Hoje deve ocorrer um megaprotesto no Egito, boa parte dele convocado pela Irmandade Muçulmana (emblema acima), contra o governo de Hosni Mubarak. A Irmandade é o maior grupo político radical muçulmano e o mais antigo, foi fundado em 1928 por Hassan al-Banna. Atualmente a Irmandade é ilegal no Egito, mas o governo tolera e sabe quem são os líderes. Já prendeu alguns membros tentando evitar os protestos de agora.
Pelas condições sociais do Egito, nas quais 60% da população vive com até 2 dólares por dia, sou completamente cético dessa história de que é possível adotar reformas políticas e econômicas no Egito pacificamente sem que ocorram protestos violentos e mesmo riscos elevados para a comunidade internacional. Mas Hillary Clinton e Obama não pensam assim, ou apenas dizem que não pensam assim da boca pra fora, por obrigações do cargo.
Eles ressaltam a importância do Egito para manter a paz no Oriente Médio durante os quase 30 anos de governo Mubarak, que assumiu o poder depois que assassinaram Anwar Sadat, que assinou a paz com Israel. Mas Clinton e Obama pedem que o governo abra as portas para negociar com aqueles que protestam e evite fechar a internet e as comunicações no país. Há indícios que o governo já fechou a internet e os telefones celulares.
A primeira leitura da crise no Egito é que ela segue aquilo que ocorreu na Tunísia, em que a população foi às ruas para afastar o presidente Zine Ben Ali, que estava no poder por 25 anos, e no qual a família da esposa dele, Leila Ben Ali, dominava de forma extrema os negócios formais e escusos no país. Até agora não se sabe o que vai resultar a crise na Tunísia, não se tem certeza se será bom ou não. A população tunisiana ainda não está pacificada com a queda de Ben Ali.
Mas no Egito parece que os protestos são movidos por uma crise de sucessão. Mubarak, aparentemente, deve apresentar seu filho Gamal Mubarak para sucedê-lo em 2012. Lee Smith, um grande articulista do Weekly Standard, acha que é aí que mora o problema. Gamal não tem experiência com os militares que asseguram a paz no país, pois na realidade não existe um regime Mubarak, quem domina são os militares. O exército estaria usando os protestos para mostrar que quer dominar a sucessão.
Mas Smith ressalta que ninguém sabe o que são os protestos e por que eles acontecem. Ele diz que há aqueles que odeiam o regime porque ele prende e tortura, há aqueles que querem guerra com Israel e também há aqueles que estão cheios que querem democracia, pois nunca viram outro regime que não aquele de Mubarak.
Mas quais desses grupos têm mais poder? Acho que esta resposta não cabe dúvida: aqueles que se sustentam na doutrina muçulmana da Irmandade, que está trincada no Egito há muitas décadas.
Não sei se o exército vai conseguir controlar os protestos e acho que a ida de El Baradei não estava nos planos. Não tenho certeza que a ida dele é uma boa coisa, nem para o próprio Baradei que está longe do país há muito tempo. A Irmamdade talvez não queira competição. Mas acima de tudo, em suma, ninguém sabe responder bem as perguntas que dão título a este post.
2 comentários:
Pode existir motivo maior do que um povo que "vive" na sua maioria com menos de R$100,00 por mes?
Eles vivem assim há séculos. Nós vivemos também há séculos com os desmandos dos políticos e continuamos aplaudindo e elegendo eles, amigo. Então, seu argumento não é suficiente.
A pobreza, em geral, só ajuda a eleger ditadores e não democratas.
Abraço e obrigado pelo comentário.
Pedro Erik
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