O filósofo Edward Feser, como é usual, fez um excelente artigo, dessa vez sobre o que é religião.
O artigo baseia sua análise em dois livros: 1) na definição de religião que Feser defende que foi feita por Bernard Wuellner para o livro Dictionary of Scholastic Philosophy e 2) No livro acima de Brent Nongri, que Feser também argumenta a favor.
Realmente, os dois livros parecem-me sensacionais.
O argumento de Feser é basicamente o seguinte:
1) A definição de Wuellner está correta. Religião é 1. a soma das verdades e deveres que ligam o homem a Deus. 2. crença pessoal e adoração em relação a Deus. A Religião inclui credo, culto e código. Por “credo”, o que Wuellner tem em mente é um sistema de doutrina. Um “culto”, neste contexto, tem a ver com um sistema de rituais do tipo associado ao culto e semelhantes. O “código” referido tem a ver com um sistema de princípios morais. Portanto, a definição está nos dizendo que doutrinas, rituais e princípios morais estão entre os elementos-chave da religião.
2) Essa definição exclui o Budismo realmente, pois este não envolve a ligação com Deus (exclui também confucionismo e outros mais semelhantes a filosofias do que a religião como epicurismo ou mesmo estoicismo);
3) Para qualquer definição, existe o aspecto nominal e o aspecto real. Definição nominal é aquela usada na prática, em geral com a apresentação de exemplos práticos (água é um líquido que está nos rios e lagos). A definição real é a definição da natureza em si da coisa (água é a formação de dois átomos de hidrogênio e uma de oxigênio). A definição nominal pode variar com o tempo, a variação real, não.
3) O marxismo tem uma definição que não é nominal de religião (religião é o murmúrio da criatura oprimida, religião é o ópio do povo). Marxismo procura uma definição real da religião. Isso não quer dizer que a definição esteja certa. Para o marxismo, está claramente errada.
4) A separação da religião da vida prática das pessoas é uma anomalia moderna, iluminista, pós-reforma protestante;
5) Antes, por exemplo, não existia Europeus, existia sim a Cristandade. O europeus sabiam que viviam na Cristandade. Na época, a avaliação das pessoas é que as outras religiões eram religiões que tinham menor grau de relação com Deus, mas elas eram sim religiões.
6) Tudo mudou com o Protestantismo, que quebrou a unidade do Ocidente. E daí surgiu com Locke e o Iluminismo a lógica de que religião é uma coisa apenas privada e subjetiva de cada um que não deve ter poder social.
7) O iluminismo trouxe subjetivismo para a religião e até aglutinou credos diferentes em um credo só, como fizeram com hinduísmo
7) E assim hoje há "o duplo padrão que muitos filósofos acadêmicos contemporâneos aplicam aos argumentos para a existência de Deus. Qualquer outra ideia em filosofia, por mais insana que seja - por exemplo, que o mundo material é uma ilusão, que a consciência não existe realmente, que o infanticídio e a eutanásia são defensáveis, que a distinção entre os sexos é uma mera construção social, que pode ser moralmente errado ter filhos, e assim por diante - é tratado como “digno de discussão”, algo que devemos pelo menos ouvir com respeito, mesmo que suspeitemos que não seremos convencidos. Mas se um filósofo dá um argumento para a existência de Deus, então em pelo menos muitos círculos acadêmicos, todas as sobrancelhas se erguem imediatamente, todos os olhos rolaram e há sorrisos em todos os lugares - como se tal filósofo tivesse acabado de soltar gases ou proposto o uso de um papel alumínio chapéu para proteger contra leitura de mentes."
Leiam todo o texto de Feser, meu resumo não revela a profundidade do debate do artigo.
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