Hoje relembra-se o beato Victor Chumillas-Fernández (foto acima), ele é um dos 498 mártires da Guerra Civil espanhola que foram beatificados juntos em 2007. Mais de 6.800 bispos, padres, diáconos e freiras foram martirizados durante o "terror vermelho" que ocorreu nessa guerra civil. Relativos a essa guerra, até hoje, 1.815 foram beatificados e 11 foram canonizados.
Rezemos por Victor Chumillas-Fernández, ele conheceu o poder da fé cristã e o quanto essa fé pode atrair o ódio a Cristo por parte de ateus.
Como sabem, pedi ao Fuentecalada para escrever para o blog sobre a questão da Catalunha, sua história e tentativas de independência.
Fuentecalada já me passou três partes do seu texto. Para ler a primeiro parte, que trata da história da Catalunha, clique aqui, para a segunda parte, que trata da Catalunha durante a Guerra Civil, clique aqui e para a terceira parte, que a trata da Catalunha durante o governo Franco, clique aqui.
Abaixo temos a quarta parte que trata da transição do governo Franco e da anistia total aos comunistas.
Nessa parte, Fuentecalada fala, inclusive, sobre a influência dos anarquistas/comunistas na América Latina e de como os padres, especialmente jesuítas, apoiaram a formação e as ações do grupo terrorista ETA.
A princípio, eram para ser apenas quatro partes, mas combinei com Fuentecalada de dividir essa última parte em duas. Então, teremos mais um ótimo texto dele nos próximos dias.
Para quem já leu qualquer dos textos de Fuentecalada, não perderá tempo, pois conhece a qualidade e o conhecimento dele e imediatamente lerá o que vai abaixo
"O
regime constitucional estabelecido após o período franquista".
Autor: Fuentecalada
Autor: Fuentecalada
Naquela manhã de vinte de dezembro de
1973, como fazia diariamente, o almirante acabara de sair da missa na Igreja de
São Francisco de Borja, a paróquia dos jesuítas situada defronte à embaixada
dos EUA em Madrid. Ángeles, a filha caçula, desta vez não o acompanhara. O neto,
nascido há poucos meses, passara a noite inquieto. Pouco antes de sair para a
missa, Ángeles telefonara para avisar que não iria com ele. Estava “morta de
sono”. Acomodado no banco traseiro do Dodge 3700 GT, o almirante passaria em
casa para tomar o desejum e, em seguida, dar início a mais um dia de trabalho. Naquele
dia teria início o julgamento dos dirigentes das “Comisiones Obreras” (CC. OO.),
a organização clandestina que era o principal fruto visível do “trabalho de
base” organizado pelo “Partido Comunista de España” (PCE) para infiltrar a direção
dos sindicatos de trabalhadores e insuflar greves. Dentre os dirigentes
subversivos detidos, um sacerdote jesuíta: Francisco García Salve, um dos novos
“padres operários”, que haviam ressurgido após a reabilitação concedida pelo
Papa Paulo VI, em 1965, ao movimento que tivera origem na Juventude Operária
Católica (JOC). Os dirigentes das CC. OO.,
todos filiados ao PCE, haviam sido presos quando realizavam uma reunião no
Convento dos Missionários Oblatos de Maria Imaculada, em um subúrbio de Madrid.
Um sacerdote jesuíta..., o que
possivelmente trouxe ao almirante a lembrança da antiga igreja de São Francisco de Borja, incendiada
pela turba, em 1931,
nos tumultos que se seguiram à queda da monarquia. “¡Los conventos! ¡Los conventos!”. Talvez também lhe tenha vindo à
lembrança o Capitão José, seu irmão, executado pelas milícias republicanas em
1936, quando estalou a Guerra Civil. O refúgio na embaixada, a fuga para a
França, o retorno à Espanha para ingressar no combate ao lado de Franco. Haviam
se tornado amigos próximos. A opção pela neutralidade. A aspiração acalentada
por tantos anos...restauração. O carro contornou a igreja e ingressou na Calle de Claudio Coello. Um sacerdote jesuíta... Há
tempos o almirante declarara em uma entrevista: “El católico sirve a la Iglesia de la que forma parte, pero si para sus
fines políticos o de cualquier otro orden, se sirve de la Iglesia poniéndose
una etiqueta de católico, no obra, a mi juicio, como buen católico…”. Mais um Natal se aproximava. A
longa conversa que tivera na véspera com Kissinger. Espanha terá a bomba? Um sacerdote jesuíta... Pensara, então,
na Opus Dei? Comungara há pouco. E se...
