terça-feira, 15 de março de 2016

Síntese de Bergoglio - O Pensamento do Papa Francisco pelo Denzinger-Bergoglio


Os sacerdotes do projeto Denzinger-Bergoglio entraram em contato comigo depois que divulguei aqui no blog o trabalho deles. Eu ofereci ajuda, caso eles quisessem que eu fizesse tradução para português de algum texto deles. Depois de uma troca de emails, eles me pediram para traduzir um texto em que eles resumem um ano de trabalho do projeto. Os sacerdotes nesse projeto se dedicam a esclarecer muitas das afirmações confusas e até perniciosas para a fé do Papa Francisco. É um trabalho muito importante para hoje, para a posteridade e para todos (não apenas os católicos).

Como combinado com eles, disponibilizo abaixo a tradução que fiz do artigo "Un Año de Benzinger-Bergoglio: La Síntesis Bergogliana".

Os sacerdotes do Denzinger- Bergoglio desejam que a tradução seja disponibilizada a todos, por isso todos estão liberados para copiar a minha tradução.

Leiam, analisem e divulguem o texto abaixo.

 


Um Ano de Denzinger-Bergoglio: A Síntese Bergogliana
 


Autores: Sacerdotes do Projeto Denzinger-Bergoglio
Tradução: Pedro Erik Carneiro, PhD.





Sim. Já se passou 365 dias desde aquele 10 de fevereiro de 2015 em que um grupo de sacerdotes diocesanos, sem ter combinado antes, decidiu empreender esta iniciativa que, com as benções de Deus e dedicado trabalho diário, combinado com inúmeros trabalhos pastorais, conseguiram conquistar um espaço dentro do mundo católico.

Neste ano de trabalho, sempre tivemos na mente uma perspectiva, um objetivo, que nos tem animado a enfrentar os obstáculos de uma tarefa ingrata, seja porque somos conscientes de que a enorme substância doutrinal não é acessível a uma grande quantidade do público hipersensibilizado de nossos dias, seja porque são muitos – uma legião! – os que não compreendem nossa posição ideológica por se fecharem a isso ou por baixeza de visão e fiquem nos jogando para a esquerda ou para a direita. Porém, constatamos que nosso objetivo tem evoluído notavelmente durante todos esses meses. Em um primeiro momento, nos pareceu que era importante alertar às nossas ovelhas sobre uma série de afirmações e gestos confusos e tendentes a aumentar a crise da fé que atravessamos no momento. Já sobre discernir se a fonte dessas afirmações atuava conscientemente, envenenada por uma perversa ou por deficiente formação na raiz, ou simplesmente movida por desajustes de uma personalidade um tanto particular, não estava ao nosso alcance. No entanto, depois de 128 estudos (e muitos outros sendo escritos) esta concepção inicial tem evoluído...as coisas vão ficando mais claras e vão se definindo. Sem ter inicialmente essa intenção, nossa tarefa nos revelou que por trás de tantas declarações aparentemente sem nexo algum, existe...um sistema. Francisco se repete constantemente porque seu substrato ideológico, obscuro para quem o escuta, para ele é mais concreto, claro e, por que não dizer, limitado. Não busquemos, para tanto, grandes horizontes no pensamento bergogliano...como se diz, não há nada novo que a Igreja não tenha estigmatizado de alguma maneira.

Enfim, como sacerdotes sensíveis não nos cabe ditar sentenças, mas sim oferecer subsídios doutrinais para que, talvez em algum dia, se possam tomar medidas concretas. Tampouco desejamos ser juízes. Os juízes são 169 e estão aí: O Velho e o Novo Testamento, 59 papas, 31 Padres da Igreja, 14 Concílios Ecumênicos, 14 Sínodos, 16 Congregações Romanas, 15 Doutores, os 8 principais textos fundamentais da Igreja e outros autores católicos. Até agora temos citado centenas de documentos de mais de 1260 obras, indicando fontes. O total de obras consultadas supera os 2000 títulos, entre os quais está Denzinger (em suas diversas edições), todo o Magistério Pontifício, Episcopal e de diversas Congregações Romanas, as principais fontes da Patrística; a Suma Teológica e um enorme et cetera. Também foram incluídos documentos esclarecedores de outras religiões como estratos do Alcorão, obras de Lutero e de diversos autores anglicanos. Quem sabe no futuro haja alguém que, como fez de forma genial São Pio X com o modernismo, seja capaz de apresentar sistematicamente a obscura doutrina bergogliana. Por enquanto, temos o presente artigo, sendo uma síntese e resumo de todo o que foi publicado até o momento, como contribuição humilde para essa obra que esperamos ver no futuro. Recordamos que já existe um pdf gratuito para ser baixado aqui como os 100 primeiros estudos. Para ver a lista completa (128) clique aqui.

