Nessa parte, Fuentecalada fala até do Barcelona, clube de futebol.
Acima, vemos o avanço das forças nacionalistas contra os "republicanos" (socialistas, anarquistas) na Guerra Civil espanhola. As forças nacionalistas não recuaram, durante a guerra. Como diz Fuentecalada, o avanço das forças nacionalistas ficou conhecido como "a espada invicta de Franco".
Seguimos aqui, com a sequência de artigos sobre a Catalunha que eu pedi para que o Fuentecalada preparasse para o blog. Dessa vez, vamos tratar do período do regime do General Franco, desde a Guerra Civil.
Se você não leu a Parte 1, nem a Parte 2, clique aqui para a Parte 1 e aqui para a Parte 2.
Manifestação de apoio a Franco, na Plaza de Oriente, em Madrid, contra a moção de condenação aprovada pela ONU: “Franco sí, comunismo no!” – 9/12/1946. Agência EFE.
Acima, vemos o avanço das forças nacionalistas contra os "republicanos" (socialistas, anarquistas) na Guerra Civil espanhola. As forças nacionalistas não recuaram, durante a guerra. Como diz Fuentecalada, o avanço das forças nacionalistas ficou conhecido como "a espada invicta de Franco".
Seguimos aqui, com a sequência de artigos sobre a Catalunha que eu pedi para que o Fuentecalada preparasse para o blog. Dessa vez, vamos tratar do período do regime do General Franco, desde a Guerra Civil.
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Catalunha durante o regime de Franco.
Autor: Fuentecalada
O regime republicano que se
estabeleceu após a derrubada da monarquia adotou o sistema parlamentarista, tendo
o presidente da república como chefe de Estado, eleito de forma indireta pelo
Congresso de deputados, e o presidente do conselho de ministros como chefe de
Governo.
As controversas eleições que deram
a vitória à Frente Popular, em 1936, resultaram na eleição indireta de Manuel
Azaña para exercer o cargo de presidente da república em um mandato de seis
anos. De acordo com a Constituição republicana de 1931, cabia ao presidente da
república nomear o chefe de Governo. Azaña nomeou seu correligionário do
partido Izquierda Republicana (IR),
Santiago Casares Quiroga, para assumir a chefia do governo.
Quando eclodiu a Guerra Civil, em
julho de 1936, o controle sobre as divisas em moeda estrangeira e as reservas
de ouro do Banco de España estavam em
poder do governo republicano, que utilizou as reservas em ouro para pagar a
“ajuda soviética” oferecida por Stálin, sob a forma de “consultores” e material
bélico, composto em boa parte por itens obsoletos e em mau estado. Azaña
demitiu Casares Quiroga e entregou a chefia de governo a José Giral, também da
IR. Em setembro, com o avanço da sublevação militar, Giral demite-se e Azaña nomeia
o socialista Llargo Caballero para assumir o Governo, havendo assumido, ainda,
a chefia do Ministério da Guerra e entregue as pastas da Educação e da
Agricultura ao Partido Comunista de
España (PCE), no que chamou de “Governo da Vitória”.
Na época, a Espanha detinha a
quarta maior reserva em ouro do mundo, fruto da expansão comercial verificada
no período da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), em que a Espanha se mantivera
neutra. As remessas de ouro para a França, com a finalidade de comprar
armamento, começaram em julho de 1936, ainda no Governo Giral e no gabinete de
Llargo Caballero ficaram sob a coordenação do então ministro da Fazenda, o
médico Juan Negrín, filiado ao PSOE. O ouro seria convertido em moeda
estrangeira pela “Banque Commerciale pour
L’Europe Du Nord” e pelo “Eurobank”
em Paris, ambos integrantes da organização financeira do Kremlin na França. No
total, 174 toneladas de ouro foram transferidas para a França, o equivalente a
cerca de 30% das reservas. Em setembro de 1936, Negrín transferiu em dez mil
caixotes o restante das reservas em ouro e prata do Banco de España diretamente
para Moscou. “Mas os números soviéticos
não revelam a contabilidade criativa havida na troca de ouro por rublos e de
rublos por dólares e de dólares por pesetas”. (Beevor, Antony in “A Batalha
pela Espanha: a Guerra Civil Espanhola 1936-1939”. Rio de Janeiro: Record, 2007,
p. 231-232).