Quando os dois membros da
escolta que seguia o carro do almirante recobraram os sentidos, uma nuvem de
poeira e detritos cobria a rua. Cheiro de gás. Saíram cambaleantes do carro.
Mais à frente, pararam à borda de uma enorme cratera inundada. “Onde está o carro do presidente?”,
perguntou um deles. “Não sei, deve ter
passado antes da explosão”... Na realidade, o carro fôra arremessado a uma
altura de quinze metros e se espatifara no interior do pátio do convento dos
jesuítas.
Em decorrência da explosão, provocada
por um dispositivo acionado por cabos elétricos, morreram o motorista José Luis
Pérez Mogena, o inspetor de polícia Juan Antonio Bueno Fernández e o pai da
jovem Ángeles, o Almirante Luis Carrero Blanco, chefe de
governo espanhol. Seis outras pessoas que se encontravam nas imediações ficaram
feridas.
Naquela noite, a programação em
espanhol da Rádio Paris (RTF), controlada por exilados anti-franquistas, em grande
parte membros ativos do PCE, divulgou um comunicado atribuído ao grupo
terrorista ETA - “Euskadi Ta Askatasuna”
(vasco para "Pátria Vasca e
Liberdade"), que assumia a responsabilidade pelo atentado, classificando-o
como “um avanço na luta contra a opressão
nacional, pelo socialismo em Euskadi
e pela liberdade de todos os explorados e oprimidos dentro do Estado espanhol”.
No dia seguinte, antes de
presidir a reunião do Ministério, Franco confidenciou a seu ajudante de ordens,
o Capitão de Marinha Antonio Urcelay: “Cortaram
o último fio que me unia ao mundo”. Mais tarde, perante o Ministério
reunido e tal como ocorreria depois, ao cumprimentar a viúva durante o funeral,
Franco fez algo inesperado e que até então nunca fora visto em público: caiu em
prantos e soluçou desconsoladamente.
A presença de outro visitante no
velório realizado no dia anterior teria causado mais do que surpresa à viúva,
aos familiares e autoridades presentes: o Cardeal Vicente Enrique y Tarancón,
Arcebispo de Madrid e presidente da “Conferencia
Episcopal Española”. Tarancón fôra elevado à honra cardinalícia por Paulo
VI, em 1969, e se fizera o principal expoente na Espanha do aggiornamento conciliar. Acompanhado de
seu ajudante, o padre jesuíta José María Martín Patino, o cardeal insistia
caber a ele celebrar a missa de corpo presente. Terminada a missa, saíram os
dois por uma porta lateral, sob escolta da polícia, enquanto da rua lhes
gritavam: “Assassinos!”.
O Cardeal Tarancón e o padre jesuíta José María Martín Patino.
O Cardeal Tarancón e o padre jesuíta José María Martín Patino.
Às quatro da tarde, o cortejo fúnebre partiu em direção ao cemitério de El Pardo, encabeçado pelo cardeal Tarancón, acompanhado do padre Martín Patino e de outros bispos sob os apupos da multidão: “¡Queremos obispos católicos!”. “¡Obispos rojos no!”. Segundo o jornal Folha de São Paulo, tratou-se de um “ataque à Igreja”.
Três dias
depois do ataque terrorista, a polícia já
havia identificado seis suspeitos, todos pertencentes ao ETA. O ETA fôra
constituído no final dos anos cinqüenta e teria iniciado suas atividades
terroristas em 1960, explodindo a bomba que matou uma jovem de 22 anos em uma
estação ferroviária. Sua primeira “assembléia” ocorreu no mosteiro beneditino
de Nossa Senhora de Belloc, em Urt (França). Na “assembléia IV”, realizada em
agosto de 1965 na Casa de Exercícios Espirituais dos jesuítas, em Azpeitia, foi
aprovado, em definitivo, o uso da violência armada como meio de ação habitual,
além de afirmar o caráter revolucionário de cunho comunista e “terceiro
mundista” (!) da organização.