O presente artigo deseja ser uma síntese das principais doutrinas de Francisco, estudadas e sistematizadas largamente desde o primeiro ano de existência do Denzinger-Bergoglio. Como tal se trata apenas de um enunciado de suas doutrinas com uma nota remissiva a um estudo mais extenso. Dado a enorme quantidade das afirmações estudadas é necessário uma grande quantidade de notas.  Nessas notas, o leitor encontrará o estudo completo a que ela faz alusão.

1. Populismo

O que primeiro se destaca na figura de Francisco é sua simpatia por muitas figuras e movimentos pró-comunistas e socialistas, especialmente de países sul-americanos. Recordemos como ele os promoveu através das diversas edições do “Encontro Mundial de Movimentos Populares” [1] organizados pelo Conselho Pontifício Justiça e Paz aglutinando o que há de pior nos agitadores sociais desse continente, sua ostentosa amizade com diversos líderes socialistas bolivarianos[2], sua ideia socialista de igualdade[3] e seu peculiar conceito de propriedade privada[4]. Na linha dos gestos, jamais se pode esquecer o escândalo que marcou sua atitude tolerante para com o blasfemo-comunista Cristo que lhe foi oferecido por Evo Morales, declarando que para ele “não havia sido uma ofensa” [5], assim como sua ideia de que os comunistas podem se orgulhar de levar a bandeira dos pobres da mesma maneira que faz a Igreja[6].Talvez a culminação de todas estas ideias tenha sido a encíclica – se assim se pode chamar a este apelo comuno-ambientalista – “Laudato Sí”, criticada em todo mundo por sua alienação populista, mais própria de um técnico das Nações Unidas[7] e totalmente fora do âmbito papal[8], para o qual Francisco quis assessorar-se de uma ampla gama de líderes eco-comunistas, completamente à margem de qualquer preocupação pastoral. Muito ao contrário, nessas pessoas se encontram, de maneira surpreendente e tenebrosa, propostas referentes a uma misteriosa “espiritualidade ecológica” [9], bastante distante da verdadeira religiosidade própria do católico. Para isso sim, Francisco é incansável. E incansável são suas explicações. Sempre insiste em dois pontos fundamentais de sua atuação política: A Doutrina Social da Igreja e o cuidado com os pobres. 
Em relação ao primeiro caso demonstramos que Francisco, quando usa suas famosas muletas – Propriedade Privada e Livre Mercado, os pobres e a Doutrina Social da Igreja – , não mostra clareza nos conceitos[10], sobretudo ao invocar em auxílio suas teses próprias sobre a Doutrina Social da Igreja.  

Um segundo ponto fundamental resume o objetivo final de Francisco em toda sua tarefa: “Quero uma Igreja pobre para os pobres”. Para tanto, não se trata de erradicar a pobreza fazendo com que todos tenham o digno, se não, como ele mesmo afirma, fazer da opção pelos pobres “uma categoria teológica”, assumi-la com um método de vida. E, para tal, não pode faltar uma nota populista e demagógica em sua visão salvífica da fé. Para ele, viver a fé cristã “significa servir ao homem, a todo o homem e a todos os homens, a partir das periferias da História” [12]. Misteriosas palavras, cujo sentido mais profundo é difícil de alcançar, ainda que se pode vislumbrar seu conteúdo quando para este serviço ele considera a partir de uma perspectiva de “fé revolucionária”, de inconformidade e de “bagunça” [13]. E claro está,  luta de classes até com o próprio Deus, ou seja, o inimaginável, mas questionar Deus é como fazer uma oração[14], segundo Francisco.


