sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O Especialista em Direito Canônico, Ed. Peters, Condena Tudo que o Papa disse ontem.


Ontem, eu disse que foi um dia triste para os católicos, quando o Papa Francisco liberou uso contraceptivos para conter a zika (eu nem sei se já provaram que a zika é transmitida por sexo, como foi provado com a AIDS e a Igreja defende abstinência quando se trata da AIDS).

Olhando na internet brasileira, eu me surpreendi com um post do Reinaldo Azevedo da Veja, dizendo que o Papa Francisco não tinha dito nada demais e ainda dizendo que o Papa Bento XVI tinha dito a mesma coisa. Fiquei curioso, então li o texto todo do Azevedo. Daí que a prova que ele mostra que Bento XVI disse a mesma coisa é mostrando Bento XVI defendendo a abstinência para conter a AIDS e dizendo que a camisinha pode ser usada em último caso.

Bom, eu não me lembro de ver o Papa Francisco defendendo a abstinência quando falou da zika. Nem que a camisinha era o último recurso.

Reinaldo Azevedo ainda condenou aqueles que condenam o Papa Francisco e não sabem nada de questões da Igreja.

Bom, que o povo brasileiro não sabe nada do que significa ser católico, não tenho a menor dúvida, de que aqueles que são imprensa não sabem nada do que é a Igreja Católica, a Veja já provou isso várias vezes.

Dito isso, então vamos ver quem sabe. Eu tenho três diplomas teologia católica, mas eu não me considero tão apto para opinar sobre a doutrina social da Igreja em matéria de sexo.

Então, vamos ouvir uma autoridade reconhecida mundialmente, Edward Peters (foto acima), para ver se eu tenho razão de ficar triste com as palavras do Papa.

Primeiro, deve ser dito que apoiar opinião apenas em especialista é uma falácia conhecida, mas, em todo caso, serve para aprumar a discussão. Segundo, deve ser dito que Edward Peters é muito educado e respeitoso com a Igreja, como deve ser qualquer cristão. Mas muitos que respeitam a Igreja já atacaram fortemente o Papa. Eu lembro inclusive que quando o Papa Francisco estava na Bolívia, o Reinaldo Azevedo disse que não considerava o Papa Francisco como seu Papa, pois o Papa tinha agido muito em apoio ao comunismo bolovariano.

Vamos  ver o que disse Peters sobre a entrevista do Papa Francisco de ontem, quando ele defendeu contraceptivos para conter a zika e chamou Donald de Trump de não cristão.

Peters tem um blog chamado In the Light of Law.

Em suma, Peters condena o que disse o Papa em todos os aspectos.

Item 1, condena o que o Papa disse sobre uso de contraceptivos.

Item 2, prova que Trump é sim cristão.

Item 3, condena o que o Papa disse sobre "mal menor" para usar contraceptivos.

Item 4, comenta sobre quando o Papa Francisco disse que o aborto era um mal "porque era crime"

Item 5, destaca que um país pode sim fazer muros.

Vejamos o texto original de Peters e depois mostro uma tradução usando o Google (não tenho tempo para traduzir).


Seven quick thoughts on the most recent papal presser (Sete Pensamentos Rápidos sobre a mais recente entrevista do Papa Francisco).

February 18, 2016

1. Pope Paul VI, as I understand it, did approve of religious women threatened by rape using contraceptives. It is obvious, though, that such measures were taken in self-defense against criminal acts and, more importantly, would have occurred outside the context of conjugal relations. Avoiding pregnancy under outlaw circumstances is not only ‘not an absolute evil’, it’s not an evil act at all. I hope that mentioning this unusual episode in a press chat will not contribute unduly to the world’s misunderstanding of the limitations of Paul VI’s position in this case and of the episode’s non-applicability to firm Church teaching on contraception within marriage.

(OBS: depois de escrever esse post, Peters leu relatos históricos e declarou que o Papa Paulo VI na verdade não permitiu contraceptivos de religiosas. É uma mentira histórica. O que piora ainda mais o que disse o Papa, pois ele mencionou essa mentira)
2. An individual becomes “Christian” by, and only by, (valid) baptism. Donald Trump was apparently baptized Presbyterian, which faith community has valid baptism. Donald Trump is, therefore, as a matter of canon law (c. 204), Christian. Trump might be a good Christian or a bad one—I cannot say, and neither can anyone else. Trump might do and say things consistent with Christian values or in contradiction to them, but his status as baptized, and therefore as Christian, is beyond dispute.
3. There is no legitimate “principle” by which a “lesser of two evils” mayever be licitly engaged in. It is fundamental moral theology that even a small evil action may never be licitly engaged in—no matter how much good might seem to result therefrom and no matter how much evil might seem to be avoided thereby. There are, to be sure, principles by which a good or neutral action that has two effects, one good and one evil, might be licitly engaged in under certain circumstances despite the evil effects; and there are principles by which “lesser evils” may be tolerated(not chosen). But parsing these matters accurately and responsibly requires more time than can be devoted to them in a press conference.
4. Abortion (assuming we are talking about doing an action intended to kill a human being prior to birth, and not just suffering ‘abortion’, i.e., miscarriage) is, Francis observed, always evil. Abortion is not, however, “evil” because it is a “crime”. Not all criminal acts are by nature evil and not all evil acts are crimes. Other factors must be considered lest moral principles and legal principles become confused.
5. The Vatican City State, a sovereign nation, has the right to build, and has chosen to surround itself with, a giant wall. Evidently, building or using a national wall is not a non-Christian act nor a stance contrary to Gospel values. The pope’s criticism of building walls on part of a national border is probably better understood as prudential in nature, not principled.
6. It is important (though some might say it is too late) to distinguish between a Catholic’s stance toward “same-sex unions” and that toward “same-sex marriage”. These are not equivalent terms. Legal recognition of “same-sex unions” might be a good idea, a tolerable idea, or a bad idea, but, per se, “same-sex unions” are things over which reasonable minds (including Catholic minds) may differ; in contrast, Catholics may never approve or support “same-sex marriage”,this, upon pain of contradicting infallible Church teaching, if not of committing heresy.

