No sábado passado, o Papa Francisco lançou o Jubileu da Misericórdia. E novamente falou que não devemos ser como os fariseus (parágrafo 20 da Bula).
Há uma cena no filme Au Revoir Les Enfants (recomendo fortemente este filme) que me lembra o debate de fariseus versos misericórdia.
O filme conta a história de jovens judeus que foram aceitos em escolas católicas durante a Segunda Guerra para fugir da Gestapo na França. Durante uma missa, empolgado pelo momento da comunhão, um menino judeu se aproxima do padre, se ajoelha e abre a boca para receber a hóstia. Naquele instante, o espectador, movido pelo filme, implora para que o padre dê a hóstia ao menino. Mas o padre não dá. Será que o padre está errado? Acho que não. Ele não sabe se aquilo era apenas uma brincadeira de meninos, ou se era perfeita conversão. E se fosse conversão, teria que ser feita de maneira mais séria, mais passo a passo. Acho até que o diretor (que era ateu e foi expulso de escola católica quando jovem) quis condenar o padre. Mas, para mim, o padre seguiu a lei e foi misericordioso, devemos mudar de religião por meio de profunda reflexão e não de repente, sem pensar.
Eu sempre achei os fariseus fascinantes, não porque eu aprove o comportamento deles, mas porque Cristo aprovou a Lei deles!
Cristo disse que eles não pregam o que ensinam, que falam uma coisa e fazem outra. Colocam a carga da lei no ombro dos outros.
Cristo os chamou de sepulcros caiados, lindos por fora e horríveis por dentro.
Nosso Senhor condenou o comportamento e não a lei que eles adotavam. Em suma, a Lei sai intacta das críticas de Cristo.
O Papa mencionou Mat 9:13 em que Cristo diz que veio para os pecadores e não para os que eram corretos. Também sempre achei esta frase fascinante, porque todos os homens são pecadores. Mas a frase também revela que existem pecadores que ofendem mais a Deus.
Este debate é antiquíssimo e remete a definição de Ortopraxia e Ortodoxia. É dito que o Islã e o Judaísmo adotam a ortopraxia, valorizam o método, a conduta do fiel (não devem comer porco, devem lavar as mãos, devem fazer jejum em tais dias, devem rezar tantas vezes, de tal modo...). O Cristianismo não seguiria a ortopraxia, mas a ortodoxia. O Cristianismo teria um modo de definir a Fé, que não sofreria perturbações de comportamentos menores.
Eu sempre achei esta separação muito fraca, pois reduz o Islã, o Judaísmo e também o Cristianismo. Todos têm sua fatia de ortopraxia e ortodoxia.
Mas voltando ao debate dentro do Catolicismo. Esta divisão de Lei e Misericórdia não segue a Ortodoxia Católica, que sempre enfatizou a união de Lei e Misericórdia. Do Velho com o Novo Testamento.
Um comentário:
Dissociar ortodoxia e ortopraxia é no mínimo, sendo sacerdote, um mal intencionado, a serviço da alienação para que as pessoas sejam presas mais fáceis de alguma ideologia que encampe.
A tal misericórdia hoje em dia muito em voga, desconsiderando a justiça de Deus, reduz-O a um certo deus cor de rosa, fofinho, nada mais, criação de laboratório.
Henoc
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