terça-feira, 9 de novembro de 2010

A Igreja e as Demandas do Mundo



Sei que o título ficou meio enigmático, mas lutei muito para encontrar um. Só achei quando vi a explicação de um bispo inglês.

A foto acima mostra o papa Bento XVI e o chefe da Igreja Anglicana Rowan Williams, arcebispo de Canterbury. O assunto que trato aqui é relativo aos dois.

Hoje, foi anunciando que 5 bispos da Igreja Anglicana deixaram essa Igreja para se juntar a Igreja Católica. Essa é uma importante notícia nas relações entre as religiões cristãs. E se tornará fonte inesgotável de discussão. A justificativa de um bispo para saída é que dá forma ao título, mas explico isso depois.

A crise na Igreja Anglicana começou quando ela passou a permitir a adoção de bispos mulheres e algumas ramificações da Igreja inclusive aceita padres homossexuais. Não vou aqui discutir o problema teológico de se aceitar mulheres e homossexuais, não creio que eu tenha formação para tal. Apenas relatarei os fatos.

A nomeação de bispos mulheres e a aceitação de homossexuais tornaram a situação interna da Igreja Anglicana um caos. Muitos adeptos da religião não aceitaram as mudanças, não apenas padres e bispos. E as divisões aumentaram dentro da Igreja.

Anteriormente, 5 outros bispos já tinham se juntado a Igreja Católica, mas, recentemente, o papa procurou ajustar os ponteiros dessa passagem de uma igreja cristã para outra.

O papa Bento XVI abriu as portas da Igreja Católica para aqueles que desejassem se unir a Igreja e tivessem formação na Anglicana, criando um ordinariato especial. Como muitos dos padres e bispos da Anglicana são casados, o papa ofereceu um ordinariato em que esses ex-membros anglicanos iriam exercer sua profissão de forma especial dentro da Igreja Católica. Eles iriam passar por um processo de aprendizado da teologia católica e iriam exercer seus cultos dentro da doutrina católica, mas de uma forma especial e mantendo seus casamentos.

Dos 5 bispos, dois estão aposentados. Os três que estão na ativa são o Bispo de Ebbsfleet, o Reverendo Andrew Burnham; o Bispo de Richborough, Reverendo Keith Newton; o Bispo de Fulham, Reverendo John Broadhurst. Os aposentados são o ex-Bispo de Richborough, Reverendo Edwin Barnes,  e o ex-Bispo de Ballarat na Austrália, Reverendo David Silk.

Além dos bispos, centenas de padres e leigos anglicanos estão saindo da Igreja para se juntar a Igreja Católica. Já há pelo menos 800 padres chamados de Anglo-Católicos, que usam rituais  e concepções católicas.

Damian Thompson do The Telegraph acha que o que acontece não é um desastre para a Igreja Anglicana, pois poucos bispos até agora saíram, mas é um desastre para os conservadores da Igreja Anglicana. Esses perderam cinco importantes bispos e terão de lutar sozinhos contra o que ele chama de mercado livre para teologia. Thompson tem ótimos textos sobre o assunto, quem quiser lê-los acesse aqui.

Mas, voltando ao título, eu o tirei de um texto da BBC, quando essa perguntou ao Bispo Burnham por que ele saiu da Igreja Anglicana. Ele respondeu que não era apenas por existir mulheres como bispo e sim:

"It's about whether the Church of England, as it's always claimed to be, is faithful to the undivided Church of the first thousand years and faithful to its faith and orders - or whether it feels it can make things up and change things as it goes. And, increasingly, over the last few years, it has acted as though it is autonomous in these matters and can make things up as it goes and women bishops is simply the latest example of that." (O problema é se a Igreja Anglicana, como ela sempre disse que era, é fiel a uma Igreja não dividida dos primeiros mil anos e é fiel para sua fé e suas ordens - ou se ela sente que pode alterar e mudar as coisas como ela achar necessário. E, crescentemente, nos últimos anos, ela agiu como se fosse autônoma nos assuntos da fé e que podia alterar as coisas que desejasse. As mulheres como bispos são apenas o último exemplo disso").

Acho que o que Burnham quer dizer que é que a Igreja cristã deve ser fiel aos seus princípios e não agir de acordo com as demandas do mundo moderno, se não perderá os seus princípios e se esvaziará. Bom, concordo com o Bispo.

3 comentários:

COMUNHÃO ASSEMBLEIANA disse...

Olá irmãos!

A crise que se instalou no anglicanismo é de ordem moral; já no catolicismo o problema além de ser moral é muito acentuado teológicamente.

Roberto dos Santos

Pedro Erik Carneiro disse...

Caro Roberto,

Não sei do que você está falando exatamente. Seria ótimo se você fosse mais claro, para ampliarmos o debate.

A Igreja Católica tem atualmente a sorte, ou melhor, a providência divina, de ter o melhor papa em termos de conhecimento teológico que já tive notícia. Já li dois livros dele, um sobre São Paulo e outro da triologia sobre Jesus Cristo, e fiquei maravilhado com a beleza de suas palavras e de seu profundo conhecimento teológico. Então, não sei de que crise teológica é essa que você fala.

Abraço,
Pedro Erik

Pedro Erik Carneiro disse...

Caro Roberto,

Relendo seu comentário,imaginei que talvez você estivesse se referindo aos problemas com pedofilia da Igreja Católica. Perdão, se não é esse o caso. Mas, permita-me comentar.

Primeiro, devo dizer que a pedofilia é um mal extremo que, infelizmente, está em todas as esferas da sociedade, não apenas na Igreja Católica. Nas religiões, como se era de esperar, é bem menos frequente.

Outra coisa é que ninguém fez mais contra esse mal, que o atual Papa. Muito mais que João Paulo II, por exemplo. Infelizmente, João Paulo II vacilou em alguns momentos para expulsar rapidamente os pedófilos, tentando reconciliá-los com a Igreja.

É uma pena que no Brasil, não se tenha acesso aos textos de um padre inglês chamado Francis Marsden. Ele escreve em um jornal chamado Catholic Times, que não está disponível na internet. Ele, em um artigo desse ano, explica perfeitamente como se deu a evolução desse problema que a Igreja luta tanto hoje para extirpá-lo e também explica o relacionamento da pedofilia com o homossexualismo. Se você, se interessar, posso reproduzir os argumentos dele. Guardei o jornal.

Abraço,
Pedro Erik