Um breve preâmbulo antes do artigo sobre os investimentos do Vaticano.
Quem comete a falácia ad hominem confunde a pessoa com a opinião dela.
Mas para se debater uma opinião, uma simples afirmação ou um texto ou mesmo uma letra de uma música não deve importar quem é a pessoa do autor. Por exemplo, a música Pai Herói é bonita, não importa se Fabio Junior é ou não é um bom pai ou se ele teve realmente um "pai herói". Os livros de Machado de Assis são muito bem escritos e trazem muita análise psicológica interessante, isso não se mistura com o fato de que Machado era ateu. Claro que em alguns livros o ateísmo do autor se mistura com a obra (ver Saramago ou Ariano Suassuna), mas não é o caso de Machado, então ele pode ser admirado sem se remeter ao ateísmo dele, porque o ateísmo não está presente escancarado na obra dele.
Essa falácia ad hominem é muito relacionada à heresia do docetismo. Alguns católicos queriam que apenas padres santos ou com reputação completamente ilibada, que não tivessem feito oferendas aos deuses romanos, fossem liberados para celebrar missas e fazerem os sacramentos.
Você imagina se isso ocorresse, a Igreja se tornaria simplesmente um tribunal. A Igreja, então, decidiu: um padre pode ter muitos pecados graves e mesmo assim seus sacramentos são válidos. Pois os sacramentos são graça divina, não dependem de sua pessoa.
Muitas músicas de Elton John (sendo que as melhores tiveram Bernie Taupin como letrista) são lindas (como Your Song ou Daniel), com letra e música bonitas, isso não se mistura com a personalidade ditatorial e anticatólica dele. Claro que você, como católico, pode não querer adquirir as músicas dele para não enriquecer um anticatólico. Mas deve-se entender a falácia ad hominem.
Agora o assunto em questão.
Sabe-se que Elton John depois que o Vaticano disse que a Igreja não pode abençoar casamento gay, reagiu perguntando: como o Vaticano pode dizer que casamento gay é pecaminoso enquanto ao mesmo tempo investiu milhões no meu filme que faz apologia ao gayzismo?
Muita gente já reportou que muitos dos investimentos do Vaticano são controlados por máfias, sendo uma delas, a mais forte, a mafia gay, conhecida como "lavender mafia".
É uma ótima pergunta de Elton John, mostra a hipocrisia do Vaticano.
Li hoje um artigo que apenas usa informações publicadas pela imprensa por conta de investigações de instituições de controle financeiro. O artigo não entra nas questões internas das máfias do Vaticano. Mas neste artigo já se pode ter uma ideia do corrupção caótica do dinheiro do Vaticano coletado dos fiéis.
Vou traduzir o texto:
O Vaticano lucrou com o filme de Elton John ‘Rocketman’?
O que aconteceu? Na segunda-feira, a Congregação para a Doutrina da Fé divulgou um comunicado afirmando que a Igreja não pode abençoar as uniões do mesmo sexo porque “não é lícito dar uma bênção a relacionamentos, ou parcerias, mesmo estáveis, que envolvam atividade sexual fora do casamento . ”
Em resposta, o cantor Elton John acusou o Vaticano de hipocrisia, perguntando como o Vaticano poderia chamar as uniões de pessoas do mesmo sexo de pecaminosas, "mas felizmente lucrar" investindo milhões em "Rocketman" - "um filme que celebra minha descoberta da felicidade de meu casamento com David ?? ”
O Vaticano realmente investiu “milhões” no filme? Sim e não.
A Secretaria de Estado do Vaticano investiu dezenas de milhões de euros do dinheiro do Vaticano em um fundo de investimento que, por sua vez, investiu em vários filmes de Hollywood, incluindo “Rocketman”, no qual investiu cerca de 1 milhão de euros.
Acredite ou não, o filme pode ser a coisa menos polêmica sobre o fundo.
The Centurion Global Fund
A Secretaria de Estado investiu dezenas de milhões no Centurion Global Fund. Quanto exatamente não se sabe, mas o fundo arrecadou um total de 70 milhões de euros, e foi relatado que pelo menos dois terços desse dinheiro veio do Vaticano, incluindo dinheiro de Peter's Pence, a arrecadação mundial anual para apoiar o ministério do papa.
De acordo com o gestor do fundo, Enrico Crasso, em dezembro de 2019, o Papa Francisco ordenou a liquidação do fundo após reportagens da mídia sobre seus investimentos.
O fundo apoiou vários filmes de Hollywood, incluindo “Rocketman” e “Men in Black International”. Embora esses investimentos possam ter se mostrado lucrativos, o próprio fundo tem um histórico irregular de retornos.