2. Eclesiologia Bergoliana

Postas todas essas doutrinas, o que falta? Ou melhor, poderíamos dizer, a partir daí há algo que não se pode esperar de Francisco? No Denzinger-Bergoglio se encontram dezenas – para não falar de centenas – de afirmações surpreendentes. Algumas, sem dúvida, não passam de expressões demagógicas. No entanto, em todas elas encontramos doutrinas subjacentes que justificam seu estudo em profundidade. Que imagina o leitor que oculta a expressão “cheire a povo e se cale” como condição para ser um bom teólogo[15]?. E aquela famosa “quando estou diante de um clerical me torno anticlerical imediatamente” [16]? E sobre esta que parece tão inocente: “ninguém se salva sozinho, como um indivíduo ilhado” [17]? Nelas não se pode deixar de discernir um fanatismo populista metido em tudo e a pretexto de qualquer coisa. Basta entrar nos documentos para comprovar. E é que o tema “odor” e “povo” estão obsessivamente no subconsciente de Bergoglio, seja quando discerne a vontade de Deus no clamor do povo e o odor dos homens[18] ou quando surge como critério para alguém ser alçado ao bispado[19]. Por isso mesmo, muitas coisas devem sair da esfera clerical, como a direção espiritual que para Francisco “é um carisma de laicos” [20]. Para ele, a Igreja está viciada com o “hábito pecaminoso” de ser autorreferencial[21], tem que acabar com o conceito de preeminência papal[22] e com a ideia da cúria romana forjada pelos signos da sabedoria eclesial, pois ela seria a “lepra de papado” [23]. Nesse sentido é muito evidente a ojeriza que Francisco tem de todo a cúria, chegando ao ponto de ignorar as advertências da Congregação para a Doutrina da Fé[24]. Francisco quer uma Igreja democrática...Embora nos perguntamos se deseja isso mesmo...já que não fica muito claro que Francisco renuncie facilmente ao poder nem aos meios de coerção que, tacitamente, parece criticar. Muitos aqui poderiam falar dos efeitos misericordiosos das “cacetadas” pontifícias contra aqueles que ainda mostram alguma relutância ao novo estilo da Igreja promovida por ele. E aqui surge o conceito de “sinodalidade” que é caro a Francisco, que segundo o qual deve estar em sintonia com ele para praticá-lo em sua integridade[25] (uma vez mais, sinodalidade curiosa que propõe cacetadas aos que ousam expressar opiniões contrárias). Oficialmente, se pode dizer que com a fundação do famoso G9, Francisco marcou “o início de uma Igreja horizontal” [26], que para ele se esboçou no Concílio Vaticano II[27]. Será o começo do caminho do “rebaixar-se” que ele deseja para a Igreja[28]? E como sinal de “rebaixamento”...o começo da larga série de pedidos de perdão como o incompreensível mea culpa aos aborígenes da América por haver-lhes levado a fé em Jesus Cristo[29]. E outros tantos que com certeza veremos adiante...como já fez com protestantes, árabes e judeus. Chegará a pedir perdão a ONU pelos resíduos de lixo que os católicos produzem? Tudo é possível com Francisco.

3. Inovações surpreendentes

Claro está que esta visão bergogliana da sociedade e da Igreja teria que ter graves consequências sobre o dogma católico. Basta dizer que Francisco adota como sua a ideia modernista da “própria construção da fé” [30], assim como expressa claramente outro conceito – tão característico de todas as heresias – ao objetar contra os que buscam “claridade e segurança doutrinal” em seu pensamento[31]. Sem disfarces afirma que nunca se pode falar de “verdade absoluta” e que “Deus é o espírito do mundo e cada um pode interpretá-lo a sua maneira” [33].