Juan Negrín assumiria em maio de
1937 a presidência do Conselho de Ministros do governo republicano, com o apoio
do PCE, em substituição a Llargo Caballero. Em outubro, Negrín transferiu a
sede do governo para Barcelona. Ao final da guerra, Negrín conseguiu embarcar para
o México um iate, El Vita, carregado
de jóias, metais preciosos e tesouros de valor histórico e artístico, alguns
deles saqueados pela Generalitat de
Companys. O carregamento seria interceptado por outro líder socialista
espanhol, Indalecio Prieto, que, em 1946, expulsaria o rival Negrín do PSOE,
acusando-o de estar a serviço do PCE e da União Soviética. Ambos reivindicaram
que utilizariam o tesouro do El Vita
para prestar assistência aos “refugiados republicanos” no exílio, mas nunca prestaram contas do que ocorreu com essa fortuna
incalculável. Negrín morreria em 1956, numa ampla e confortável casa em Paris.
Poliglota, ao final da vida, segundo afirmou sua neta Carmen, dedicava-se a
aprender chinês e árabe, por considerá-los os “idiomas do futuro”. Em 2008,
Negrín foi “reabilitado” pelo PSOE.
Ao final da Guerra
Civil, a economia espanhola estava exaurida. As perdas materiais ocasionadas
pelos combates reduziram a produção agrícola e a criação de gado. Estima-se que
a produção industrial tenha caído 30% em relação ao período que antecedeu o
início da guerra. A infra-estrutura, especialmente as linhas ferroviárias, o
material rodante e a produção de eletricidade, fôra em boa parte destruída (Carreras,
Albert; Tafunell, Xavier in “Historia
económica de la España contemporánea (1789-2009)”.
Ed. Crítica. 2003. Observação: os autores citados são
doutores em história pela Universitat
Pompeu Fabra de Barcelona).
O período que se seguiu ao fim
da Guerra Civil foi dedicado à reconstrução da infra-estrutura e da economia
espanhola, o que foi largamente afetado pela eclosão da 2ª Guerra Mundial, meses
após o fim da Guerra Civil. Apesar das pressões de Hitler, Franco manteve a
Espanha em situação de não beligerância, cedendo, apenas, ao envio de uma
divisão de infantaria com 50 mil voluntários que viriam combater no front russo, a chamada División Azul. Em 1943, a Espanha
voltaria à situação de neutralidade.
No início do processo de
reconstrução, o regime de Franco adotou políticas intervencionistas,
protecionismo tarifário, controle cambial e de preços em busca da
auto-suficiência na produção de bens considerados estratégicos, enfrentando o
isolamento imposto à Espanha por razões políticas. O racionamento de produtos
de primeira necessidade duraria até 1952. Em 1941 seria criado o Instituto Nacional de Industria (INI), principal expoente da série de autarquias, empresas estatais
e órgãos reguladores criados nesse período.
Em 1944, o PCE lançou uma
ofensiva guerrilheira que, partindo do território francês, cruzou os Pirineus e
incursionou pelo Vale de Aran, na Catalunha. A estratégia desse ataque delirante,
batizado de Operación Reconquista de
España, era provocar uma “insurreição popular contra a ditadura” e formar
na região um “governo provisório” a ser reconhecido como força beligerante
pelas potências aliadas. Sem receber qualquer apoio da população, o ataque foi
rechaçado pelas forças do Exército e da Guarda Civil em apenas cinco dias.
Durante a incursão, Santiago Carrillo assumira o comando da operação
guerrilheira. Ao saber da presença nas proximidades de tropas sob o comando do
General José Moscardó, o comandante da resistência heróica do Alcázar de Toledo
durante a Guerra Civil, Carrillo deu a ordem oficial de retirada, quando já se
iniciara a debandada dos guerrilheiros em fuga para o território francês.
Sucedeu-se a usual seqüência de expurgos e assassinatos entre os comunistas à
busca dos culpados pela “ação aventureira”, ocasião em que se consolidou a
liderança de Santiago Carrillo no PCE, sem prejuízo de a máquina de propaganda
comunista vir a criar conotações míticas para os episódios no Vale de Aran, que
apelidaram de “vale da liberdade”.
Ações guerrilheiras de
comunistas e anarquistas ocorreriam residualmente até meados dos anos sessenta,
consistindo, em sua maior parte, na sabotagem de redes elétricas,
“expropriações revolucionárias” (roubos), represálias à população civil e
assassinatos de autoridades governamentais.
Internamente, Franco enfrentava
a ação, por vezes violenta, das alas extremistas da Falange, que pressionavam
pela fascistização do regime e a entrada do país na Guerra ao lado do Eixo, ao
que Franco respondeu com a demissão de Serrano Suner, o enfraquecimento
político da Falange e o abandono da saudação fascista, além da entrega de
postos-chave a militares leais e a antigos monarquistas e políticos católicos.
Em 1945, logo após o final da
Guerra, Franco promulgou o Fuero de los
Españoles,
uma carta de direitos, deveres e garantias que restituía à religião católica a
condição de religião oficial do Estado espanhol, o que daria as bases do regime
que viria a ser denominado, por vezes de forma depreciativa, de
“nacional-catolicismo”.