No ano em que foi investigado pela primeira vez, 2018, o Centurion Global Fund registrou uma perda de 4,6%.
O fundo possui vínculos com várias instituições financeiras vinculadas a denúncias de lavagem de dinheiro.
Relatórios anteriores estabeleceram que todos os investimentos do fundo foram mantidos por meio de um pequeno banco suíço em Lugano, Banca Zarattini. Em 2018, os promotores dos EUA nomearam esse banco em acusações durante um caso de lavagem de dinheiro de US $ 1 bilhão relacionado à companhia petrolífera nacional venezualiana PDVSA e Nicholas Maduro. Os fundos mantidos no banco foram identificados para apreensão no caso.
Relatórios anteriores também estabeleceram que o fundo Centurion compartilhava um endereço registrado em Malta com seu gerente de investimentos, Gamma Capital. A Gamma foi fundada por Enzo Filippini, ex-diretor sênior de outro banco suíço, o BSI.
O BSI foi a fonte de milhões de euros em empréstimos concedidos à Secretaria de Estado usados para financiar investimentos, incluindo o negócio imobiliário de Londres, e os empréstimos foram supostamente mantidos fora dos livros contábeis dos inspetores financeiros do Vaticano durante o tempo do Cardeal Pell como chefe da Secretaria da Economia.
Em 2016, o BSI foi encerrado pelas autoridades bancárias suíças, após uma inspeção ter constatado “violações graves dos requisitos legais de devida diligência em relação à lavagem de dinheiro e violações graves dos princípios de gestão de risco adequada e organização apropriada.”
Em 2019, a assessoria de imprensa da Santa Sé confirmou que o fundo Centurion Global estava sendo investigado pelas autoridades financeiras do Vaticano, que buscavam "linhas de investigação que podem ajudar a esclarecer a posição da Santa Sé em relação aos fundos mencionados e quaisquer outros, estão atualmente sendo examinado pelo judiciário do Vaticano, em colaboração com as autoridades competentes. ”
Enrico Crasso
O documento de proposta do Centurion Global Fund lista uma empresa chamada Sogenel como consultora de investimentos do fundo. A Sogenel é a empresa de Enrico Crasso, ex-banqueiro do Credit Suisse que durante anos atuou como assessor financeiro e fixador da Secretaria de Estado.
Foi Crasso quem apresentou o Vaticano a Raffaele Mincione, o empresário que vendeu o prédio de Londres, e Gianluigi Tozi, que atuou como intermediário na venda final e mais tarde foi preso por lavagem de dinheiro e extorsão.
Crasso esteve presente numa reunião com Torzi num hotel romano em 2018, durante a fase final da venda do edifício londrino, altura em que Torzi teria extorquido o Vaticano pelo controle da holding proprietária do edifício.
De acordo com uma reportagem da reunião, Torzi pode ser ouvido solicitando um investimento de milhões de euros em fundos do Vaticano em um título que ele teve que vender a fim de cumprir um acordo legal com uma seguradora italiana.
Em outubro de 2020, um tribunal suíço concedeu aos investigadores do Vaticano acesso total à documentação bancária relacionada ao Crasso, incluindo os detidos pela Az Swiss & Partners, dona da empresa Sogenel de Crasso, que administrava o fundo Centurion.
O tribunal decidiu que “quando as autoridades estrangeiras pedem informações para reconstruir os fluxos de ativos criminosos, geralmente considera-se que eles precisam de toda a documentação relativa, a fim de esclarecer quais pessoas ou entidades legais estão envolvidas.”
Crasso defendeu sua administração dos investimentos do Vaticano, insistindo que o Centurion era um empreendimento lucrativo. Ele comentou publicamente sobre o fundo junto com o cardeal Angelo Becciu, que serviu como adjunto na Secretaria de Estado até junho de 2018, e supervisionou os assuntos financeiros do departamento.
Becciu foi ordenado pelo Papa Francisco a renunciar ao seu cargo como chefe da Congregação para as Causas dos Santos e aos seus direitos como cardeal, em setembro do ano passado, depois que o papa teria recebido um dossiê de alegações de má conduta financeira por Becciu.
Após sua renúncia forçada, Becciu disse que, embora tivesse autorizado os investimentos administrados pela Crasso, ele desconhecia os detalhes e “não é que [Crasso] estivesse me dizendo as ramificações de todos esses investimentos”.
Crasso respondeu que “Centurion era conhecido na Secretaria [de Estado]” e que Becciu e outros funcionários “sabiam muito bem” quais investimentos eram feitos. Crasso também disse que funcionários da secretaria às vezes sugeriam investimentos específicos a ele.