Mas se fosse só isto...nem a figura santíssima de nosso Salvador escapa das implacáveis interpretações de Francisco que não vacila em minar os fundamentos mais profundos da fé e da piedade católicas ao apresentar um Jesus Cristo irreal, modelado segundo aquelas que para ele seriam as conveniências do momento. Assim, sem rubor, chega a proclamar imperfeição de Jesus Cristo em sua escapada ao Templo afirmando que por essa “aventura provavelmente Jesus também teve de pedir perdão a seus pais” [34], que veio ao mundo para “aprender a ser homem” [35], e claro está, que Jesus nunca se encolerizava com nada[36] e que em tudo era misericórdia[37]. O curioso em tudo isto é que Francisco só admite a cólera com o que não aceitam seu sistema de pensamento. Mas tem mais. Com tristeza temos que mencionar uma de suas afirmações que mais tem confundido a fé popular: “Não é verdade que Jesus multiplicou os pães e os peixes” [38]. Este estudo tem sido um dos mais difundidos do Denzinger-Bergoglio e nele demonstramos a oposição de Francisco ao todo o Magistério precedente e a Tradição da Igreja. E para culminar, mais aspectos que chocaram aos pobres paroquianos: sua ideia luterana de “Pão da Vida” [39] e seu conceito particular de que sem os pobres – de novo!! – a mensagem de Jesus Cristo é incompreensível[40].

Mas se Francisco tem uma ideia tão pessoal de Jesus Cristo cabe-nos perguntar que ideia terá do próprio Deus. Aqui entramos em um terreno lúgubre e que seguramente causará espanto aos nossos leitores. Muitos poderiam pensam que se trata de pensamentos sem consequência, próprios de um portenho (habitantes da província de Buenos Aires, Argentina) com sua idiossincrasia particular. Oxalá que seja isso...porque de outra maneira tem que se reconhecer que estamos diante de algo inadmissível em qualquer pessoa que queira professar a fé católica.  Como interpretar as dúvidas sobre a onipotência de Deus? [41] Que pensar quando defende a teoria da imanência divina em todas as coisas?[42] Que imaginar quando afirma não existir “Deus católico” [43] e que católicos e muçulmanos rezariam ao mesmo Ser?[44] Qual seria a explicação para a sua ideia de que católicos, judeus e muçulmanos dão glória ao mesmo Deus[45] ou quando pede aos não crentes “boas ondas” de oração? [46] Só isto já bastaria para justificar infinidade de inquietudes sobre Francisco...mas o que é mais inquietante é que é apenas o começo.

4. Um Papa para todas as consciências

A esta altura do campeonato, leitor, se és um católico como Deus manda deverá estar tonto. É quase impossível uma quantidade tamanha de deformações de nossa religião. Mas talvez seu sentimento seja diverso e está nos odiando por haver perturbado sua consciência. Tudo isto é uma grande calúnia, dirás você consigo mesmo. Mas a verdade é bem diferente. Como já nos conhece, sabes que não inventamos nada e nossos estudos estão fundamentados na doutrina do Magistério inalterável da Santa Igreja. Sabes que examinamos bem todas as afirmações de Francisco em fontes oficiais e na sua integridade. E que de nada serve o que estás a pensar: “são afirmações tiradas fora do contexto”. Tenha um pouco de honestidade intelectual e confira você mesmo. Basta ver as notas (necessariamente muitas) deste artigo para ver a origem de cada afirmação de Francisco e seu estudo correspondente. Fizemos um estudo a cada três dias durante um ano...

Mas como julgar, dirás, aquele que se declarou incapaz de julgar até os próprios gays? [47] Como não ver em Francisco alguém tão humilde que até renuncia sua condição de mediador entre Deus e os homens? [48]  A verdade...Francisco tem ido longe demais. E depois de três anos os católicos não podem deixar de ver que “o rei está nu”...Sentimos por você, admirador de Francisco. E justo agora que teu problema com a eternidade estava tão fácil. Agora que te prometeram que todo mundo se salva[49], que a condenação eterna está fora do caminho da Igreja[50], que Deus não condena nunca[51] e que o Juiz – o mesmo que invocamos no Credo – já não nos julgará[52]. E se apesar de tudo isso morresse impenitente, Francisco te garantiu que tua alma não será castigada. Para Francisco, o castigo é a aniquilação da alma e nada mais[53]. Exagero? Calúnia? Pare de fazer juízos temerários e leias as notas disponíveis no final...

