São Tomás de Aquino, o "Doutor Angélico", certa vez, diante de um crucifixo em Nápoles, ouviu estas palavras de Jesus: “Bem tem você escrito sobre Mim, Tomás, o que devo te dar em recompensa?" São Tomás respondeu: “Nada senão a Ti mesmo, meu Senhor". Em latim, São Tomás disse: Nil, Nisi Te, Domine. Em inglês: Naught save Thyself, O Lord.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Mudança Climática - BBC versus James Delingpole
Imaginem que vocês comecem a pesquisar um assunto e, no decorrer do tempo, se tornem especialistas reconhecidos no debate, a ponto de ganharem prêmios internacionais de reconhecido valor, mesmo não sendo academicamente formados na matéria em debate. Agora imaginem que esse assunto envolve muito, muito dinheiro. Isso quer dizer que envolve empregos, prestígio e poder de muita gente no mundo. E que sua posição seja que na verdade o assunto é uma fraude, que é movido a interesses escusos que o mundo deveria esquecer esse assunto. Finalmente, imaginem, que a principal televisão do seu país que tem alcance mundial (isto é, é bem maior do que a Globo) resolva contratar um ganhador do Prêmio Nobel e presidente da principal associação de cientistas do seu país para lhe confrontar durante uma entrevista de 3 horas (!), no qual apenas poucos minutos irão para o ar e sua entrevista será editada.
Este é o caso de James Delingpole, que além de ser jornalista, escreveu vários livros de sucesso e é o ganhador do Prêmio Frederic Bastiat de jornalismo do ano passado, sobre o qual eu mesmo falei aqui neste blog. James Delingpole é um crítico reconhecido mundialmente da idéia de que o homem provoca mudança climática, o chamado efeito antropogênico no clima, ao emitir gás carbônico ou outros gases considerados de estufa.
Delingpole, além de mostrar, com ajuda de cientistas de renome internacional, que a idéia de efeito antropogênico é bastante falha, há inumeros fatores científicos que não sustentam a teoria, ele ressalta que precocupação com mudança climática tem sido grandemente exagerada "pelo número de grupos de interesses que têm poder: cientistas em busca de trilhões para financiamento; agências de caridade ecológicas que dependem de estórias assustadoras para conseguir doações; esquerdistas usando ambientalismo para desenvolver sua agenda anti-capitalista; verdes que acreditam que o homem é lixo na terra e que ele deveria ser punido por meio de impostos e regulações; governos e ONGs que vêem o efeito antropogênico como uma maneira de aumentar impostos e elevar o controle, sendo vistos como resolvendo problemas populares; corporações cínicas que desejam "limpar com verde" suas imagens para receber dinheiro barato do governo para fazer fazendas de produção de energia eólica que não produzem quase nada de energia; e por aí vai."
A BBC contratou Sir Paul Nurse, prêmio Nobel de Química de 2001 e presidente da Royal Society (RS), a mais antiga sociedade de cientistas do mundo, do qual Isaac Newton já fez parte, para lhe entrevistar. Quem não ficaria pressionado? Imaginem sendo entrevistados pelo cara durante 3 horas.
Eu já falei aqui da relação Mudança Climática e Royal Society em um post de 29 de maio do ano passado. Expliquei que depois da reação de muitos cientistas ligados a academia de ciências, a Royal Society passou a ter uma atitude mais cética em relação a idéia de efeito antropogênico no clima, passou a dizer que não há consenso científico sobre o assunto.
Acho que por causa dessa mudança de atitude da Royal Society que Delingpole aceitou a entrevista, uma vez que a BBC continua sendo uma defensora da idéia de que há consenso, mas Sir Nurse é um cientista da RS. Delingpole deixou claro sua surpresa quando a entrevista foi revelando que na verdade o próprio Nurse acreditava no consenso.
O programa gerou um grande estardalhaço por causa de uma simples pergunta de Nurse a Delingpole. E qual foi a pergunta?
Para quem já viu o vídeo acima e entende inglês já percebeu. Lá pelos 2 minutos e 20 segundos, depois que Delingpole deixou claro uma verdade incontestável - ciência não trabalha com consenso - Nurse diz que quer fazer uma analogia.
Nurse diz mais ou menos assim: "olhe se você tiver cancer você vai querer que os médicos tratem você com os medicamentos e métodos em que há consenso para tratar seu cancer, então a ciência tem consenso". Delingpole ficou meio sem fala com a pergunta e depois de alguns minutos (editados) respondeu que a comparação não valia. Esses minutos foram suficientes para que os inimigos de Delingpole dizerem que ele foi pego.
Na verdade, a comparação foi realmente idiota.
A pesquisa médica é feita em mercado aberto com resultados discutidos amplamente, enfrenta pressões do mercado e do governo, há grande fiscalização e os resultados são bem reais. Além disso, que Delingpole esqueceu de mencionar, também nunca há consenso, há o melhor tratamento disponível dentre os diversos fatores, mas as pesquisas sempre continuam.
O tal "consenso" do efeito antropogênico, como o próprio Delingpole esclarece, foi construído politicamente, e aos poucos ficou completamente fechado ao debate científico como o Climategate (liberação de emails entre cientsitas que procuravam "hide the decline" (esconder a queda na temperatura) e proibir publicações de papers que fossem críticos a mudança climática) mostrou. A mudança climática virou um instrumento de poder da ONU, da União Européia e daqueles querem controlar os "ricos países capitalistas". A ciência, como a própria Royal Society reconheceu no ano passado, ficou para trás. E os cientistas para conseguir apoio para as pesquisas tiveram de aceitar o "consenso".
Isso sem falar que não há consenso em nada em matéria de mudança climática. Eu já mostrei aqui alguns papers como um de um brasileiro que mostram isso, e outro que discute o que realmente sabemos sobre mudança climática.
Quem saiu ganhando com a pergunta de Nurse? Os cientistas saberão que a pergunta foi imbecil, os fãs de Delingpole ficarão ainda mais críticos com relação a RS e a BBC, mas a aparente falta de resposta de Delingpole alimentará os verdes. O debate continua, mas hoje, a idéia de efeito antropogênico está em mais sério debate e aos poucos a ciência vai voltando a se mover pela dúvida, não pelo consenso.
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