Tradução, usando Google
1. O Papa Paulo VI, como eu entendo, aprovou que religiosas ameaçadas de serem estupradas usassem contraceptivos. É óbvio, porém, que as medidas feitas em autodefesa contra criminosos e, mais importante, teriam ocorrido fora do contexto de relações conjugais. Evitar a gravidez em circunstâncias fora da lei não é apenas 'não um mal absoluto ", não é nem um ato de maldade. Espero que citar episódios incomum em um bate-papo com a imprensa não vá indevidamente contribuir para a incompreensão do mundo das limitações da posição de Paulo VI, neste caso, e da não aplicabilidade do episódio para entender o ensinamento da Igreja sobre a contracepção dentro do casamento.

(OBS: depois de escrever esse post, Peters leu relatos históricos e declarou que o Papa Paulo VI na verdade não permitiu contraceptivos de religiosas. É uma mentira histórica. O que piora ainda mais o que disse o Papa, pois ele mencionou essa mentira)
2. Um indivíduo torna-se "cristão" por e apenas por  batismo (válido). Donald Trump aparentemente foi batizado como Presbiteriano, que comunidade de fé que tem batismo válido. Donald Trump é, portanto, como uma questão de direito canônico (c. 204), cristão. Se Trump é um bom cristão ou um mau, eu não posso dizer, e nem pode qualquer outra pessoa. Trump pode fazer e dizer coisas consistentes com os valores cristãos ou em contradição a eles, mas o seu estatuto como batizados, e, portanto, como cristãos, é indiscutível.

3. Não existe um "princípio" legítimo para o qual o "menor de dois males" pode ser licitamente engajado. É teologia moral fundamental que mesmo uma pequena ação má não pode não ser licitamente feita, não importa quanto bom pode parecer o resultado de tal situação e não importa o quanto o mal pode parecer a ser evitado. Há, com certeza, princípios pelos quais uma ação boa ou neutra que tem dois efeitos, um bom e um mal, pode ser licitamente envolvidas em sob certas circunstâncias, apesar dos efeitos do mal; e há princípios a que "males menores" pode ser tolerado (não escolhidas). Mas a análise destas questões com precisão e de forma responsável requer mais tempo que pode ser dedicado a eles em uma conferência de imprensa.

4. O aborto (assumindo que estamos a falar de fazer uma ação a intenção de matar um ser humano antes do nascimento, e não apenas sofrendo 'aborto', isto é, aborto) é, Francisco disse que é sempre mal. O aborto não é, no entanto, um "mal" porque é um "crime". Nem todos os atos criminosos são maus por natureza e nem todos os maus atos são crimes. Outros fatores devem ser considerados caso contrário os princípios morais e as questões legais tornam-se confusos.

5. O Estado do Vaticano, uma nação soberana, tem o direito de construir, e escolher cercar-se com um muro gigante. Evidentemente, a construção ou usar uma parede nacional não é um ato não-cristão, nem uma postura contrária aos valores do Evangelho. A crítica do papa de construir paredes em parte de uma fronteira nacional é provavelmente melhor entendida como prudencial na natureza, não de princípios.

6. É importante (embora alguns possam dizer que seja tarde demais) distinguir entre a posição Católica em direção às "uniões do mesmo sexo" e  "o casamento do mesmo sexo." Estes não são termos equivalentes. reconhecimento legal das "uniões do mesmo sexo" pode ser uma boa ideia, uma ideia tolerável ou uma má idéia, mas, por si só, "uniões do mesmo sexo" são coisas sobre as quais as mentes razoáveis ​​(incluindo mentes católicas) podem ser diferentes; Em contraste, os católicos não podem aprovar o "casamento homossexual" sob pena de contradizer o ensinamento da Igreja infalível, se não de cometer heresia.

7 comentários:

Vic disse...