5. Terríveis Confusões

Para Francisco em relação às leis da Igreja deve-se pensar assim: Não se deve adotar uma doutrina monolítica[54], e quando a Igreja quer tomar posse das consciências ela age como os fariseus[55]. Para ele, a consciência é livre[56].

O que é piedade para Francisco? Pergunta realmente difícil. Se já considerava o jejum eucarístico como uma ditadura da Igreja[57], não devemos estranhar que considere retrógrada a devoção aos ramalhetes espirituais[58] ou ainda que critique o ascetismo, o silêncio e a penitência como meros desvios[59].  Mas não apenas em sua exterioridade Francisco vê a devoção popular de forma diferente. Para ele, por exemplo, a essência da Primeira Comunhão é entrar em comunhão com outras confissões cristãs não católicas[60] e a oração sempre será algo abstrato, pois jamais se pode saber como e de onde se pode encontrar Deus[61] com total segurança[62]. E os assuntos mais profundos da vida espiritual? Como Francisco entende o sofrimento, por exemplo? Surpreendentemente em relação a este aspecto tão próprio de nossa fé e do “vale de lágrimas”, Francisco diz que deve-se desafiar Deus com um “por quê?”, pois diante do sofrimento não existem explicações[63].

Todavia há ainda muito mais. O que é a graça de Deus que recebemos no batismo? Para Francisco é muito simples: é uma “luz” existente na alma e o homem nunca poderá saber se é tocado por ela ou não[64]. E será que com o batismo somos filhos de Deus? Para Francisco há conformidades. Segundo ele afirma, os ateus ou membros de qualquer religião também são filhos de Deus[65]. Isso ocorre porque Deus está na vida de qualquer pessoa e até “o mais blasfemo” é amado por Deus[67]. Isto suscita uma grande inquietude e não é para menos. Do que serve então a Igreja Católica? A grande mensagem de Francisco é muito clara e afirma que qualquer ateu pode fazer o bem[68]. Em resumo, você é alguém que evita o pecado? Já ouviste dizer que “o lugar privilegiado para o encontro com Jesus Cristo são os próprios pecadores”? Não é Lutero quem diz isso, mas Francisco[69].
Mas, bom, dirás que pelo menos nós devemos reconhecer que Francisco é muito mariano. E te diremos que para alguém que consegue deformar a ideia de Deus e de Jesus Cristo, não será difícil fazer isso com a Virgem Imaculada e afirmar sem ruborizar  que a pobre foi “enganada pelo anjo São Gabriel” [70]. Mas não pense que aqui Francisco chegou a seu limite. Não. Desde que começamos o Denziger-Bergoglio podemos assegurar que a fonte de Bergoglio é inesgotável. E se um dia pode defender que o Divino Ofício é uma oração judia[71], depois nos surpreende com a fórmula da felicidade perfeita (viver e deixar viver)[72], com a equiparação da catequese a yoga zen[73] ou com a afirmação de que a pena de morte é contrária à justiça e à misericórdia divinas[74].

6. Destruição da Família

Mas está claro que todo esse ideário de Francisco se reflete sobre a sua peculiar concepção de família. Basta recordar todo o caso que nos chegou com o Sínodo. Para ele, família é um conceito cultural[75], e considera a possibilidade de que possa existir “ruptura do vínculo matrimonial” [76]. Tampouco rechaça os matrimônios de segunda união[77] e declarou que não gosta que chamem de união irregular[78]. Por isso mesmo ele vê como normal os jovens de hoje preferirem viver juntos a se casarem[79] e afirma claramente que a Igreja não tem receitas para resolver os problemas[80]. E ainda que  para Francisco há uma coisa muito clara: “para ser bom católico não faz falta ter filhos como coelhos” [81]. E que consequências práticas tem isto para Francisco? Muito simples: Francisco alimenta a mesma ideia que depois nega, de querer voltar a abrir as portas dos sacramentos para pessoas divorciadas em segunda união[82], e começa recordando que a exclusão dos sacramentos deles é um castigo, pois afirma que os sacramentos devem ser vistos como um remédio e não como um prêmio[83]. Segundo ele, a Igreja nunca pode fechar portas para ninguém, incluindo os sacramentos[84], pois afinal de contas, o Senhor “perdoa sempre, jamais condena” [85].
O que pensar da ideia de pecado que tem Francisco? Para ele, o pecado não é tanto uma ofensa a Deus[86], senão um motivo de gloria[87]. Para Francisco o conceito de pecado é relativo pois quem dita o que é bom ou ruim é a consciência de cada um[88]. E logo afirma (falando para religiosos!) que se alguém não peca não é verdadeiramente homem[89].

