo: «Hic jam quæritur inter dispensatóres, ut fidélis quisiátur» (I Cor 4, 2), «o que se requer dos administradores é que sejam fiéis».          

As Responsa ad Dubia são coerentes com Traditionis Custodes e explicitam a natureza subversiva deste “pontificado”, no qual o poder supremo da Igreja é usurpado para alcançar um propósito diametralmente oposto àquele para o qual Nosso Senhor constituiu em autoridade os Sagrados Pastores e o Seu Vigário na terra. Um poder inócuo e rebelde Àquele que o instituiu e que o legitima, um poder que se acredita fide solutus, por assim dizer, de acordo com um princípio intrinsecamente revolucionário e, portanto, herético. Não o esqueçamos: a Revolução reivindica para si um poder que se justifica pelo simples facto de ser revolucionário, subversivo, conspiratório e antitético ao poder legítimo que pretende derrubar; e que assim que chega a assumir cargos institucionais é exercido com autoritarismo tirânico, precisamente porque não é ratificado nem por Deus nem pelo povo.     

Permitam-me que sublinhe um paralelo entre duas situações aparentemente sem ligação. Tal como na presença de uma pandemia são negados os tratamentos eficazes, com a imposição de uma “vacina” inútil, ou melhor, prejudicial e mesmo letal; assim a Santa Missa tridentina, verdadeiro remédio para a alma numa época gravíssima de pestilência moral, é culpavelmente negada aos fiéis, substituindo-a pelo Novus Ordo. Os médicos do corpo falharam no seu dever, mesmo na presença de tratamentos, e impuseram um soro experimental tanto aos doentes como aos saudáveis, obstinando-se em administrá-lo apesar das provas da sua total ineficácia e dos efeitos adversos. Analogamente, os sacerdotes, médicos da alma, traem o seu mandato, embora na presença de um fármaco infalível testado durante mais de dois mil anos, e fazem de tudo para impedir que aqueles que experimentaram a sua eficácia possam usá-lo para se curarem do pecado. No primeiro caso, as defesas imunitárias do corpo são enfraquecidas ou anuladas para criar doentes crónicos à mercê das empresas farmacêuticas; no segundo caso, as defesas imunitárias da alma são comprometidas por uma mentalidade mundana e pelo cancelamento da dimensão sobrenatural e transcendente, de modo a deixar as almas indefesas contra os assaltos do Demónio. E isto aplica-se como resposta àqueles que pretendem enfrentar a crise religiosa sem considerar a crise social e política em paralelo, porque é justamente esta dualidade de ataque que a torna tão terrível e revela a sua mente criminosa única.

Não quero entrar no mérito dos delírios das Responsa: basta conhecer a ratio legis para rejeitar Traditionis Custodes como um documento ideológico e faccioso, redigido por pessoas vingativas e intolerantes, cheio de veleidades e de grosseiros erros canónicos, com a intenção de proibir um rito canonizado por dois mil anos de Santos e Pontífices e de impor um espúrio, copiado dos luteranos e atamancado pelos modernistas, que em cinquenta anos causou um enorme desastre ao corpo eclesial e que, exactamente devido à sua eficácia devastadora, não deve conhecer derrogações. Não há apenas a culpa: há também a malícia e a dupla traição ao divino Legislador e aos fiéis.       

Bispos, sacerdotes, religiosos e leigos voltam a ter de fazer uma escolha de campo: ou com a Igreja Católica e a sua doutrina bimilenária e imutável, ou com a igreja conciliar e bergogliana, com os seus erros e os seus ritos secularizados. E isto acontece numa situação paradoxal em que a Igreja Católica e a sua contrafacção coincidem na mesma Hierarquia, à qual os fiéis sentem que devem obedecer como expressão da autoridade de Deus e, ao mesmo tempo, desobedecer enquanto traidora e rebelde.