O papa Bento XVI, coerencia em pessoa, quis dizer, pelo que entendi à ocasião, que os que praticavam sexo e possuiam aids, explicou o caso das profissionais do sexo, as prostitutas, que poderiam usar preservativos para evitarem contaminar os outros e nem estariam aí para a doutrina; um mal menor para quem vive da coisa!
Mas nada de liberô geral.
Porém, na época o que houve de mal-entendidos e deformações da fala dele, como sempre; era visado pelos inimigos da Igreja e da midia globalista, incl do Charlie Hebdo, que entrou no fumo...
"Em certos casos, quando a intenção é reduzir o risco de infecção, pode ser, no entanto, um primeiro passo para abrir o caminho a uma sexualidade mais humana".

Pedro Erik Carneiro disse...

Ótimo comentário, caríssimo Vic. Obrigado.
Abraço,
Pedro

Ricardo Lima disse...

Bem, quanto ao senhor Reinaldo de Azevedo, ele é simplesmente um católico "mais-ou-menos", que se acha um católico 100%.

Ou seja, de católico ele tem bem pouco, infelizmente.

Adilson disse...

Bom dia de Sábado, Pedro.

A postagem do dia 18 me acertou em cheio, pois, como você mesmo disse, foi um triste para os católicos (para os católicos, e sabemos de que católicos você estava falando). Percebi que a mesma postagem recebeu muitos comentários e por isso não quis participar da conversa, que estava realmente muito calorosa. Parabéns a todos os que participaram. Foi realmente estrondoso. Mas a postagem de ontem está muito muito muito boa, pois nos trás as palavras de um grande sábio e, certamente, aliviou a mente de muita gente, especialmente a minha. O homem é realmente uma tocha de sabedoria. Quanto ao Reinaldo já parei de ler desde que ele perdeu a capacidade de comparar os fatos, e você mostrou isso no corpo do texto da postagem acima. Quando Reinaldo passou a fazer as mesmas acusações que os loucos que nos governam e nos destroem fazem ao deputado Bolsonaro, vi que Reinaldo era um homem limitado. Reinaldo é mais um moderno que tenta obrigar como os católicos devem se comportar. Eles é um homem vazio de catolicismo, e sequer compreende a coisa mais básica da moralidade católica, que é aceitar o sofrimento, princípio para servir ao Senhor. Eis as palavras do "doutor" Reinaldo: "Que seja mais um passo da Igreja rumo à admissão de que a contracepção é uma imposição da vida moderna, para mulheres e homens, e não agride a dignidade humana". Ele não especifica a que "dignidade" ele se refere: se a do homem mundano ou do homem católico. É! Reinaldo colocou um monte de palavras na boca do papa Francisco! Mas ele não tem a inteligência necessária entender o catolicismo, pois certamente é mais um daqueles que você especifica com a seguinte frase: "Bom, que o povo brasileiro não sabe nada do que significa ser católico, não tenho a menor dúvida, de que aqueles que são imprensa não sabem nada do que é a Igreja Católica, a Veja já provou isso várias vezes".

Pedro Erik Carneiro disse...

Muito obrigado, pelos elogios, meu amigo, feitos em um ótimo comentário. Eu que agradeço.
Grande abraço,
Pedro

Adilson disse...

Novamente, Pedro.

Após meu comentário anterior me mantive concentrado às fontes que você citou e decidi pesquisar sobre um importante papa da história da Igreja, Pio IX. Como considero você um especialista em Direito Canônico, ademais tem uma boa formação, não poderia deixar de fazer mais este comentário. Por esse motivo, quero deixar aqui duas perguntas e adoraria muito se você respondesse,pois acredito que meus questionamentos poderão ser úteis aos outros seguidores do Thyself, os quais considero pessoas de grande sabedoria e dedicação ao conhecimento da Igreja. Eis minhas perguntas:

1) Li algumas partes da encíclica Quanta Cura cujo Syllabus relaciona 80 erros, por por Pio IX chamados "principais erros do nosso tempo". É um documento tremendo. E pergunto: podemos afirmar, a partir deste documento eclesiástico do santo papa Pio IX, que o papa Francisco comete erros contra a Igreja? Ora, o próprio papa Pio IX, que errou muito no início do seu pontificado mas despertou em seguida, entendeu que há limites para a infalibilidade papal;

2) Os recentes erros praticados pelo papa Francisco, especialmente sua simpatização com ideias socialistas que o impede erguer a voz contra Fidel, Obama e outros, têm sido aclamados como bons tanto pelos inimigos da Igreja quanto por clérigos coniventes e participantes de seus erros. Pergunto: se o papa Francisco junto com seus padres e bispos alinhados às suas ideias, publicar documentos clericais contraditórios aos ensinos da Tradição e a documentos anteriores, como o Syllabus de Pio IX, os fiéis podem abdicar de desobedecer?

É isso!

Abraços!

Pedro Erik Carneiro disse...

Caro Adilson,
O Papa Francisco já falou muita coisa contrária à Doutrina da Igreja e tenho certeza que algumas podem ser enquadradas no Syllabus.
O problema é que falar e escrever documentos não atingem a Doutrina da Igreja a não ser se for publicado ex catedra, usando a infalibilidade do Papa.
Além disso, sendo apenas palavras e documentos falíveis, os católicos são livres para desobedecer e criticar, com respeito, claro, e olhando para a Verdade de Cristo.
Abraço,
Pedro