7. A nova moral

Vamos para as pequenas coisas. Francisco quer substituir o incenso pelo “odor das ovelhas”. É justamente em termos de pastoral que ele quer se mostrar como único em dois mil anos de história da Igreja. E como não podia faltar, na base de sua ação pastoral se encontram principalmente os pobres, que para Francisco são o próprio “Cristo sofredor” [90], a própria “carne de Cristo” e uma nova “categoria teológica” [91]. Francisco declarou se sentir feliz se chegasse ao ponto de vender todas as igrejas para dar comida aos pobres[92] pois para ele caridade material é uma sinal de amor mais profundo que o próprio estudo dos teólogos[93]. Por isso para ele os piores males de nossa sociedade são o desemprego, a pobreza e a corrupção[94] – síntese bastante demagógica – e a sua solução para formar a juventude é digna de um presidente de uma ONG não confessional: educação, esporte e cultura[95]. Por tudo isto não se deve estranhar que afirme que não é necessário insistir nos temas morais como aborto, homossexualidade ou anticonceptivos, pois por serem tediosos esses temas acabariam por cansar as pessoas[96], tanto mais que não se deve reprovar quem atua de maneira ilícita em temas morais condenados pela a Igreja[97]. No fundo de toda essa atuação “pastoral” de Francisco se vislumbra o desejo de mudar dentro da Igreja o modo de se relacionar com Deus e com os demais[98], insistindo nas enigmáticas “periferias existenciais”, não condenando nunca ninguém a nada e estando disposto a “sujar as mãos” [99]. Não estranha que sempre o satisfazer as necessidades materiais está por cima das demais: se preocupa sobretudo com acabar com a fome e em educar, sem se importar com a religião[100]. Francisco insiste usque ad nauseam com a ideia de que não se deve fazer nunca nenhum tipo do que chama de “loucura de proselitismo” [101]. Ele compartilha da ideia de muitos que, desde os anos 60, insistem que a Igreja deve voltar a suas origens, pobre e pequena, como a levedura que fermenta a massa[102]...uma massa fermentada que, contudo, tem que se rebaixar. Curiosa contradição.

8. Pontes ao invés de muros

As fundações desta nova filosofia bergogliana se encontram naquilo que Francisco denomina de “cultura do encontro”. O que é exatamente isso? É simplesmente abraçar aos demais sem nenhuma opinião prévia[103], renunciando a qualquer princípio ou axioma que pudesse ferir o outro. Segundo Francisco, durante séculos a Igreja tem construído muros, chegou a hora de construir pontes, sem excluir nada, seja ateu, divorciado de segunda união ou socialista[104]. Uma Igreja fechada (como qualquer comunidade[105]), para Francisco, é uma Igreja enferma[106], pelo o que nós concluímos que graças a ele a Igreja sairá de sua enfermidade que tem custado mais de dois mil anos de suposta inação.

Não é esta uma missão para um novo “Messias”?

Francisco quer estabelecer a ideia de que o Evangelho não se pode difundir sem doçura[107]. Assim, o resultado é voltar a ler o Evangelho, mas desde o ponto de vista do mundo atual[108] e será o começo do caminho para a paz de toda a humanidade[109].

Será que se pode imaginar uma missão messiânica mais surpreendente?