A criação da ONU acarretou novas
pressões sobre a Espanha. Em 1946, a Assembléia Geral aprovou uma moção que
impedia a entrada da Espanha no organismo, condenava o “regime fascista” e
recomendava a imediata retirada da Espanha das representações diplomáticas dos
países-membros. A decisão propiciou uma nova rodada de agitação internacional,
com a usual enxurrada de artigos em jornais e realização de manifestos e atos
públicos de “solidariedade antifascista”.
Manifestação de apoio a Franco, na Plaza de Oriente, em Madrid, contra a moção de condenação aprovada pela ONU: “Franco sí, comunismo no!” – 9/12/1946. Agência EFE.
Teve início um período de
isolamento que muito afetou a recuperação econômica. Paulatinamente, com o
acirramento da guerra fria, a Espanha seria integrada ao bloco ocidental como
aliada confiável contra o comunismo. A moção condenatória seria revogada em 1950
e a Espanha aceita como membro da ONU em 1955.
A adoção de políticas
restritivas buscou restabelecer o equilíbrio fiscal e a abertura da economia
para o comércio e o turismo, tornada possível pelo fim do isolamento
diplomático, gerando condições para o abandono do modelo autárquico
intervencionista, o que permitiu o aumento de investimentos e o crescimento da
economia, ainda que tenham sido mantidos elementos de caráter protecionista. Entre
1959 a 1974, período que veio a ser chamado de o “milagro español”, a Espanha registrou a segunda maior taxa de
crescimento econômico, abaixo apenas do Japão, alcançando a posição de nona
maior economia mundial.
Nos anos recentes, ganhou corpo
a narrativa de que a região da Catalunha constituiu um bastião de resistência à
“ditadura franquista”, o que a teria tornado alvo, por cerca de quarenta anos,
da exploração econômica e perseguição à “cultura catalã”. Tolices facilmente
refutáveis.
Conforme é possível verificar
nas estatísticas coletadas no rigoroso trabalho de pesquisa publicado pela Fundación BBVA, “Estadísticas
históricas de España – Siglos XIX - XX – Volumen I” – Bilbao : 2005, coordenado
por Albert Carreras e Xavier Tafunell, o PIB da Catalunha já correspondia, em
meados dos anos cinqüenta, a quase 20% do PIB espanhol, conforme se verifica na
tabela abaixo:
A reconstrução da economia espanhola e, especialmente, da
capacidade produtiva da indústria, favoreceu fortemente a Catalunha. Fato
significativo é o decreto de 1943 que reservou à cidade de Barcelona, e também
Valência, a possibilidade de sediar feiras internacionais, disposição que
vigoraria até 1979. A iniciativa do INI, em 1950, de estabelecer a fábrica estatal de automóveis da
SEAT em Martorell (Barcelona) impulsionou a indústria automobilística e, nos
moldes protecionistas então adotados, favoreceu largamente a região com
subsídios estatais.
O mencionado estudo publicado pela Fundación
BBVA revela o espetacular
crescimento da renda familiar e do poder de compra da Catalunha que, de 1940
até 1975, cresceu 448%, consolidando a Catalunha como a região mais rica do
país.
Outro mito recorrente procura
politizar a maior paixão esportiva do espanhol, o futebol, buscando transformar
o Futbol Club Barcelona em um símbolo
da “resistência antifranquista” e do “independentismo catalão”. Insubmissos,
porém, se revelam os fatos, que negam a veracidade dessa narrativa imaginária.
A manchete de jornal da época
mostra a ovação com que Franco foi recebido, em 10/10/1957, por ocasião da inauguração
do hoje célebre Camp Nou, estádio do Barcelona, com
direito a manifestações artísticas do folclore catalão e cânticos de estréia do
Himne a
l’Estadi,
dedicado ao Camp Nou, composto e
entoado no idioma catalão.
Também significativo se faz o
registro de que o Futbol Club Barcelona,
por duas vezes, em 1971 e 1974, concedeu a Franco medalhas de ouro, em
agradecimento aos auxílios financeiros obtidos para a quitação da dívida
contraída para construir o Camp Nou e
para a construção da arena multiuso Palau
Balgrana e do Palau del Gel,
destinado ao hóquei sobre o gelo e à patinação artística, ambos inaugurados
pelo Futbol Club Barcelona em 1971.
É possível argumentar que as
iniciativas das autoridades e dos dirigentes do clube de futebol catalão não
representavam o real “sentimento independentista” da população e o indomável
estado de “resistência antifascista” da Catalunha da época. Talvez o vídeo
abaixo, filmado em 1970, possa ser útil para esclarecer o ponto.
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