Hoje, eu ouvi um padre brasileiro falando que nós, brasileiros, precisamos primeiro ser convencidos pelo coração para depois convencer a cabeça, por isso o Papa Francisco fez muito bem em dizer que veio para Jornada Mundial da Juventude pedir licença aos corações dos jovens para falar.
Bom, eu, ao contrário, preciso primeiro ter minha razão convencida para depois convencer o coração. Eu diria que sigo o modelo de Santa Teresa D'Ávila, Chesterton, Beato Cardeal Newman e Santo Inácio de Loyola.
Mas sei que há muitos santos importantes que primeiro foram convencidos pelo coração e acho ótimo. Como a Beata Madre Teresa de Calcutá, ou mesmo Santo Tomás de Aquino, padroeiro deste blog, que apesar de ter procurado usar sempre a razão para escrever sobre Deus, desde criança, sem ter todos os poderes da razão, já estava convencido.
Por que eu falo isso? Porque eu acho muito bonito ver o Papa Francisco abraçando a multidão, descendo do carro para falar com as pessoas, abraçando dependentes de drogas. Mas isto não me convence, mesmo porque muitos políticos que detesto fazem o mesmo.
Eu preciso conhecer o que pensa a pessoa para que eu a ame. Eu amo o Papa Francisco como meu líder espiritual, mas sei que ele é ser humano e pode errar em em algumas frases e condutas, como eu mostrei aqui recentemente.
O arcebispo Charles Chaput falou abertamente sobre o Papa Francisco em uma entrevista para o jornal National Catholic Reporter (um jornal considerado da esquerda católica americana, mas que mantém o excelente jornalista Jonh Allen, que é muito respeitado).
Eu vi nas palavras desde arcebispo respeitadíssimo nos Estados Unidos exatamente o que penso e o que eu receio no Papa Francisco.
O arcebispo Chaput está também no Rio para a Jornada Mundial da Juventude, vou traduzir aqui parte da entrevista (em azul)
O título da reportagem é: "Ala Conservadorada da Igreja em Geral Não Está Feliz com o Papa Francisco, diz Chaput".
O
arcebispo Charles Chaput da Filadélfia é conhecido por falar
abertamente, o que em parte significa que ele estar muitas vezes disposto a
dizer coisas em voz alta o que os outros em sua posição podem sentir, mas
hesitam em reconhecer.
Durante uma entrevista no Rio de Janeiro na terça-feira, por exemplo, Chaput tratou de temas espinhosos sobre o papa Francisco, o histórico do Papa, e sua atual viagem ao Brasil.
Durante uma entrevista no Rio de Janeiro na terça-feira, por exemplo, Chaput tratou de temas espinhosos sobre o papa Francisco, o histórico do Papa, e sua atual viagem ao Brasil.
O arcebispo capuchinho de 68 anos admitiu que a cena de multidão na chegada da comitiva papal foi um "momento assustador", insinuando que talvez
Francisco podia ouvir um pouco mais daqueles encarregados de sua segurança e disse: "Tem de haver uma certa distância entre as multidões e ao Santo Padre. "
Chaput
reconheceu que os membros da ala direita da Igreja Católica "em geral,
não têm ficado muito felizes" com alguns aspectos dos primeiros meses de
Francisco e disse que o papa terá que encontrar uma maneira "para cuidar
deles, também."
Chaput defendeu Francisco de preocupações de alguns círculos por Papa ficar em silêncio sobre o aborto, casamento gay e a eutanásia, dizendo: "Eu não posso imaginar que ele vai ser diferente dos outros papas nestes assuntos". E insistiu que o Papa "tem de falar sobre essas coisas."
Chaput está no Rio de Janeiro levando uma delegação de cerca de 40 peregrinos da Arquidiocese de Filadélfia para Jornada Mundial da Juventude. Ele disse que comparecimento poderia ter sido maior se não tivesse sido por preocupações com a segurança, que, segundo ele, levaram algumas dioceses na Pensilvânia a "desencorajar ativamente" as pessoas de vir.
Eledeu entrevista para o NCR em um hotel do Rio onde a maioria dos bispos norte-americanos está hospedada.
***
- Para aqueles que estão aqui na Jornada, eu presumo que eles estavam planejando vir antes que Francisco foi eleito, mas como estão as reações ao novo papa?