Em 22 de maio
de 1965, o padre jesuíta Pedro Arrupe (1907-1991), espanhol de origem vasca,
fôra eleito o superior geral da Companhia de Jesus. Em 1923, Arrupe ingressara
no curso de medicina em Madrid, onde teve como professor Juan Negrín, o
político socialista que assumiria
em maio de 1937 a presidência do Conselho de Ministros do governo republicano
com o apoio do PCE. Quando Negrín soube que Arrupe abandonara o curso de
medicina para ingressar na Companhia de Jesus, empreendeu uma longa viagem de
trem, treze horas na época, para demovê-lo. Vislumbrava um brilhante futuro
para seu aluno. Arrupe, porém, manteve a decisão. Despediram-se com um abraço:
“Pedrito, sempre simpatizei muito com você”, disse-lhe Negrín. Em 1932, o
governo republicano expulsaria da Espanha a Ordem dos Jesuítas.
Arrupe havia estreado no
Concílio Vaticano II, já na condição de superior da Ordem, afirmando que, ao
fim de dois mil anos, a Igreja ainda não tinha encontrado uma maneira eficaz de
defender a sua mensagem. Defendeu, então, ao abordar o avanço do “ateísmo”, que
a Igreja não poderia continuar “isolada e como que fechada num gueto, mas
imersa no mundo” (de Mattei, Roberto in
“O Concílio Vaticano II – Uma História nunca escrita”. Caminhos Romanos. Porto
– Portugal : 2012, p. 426). A declaração foi refutada por diversos prelados que
defendiam a necessidade de o Concílio proferir uma clara condenação ao
comunismo, dentre os quais, o brasileiro D. Antônio de Castro Mayer, cuja
intervenção foi reproduzida pela revista “Catolicismo” (Catolicismo n° 178-179, outubro-novembro de 1965, p. 16).
A “assembléia
V” do ETA se reuniria entre dezembro de 1966 a março de 1967, primeiramente na
Casa Paroquial de Gaztelu e depois na Casa de Exercícios Espirituais, em
Guetaria, sendo ambas as instalações pertencentes aos jesuítas.
Dentre as
invariáveis dissensões internas que resultavam desses encontros, surgiria o
grupo que assumiria o controle da organização e viria a executar o atentado que
matou Carrero Blanco. Porém, eram cada
vez mais fortes os indícios de que o ETA não agira sozinho.
Em 1974 foi
publicado na França o livro “Operación
Ogro: Cómo y por qué ejecutamos a Carrero Blanco”, cuja autoria era
atribuída a um personagem inexistente, Julen Aguirre. Revelou-se mais tarde que
a verdadeira autora era Eva Forest (1928-2007), natural de Barcelona e filha de
um casal de anarquistas, uma ativa militante do PCE que tivera participação
direta no planejamento e execução do atentado. O livro, apesar de relatar fatos
verídicos, fôra publicado com a intenção de indicar pistas falsas e confundir a
investigação policial. Dez anos depois, em uma nova edição, Eva Forest
assumiria não só a autoria do livro, mas também o papel ativo que desempenhou
na “Operación Ogro”.
Tão logo veio a luz a vinculação partidária de Eva Forest, o PCE apressou-se a afirmar que Eva Forest teria se tornado uma dissidente do partido e, portanto, não reconhecia qualquer vinculação de algum de seus membros com o atentado. Contudo, Eva Forest era presença constante nos atos promovidos pelo PCE. Em 1966, Eva Forest fez a primeira de suas várias viagens a Cuba. No retorno, publicou o livro “Los Nuevos Cubanos”, uma peça de propaganda para o regime de Castro, além de criar o “Comitê de Solidariedade a Cuba”. Logicamente, criou logo depois o “Comité de Solidaridad con Vietnam”. Em 1970, criaria também um “Comitê de Solidariedade” aos dezesseis terroristas do ETA, dentre os quais dois padres, que estavam sendo processados como responsáveis por três assassinatos, além de atentados e assaltos, o chamado “Processo de Burgos”. No contexto de agitação e propaganda a pretexto desse julgamento, cerca de trezentos “artistas e intelectuais” se trancaram na abadia beneditina de Montserrat, na Catalunha, e lançaram um manifesto em que pediam anistia total, liberdades democráticas e direito de autodeterminação, sob as bênçãos do abade Cassià Just, que se tornaria conhecido com “o abade vermelho”.