9. Ecumenismo

Uma das primeiras declarações de Francisco como bispo de Roma foi “a firme vontade de prosseguir o caminho de diálogo ecumênico” (Sala Clementina, 20 de março de 2013) e impôs desde o começo como algo que está na base de um mútuo benefício “no qual ambas as partes encontram purificação e enriquecimento” [110]. Ao lado da doutrina do “encontro” que acabamos de comentar, o ecumenismo será o signo de uma nova época dentro da Igreja, a era de Francisco. Seus gestos, suas atitudes diante de qualquer confissão terão o sinal de seu reconhecimento e admiração, seja pedindo orações[111] ou benções[112] que ele reconhece por inteiro como válidas e até valiosas. E sem dúvida alguma, o ecumenismo tem sido o âmbito em que Francisco tem suscitado mais perplexidades pelo explícito de sua doutrina contrária ao Magistério da Igreja Católica. Para melhor compreensão da matéria vamos dividir o assunto em três pontos principais.

a. Ecumenismo com as igrejas cristãs

Francisco parte da imagem de um “poliedro” para expressar sua ideia do conjunto de todas as religiões cristãs que se separaram da Igreja Católica. Deve-se dizer que o tal “poliedro”, na boca do Francisco, nos parece como algo de conteúdo esotérico e de gosto New Age. Essa figura forma uma unidade em que cada lado é distinto e necessário para sua existência. Na teologia ecumênica de Francisco, a divisão entre as diversas igrejas protestantes é um “escândalo” que não pode continuar[113]. Escândalo este que a Igreja Católica teria muita culpa por não haver aceitado a individualidade de cada lado. Não se trata, portanto, de buscar uma unidade na catolicidade. Para Francisco, cada qual deve conservar sua “originalidade”. Assim se obtém o poliedro perfeito. Nada se dissolve e tudo se integra. É a confluência de todas as parcialidades. Segundo Francisco, isto seria um desejo do Espírito Santo pois a uniformidade, em sua visão, “não é católica”. Portanto, em relação às confissões cristãs o objetivo não seria buscar o “pensar do mesmo modo, nem muito menos perder a identidade” [114]. Quem não se recorda do condeito de “ecumenismo de sangue” tão repetido por Francisco em diversas circunstâncias? É a mesma doutrina baseada na ideia do “martírio” [115]. Mas para realizar tamanha tarefa, os teólogos tem muito pouco que opinar. Para Francisco será obra do Espírito Santo e não de teologia[116], já que para ele as diferencias entre católicos e protestantes são meramente de “interpretação” [117]. Basta recordar o agrado de um cálice católico que ofereceu a um pastor luterano enquanto afirmava essa aberração dogmática.  Se já em Buenos Aires Francisco trabalhou e rezou com os protestantes para conseguir sua aceitação entre o povo fiel[118], anos mais tarde, como bispo de Roma, chegou ao extremo de referir-se como “estimada irmã” a uma pseudo bispa luterana e colocando-se como “irmão na fé” [119]. Mas é sempre a mesma sequência: enquanto é invariavelmente pródigo em adulações aos “irmãos separados”, desde março de 2013 os católicos que desejam seguir a verdadeira religião são tratados com uma dureza e frieza muito dolorosa. Ecumenismo de pontes, ecumenismo de “encontro”, ecumenismo de abraços, sorrisos e concessões. Sim, com todos, menos com os católicos.

b. Ecumenismo com Judaísmo e Islamismo

Além de mostrar sua grande humildade, seja nas capas das principais revistas do mundo ou recebendo grandes personalidades do mundo dos espetáculos, Francisco aprecia ficar bem com todos. Em relação ao Islã sempre quis nos ensinar que não devíamos desconfiar da boa vontade dos seguidores dessa religião. Deseja a qualquer preço, evitar prevenções contra os seguidores de Maomé, assegurando que o Islã é uma religião amiga e o Corão é “um livro profético de paz” [120]. É verdade que o panorama político internacional, com a crescente constatação da violência por parte dos muçulmanos, deixa as coisas muito complicadas. Mas suas digressões com Maomé lhe levar a fazer declarações de amor que deixa estupefata qualquer alma batizada. Surpreende a leviandade com que afirma que católicos e muçulmanos “compartilham da  mesma fé” [121], que o Islã conserva parte dos ensinamentos cristãos, que Jesus Cristo e Maria são objeto de profunda veneração pelos muçulmanos[122], que com a Bíblia ou com o Alcorão se adora o mesmo Deus[123] e que o Ramadã é fonte de frutos espirituais e as orações dos muçulmanos dão glória “ao Altíssimo” [124]. Cremos que nenhum Grã Mufti seria capaz de defender tais ensinamentos...