Sempre que alguém vê um papa pela primeira vez, é um momento extraordinário em suas vidas. Para aqueles que estão seriamente católicos, é ainda mais. Seria difícil para mim julgar se esse grupo pensa de forma diferente a respeito do que eles teriam se o Papa Bento XVI estivesse aqui. Após a Jornada, eu lhe direi, porque é quando nós vamos realmente ter uma noção do que as pessoas pensam do papa Francisco.Eu acho que o tipo de pessoa que faz o sacrifício para chegar até aqui realmente ver isso como uma peregrinação, em vez de uma aventura para ver uma pessoa. Claro que se o papa não estivesse aqui, as pessoas não veriam, também. Ele está no centro da igreja, e ele está no centro deste evento. Graças a Deus que o Senhor nos deu um papa com tal apelo universal para muitas pessoas.
- O que você vê no novo papa?
Minha sensação é que católicos praticantes o amam e têm um profundo respeito por ele, mas eles não são realmente os que realmente falam comigo sobre o novo papa. Os que falam disso são os católicos não-praticantes e os não-católicos. Eles dizem o quanto estão impressionados e que ele trouxe uma mudança maravilhosa para a igreja. É interessante ver que é o católico alienado e não-católicos e os não-cristãos que manifestaram o seu entusiasmo mais do que os católicos têm. Não é que os católicos não estejam impressionados, também, mas eles estão normalmente já impressionados com o papa.
- Como você explica este entusiasmo?
Eu não sei como interpretá-lo, sinceramente. Acho que parte é explicado pelo genuína simpatia extraordinária e transparência do papa. Mas também eu acho que eles preferem uma igreja que não têm normas e ideias sobre a vida moral e sobre a doutrina rigorosa, e que de alguma forma interpretam abertura e simpatia do papa como sendo menos preocupado com essas coisas. Eu certamente não acho que isso seja verdade. Acho que ele é um homem verdadeiramente católico em todos os sentidos da palavra, mas eu acho que as pessoas estão esperando que ele vai ficar menos preocupado com as questões que nos separam hoje.
- Você acha que haverá um momento de acerto de contas, quando a lua de mel desaparece?
Vamos ver o que acontece. O papa pode ter uma forma de gerir tudo isso de forma extraordinária, eu não sei. Eu acho que, em virtude de seu cargo, ele vai ser obrigado a tomar decisões que não serão agradáveis a todos.
Isso já acontece com a ala direita da igreja. Eles geralmente não têm ficado muito felizes com a eleição de Francisco, a partir do que eu tenho sido capaz de ler e de entender. Ele vai ter que cuidar deles, também, por isso vai ser interessante ver como tudo isso funciona a longo prazo.
- Analistas têm apontado que durante seus primeiros 120 dias, Francisco não usou as palavras "aborto", "casamento gay" e "eutanásia". Isto é preocupante para você?
Eu não sei como alguém pode fazer julgamentos tão depressa sobre um pontificado. Eu acho que o papa falou muito claramente sobre o valor da vida humana. Ele não expressou as coisas de uma forma combativa, e talvez seja isso que alguns estão preocupados, mas eu não consigo imaginar que ele não vai ser tão pró-vida e pró-casamento tradicional como qualquer um dos outros papas foram no passado.
- Alguns observam as palavras do Papa aos bispos italianos quando disse que ele vai deixar para os bispos locais lidar com essas questões, em vez de fazê-lo a si mesmo. É este o seu entendimento?
Acho que o que ele disse aos bispos italianos é que ele não vai se envolver em questões políticas. Para mim, questões como o aborto e o significado do casamento não são questões políticas, eles são doutrina e moral. Todos nós, como bispos, incluindo o bispo de Roma, tem que falar sobre essas coisas. Seria muito estranho pensar que você pode fazer essa separação.
Você sabe que normalmente ficar fora da política significa ficar fora de algo que alguém não gosta, certo?
Claro. A igreja tem sido clara sobre os cuidados de saúde universal, sobre a imigração, e nós somos criticados não pela esquerda sobre essas questões, mas pela direita. Sobre o aborto e o significado do casamento, a esquerda nos critica e à direita fica muito satisfeita. Eu acho que um bispo que se preze toma todos os ensinamentos da Igreja e não joga para a multidão, mas joga com a verdade.
Você menciona imigração. O que você achou da visita do papa a Lampedusa?
