domingo, 15 de agosto de 2010

Escócia versus Estados Unidos



No dia 21 de dezembro de 1988, ocorreu um atentado terrorista em uma avião da Pan Am (vôo 103), que ia de Londres para Nova Iorque. O atenatdo ocorreu sobre a cidade escocesa de Lockerbie, por isso ficou conhecido como a Bomba de Lockerbie. Por sinal, além de todos os passageiros do avião terem morrido, 11 pessoas da cidade de Lockerbie também morreram com a queda do avião. No total, 270 pessoas perderam a vida.

Depois do atentado, muita investigação foi feita pela Grã-Bretanha e pelos Estados Unidos. O único que foi preso foi Abdelbaset Ali al-Megrahi, agente secreto da Líbia e chefe de segurança da companhia aérea desse país. Al-Megrahi recebeu a pena de prisão perpétua dos juízes escoceses, em 2001, mas foi solto no dia 20 de agosto do ano passado, porque ele está com câncer de próstata e, segundo os médicos, iria morrer logo, possivelmente em três meses. Os juízes da Escócia alegaram compaixão, soltaram o terrorista e o enviaram para Líbia, onde foi recebido com festa! Nesta semana, Al-Megrahi fará um ano de vida depois de solto pelos escoceses.

É aí que entra a briga entre Escócia e Estados Unidos.

O primeiro-ministro do Reino Unido (do qual faz parte a Escócia) David Cameron se posicionou a favor dos americanos, ao dizer que foi um erro soltar o terrorista. Os Estados Unidos convocaram Kevin MacAskill (secretário de justiça da Escócia) e Alex Salmond (primeiro-ministro da Escócia) para prestar esclarecimentos no Congresso americano. Os dois negaram a convocação. Depois, parlamentares americanos quiseram ir à Escócia se encontrar com  eles, mas os escoceses negaram recebê-los. Os Estados Unidos também acusam a British Petroleum de ter participação na soltura de Al-Megrahi, para supostamente conseguir explorar petróleo na Líbia. A companhia nega.

O terrorista realmente não teve compaixão para com as 270 vítimas e seus familiares. Além disso, nem todos os médicos que avaliaram Al-Megrahi consideraram que ele morreria em três meses. Mas será que a Escócia agiu errado?

Quem levantou a voz em favor da Escócia, esta semana, foi o cardial católico escocês Keith O’Brien. Ele argumentou que preferia morar em um país em que a compaixão fizesse parte das leis, ao invés da vingança e da pena de morte.

A anistia internacional diz que os Estados Unidos é o quinto país em penas capitais, com 52 mortes em 2009. Perde para três islâmicos (Irã, Iraque e Arábia Saudita) e para a China (recordista extrema nessa prática) .  Vejam números abaixo.

Eu acho que o cardeal está certo em sua crítica às penas de morte nos Estados Unidos e também ao modo de agir dos parlamentares americanos, mas acho que a Escócia deveria ter sido mais estrita, imposto mais dificuldades para libertar Al-Megrahi, procurado mais certeza médica. Não é apenas uma questão de vingança, mas de respeito às vítimas.

O pior, no entanto, e o que torna ainda mais difícil acreditar que muçulmanos desejam a paz no mundo, é a festa na Líbia para um assassino de 270 pessoas. Isso deveria ser o foco dos Estados Unidos. O papel de bobo na discussão fica com o David Cameron, deveria, pela sua posição, pelo menos ter trazido argumentos para defender a Escócia.

Execuções em 2009 -
fonte: Anistia Internacional

2 comentários:

Francisco disse...

Os juizes agiram dentro da lei,já que na Escócia existe esta prerrogativa.Por outro lado a medicina não é uma ciência exata,não vou entrar no campo da má fé,e pode desencadear uma situação semelhante a do condenado a fuzilamento que sobrevive ao ato.

Pedro Erik Carneiro disse...

Concordo com você, Francisco, e gostei bastante de sua comparação com o condenado a fuzilamento.

Abraço,
Pedro Erik