É claro que não é fácil desobedecer ao tirano: as suas reações são impiedosas e cruéis; mas as perseguições muito piores foram as que os católicos tiveram de sofrer ao longo dos séculos quando tiveram de enfrentar o arianismo, a iconoclastia, a heresia luterana, o cisma anglicano, o puritanismo de Cromwell, o laicismo maçónico da França e do México, o comunismo soviético, da Espanha, do Camboja, da China… Quantos Bispos e sacerdotes foram martirizados, encarcerados, exilados. Quantos religiosos massacrados, quantas igrejas profanadas, quantos altares destruídos. E tudo isto porquê? Porque os Sagrados Ministros não quiseram renunciar ao tesouro mais precioso que Nosso Senhor nos deu: a Santa Missa. A Missa que Ele ensinou a celebrar aos Apóstolos, que os Apóstolos passaram aos seus Sucessores, que os Papas preservaram e restauraram, e que sempre esteve no centro do ódio infernal dos inimigos de Cristo e da Igreja. Pensar que aquela Santa Missa, pela qual os missionários enviados a terras protestantes ou os sacerdotes presos nos gulags arriscavam as suas vidas, é agora proibida pela Santa Sé, é motivo de dor e de escândalo, assim como uma ofensa aos Mártires que defenderam aquela Missa até ao último suspiro. Mas só aqueles que acreditam, amam e esperam podem compreender estas coisas. Só aqueles que vivem de Deus.     

Quem se limita a expressar reservas ou críticas a Traditionis Custodes e às Responsa cai na armadilha do adversário, porque reconhece a legitimidade de uma lei ilegítima e inválida, querida e promulgada para humilhar a Igreja e os seus fiéis, a despeito dos “tradicionalistas” que ousam opor-se nada menos do que a doutrinas heterodoxas condenadas até ao Concílio Vaticano II, por esse feitas suas e, hoje, ascendidas a cifra do pontificado bergogliano. Traditionis Custodes e as Responsa devem ser simplesmente ignorados, devolvidos ao remetente. Devem ser ignorados porque é clara a vontade de punir os católicos que permaneceram fiéis, de os dispersar, de os fazer desaparecer.     

Fico assombrado diante da subserviência de tantos Cardeais e Bispos que, para agradar a Bergoglio, espezinham os direitos de Deus e das almas que lhes foram confiadas, e que fazem questão de mostrar a sua aversão à Liturgia “pré-conciliar”, considerando-se dignos de louvor público e da aprovação vaticana. A estes são dirigidas as palavras do Senhor: «Vós pretendeis passar por justos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os vossos corações. Porque o que os homens têm por muito elevado é abominável aos olhos de Deus» (Lc 16, 15).     

A resposta coerente e corajosa a um gesto tirânico da autoridade eclesiástica deve ser a resistência e a desobediência a uma ordem inadmissível. Resignar-se a aceitar esta enésima vexação significa acrescentar mais um precedente à longa série de abusos até agora tolerados e, com a própria obediência servil, tornar-se responsáveis pela manutenção de um poder que é um fim em si mesmo.           

É necessário que os Bispos, Sucessores dos Apóstolos, exerçam a sua sagrada autoridade, em obediência e fidelidade à Cabeça do Corpo Místico, para pôr fim a este golpe de estado eclesiástico que se consumou diante dos nossos olhos. Exige-o a honra do Papado, hoje exposto ao descrédito e à humilhação por aquele que ocupa o Sólio de Pedro. Exige-o o bem das almas, cuja salvação é a suprema lex da Igreja. Exige-o a glória de Deus, com respeito à qual nenhum compromisso é tolerável.     

O Arcebispo polaco Mons. Jan Paweł Lenga disse que é tempo de uma contra-revolução católica, se não queremos ver a Igreja afundar-se sob as heresias e os vícios dos mercenários e dos traidores. A promessa do Non prævalebunt não exclui minimamente, na verdade, exige e pretende uma ação firme e corajosa não só da parte dos Bispos e dos sacerdotes, mas também dos leigos, que, hoje como nunca, são tratados como súbditos, apesar dos fátuos apelos à actuosa participatio e ao seu papel na Igreja. Tomemos nota: o clericalismo atingiu o seu auge sob o “pontificado” de quem hipocritamente nada mais faz do que estigmatizá-lo.                   

 Carlo Maria Viganò, Arcebispo


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