Em 1977, Eva
Forest declarou que havia conhecido em Cuba várias pessoas interessadas em impulsionar
um “movimento de libertação vasco”, dentre eles um argelino, que seria o seu contato
com a KGB. Na ilha estabeleceu-se a conexão internacional que resultaria na
criação por ela do “Comitê de Solidariedade” ao ETA, do qual participariam
grande número de intelectuais, membros do PCE e pessoas ligadas à revista “Cuadernos para el diálogo”, uma
publicação de “católicos progressistas” que surgira tecendo loas ao Concílio
Vaticano II e que, ao longo de sua existência, entre 1963 a 1978, adotaria uma
linha de crescente oposição ao regime franquista.
Na foto abaixo,
Eva Forest, ao lado do marido Alfonso Sastre, em uma de suas viagens a Cuba, em
um jantar com o Ministro da Cultura com a presença do “comandante” Fidel
Castro.
O assassinato do Almirante
Carrero Blanco, denominada pelos terroristas de “Operación Ogro”, é considerado o fato que deu início ao processo de
“transição à democracia”, pois teria impedido a continuidade do regime
franquista. Desde 1969 o príncipe Juan Carlos fora designado para suceder
Franco na chefia de Estado, com o título de rei, em caso de morte ou
incapacidade do caudillo. Contudo, o
príncipe Juan Carlos, apesar de haver jurado lealdade a Franco, aos princípios
do Movimiento Nacional e às leis do
Reino, pretendia iniciar um processo de “abertura política” e fazer profundas
mudanças, dentre as quais a legalização do PCE, conforme fizera saber a
Santiago Carrillo através de Nicolae Ceasescu, líder comunista da Romênia. A
legalização do PCE ocorreria em 1977, durante a Semana Santa.
Nicolae Seasescu e Santiago
Carrillo com as esposas. Santiago Carrillo e outros
líderes políticos são recebidos pelo Rei Juan Carlos em 1980.
Os assassinos de Carrero Blanco
nunca seriam levados a julgamento. O inquérito que investigou o caso
desapareceu. Tampouco os autores do atentado na Cafetería Rolando em Madrid, perpretado em setembro de 1974,
explosão que resultou em treze mortos e mais de setenta feridos e mutilados. As
investigações apontaram o ETA-V, Eva Forest e sua rede de colaboradores que
seria desmantelada pela polícia, vários deles membros ativos do PCE. Santiago
Carrillo negou participação e determinou aos advogados do partido que não
patrocinassem a defesa dos suspeitos detidos, o que gerou algumas vozes
relutantes, mas foi disciplinadamente cumprido pelos militantes.
O “processo de transição para a
democracia” que se seguiu à morte de Franco, em 1975, resultaria em “anistia
total”, aprovada em 1977, na qual foram libertados, entre outros envolvidos em
atos de terrorismo, Eva Forest, que, ao sair da cadeia, posou para os fotógrafos
com punho erguido, o gesto de saudação comunista (foto abaixo).
Durante aqueles anos surgiram diversos grupos terroristas e “braços armados” dos vários partidos e grupelhos de orientação revolucionária, dentre os quais os “Grupos de Resistencia Antifascista Primero de Octubre” (GRAPO), ligados ao “Partido Comunista de España (reconstituido)”, mais uma das dissidências do PCE que rejeitavam a liderança de Santiago Carrillo e a linha política de “reconciliação nacional” e aproximação com o “eurocomunismo” que o antigo dirigente imprimira ao partido. O PCE “marxista-leninista”, outra dissidência do PCE, por sua vez, manteria em ação, até 1978, o grupo terrorista “Frente Revolucionario Antifascista y Patriota” (FRAP) e, no “campo cultural”, a publicação “Viento del Pueblo”, em que teria colaborado Alfonso Sastre, casado com Eva Forest e que aparece ao seu lado na foto acima.
