domingo, 6 de fevereiro de 2011

100 Anos de Reagan - André V.N. Camargo




Caros, neste domingo, faria 100 anos, se estivesse vivo, Ronald Wilson Reagan.  

Convidei um amigo que me honra sendo leitor do meu blog para fazer um texto sobre isso. Eu jamais faria melhor. O texto está sensacional e, por coincidência, lembra o discurso de Reagan que Sarah Palin também lembrou ontem (A Time For Choosing). Vocês podem ver o discurso clicando aqui.

Abaixo, o excelente texto de André Camargo.

"The last thing George said to me, 'Rock', he said, 'sometime when the team is up against it and the breaks are beating the boys, tell them to go out there with all they've got and win just one for the Gipper'."

Esta fala pertence a Knute Rockne, um lendário treinador de futebol americano. Após ter sido proferida na vida real, foi imortalizada no filme "Knute Rockne, All American", em um discurso de "Rock" (interpretado por Pat O'Brien) para motivar o seu time. Ele estava se referindo a George Gipp, o melhor jogador da equipe que, algumas semanas antes, havia falecido de uma grave infecção na garganta.

O que o jovem ator que interpretou Gipp não sabia era que aquela simples frase iria acompanhá-lo pelo resto da vida. Desde aquele momento, ele recebeu a alcunha de "The Gipper" (que poderia ser traduzido mais ou menos como "O Trapaceiro"). Nada poderia ser mais irônico se analisarmos o caráter e a decência daquele homem.

Ele era um bom ator. Sempre dava o melhor de si nas filmagens. Sua atuação geralmente conseguia salvar alguns filmes que, de tão ruins, não sairiam do anonimato. Era talentoso mas, em um meio extremamente competitivo, cuja concorrência era composta por nomes como John Wayne, Clark Gable, Cary Grant e outras lendas, não conseguia se destacar.

Talvez seu filme mais famoso seja aquele que ele jamais chegou a fazer. Em 1943, ele estava escalado para ser o protagonista, ao lado de Ann Sheridan, de um drama romântico chamado "Everybody Goes To Rick's". Entretanto, em uma mudança de última hora, Ann Sheridan foi substituída por Ingrid Bergman e ele foi trocado por Humphrey Bogart. O diretor também resolveu mudar o nome do filme, virou "Casablanca". Se ele tivesse estrelado esse filme, provavelmente não teria seguido o caminho que seguiu. Mas, para nossa sorte, quis o destino que perdêssemos um grande ator, mas em troca ganhamos um grande estadista.

E foi bem cedo que ele mostrou interesse pela política. Como o pai era democrata, resolver seguir o mesmo caminho. Pode-se dizer que ele era um liberal de Roosevelt, até o início da década de 1950. Filiou-se ao Partido Democrata quando acabara de ingressar na faculdade. Suas boas relações políticas garantiram-lhe a cadeira de presidente do Screen Actors Guild (SAG), que é o sindicato dos atores. Mas é claro que, em algum momento, quando se trata de pessoas esclarecidas, esse esquerdismo inicial da juventude vai se dissolvendo e dando espaço para um pensamento mais maduro e coerente.

Eu poderia dizer que três fatores foram vitais para a sua transformação. A primeira delas foi o conflito com os comunistas infiltrados no sindicato. Apesar de liberal, ele era um anti-comunista ferrenho. Sua posição como presidente do sindicato acabou gerando diversos atritos que acabaram culminando em ameaças de morte. Para poder se defender, ele acaba denunciando diversos membros do Partido Comunista para o Comitê de Atividades Anti-Americanas, na época chefiado por Joseph McCarthy.

Esses acontecimentos geraram seu gradual afastamento dos democratas. Em 1952 e 1956, ele discordou da escolha do Partido, Adlai Stevenson, e discretamente apoiou o republicano Eisenhower. Também por essa época, ele resolveu se afastar do sindicato e aceitou um emprego na General Electric. E este foi o segundo fator. Seu novo contato com aquele meio o estimulou a repensar suas posições políticas e a abrir mão de seu liberalismo. Finalmente, seu casamento com a também atriz Nancy Davis, de tendências conservadoras, foi o que fez com que ele desse as costas a seus antigos princípios."

Em 1960, ele colabora ativamente na campanha de Richard Nixon. Dois anos depois, pede a sua desfiliação do Partido Democrata e junta-se oficialmente aos republicanos. Aproximando-se da ala conservadora do Partido, ele torna-se amigo de Barry Goldwater e de William F. Buckley Jr.

