É, esse negócio de oposição não existe no Brasil. Por vezes, eu penso que nós achamos esse negócio de se contrapor ao governo algo ilegal ou imoral. Não entendemos a importância essencial da oposição para a democracia.
No mês passado, os governadores da suposta oposição brasileira (que é maioria entre os governadores), formada pelo PSDB e o DEM, lançaram uma Carta de Maceió, abrindo completamente as fronteiras para o governo. Em um jogo de xadrex, teriam entregado não apenas a Rainha, mas o próprio Rei e ainda teriam gritado xeque-mate para não precisar que a situação abrisse a boca. Não serve de desculpa o fato da dependência financeira dos estados em relação ao governo federal, porque grande parte das dotações orçamentárias são constitucionais e o que não for pode-se revivar a oposição quando o governo não repassa recursos importantes.
Nos Estados Unidos, qualquer governador é provável candidato a presidente e é tratado assim pela mídia. Pensando nisso, os opositores atacam firme o governo em qualquer frente para se apresentarem como alternativa política, aqui, no Brasil, não. A gente só pensa em conciliação.
Mas, como sempre digo, não costumo tratar de política brasileira aqui neste blog. O título desse post é copiado de um artigo do jornalista inglês Christopher Booker, que está falando do Reino Unido e não do Brasil.
Em certa medida, acho até que eles estão mais enroscados do que nós na falta de oposição. O grande ponto positivo para os ingleses, é que lá a população é bem mais atenta sobre questões institucionais e políticas. O nível educacional é bem mais elevado. Com isso, qualquer um nas ruas consegue discutir qualquer problema político ou econômico com profundidade, conhecimento histórico e amplitude de análise.
Mas por que eu digo que eles tem pontos políticos piores do que o nossos?
Bom, porque, para começar, o atual goveno juntou o que seria um partido conservador com um partido da extrema esquerda. Não seria como se juntasse PSDB e PSTU, porque o PSDB não é um partido conservador e porque lá não tem PSTU. A extrema esquerda inglesa é um partido de centro no Brasil, mas mesmo assim é uma anomalia juntar em um mesmo governo a direita com a extrema esquerda. Quem fixou para a oposicão lá, então? A esquerda e a oposição interna dentro do próprio partido conservador, daqueles que não gostaram da guinada aproveitadora para conseguir o poder que o próprio partido fez.
Mas como diz Booker, não há oposição ideológica no Reino Unido que possa se apresentar como alternativa. Não se consegue um partido ou um grupo razoável de políticos que defenda a redução real dos gastos públicos ingleses, que atingem níveis insustentáveis, ou a saída do Reino Unido da União Européia.
A União Européia está em crise sem precendentes, com as ameaças de falências da Espanha e da Itália em 2011, e com a Irlanda enfrentando a pior crise de sua história por fazer parte da zona do euro. E não aparece nenhum partido que defenda a saída do Reino Unido do grupo europeu.
Não há partido que defenda isso, porque os conservadores, para permanecerem no poder, se ajustam às demandas da extrema esquerda. A esquerda, que está fora do poder, sempre aumentou gastos e deseja manter o Reino Unido na União Européia. Sobra um punhado de políticos conservadores insatisfeitos, mas que não têm força suficiente para implementar nada.
No Brasil, pelo menos ainda não tivemos PSDB e PT juntos no governo federal (em Minas Gerais, sim). Mas também não temos nem esse punhado de políticos para se levantar contra: a falta de reformas institucionais que o Brasil tanto precisa, os grandes aumentos de gastos públicos, a destruição institucional na justiça ou no TCU, a invasão do governo no setor privado por meio do BNDES, etc.
Em termos de oposição, os ingleses não têm o que nos ensinar, nem nós a eles. Os dois países precisam muito aprender política e democracia nos Estados Unidos.
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