Durante a campanha para o cargo de primeiro-ministro inglês, depois de questões econômicas, eram os problemas relativos ao aumento no número de imigrantes que mais mexiam com os eleitores. Mas o que foi frustrante foi que tanto economia como imigração foram pouco debatidos pelos candidatos. Havia um medo no ar de que qualquer deslize nos temas acima poderia ser fatal.
A economia inglesa exige forte corte nos gastos públicos, o país não pode conviver com os elevados custos dos seus diversos programas sociais. Mas os políticos tinham receio de dizer isso com medo da reação dos eleitores que dependiam desses programas. O debate foi paupérrimo em economia. Todos dizendo que o país deveria conter o seu déficit, atacando os banqueiros (especialmente Gordon Brown), falando que era necessário maior regulação do sistema financeiro e que era preciso dar empregos para os britânicos.
Emprego para os britânicos? Pensei. É verdade, os britânicos estão desempregados, os imigrantes, não. Estes últimos estão nos restaurantes, barbearias, cafés, postos de gasolina. Dar empregos para britânicos significa criar empregos que demandam elevada formação profissional.
A imigração líquida para a Inglaterra explodiu na década. Saiu de mais ou menos 41 mil por ano para 233 mil em 2007. Em 2008, foi de 163 mil, apenas porque houve muitas saídas. Jill Matheson, da Estatística Nacional (the National Statistician) prevê que em 20 anos a população passará de 61 milhões para 70 milhões, sendo três quartos do aumento formado por imigrantes. Atualmente 1 em 10 morando no Reino Unido nasceu no estrangeiro.
Gordon Brown fugia de discutir imigração como o diabo foge da cruz. O partido trabalhista que estava no poder desde 1997 foi o grande responsável pela imigração em massa. Documentos mostram que foi uma política deliberada. A idéia era “dinamizar” o país com a “vibração” da imigração. Mas o número de imigrantes trouxe sérios problemas e Gordon Brown evitava a todo custo discutir o assunto. No entanto, acabou encurralado por uma senhora nas ruas (Mrs. Gillian Duffy), que reclamava do número de poloneses no país. Brown tentou responder calmamente, mas deu azar e entrou no seu carro com o microfone ligado. Todo mundo viu como ele reagia ao assunto: chamou a mulher de fanática e pediu a cabeça do assessor que o deixou naquela situação. Depois teve de se desculpar, mas isso foi a pá de cal na campanha dele.
Agora com os trabalhistas na oposição, o assunto deixou de ser tabu no partido. Eles querem colocar a pecha de racistas na coalizão que está a frente do governo. Mas, o país tem de reduzir a entrada de imigrantes, tanto pelo convívio social, como por questões econômicas.
Além dos problemas econômicos, os mais sérios para mim, são os problemas culturais. Na grande maioria dos casos não se vê dinamismo, nem vibração, mas indiferença e muita dificuldade para manter a tradição do país. Durante a campanha, a Igreja Católica lançou um panfleto lembrando a formação cristã do país, que está ameaçada por mudanças nas leis que tornam o país mais laico. Melanie McDonagh, no seu artigo de ontem no The Telegraph, disse que a imigração tornou mais difícil o ensino do cristianismo nas escolas. Ela disse também que encontrou uma paquistanesa católica e esta lhe disse que no país dela a elite freqüentava as escolas católicas, mas que as aulas de religião para católicos e muçulmanos eram dadas em salas diferentes. Não se pode imaginar que cristãos e muçulmanos concordem sobre religião, por exemplo. Qualquer um minimamente conhecedor das duas religiões saberá que elas são muito diferentes. A Inglaterra pode ter de fazer o mesmo daqui a alguns anos.
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