sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Papa Bento XVI e as Religiões Malígnas

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O papa Bento XVI escreveu um artigo no jornal L´'Osservatore Romano no mês passado, este artigo passou despercebido, mas traz palavras bem importantes. O artigo era para celebrar o Concílio Vaticano II, mas nele o papa faz uma crítica até severa a Declaração Nostra Aetate do Concílio.

Diz o papa:

O segundo documento que depois se mostrou importante para o encontro da Igreja com a idade moderna surgiu quase por acaso e é desenvolvido em várias fases. Estou me referindo a Declaração "Nostra Aetate" na relação da Igreja com religiões não cristãs. No início a intenção era elaborar uma declaração sobre as relações entre a Igreja e o Judaísmo, um texto que se tornou intrinsecamente necessária após os horrores do Holocausto. Os Padres do Concílio de países árabes não se opuseram a esse texto, mas explicaram que se houvesse a intenção de falar do judaísmo, então deve haver também algumas palavras sobre o Islã. Se eles eles estavam certos, nós, no Ocidente só estamos gradualmente entendendo. Por último, entendeu-se o direito de falar de duas outras grandes religiões - hinduísmo e budismo -, bem como o tema da religião em geral. Então, seguindo naturalmente, veio uma breve indicação sobre o diálogo e a colaboração com as religiões, cujos espiritual, moral e valores sócio-culturais deveriam ser respeitados, protegidos e incentivados (Ibid., 2). Assim, num documento preciso e extraordinariamente denso, um tema foi aberto e cuja importância não podiam ser previstos no momento. A tarefa que envolve e os esforços que ainda são necessárias, a fim de distinguir, esclarecer e compreender, estão aparecendo cada vez mais claramente. No processo de recepção ativa de outras religiões, uma fraqueza do texto tem gradualmente emergido: fala de religião apenas de uma forma positiva e  desconsidera as formas doentias e distorcidas de religião que, do ponto de vista histórico e teológico, são de extrema importância, por esta razão a fé cristã, desde o início, adotou uma postura crítica em relação à religião, tanto internamente quanto externamente.

Isto é, na tentativa de se aproximar das religiões a Igreja esqueceu uma crítica que sempre fez às falsas religiões, aos falsos Jesus.

Samuel Gregg da revista Crisis Magazine escreveu sobre o texto do Papa. Gregg disse basicamente o que eu diria. Como respeito a fonte, eu vou apenas traduzir parte do que Gregg disse, eu não acrescentaria nada mais relevante. Isto serve como uma lição para se respeitar fontes. Já vi muitos jornalistas e blogueiros escreverem uma análise como se fosse deles, mas eles estavam simplesmente reescrevendo o que outro já disse. Deve-se ser original.Quando tenho algo a acrescentar eu cito o texto e faço meus comentários, não é o caso com Gregg, ele já disse basicamente tudo.

Gregg disse:


Uma das conquistas do Vaticano II, que o papa defendeu, foi a Declaração Nostra Aetate, que abordou relação da Igreja com as religiões não cristãs. Este documento sublinha a mais importante relação teologicamente-judaísmo e cristianismo, mas também se aventurou a observações sobre o Islã, Hinduísmo e Budismo. Sem diluir as  reivindicações de verdade do cristianismo.

Em seguida, porém, Bento XVI fez sua crítica. Com o passar do tempo, observou ele, "uma fraqueza" de Nostra Aetate tornou-se evidente: "fala de religião apenas de uma forma positiva e que desconsidera as formas doentias e distorcida da religião."

Claramente Bento não estava se referindo à escolha dos cristãos para o pecado. O católico que, por exemplo, intencionalmente escolhe  matar vidas inocentes estar agindo de forma contrária aos ensinamentos da Igreja. Em vez Bento parece ter em mente que as religiões que aparentemente legitimam graves violações da dignidade humana ou inibem seus membros de condenar as ações de seus correligionários.

Um exemplo é as religiões pagãs pré-cristãs. Sua visão dos deuses hedonistas como meros seres humanos que trataram como brinquedos, sua deificação do Estado, seu profundo desprezo pela vida humana, e sua concepção da mulher como virtual sub-humano fez tais religiões, a partir de uma perspectiva judaica e cristã, irredimível. Depois, há práticas particulares que indicam disfuncionalidade profunda nas crenças de uma religião do núcleo, como o ritual asteca do sacrifício humano.

O que nos leva a questão inter-religiosa de nosso tempo. E é isso. Aquelas pessoas que dirigem caminhões carregados com explosivos em Igrejas Católicas na Nigéria; que matam e torturam sacerdotes na Síria e detonar bombas em seu funeral, que decapitam adolescentes estudantes indonésios cristãos; que atiram adolescentes em meninas paquistanesas na cabeça para que as mulheres não sejam educadas, que regularmente descrevem os judeus como "porcos e macacos", ou que estão em um esforço para exterminar a presença cristã no Oriente Médio, eles estão agindo de maneiras que refletem as distorções de Islã, ou são as suas escolhas de acordo com as crenças centrais do Islã?

Certamente, há a passagem do Alcorão: "Que não haja compulsão na religião" (2:256). Mas isto diz respeito apenas aos não-muçulmanos para converter livremente ao Islã. Ela nunca foi tradicionalmente entendida como aplicável aos muçulmanos que querem abraçar outra fé. 

Depois, há os inúmeros versos do Alcorão e Hadith que aparentemente justificam a violência contra os pagãos, não-crentes, e "politeístas" (que inclui cristãos por estes acreditam na Trindade). Seu significado tem sido debatido por alguns muçulmanos há séculos. Infelizmente, o Islã não possui um equivalente de autoridade do Magistério católico que pode definitivamente resolver questões controversas de maneiras que liga todos os católicos.

O que não está, no entanto, em questão é a invocação de tais passagens por jihadistas contemporâneos para justificar a violência. E isso não é um fenômeno novo. Como o historiador francês Sylvain Gouguenheim apontou em seu Aristote au Mont Saint-Michel (2008), um pensador do século XII iluminista muçulmano Averroes não hesitou em pregar a jihad contra os cristãos, no que foi (ao contrário do mito popular) a não-tão tolerante Espanha islâmica.

Isso não é para sugerir o cristianismo sempre se manteve livre de distorção. No nosso tempo, podemos recordar a teologia da libertação agora largamente extinta que buscava uma síntese absurda entre cristianismo e marxismo e, em alguns casos, tentou racionalizar a violência esquerdista.

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Gregg disse tudo. Leiam o texto completo dele.


(Agradeço a indicação do texto de Samuel Gregg ao site Pewsitter)

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