Para quem viaja ao exterior e procura conhecer o que se passa nos canais de televisão lá fora vai perceber de cara o quão semelhantes eles são. Sei, muitas vezes os programas são franquias de sucesso no mundo rico e o mundo desenvolvido simplesmente compra a franquia e passa por aqui, mas programas como o do Jô Soares não precisavam imitar tanto Jay Leno ou David Letterman, por exemplo, usando até canecas na mesa, como os dois. Além disso, reconheço o medo das TVs em perder dinheiro e não arriscar em programas originais. Mas a semelhança são muito exageradas, fazem a gente odiar televisão em qualquer lugar do mundo.
No Brasil, por exemplo, a originalidade se restringe ao futebol. Passamos futebol na TV praticamente 24h por dia. E olha que os nossos melhores jogadores estão no exterior. Atualmente, não há nenhum programa brasileiro que eu goste de assistir, me volto para a TV a cabo.
A charge acima de Brian Farrington do site Townhall faz uma crítica a televisão americana. Enquanto há uma crise perigosa no mundo árabe, a tv discute as loucuras, os palavrões e o uso de cocaína do ator Charlie Sheen. Que Brian não visite o Brasil, onde praticamente todos os dias a última parte do Jornal Nacional é dedicada ao futebol.
Mas há diferenças importantes. E a fonte dessas diferenças está formação da população. Nos Estados Unidos, o que é muito bom é que as TVs a cabo têm muito jornalismo de opinião. Os canais jornalísticos brasileiros são muito fracos, sempre procuram ficar no meio termo. Imagino, por exemplo, a Fox News noticiando que o Tiririca foi nomeado pelo partido para fazer parte da Comissão de Educação e Cultura. Sei, o Tiririca não faria sucesso por lá e nem seria eleito pelo povo, mas vamos imaginar. O canal e o próprio povo iria insistir em saber se realmente o cara sabe ler e escrever, iria entrevistar os advogados, os juízes relacionados ao caso, iria acompanhar cada documento que passa pelo Tiririca, iria entrevistar os amigos, os irmãos, os colegas de profissão, procurar um documento qualquer escrito por ele, etc. Aqui, a gente tem medo de investigar a vida de políticos, como se a gente devesse algo a eles e não o contrário. Nos Estados Unidos, quando um político vai a televisão, ele pode esperar ser confrontado com perguntas difíceis e discutir fortemente e agressivamente com o jornalista.
No Brasil, não corre nenhum risco. Sarney na televisão é só sorrisos. Uma grande diferença entre os dois países, é que no Brasil, nós não temos partidos ideologicamente diferentes, são todos de esquerda, e a televisão brasileira reproduz isso. Nos Estados Unidos, as TVs refletem as diferenças entre democratas e republicanos, o que é ótimo. Você sempre pode encontrar um programa jornalístico realmente de oposição.
No Reino Unido, quem já passou um tempo por lá e viu a TV aberta, vai ficar admirado pelo grande número de programas em que há disputas de conhecimento. Há programas que confrontam universitários, que dão milhões para quem sabe mais, que estabelecem uma disputa por grupos de pessoas sobre os mais diversos assuntos, etc. Isso é muito bom, estimula o conhecimento. No Brasil até o show do milhão, que é importado do Reino Unido, acabou, talvez pelo prejuízo que deu ao Silvo Santos. Mas no Reino Unido há problemas, o jornal da BBC, TV é financiada pelo população (que loucura!), é muito parecido com o Jornal Nacional, é politicamente e ideologicamente de esquerda, e domina a TV aberta no país. Morando lá, eu me refugiaria na TV a cabo também. Talvez isso seja explicado também pela situação política do país, os conservadores estão unidos com a extrema esquerda. Não há diferenças ideológicas muito grandes. O que acontece no Reino Unido é muito semelhante ao que ocorre na Itália ou França, apesar do Reino Unido ter muito mais programas de conhecimento.
No mundo árabe, que é dominado por ditaduras, a TV Al Jazeera se destaca, com uma vertente que fala aos corações do povo da região: ódio a Israel e aos americanos.
Em suma, precisamos de oposição forte até para ter bons programas de televisão.
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