sexta-feira, 8 de abril de 2011

Guerras para Salvar Vidas - Crítica a Friedman



Há vários motivos para guerras. Não sou daqueles que defendem a paz em qualquer situação. Às vezes é imperativo que se faça guerras. Atualmente, o mundo está em guerra especialmente no Oriente Médio, mas há inúmeros conflitos na África, na Ásia e na América Latina. Se considerarmos apenas os conflitos mais renomados, diremos que o mundo ocidental está em guerra contra extremistas muçulmanos no Iraque, no Afeganistão e na Líbia, mas há conflitos internos que opõem os mesmos atores na Etiópia e na Costa do Marfim, por exemplo.

Mas quando se deve declarar guerra? Para salvar vidas é o melhor dos motivos. Mas quando o próprio povo não quer ser salvo? Acho que mesmo assim deve-se salvá-los. Mas se consideramos esse motivo aqueles que valorizam o valor da vida deverão entrar em inúmeros conflitos. Essa é a grande questão hoje no mundo, depois da entrada no conflito da Líbia, pois há matanças no Sudão, na Etiópia, no Paquistão, na Costa do Marfim, no Irã e na China. Os países ocidentais devem entrar em guerra, então, com todos esses países? Certamente eles não têm recursos financeiros e humanos suficientes. Mas, isso não impede, de se oporem aos regimes que destróem seus próprios povos.

Aí o capitalista pergunta: mas nós precisamos desses países para manter nossos empregos e alimentar nosso povo. A partir daí, começamos a relativizar o valor da vida, e tendemos a entrar apenas em guerras que proporcionam resultados econômicos, em busca de fontes de riqueza.

George Friedman, do site Stratfor, discute as guerras humanitárias, guerras que procuram salvar vidas. Ele começa definindo essas guerras e o conflito entre elas e o princípio de auto-determinação dos povos, que pode ser usado para defender que governo tem o direito de matar ou reprimir seu próprio povo e ninguém deve intervir. O ex-presidente Lula sempre levantava essa loucura para defender Chavez ou Ahmadinejad. Diz Friedman:

In humanitarian wars, the intervention is designed both to be neutral and to protect potential victims on one side. It is at this point that the concept and practice of a humanitarian war becomes more complex. There is an ideology undergirding humanitarian wars, one derived from both the U.N. Charter and from the lessons drawn from the Holocaust, genocide in Rwanda, Bosnia and a range of other circumstances where large-scale slaughter — crimes against humanity — took place. That no one intervened to prevent or stop these atrocities was seen as a moral failure. According to this ideology, the international community has an obligation to prevent such slaughter.

This ideology must, of course, confront other principles of the U.N. Charter, such as the right of nations to self-determination. In international wars, where the aggressor is trying to both kill large numbers of civilians and destroy the enemy’s right to national self-determination, this does not pose a significant intellectual problem. In internal unrest and civil war, however, the challenge of the intervention is to protect human rights without undermining national sovereignty or the right of national self-determination.

Eu semprei achei uma estupidez essa história de ser neutro. Quem é neutro geralmente não tem princípios. O mundo está intervindo na Líbia e dizendo que é neutro em relação aos rebeldes e Kaddafi. Quem crê nisso? Ninguém. O mundo quer tirar Kaddafi e está certo em fazer isso. A França está intervindo na Costa do Marfim e dizendo que é neutra no conflito entre o presidente (Laurent Gbagbo) e o presindente eleito (Alassane Ouattara). Outra idiotice, na verdade a França está facilitando a vitória de Ouattara. Mesmo sabendo que na Costa do Marfim os dois exércitos trucidam civis com facões.

Friedman está correto quando chama guerras humanitárias de "guerras imaculadas", porque seus proponentes geralmente olham apenas as vidas sem defender a mudança de regime. Ele diz:

I call humanitarian wars immaculate intervention, because most advocates want to see the outcome limited to preventing war crimes, not extended to include regime change or the imposition of alien values. They want a war of immaculate intentions surgically limited to a singular end without other consequences. And this is where the doctrine of humanitarian war unravels.

Salvar vidas exige a introdução do princípio de que este é o maior valor humano. Não adianta tirar Gbagbo e colocar Ouattara se ele continua tratando os marfinenses como insetos. Não adianta tirar Kaddafi e colocar al-Qaeda no poder, etc.

E Friedman está certíssimo quando diz:
 
Regardless of intention, any intervention favors the weaker side. If the side were not weak, it would not be facing mass murder; it could protect itself. Given that the intervention must be military, there must be an enemy. Wars by military forces are fought against enemies, not for abstract concepts. The enemy will always be the stronger side. The question is why that side is stronger. Frequently, this is because a great many people in the country, most likely a majority, support that side. Therefore, a humanitarian war designed to prevent the slaughter of the minority must many times undermine the will of the majority. Thus, the intervention may begin with limited goals but almost immediately becomes an attack on what was, up to that point, the legitimate government of a country.