Eu acho que foi maravilhoso. Foi muito emocionante. Espero que conduza a resultados concretos, porque você nunca sabe o que acontece depois. Acho que foi algo que tocou o coração de qualquer um que prestou atenção, especialmente aqueles de que são a favor de leis razoáveis de imigração.
6 comentários:
Caro Erik, boa tarde.
Sou católico e, pelo andar da carruagem, mais para conservador, embora um pouco relapso, reconheço.
Quanto ao Papa, desde o início o achei um sujeito simpático, mas um pouco falador. Está certo que é sul-americano...mas tem alguns comportamentos de políticos dados a uma demagogia.
Não o acuso disso. Apenas que, realmente, observa traços assim no comportamento.
Essa história de coração e emoção, foi nisso que os petistas centraram todas as suas campanhas, desde o início. É tudo emoção!
Quando o Arcebispo Chaput fala de coração, lembrei-me, também do documentário da grande Riefenstahl, O Triunfo da Vontade, considerado o melhor documentário de Propaganda até hoje. Ela mostra Joseph Goebbels no Congresso de Nuremberg dizendo: "ter o Poder é bom. Mas é muito melhor ganhar as pessoas pelo coração!".
Em suma, direita, esquerda, usam essa história da emoção.
O Papa usou e foi melhor que Dilma que ficou fazendo relatos sobre o Brasil Maravilha do PT.
Então, como disse o neurologista português, Antonio Damásio (O Erro de Descartes): a razão solta, isolada das emoções é perigosa, pode ser louca. A emoção isolada pode ser tonta.
Uma boa razão deve ser conduzida por boas emoções.É um par inseparável. Descartes estava errado.
Um pouco a Chaput, um pouco ao Papa.
Mas acho que o Papa, ao quebrar demais protocolos ou costumes, queira parecer um general que, para chegar ao povo, pretenda usar uniforme de sargento.
General é general.
Também acho que ele deveria ser claro sobre aborto, homossexuaidade e outros temas importantes; embora tenha condenado os traficantes e os defensores da liberação das drogas.
Talvez ele vá mais vagarosamente.
Talvez ele pensa em captar corações para depois poder falar de doutrina.
Aguaremos.
Abraço
Gutenberg
Caro Gutenberg,
Show de bola no comentário. É verdade, direita e esquerda usam o coração para dominar.
Só gostaria um pouco de qualificar seu argumento de que Hitler (e Goebbels) era de direita, afinal ele representou também um estado dominador (o partido dele também se chamava socialista), e a direita, na sua vertente filosófica é pelo estado mínimo.
Mas, por outro lado, também não se pode dizer que Hitler (ou os militares brasileiros) era de esquerda, pois ele odiava o comunismo.
Rezemos pelo nosso Papa, que ele mostre a verdadeira luz (Cristo) sempre.
Abraço,
Pedro Erik
Concordo com você. Hitler era nacional-socialista, uma variante socialista. Nazismo e Comunismo são irmãos siameses.
Realmente, quando nos referimos à direita, sobre o nazismo, já é uma falha, reconheço, quase um modo de haver incorporado a ladainha comunista de dizer isso.
Vê-se como a propaganda comunista foi forte.
Aproveito, sobre isso, a oportunidade para recomendar aos seus leitores (se já não o viram) o maravilhoso documentário Soviet Story (há o site próprio e trechos no Youtube) sobre a irmandade nazi-comunista.
Tristemente bonito.
Esperemos que o Papa realmente coloque os pingos nos "is", sob a inspiração de Cristo.
Abraço
Gutenberg
Abraço
Obrigado, Gutenberg, eu mesmo não conheço o documentário que você mencionou, apesar de uma quantidade boa de filmes e doc sobre a 2a guerra que tenho.
Vou ver.
Grande abraço,
Pedro Erik
Tudo a seu tempo, como está no Eclesiastes.
O Papa não se furtará a falar de teologia moral, quando for o momento apropriado.
Abração,
Stan
Acho que sim também, Stan. E Chaput também diz isso. Rezo para que sim.
Como li outro dia uma vaticanista que dizia que Bento XVI era bem direto (rápido) e profundo em seus argumentos, temos que nos acostumar com outra Papa, bem diferente, mas que pode conquistar muitas almas também.
Abraço,
Pedro Erik
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