Nas eleições de 1964, os conservadores conseguem provisoriamente a maioria do Partido Republicano e indicam Barry Goldwater à presidência. Imediatamente depois disso, os democratas começam a mais suja campanha de difamação da história americana. Goldwater, um patriota e libertário, defensor do small government e da decência do povo americano, foi retratado pela imprensa liberal como um direitista lunático, cripto-nazista, que levaria o mundo à guerra nuclear. Foi neste ambiente tão carregado que Ronald Wilson Reagan resolveu subir no palanque pela primeira vez, definitivamente enterrando qualquer vestígio de liberalismo que ainda poderia haver em sua mente. Ele quis fazer um discurso para defender Goldwater da humilhação que a imprensa lhe estava impondo.

Durante aquela breve meia hora, Reagan proferiu uma das mais perfeitas definições de liberdade e democracia já feitas. Ele deixou claras as obrigações da América para com o mundo, defendendo os valores que faziam daquele país o melhor do mundo: a justiça, o trabalho, a individualidade e a liberdade. Este discurso, "A Time For Choosing", é considerado um marco na política americana. Infelizmente, não foi o suficiente para impedir a massacrante derrota de Goldwater, mas o bastante para chamar a atenção do país para o agora ex-ator, que despontava como grande liderança.

Apenas dois anos depois, Reagan resolve se candidatar ao governo de um dos estados mais liberais da União: a Califórnia. Não seria tarefa fácil, principalmente quando o adversário é um demagogo cínico. O democrata Pat Brown teve o descaramento de colocar uma criancinha no colo e dizer o que pensava de seu oponente: "Você sabia que ele era ator? E você sabia que foi um ator que matou Abraham Lincoln? Imagine o que vai acontecer se ele tiver uma oportunidade!". Contra tudo isso, Reagan teve que usar o seu grande carisma natural. Uma arma bastante eficaz, uma vez que ele derrotou Brown por uma margem de 1 milhão de votos.

Durante todo o seu mandato como governador e em todas as suas tentativas para alcançar a Casa Branca, Reagan teve que lidar com o tradicional desprezo que a mídia sentia por ele. Antes ele era visto como um ator mediano, com razoável talento. Depois de entrar para o meio político (e do lado "errado" ainda por cima), sua imagem passou a ser a de um atorzinho canastrão de quinta categoria. Suas opiniões eram tidas como "radicais e estúpidas". Mas isso nunca fez com que ele perdesse o prestígio. Pelo contrário, conforme o governo de bem-estar social ia se estagnando por causa da imensa regulação estatal, mais pessoas davam ouvidos a ele. O "revólver fascista do Oeste", conforme descreveu o radical esquerdista Abbie Hoffman, ia pouco a pouco tomando os corações dos americanos que já não agüentavam mais financiarem a farra do governo.

Foi com esse espírito que o povo foi escolher seu comandante em 1980. De um lado, um político fraco e despreparado, que não era digno de um segundo mandato. Do outro, um líder eloquente e ávido para colocar a América de volta nos trilhos certos. A vitória de Reagan foi tão avassaladora que nem mesmo as urnas foram abertas e já era possível dizer o vencedor.

Durante os próximos 8 anos, os Estados Unidos viveriam uma época de grande esplendor que há tempos não se via. Não apenas na economia, mas também na força moral da nação. Os soldados americanos que voltavam para casa amargurados com o fracasso no Vietnã agora eram uma visão distante. A economia já havia se recuperado totalmente, o desemprego baixava a olhos vistos, o padrão de vida melhorava, o país agora não capitulava mais perante a URSS e passava uma imagem de força e segurança para o mundo,... Enumerar aqui todos os grandes feitos da Era Reagan seria um trabalho exaustivo. É claro que tudo isso só foi possível devido à presença de um líder carismático, preparado e forte, que encarnava a grandeza americana. Mas não são só os americanos que têm de agradecer a este grande homem. Toda a humanidade tem a obrigação de louvá-lo pela sua maior proeza: a queda do Muro de Berlim e o fim do comunismo.

Hoje, no centésimo aniversário do nascimento de Ronald Wilson Reagan, eu dediquei algumas horas do meu tempo para escrever esta homenagem. Mas, para que seu legado jamais seja esquecido, precisamos estar atentos para defender aquilo que Reagan mais prezava nos seres humanos: a liberdade. Atualmente, quando vemos a democracia e seus valores sendo ameaçados, seja por inimigos externos, como o chavismo ou o extremismo islâmico, ou por inimigos internos, como o lulismo, é necessário que tenhamos algum meio de defesa contra estes males. E é aí que entra a mensagem de Reagan, pois ela é um antídoto natural contra essa sandices ideológicas. Enquanto nós pudermos defender estes princípios, então podemos dizer que ganhamos mais uma para o Trapaceiro (win one more for The Gipper).

"I know in my heart that man is good, that what is right will always eventually triumph and that there is purpose and worth to each and every life."

André V. N. Camargo 

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