Em 1979, o
cineasta italiano Gillo Pontecorvo, ex-membro do “Partito Comunista Italiano” (PCI), mas ainda um marxista convicto, lançou
um filme sobre a “Operación Ogro”
baseado no livro de Eva Forest, uma peça de propaganda revolucionária em que se
propunha refletir, inconclusivamente, sob o dilema existencial de se manter a “luta
armada” em uma sociedade democrática. Para embaraço do diretor, o filme foi lançado
quando a Itália estava sob o impacto do seqüestro e assassinato do Primeiro
Ministro Aldo Moro pelo grupo terrorista “Brigadas Vermelhas”. Na cena que reproduz a explosão, Pontecorvo
excluiu os transeuntes inocentes que foram atingidos no atentado. A verdade nem
sempre é revolucionária.
O jesuíta Francisco García Salve,
“padre operário” que fora dirigente das CC. OO. e militava no PCE, beneficiado pela anistia de 1977, largou o
sacerdócio, casou-se e virou advogado trabalhista. Expulso do PCE, em 1981, ajudou a fundar o “Partido Comunista de los Pueblos de España”
(PCPE), onde integrou o Comitê Central. Em 1981 lançou o livro “Por qué somos comunistas”. Sua carreira
literária, porém, havia começado em 1965, quando lançou sua obra de estréia: “Yoga para jóvenes”...
Eva Forest morreu em 2007, na
região vasca. Lá chegou a se eleger senadora, em 1989, pela coalizão
esquerdista “Herri Batasuna” (HB;
literalmente, ‘Unidad Popular’ em
língua euskera/vasca), que não subscrevera o “Pacto de Ajuria Enea” pela paz e contra o terrorismo. Eva Forest
cultivou a fama de escritora e gostava de se apresentar como a precursora do
movimento feminista na Espanha e uma “defensora dos direitos humanos”.
Santiago Carrillo elegeu-se
deputado em 1977, 1979 e 1982. Porém, o PCE colheria sucessivos fracassos
eleitorais após a volta à legalidade, o que resultou em novas dissensões
internas que culminaram na expulsão de Carrillo do PCE em 1985. No ano
seguinte, Carrillo fundaria o “Partido de
los Trabajadores de España-Unidad Comunista” (PTE-UC), denominação que uma
vez mais refletiria o involuntário efeito humorístico dos nomes escolhidos para
os partidos comunistas. Colhendo resultados cada vez mais inexpressivos nas
urnas, o PTE-UC optaria por integrar-se ao PSOE como uma “corrente” dentro do
partido socialista que denominaram de “Unidad
de la Izquierda”... Carrillo, porém, preferiu abandonar a política.
Entretanto, não conseguiu evitar que fosse invariavelmente recebido com
protestos hostis em suas aparições públicas, sob as acusações de assassino e
genocida. Lembranças de seus “feitos” durante a Guerra Civil, quando estava à
frente da Secretaria-Geral das “Juventudes
Socialistas” do PSOE, mas já atuando sob orientação do PCE. Fôra então
nomeado “Consejero de Orden Público”,
sendo o organizador e responsável pelo massacre de milhares de prisioneiros nas
imediações de Madrid (Paracuellos de Jarama e Torrejón de Ardoz). Negou sempre.
Morreu em casa, em 2012, aos 97 anos, fazendo a “siesta”.
A Igreja “imersa no mundo”, tal
como propusera o padre Arrupe, resultaria do entendimento de que “O mundo avança mesmo sem nós, disse ele,
de nós depende que avance conosco!",
o que impulsionaria o compromisso com a “Teologia da Libertação” e teria
encorajado o envolvimento de vários jesuítas em grupos terroristas e
“movimentos de libertação”, entre outros em países como El Salvador (Frente
Farabundo Martí de Libertação Nacional – FMLN), Angola (Movimento Popular de
Libertação de Angola - MPLA), Nicarágua (Frente Sandinista de Libertação
Nacional – FSLN) e Argentina (Montoneros),
além de, naturalmente, no “País Vasco” (ETA).
