terça-feira, 17 de outubro de 2017

Catalunha - Antecedentes (Parte 1). Autor: Fuentecalada


Aprenda sobre a Catalunha com um especialista realmente confiável. Saiba como a Catalunha se insere na história da formação da Espanha até os problemas políticos dos nossos dias.
Eu pedi ao Fuentecalada que escrevesse para o blog sobre a Catalunha, desde a história dessa região até as recentes tentativas de independência. As ações políticas do momento na Catalunha podem ter efeitos perversos, estimulando o caos de separatismos em muitos países. Fuentecalada sabe tudo sobre a Espanha (trust me) e concordou em escrever em quatro partes para o blog.
Leiam a primeira parte abaixo:

Catalunha – antecedentes.
Autor: Fuentecalada.
17/10/2017

Jordi Bilbeny, publicou em 2010 um livro intitulado "El ditd'en Colom: Catalunya, l'Imperi i la primera colonització americana, 1492-1520 [O dedo de Colombo: Catalunha, o Império e a primeira colonização americana]", no qual sustenta não só que Cristóvão Colombo nasceu em Barcelona, mas que se chamava Joan Colom e que, na realidade, era embaixador da “Generalitat”, que teria sido a responsável pela organização política da América em vice-reino, “fatos” que, segundo alega, teriam sido encobertos pela “censura” espanhola. Bilbeny também afirma que Santa Teresa D’Ávila, sendo ela catalã de origem, teria sido abadessa no mosteiro de Pedralbes em Barcelona, atribuindo o relato de seu nascimento na cidade de Ávila a “uma invenção do Concílio de Trento”. Ainda segundo Bilbeny, Miguel de Cervantes, também natural da Catalunya, escreveu originalmente “El Quijote” em catalão, claro, baseando-se em “texto” original que nunca foi encontrado. Bilbeny agrega um grupo de “historiadores” no “Institut Nova Història”, que se dedica a reescrever o que chamam de “história censurada” da Catalunha, na qual também se fazem catalães, entre outros, Américo Vespúcio, Santo Inácio de Loyola e até mesmo Leonardo da Vinci, cuja paisagem de fundo na Monalisa reproduziria a montanha de Montserrat... “Historiadores” com criatividade própria de samba-enredo, mas que fariam corar até o nosso Stanislaw Ponte Preta...
Conquanto o ridículo atroz de tais disparates nos faça rir, constituem o cerne da abordagem histórica apresentada no material didático que atualmente é distribuído nas escolas da região sob a tutela das instituições locais, sendo úteis para nos ajudar a entender o estado de espírito rancoroso e delirante que transbordou nas ruas de Barcelona no recorrente “procés” independentista e na construção ideológica de uma tradição inventada e de um falso fenômeno em busca de reconhecimento: a catalonofobia.
O chamado “nacionalismo catalão” pode ser considerado um reflexo tardio e algo exótico da vaga revolucionária e da exacerbação “nacionalista”, que marcaram a Europa em meados do século XIX, sendo então declaradamente influenciado pelo risorgimento italiano. Contradição curiosa. O risorgimento era movido pela causa de reunificação política da península italiana. O “nacionalismo catalão” pelo separatismo regional. Coerência nunca foi o forte dos movimentos revolucionários. 
A criação de uma “identidade catalã”, sediada em Barcelona, em realidade resulta de um persistente processo de “reelaboração” histórica, cuja origem remonta ao surgimento da corrente intelectual “Los Renaxentistas”, em meados do século XIX, cujo resultado mais emblemático reside no controle férreo que os intelectuais independentistas e a “Generalitat” de Barcelona buscam exercer sobre os documentos do “Archivo de la Corona de Aragón”.
Já em 1847, o então diretor do Arquivo, Próspero de Bofarull i Mascaró, um dos expoentes do movimento "Renaxentista", perpetrou o que hoje em dia, em círculos acadêmicos descolados, se passou a chamar de “desconstrução” do passado. Bofarull, simplesmente, adulterou o “Llibre del Repartiment del Regne de València”, relato medieval que descreve a reconquista de Valência em 1238, passando a atribuir ao feito o caráter de uma epopeia puramente catalã, revestida de significados místicos e personagens mitológicos. A falsificação veio à luz pelo filólogo e historiador medievalista Antonio Ubieto (1923-1990).
Os recentes acontecimentos em Barcelona chamaram a atenção para o quadro político espanhol e a questão do separatismo catalão. Como é usual, a mass media brasileira pouco oferece em informação que permita analisarmos os fatos, não sendo admitido nada além do engajamento militante na “causa”, o que nos é proposto a cada situação que nos apresentam como sendo mais um “movimento de libertação”.
Entretanto, cabe esclarecer que a região da Catalunha, historicamente, jamais se organizou na forma de uma nação ou reino independente. O chamado idioma catalão é apenas mais uma das variações do latim vulgar (rusticam Romanam linguam) que deu origem às línguas francesa, italiana, portuguesa e espanhola e dialetos locais, durante o período em que a região denominada de Hispania, que abrange atualmente os territórios de Portugal, Espanha, Andorra e parte do sul da França e norte da África, constituía uma província do Império Romano, cuja diocese, desde Diocleciano, era situada no território da Lusitânia, na atual cidade de Mérida.

Após a desagregação do Império e o fim do período de dominação dos visigodos, a península foi devastada pela invasão muçulmana no início século VIII. No ano de 801, o império carolíngio reconquistou Barcelona, localidade até então sob o domínio do emirado de Córdoba e que se tornaria sede de um dos diversos condados feudais dependentes dos monarcas carolíngios que constituíam a chamada “Marca Hispánica”, região que, juntamente com o Reino de Navarra e as províncias vascongadas, constituía uma barreira defensiva e de fronteiras voláteis entre os domínios muçulmanos e o Império dos francos.

Mapa - Etapas da Reconquista



O condado de Barcelona foi dinasticamente unificado ao Reino de Aragão em 1137. Com a unificação dos Reinos de Aragão e Castela, pela união em matrimônio dos reis católicos Fernão e Isabel, em 1469, e a consolidação da Reconquista em 1492, tem início a Espanha moderna, tal como se configura hoje no território da Península Ibérica.



Um comentário:

Isac disse...

Já vi comentarios que os catalães sempre prefeririam as esquerdas - caso do RJ nosso, o mais anárquico do Brasil, sempre privilegiando caóticos marxistas no poder - e facilitando desde uns à la Brizola até a um Cabral e mais sanguessugas, assim como aqueles.
Combustível para tal não faltaria; bem que poderia ser o começo em escala ascendente do povo x povo, nação x nação...