O Egito tem 95% de sua população sendo muçulmana, então, logo de cara percebe-se que o potencial da Irmandade para ser uma força política é total. A Irmandade foi fundada em 1928 por um professor de escola chamado Hassan al-Banna. A Irmandade durante praticamente toda a sua existência foi considerada ilegal, especialmente depois da Revolução de 1952, com Nasser, Sadat e Mubarak, apesar de sempre se mostra pragmática na política e no islamismo. Ela apresenta-se com uma grande força oposicionista, mas não é a única, há muitos muçulmanos seculares no Egito, além de grupos radicais islâmicos.
Na formação da Irmandade, ela defendia o renascimento do islamismo no país e o nacionalismo egípcio, tentando conter o secularismo e a modernidade que vinha do ocidente. A Irmandade aceita de forma ecumênica todas as tendências do islamismo.
A partir dos anos 30, a Irmandade iniciou um grupo para-militar para atacar a ocupação britânica no país. Durante a Segunda Guerra, ela se alinhou com os nazistas contra a dominação britância. Até o final dos anos 40, a organização era legalmente constituída, mas os ataques terroristas começaram a atrair inimigos dentro do governo egípcio. O assassinato do primeiro-ministro Nukrashi Pasha em 1948 significou um ponto de inflexão e levou a Irmandade para a clandestinidade. Al-Banna condenou o assassinato, mas ele também foi assassinado em 1949, aparentemente por agentes do governo. Assumiu Hassan al-Hudaybi que era juiz de direito e não tinha uma proximidade com os membros da Irmandade apenas com al-Banna. Al-Hudaybi perdeu o domínio sobre os membros mais radicais.
Em 1952, a Irmandade apoiou a Revolução de Gamal Nasser. Inicialmente Nasser apoiou a Irmandade, mas logo a viu como inimiga no domínio do poder e a levou a para a ilegalidade em 1954. Na tentativa de assassinar Naser em outubro de 1954, vários membros da Irmandade foram acusados, presos e torturados, incluindo al-Hudaybi.
Foi nesse período que surgiu o principal líder teórico da Irmandade, Sayyid Qutd. Ele era um escritor que tinha morado nos Estados Unidos e condenava os costumes ocidentais, defendendo que o Islã deveria dominar não apenas o mundo árabe mas salvar o mundo. A idéia de combater o ocidente em todas as frentes, inclusive dentro dos próprios países, conhecida como jihadismo, tinha seu líder teórico. Qutd argumentava pela derrubada completa do regime de Nasser. Foi preso (foto acima) e torturado. Qutd criticava a Irmandade dizendo que ela não seguia o Islã e tinha aceitado as idéias ocidentais. Ele escreveu o livro Milestone, que influenciou fortemente Osama Bin-Laden. Qutd foi sentenciado a morte em 1966 sob a acusação de querer derrubar o governo de Nasser.
Depois de duas décadas na ilegalidade mas certo pragmatismo na política, a Irmandade acabou sendo superada por grupos mais radicais como Tandheem al-Jihad e Gamaa al-Islmaiyah. Sadat e Mubarak nunca legalizaram a Irmandade, mas a toleraram e, de certa forma, a apoiaram as suas ações, atacando os grupos radicais. O Tandheem al-Jihad está por trás do assassinato do presidente Anwar Sadat em 1981, por não aceitar os acordos de paz entre Egito e Israel.
A Irmandade espalhou-se pelo mundo árabe, com ramos na Síria, Jordânia, Palestina, Paquistão, Iraque, norte da África, etc. Esses grupos agem de forma independente, e alguns são mais radicais que a Irmandade, como os ramos da Síria e da Palestina, que acabou gerando o Hamas. A percepção do mundo, no entanto, não consegue distinguir o pragmatismo político da Irmandade com os grupos radicais islâmicos que ela acabou inspirando.
Cabe dizer que a Irmandade, por meio de candidatos independentes, conseguiu, nas eleições parlamentares de 2005, aumentar o número de suas cadeiras no parlamento em 5 vezes. Mas nem a Irmandade nem qualquer partido político do Egito jamais passaram pelo voto popular para alcançar a presidência. Se ocorrerem eleições no Egito para chefe de governo, não se tem idéia do que pode acontecer.
Além disso, a saída de Mubarak pode gerar pressão para acabar o banimento político da Irmandade. Esse banimento poderá ser ampliado para as dissidências dela e daí as dúvidas aumentarão sobre o futuro político do Egito. E não estamos falando das relações com os grupos islâmicos dos países vizinhos e dos países árabes.
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