São Tomás de Aquino, o "Doutor Angélico", certa vez, diante de um crucifixo em Nápoles, ouviu estas palavras de Jesus: “Bem tem você escrito sobre Mim, Tomás, o que devo te dar em recompensa?" São Tomás respondeu: “Nada senão a Ti mesmo, meu Senhor". Em latim, São Tomás disse: Nil, Nisi Te, Domine. Em inglês: Naught save Thyself, O Lord.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
10 a 1
Na decisão do FED (Banco Central Americano) para comprar 600 bilhões de dólares em títulos públicos por meio de emissão de dinheiro, apenas um no Comitê de Política foi contra, Thomas Hoenig, presidente do Federal Reserve Bank de Kansas City. O placar foi de 10 a 1. O jornal Wall Street Journal disse que ele considerou que o FED estava "fazendo negócio com o demômio".
As pressões foram grandes. As medidas fiscais do governo Obama não surtiram efeito, os juros continuam quase zero, a dívida pública está explodindo, a taxa de desemprego elevada. E os democratas levaram uma surra nas eleições desta semana para senador e governador em 37 estados e para deputado federal. A economia sempre está entre os principais fatores para se vencer ou perder uma eleição.
Já dizia Thomas Jefferson: "I place economy among the first and most important of republican virtues, and public debt as the greatest of the dangers to be feared." (Eu acho que economia é a primeira e mais importante virtude, e dívida pública é o maior perigo para se temer).
Mas a medida já havia sido tentada antes e não surtiu efeito. Entre janeiro de 2009 e março de 2010, o FED comprou 1,7 trilhão de dólares de títulos do governo.
Os países emergentes e a Alemanha reagiram contra a medida. A próxima reunião do G-20, na Coréia do Sul, promete. Na anterior, os países membros já discutiram a guerra cambial mundial, na qual os países procuram desvalorizar suas moedas para aumentar as exportações. Mas os Estados Unidos foram poupados. Apenas a Alemanha já tinha falado que as emissões do FED eram um estímulo `a guerra fiscal.
As bolsas americanas gostaram da medida do FED, mas eu estou com Thomas Hoenig. O estimulo monetário terá um efeito temporário e porá a solvência do país em extremo risco. Um aumento de juros mais ou menos significativo seria uma catástrofe para a economia americana, com efeitos severos no mundo todo.
A lógica de racionalidade limitada de Herbert Simon é muito boa para explicar o apoio de curto prazo do mercado. Precisaria de um outro post para explicar isso, mas a racionalidade limitada argumenta que os agentes econômicos podem reagir de forma irracional, tem percepções equivocadas sobre o futuro e não conseguem analisar todas as informações disponíveis. Além disso, claro, há um desespero para ver a economia americana decolar, especialmente entre os democratas.
Cabe agora aos países emergentes arrumarem a casa, fazendo reformas e ajustes que incentivem a melhora na produtividade, reduzindo impostos sobre as empresas e sobre o emprego, para evitar ser destruídos pelas importações.
Por fim, aumento de juros ou juros acima da média mudial atrairá essa emissão de 600 bilhões de dólares. Isso pode prejudicar as exportações. O quadro acima, do Wall Street Journal, mostra os países que estão aumentando, reduzindo ou mantendo as taxas de juros. O Brasil está mantendo, mas a taxa de juros é bem acima da média mundial, certamente sofrerá forte pressão para apreciar o Real, como já ocorreu ontem após o anúncio do FED.
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