Em viagem a Portugal, Arrupe
rezou de joelhos diante da estátua do Marquês de Pombal, em “sinal de
reconciliação” com o homem que no século XVIII expulsou a Ordem dos Jesuítas do
Reino, confiscou suas posses, perseguiu e aprisionou sacerdotes, dentre os
quais o padre Gabriel Malagrida, sendo este condenado ao garrote e à fogueira.
Não há registro de que a estátua de Pombal tenha retribuído o gesto. Dez anos
depois, o fato seria saudado pelo socialista Mário Soares (Franco, José
Eduardo. “O mito dos jesuítas para além
do tempo do mito: no período do Estado Novo e do regime democrático” in Mutações religiosas na época
contemporânea: figuras e pensamento Volume 2; Volume 16 de Lusitania sacra. Editor
Universidade Católica Portuguesa. Centro de Estudos de História Religiosa :
2004, p. 423-424). Miguel Lamet, admirador de Arrupe, a quem considerava um
“profeta”, escreveria uma biografia do jesuíta vasco, dando ao livro o
sugestivo título de “Arrupe: uma explosão na Igreja”.
ao Marquês de Pombal.
O “aggiornamento” eclesial e a “opção preferencial pelos pobres” teriam
grande impulso na Espanha, especialmente nas regiões vasca e catalã, mas não
apenas entre os jesuítas. Da Catalunha viria em missão ao Brasil, em 1968, Pedro
Casaldáliga. Ordenado sacerdote em Montjuïc, Barcelona, o claretiano seria
nomeado por Paulo VI, em 1971, bispo prelado de São Félix do Araguaia (MT).
Adepto da “teologia da libertação”, ajudou a fundar o “Conselho Indigenista
Missionário” (Cimi). Avesso ao uso dos tradicionais trajes eclesiásticos, em
vez da mitra, preferia o chapéu de palha, em vez de um anel de ouro, até hoje utiliza
um anel de tucum. Em 1980 foi homenageado em evento realizado no teatro da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – TUCA, durante a realização de
uma “Semana de Teologia” subordinada ao título de “A Igreja na América Latina”,
quando lhe foi outorgado um uniforme de guerrilheiro sandinista. “Nicarágua nos deu o exemplo: todos
nós, todos os povos da América Latina, todos os povos do Terceiro Mundo, vamos
atrás!”, assim concluiu o prelado o seu discurso de agradecimento, já
envergando a jaqueta do uniforme de guerrilheiro (Catolicismo n° 355-356, julho-agosto
de 1980, p. 14-15).
Em 1994, Dom Pedro Casaldáliga apoiou a sangrenta revolta comunista
de Chiapas, no México, afirmando que “quando o povo pega em armas deve ser
respeitado e compreendido”. Em 1999 publicou a "Declaração de Amor à Revolução Total
de Cuba".
Retirou-se em 2005. Crítico do governo Lula, por considerar que este gosta mais
dos ricos do que dos pobres, apóia o MST e a Via Campesina. Defende o “diálogo”
em vez da excomunhão e proibições. Apóia a ordenação de mulheres e se declara
contrário ao celibato sacerdotal. Ecologista, recentemente se fez fotografar
abraçado a uma árvore.
Na Espanha, a “transição” se
concluíra, dentre outras mudanças, com a legalização do jogo e do divórcio. A
nova Constituição foi aprovada em 1978 e submetida a referendo popular, obteve
aprovação de 58,97% do eleitorado. As primeiras eleições sob a nova Carta foram
realizadas no ano seguinte. Em 1981, um grupo de militares tentou dar um golpe,
sufocado em menos de 24 horas pela atuação decisiva do rei Juan Carlos. No ano
seguinte, o PSOE ganharia as eleições. O Papa João Paulo II, em visita à
Espanha, comunicou ao Cardeal Tarancón que havia aceitado sua demissão. Em
encontro anterior, João Paulo II havia aplicado uma severa reprimenda ao
Cardeal por sua atuação à frente da Conferência Episcopal.
Em 1985, o governo do PSOE, sob
a liderança de Felipe Gonzalez, conseguiu aprovar a “descriminalização do
aborto”, passando a ser permitido para os casos de estupro, até doze semanas de
gravidez; má-formação do feto, até 22 semanas de gravidez e a qualquer momento
em caso de “risco de saúde física ou mental da mulher”.
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