Mas discordo completamente quando ele diz que o problema na Líbia é que o mundo ameaça julgar Kaddafi na Corte Internacional de Justiça. Como Kaddafi sabe que se deixar o poder não terá vida fácil, pode ficar preso para sempre, então luta até o fim. Acho esse argumento de Friedman uma tremenda bobagem. Quer dizer então que devemos dizer aos terroristas e ditadores no mundo que podem matar pessoas até o ponto que o mundo fique contra e depois poderão ficar tranquilos pois o mundo não irá julgá-los?


Depois Firedman diz que não gosta de guerras humanitárisa porque geralmente os países que invadem buscam depois interesses econômicos. Mas aí, Friedman, o problema é outro. Pela posição dele então deixaremos as pessoas serem mortas porque há interesses econômicos.
No final do texto acho que Friedman se perde completamente. Vejamos o último parágrafo:

North Africa is no place for casual war plans and good intentions. It is an old, tough place. If you must go in, go in heavy, go in hard and get out fast. Humanitarian warfare says that you go in light, you go in soft and you stay there long. I have no quarrel with humanitarianism. It is the way the doctrine wages war that concerns me. Getting rid of Gadhafi is something we can all feel good about and which Europe and America can afford. It is the aftermath — the place beyond the immaculate intervention — that concerns me.

Quer dizer então que devemos entrar pesado na África, com toda força (fiquei confuso pois no meio do texto Friedman diz que a solução na Líbia é entrar lentamente)  e sair rápido (isso é o sonho de qualquer governo que entra nua guerra humanitária, mas o próprio Friedman diz que isso é quase impossível pelas demandas da própria guerra). Ele diz que apóia humanitarismo mas tem dificuldades com o pós-intervenção.  

Friedman que viver em um mundo de conto de fadas, assim como os proponentes da guerra humanitária que ele critica. Putz.

2 comentários:

André disse...

Voltei. Já faz um bom tempo que eu não escrevo nada aqui. Desde que eu comecei o cursinho, a minha rotina ficou muito atribulada. Você sabe: acordar, estudar, comer, estudar, estudar, estudar, comer e dormir. Não consigo arrumar tempo para ligar o computador e, por isso, não comento nada aqui há algumas semanas.

Hoje, ao acessar o Townhall e a National Review, me dei conta de como estou desinformado. "Governo a um passo de um fechamento", "Relatório do deputado Paul Ryan enfurece democratas", "Impasse em Wisconsin", "GLENN BECK DEMITIDO!" O que é isso? Como tudo isso pode ter acontecido enquanto eu estava ausente? Você poderia por favor me colocar a par de todos esses acontecimentos? Juro que tive vertigem ao saber da demissão de Glenn Beck.

De resto, as coisas andam normais por aqui. Semana passada fui assistir a uma ótima palestra sobre as Revoluções Inglesas (graças a Deus meus professores do curso não são adeptos da teologia marxista). O palestrante disse algo muito interessante. Ao comentar sobre o cenário político na Inglaterra após a Revolução Gloriosa, ele disse que, embora os Partidos Conservador e Liberal apelassem a diferentes setores da sociedade, eram quase idênticos em relação à ideologia (os dois eram liberais clássicos). Isso me dá um certo desgosto ao examinar como anda a política britânica hoje...

Vou ter que me despedir agora. O dever me chama. Tentarei administrar o meu tempo para poder comentar, no mínimo, uma vez por semana.

Abraços, André.

Pedro Erik Carneiro disse...

Grande André,

Seus comentários fazem falta, irmão, mas você agora precisa estudar. Beleza. O mundo pode esperar.

Bom, muitos acontecimentos mesmo. Além daqueles que você citou, acho que desde que você escreveu a candidatura Gingrich ficou um pouco mais fraca e Donald Trump parece que chegou pesado. Ontem, vi que ele já está em segundo lugar em uma pesquisa. Acho que ele não consegue se candidatar, tem um viés que os eleitores independentes não gostam. Mas acho sua abordagem contra o "capitalismo" chinês muito boa, gosto muito. No resto, ele podia ser forte mas menos agressivo.

Sobre Glenn Beck, fiquei assustado mas até onde eu li, o cara anda ganhando muito dinheiro fora da televisão, muito mais que no programa. Tenho algumas pequenas críticas a ele, mas acho Beck o melhor apresentador do mundo, vai fazer muita falta e se ele foi demitido ou se demitiu, foi um erro crasso para ambos.

De resto, estou acompanhando a disputa orçamentária dos Estados Unidos. Li os notíciarios de hoje e para mim tudo se resolve a uma questão: aborto. Se puder veja as declarações de Reid hoje. Espero que os republicanos não vacilem e afastem o financiamento público desse crime.

Sorte sua ter encontrado professores de história não esquerdistas. Eu nunca tive essa sorte.

Grande abraço e boa sorte nos estudos,

Pedro Erik