Outro dia, eu li em um blog muito conhecido na Inglaterra (Blog de Richard North) que nada no mundo se comparava a forma paroquial dos jornais ingleses. Ele argumentava que enquanto toda a Europa discutia e sofria com a crise econômica grega e a iminência de crise na Espanha, Portuga e Itália, os jornais ingleses discutiam miudezas da política doméstica.
O blogueiro está correto quando afirma que a mídia inglesa é paroquial, mas dizer que é mais paroquial do mundo não é verdade. Ele não conhece os jornais brasileiros. No Brasil, os grandes jornais até conseguem publicar alguma informação sobre política e economia internacional, mas o fazem copiando e recebendo material de outras fontes. Quando o assunto exige uma análise ou deve ser anunciado rapidamente, os jornais brasileiros são um desastre. Publicam informações e análises desencontradas.
Para mim, a grande justificativa para isso está na formação intelectual do povo brasileiro e também na formação profissional do jornalista. O povo brasileiro médio não lê jornal e quando o faz não passa das páginas sobre esporte e sobre temas policiais. Eu costumo pensar que se algum centro de pesquisa sair para as ruas e perguntar ao brasileiro para que lado fica a Argentina (norte, sul, leste ou oeste), o brasileiro não vai saber responder. Se perguntar quem é o presidente da Argentina, então...Talvez uma boa parte respondam Obama. E a formação do jornalista no Brasil também é péssima. Eu que já dei aulas para estudantes de jornalismo, sei que a grande parte não sabe escrever em português e não conseguem fazer um raciocínio lógico de uma informação. Não encontrei em nenhuma universidade privada do Brasil, um aluno que lesse e escrevesse em inglês e conhecesse com algum detalhe algum jornal estrangeiro.
Nos Estados Unidos, o povo também é paroquial, centrado em seus próprios problemas, mas em um debate presidencial, um tema internacional é capaz de levantar uma grande discussão na sociedade. Por exemplo, a primeira promessa do Obama foi fechar a prisão de Guatânamo e ele também prometeu sentar-se à mesa com o presidente do Irã. Foi bombardeado pelas duas promessas, e, no poder, não as cumpriu, sofrendo queda na avaliação popular de seu governo.
Na Inglaterra, não se tem tradição de debate para primeiro-ministro, mas esse ano houve um debate cujo tema foi internacional. Ok, a Inglaterra, diferentemente do Brasil, está em guerra no Afeganistão, mas além da guerra, foi discutido a participação do país na União Européia e Irã. Eu mesmo fui a um seminário cujo tema era a política internacional de cada candidato. No Brasil, um debate sobre questões internacionais seria inédito e, infelizmente, encontraria ouvidos surdos entre a população. O povo não entenderia o que está em jogo. E a imprensa teria dificuldade de explicar.
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