Contudo, é em relação ao Judaísmo que Francisco é mais contundente e claro. Não deve nos surpreender que mal tinha acabado de ser eleito pelos cardeais, no mesmo dia 13 de março, escreve a Ricardi Di Segnil, Rabino chefe de Roma: “No dia de minha eleição como bispo de Roma e pastor da Igreja Universal o saúdo cordialmente [...] Confiando na proteção do Altíssimo espero vivamente poder contribuir com o progresso experimentado nas relações entre judeus e católicos a partir do Concílio Vaticano II, com um espírito de colaboração renovada e ao serviço de um mundo que cada vez mais está em harmonia com a vontade do Criador” (VIS). Essas palavras demonstram o que é constante em Francisco nas relações ecumênicas com os judeus: ignorar o único Redentor e Salvador. Na nossa lista de estudos está realmente contundente e claro quanto à heterodoxia de Francisco ao defender a ideia condenada de que a Antiga Aliança está vigente e que o judaísmo é um caminho válido para salvação[125].

c. Ecumenismo com os cristãos

Mas Francisco vai mais longe. Ele não estará tranquilo até abarcar o mundo inteiro, e quando conseguir, talvez o mundo fique pequeno. Por isso ele é “Papa dos sem papa”. É que para ele “cada um tem o direito de seguir a religião que acredita ser verdadeira” [126], e defende como um benefício a laicidade[127]. Os seguidores de qualquer religião do mundo devem estar satisfeitos com Francisco, pois segundo ele “a ação divina dos não cristãos tende a produzir signos, ritos, expressões sagradas que possuem uma experiência comunitária que leva a Deus” [128]. Por isso que expressou seu desejo de impulsionar e aprofundar a busca de tudo que há em comum entre todas as religiões[129]. Alguém pode duvidar que tal ideário parece lançamento de candidatura para dirigir a tão procurada religião universal? É aqui que, no empenho ecumênico de Francisco, sem dúvida prioritário em suas metas, se vai esboçando uma estranha missão de aires messiânicos, em que Francisco adquire traços de um líder global e absoluto de uma pan-religião, amálgama não apenas de todo tipo de crença, se não ideologias, modos de vida, etc. Será que veremos realizada? O tempo...e Deus...dirão.

Terminamos este artigo que resume um ano de Denzinger-Bergoglio com uma reflexão de futuro. Como dissemos no começo não é nosso objetivo ditar sentenças. Confiamos, isso sim, que alguém o faça. E o faça o quanto antes. Em que situação estará nossa pobre religião dentro de mais um ano? Se é pelo mesmo caminho melhor nem pensar...mas com a ajuda de Deus o Denzinger-Bergoglio seguirá seu trabalho de elucidar as consciências, recordando nosso sagrado Magistério. A nossos amigos de sempre agradecemos de coração todo o apoio que eles nos brindam para conduzir esse trabalho. Aos diversos sacerdotes que desejaram se juntar na nossa tarefa, com as traduções ao inglês e obtenção de documentos, nosso fraternal abraço.  A quem não concorda com nossa posição e queira nos combater os perdoamos sem rancor e dissemos a eles que sejam compreensivos e entendam que o único responsável pelo Denzinger-Bergoglio é o próprio Francisco: “Façam Bagunça!” [13].

Bênçãos.

Notas


2 comentários:

Vic disse...

Bem mais extenso e detalhado que "Um ano de pontificado, um ano de confusão" do renitência.org.
Tiveram um imenso trabalho para compilar tantos dados referentes ao pontificado do papa Francisco nesse período, e doravante seriam de eventuais acréscimos dentro do projeto.
Quanta polêmica deve existir nas mentes das pessoas, em geral (des)informadas pelas tvs e midia geral...

Anônimo disse...

É realmente um trabalho bem fundamentado e detalhadamente pesquisado. O que marca é a honestidade intelectual. As fontes deixam claro e até dispensam comentários. Não há como negar que estamos com um impostor no lugar mais sagrado da igreja. Algo dessa porte fazia falta. Meus parabens!