Em dezembro de 2020, o papa retirou a carteira financeira da Secretaria de Estado e ordenou que o departamento entregasse o controle de todas as contas bancárias e investimentos à APSA. A lei emitida pelo papa trazendo esta mudança continha menção específica de várias práticas financeiras ligadas a escândalos recentes.
3 comentários:
Ótima postagem, dr Pedro. Sua abordagem do tema nem carecia do artigo anexo, pois sua explicação me enriqueceu bastante. De qualquer forma, a matéria complementou sua exposição.
Destaco o seguinte fragmento:
"Você imagina se isso ocorresse, a Igreja se tornaria simplesmente um tribunal. A Igreja, então, decidiu: um padre pode ter muitos pecados graves e mesmo assim seus sacramentos são válidos. Pois os sacramentos são graça divina, não dependem de sua pessoa."
Comento:
1) De fato; isso, aliás, está em muitos documentos da Igreja. Assisti alguns vídeos com traduções das palestras do padre conservador Hess, em que ele cita vários documentos. Foi a partir disso que obtive paz e compreensão para com os padres molestadores. Coisa de difícil de suportar, mas que olhando para a posição da igreja compreendemos e até ficamos mais, tipo, alertas; e assim fugirmos da ocasião de pecado e não darmos a ocasião para os padres. Sem julgá-los maus, claro.
2) Sua abordagem do assunto, é um dos pontos porque é tão difícil a Igreja resolver de forma simples os problemas com os padres homossexuais.
Eu mesmo tenho muitas dificuldades em entender (e até aceitar) algumas das questões teológicas da Igreja em relação à teologia da eucaristia. Embora, eu evite pensar nesses assuntos para me manter em paz e assim praticar a Religião (já caí em muitos ardis dos demônios e de católicos falsos moralistas nesse ponto, e não desejo mais servir de idiota pra eles)
Algumas dessas dúvidas, exponho aqui (quem puder me ajudar, favor sinta-se à vontade):
1) Aprendi com algumas fontes e sempre respeitei que não devemos tocar na hóstia (corpo Eucarístico), pois só os sacerdotes o podem fazer, caso contrário comete-se pecado por não sermos dignos de tocá-lo com as mãos. Pergunto então: como esse católico pode tá em pecado se o Vaticano até hoje NÃO proibiu esse ato? Padres tradicionalistas têm autoridade para dizer que tal católico está em pecado?
2) Embora é compreensível que o pecado não impeça que o sacerdote aplique os sacramentos para nossa salvação, tenho umas dúvidas que de vez enquanto me acendem os neurônios. Como esta:
como fica a situação de um padre em pecado mortal de homossexualidade que toca no corpo Eucarístico? Não seria o caso de tal pecado impedir que o pão e o vinho se transformassem no Corpo e Sangue do Senhor? Não agiria tal pecado como uma barreira que isolaria as matérias pão e vinho da AÇÃO divina de transformá-las no Corpo e Sangue do Senhor para alimentação das almas?
Não sou especialista, mas acho que podemos indicar uma linha de resposta para suas perguntas, meu caro Adilson.
1) Sobre a hóstia nas mãos. Engraçado que li hoje um comentário de Viganò sobre o tema. Ele estava falando sobre o risco de se criar mulheres como padres em alguns países e disse: "Francis will not officially allow female deacons but tolerate them quietly if German or Dutch dioceses go ahead. He stresses that Communion in the hand was introduced this way. After that, "Conservatives" could claim that “the Pope hasn't allowed anything new.”
Em suma, é um erro que se perpetua e o Vaticano não faz nada há mjuito tempo.
2)Sobre a essa pergunta, eu acho que um padre realizando um sacramento é dominado pela graça divina que o sobrepõe e é essa graça que foi lhe dada quando se tornou padre que nos dá o corpo de Cristo.
Caso não fosse assim, estaríamos condenando os fiéis que vem em busca do Corpo e Sangue de Cristo e não o padre. Os fiéis não podem sofrer pelos pecados de um padre, ficando sem o mais importante (Cristo).
Não sei se lhe ajudei.
Abraço,
Pedro Erik
EX OPERA OPERATA, NON EX OPERE OPERANTIS!
Muito conhecido nosso esse axioma pois não sabemos que tipo de pecado grave às ocultas cometem sacerdotes distantes de nossos conhecimentos; ainda bem que o título prevalece!
Quanto ao filme da vida perversa homossexualista e pública de Elton John, implicitamente a Máfia Eclesiástica Vaticana o apoiaria, pois jamais poderia tê-lo financiado, porém, a execução de um filme sobre a vida de um santo para edificação dos fiéis - mas a situação pareceria-nos ao inverso: quanto mais ignorante à fé e confuso o rebanho, tanto melhor!
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