O padre francês Jean-Baptiste Edart (foto abaixo) é co-autor do livro "Clarifications sur l'homosexualité dans la Bible" (Clarificações sobre a Homossexualidade na Bíblia). Ele deu uma entrevista nos Estados Unidos explicando o assunto. Traduzo aqui em azul a entrevista dele que encontrei no blog Vivicat. Se quiserem ler a entrevista no original, cliquem aqui.
Em resumo, ele explica que a Bíblia mostra claramente sua condenação ao ato homossexual e que o pecado grave do homossexualismo está contido no ato e não na orientação sexual. Leiam a entrevista abaixo.
Q: Quais são as referências a homossexualidade na Bíblia?
Este assunto tem muito pouca cobertura na Bíblia. Isto está relacionado com a ausência de visibilidade do fenômeno, que é uma consequência lógica da proibição do comportamento.
Os textos bíblicos que falam sobre homossexualidade direta ou indiretamente são:
No Velho Testamento:
Gênesis 19:7-8: "Vede! Eu tenho duas filhas que ainda são virgens; eu vo-las trarei: fazei com elas o que achardes melhor. Mas não façais nada a estes homens, porque eles estão hospedados em minha casa".
Juízes 19:23-24: "O dono da casa saiu e pediu: «Por favor, irmãos, não cometais esse crime. Ele é meu hóspede, não façais essa infâmia. Vede, tenho uma filha solteira: vou trazê-la para que façais o que quiserdes. Não façais, porém, uma infâmia contra este homem".
Levítico 18:22: "Não te deites com um homem, como se fosse com uma mulher: é uma abominação."
No Novo Testamento:
1 Coríntios 6:9-10: "Não sabeis que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não vos iludais! Nem os imorais, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os depravados, em os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os caluniadores irão herdar o Reino de Deus."
1 Timóteo 1:8-10: "Sabemos que a Lei é boa, contanto que a tomemos como uma lei. Ela não é destinada ao justo, mas aos iníquos e rebeldes, ímpios e pecadores, sacrílegos e profanadores, parricidas e matricidas, homicidas, impudicos, pederastas, mercadores de escravos, mentirosos, para os que juram falso, e para tudo o que se oponha à sã doutrina,"
Romanos 1:25-27: "Trocaram a verdade de Deus pela mentira e adoraram e serviram a criatura em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amén. Por isso, Deus entregou os homens a paixões vergonhosas: suas mulheres mudaram a relação natural em relação contra a natureza. Os homens fizeram o mesmo: deixaram a relação natural com a mulher e arderam de paixão uns com os outros, cometendo atos torpes entre si, recebendo dessa maneira em si próprios a paga pela sua aberração."
Q: Você citou 1 Coríntios 6:9-10 e 1 Timóteo 1:8-10. Como estes textos devem ser entendidos?
Estes textos contém uma lista de vícios que são apresentados como inaceitáveis para que se alcance o Reino de Deus.
Em 1 Coríntios, duas palavras gregas fazem referência a homossexualidade: "malakos", traduzido aqui como homossexuais, e "arsenokoites", traduzido como sodomitas.
Estes termos são muito raros: 'Malakos" aparece apenas em São Paulo, enquanto "arsenokoites" é a primeira referência em toda a literatura grega.
"Malakos" significa literalmente, "calmo, sedoso, delicado". Em uma relação homossexual, designa o parceiro passivo, mas ele pode se referir a homossexuais prostitutos ou homens afeminados.
O estudo do significado de "arsenokoites" e o contexto sexual claro da lista de proibições invalidam as duas últimas interpretações.
"Arsenokoites" significa literalmente "deitar-se com um homem". Formada pela associação de duas palavras presentes no Levítico 18:22 e 20:13, e que aparece muito provalvelmente no contexto judeu-helenístico. Rabinos usavam a expressão "deitar-se com um homem" tirado do texto Hebreu do Levítico 18:22 e 20:13 para expressar relação homossexual.
Eles não se limitam a pederastia. Todos os elementos parecem suficiente para que a gente afirme que a teoria mais plausível é que o termo se refira a homens que têm uma relação ativa no ato homossexual. O significado de "arsenokoites" permite-nos limitar o sgnificado de "malakos" para o parceiro passivo.
Atos homossexuais, portanto, são considerados extremamente graves, que ofendem diretamente a lei divina. O ensinamento é perfeitamente consistente com o judaísmo da época.
Nenhuma distinção é feita para a questão de orientação sexual, ou a circunstância do ato, nem é indicado. É o ato em si que é condenado.
Q: E Romanos 1:18-32?
São Paulo mostra o ato homossexual no homem e também na mulher como consequência da ira de Deus. Pesquisas estão sendo feitas sobre a natureza precisa desta homossexualidade e da interpretação que deve ser dada a esta passagem.
O apóstolo desejava ilustrar a natureza da falta de Deus. Ele usava a homossexualidade para isso, vício característico de pagãos na tradição judaica.
Baseado em Gênesis 1 e em Deuteronômio 4, ele estabelecia a relação entre homossexualidade e idolatria. Em idolatria, o homem é dominado pelas criaturas que ele adora, assim ele não voltava sua idolatria unicamente ao Criador.
O que ocorre é uma inversão do inicial, plano divino manifestado, entre outras coisas, na diferença sexual. No ato de natureza homossexual, esta diferenciação não é levada em consideração. Isto mostra por que São Paulo considerava que homossexualidade constitui uma ilustração da falta de Deus.
Outra dificuldade de interpretação do texto é o significado de "contra a natureza". Na cultura romana, o adjetivo "natural" caracterizava atos de acordo com convenções sociais.
Assim na cultura greco-romana, além da estrutura masculino-feminino - masculino é a relação dominante - ela governava quem estabelecia a regra moral no relacionamento amoroso.
A alusão a Gênesis 1 em Romanos 1:19:23 convida-nos a ver na "natureza" a ordem desejada por Deus e identificável na criação. Isto é mostrado, entre outras coisas, pela diferença sexual entre homem e mulher, estrutura fundamental desejada por Deus como expressão do ser em comunhão.
Deus desejava a união sexual entre o homem e a mulher, e isto é um desejo divino, ou Lei divina, inscrita na natureza e perceptível pela razão. Homem pode observar isto através de todos os elementos que caracterizam a identidade sexual, sendo a genitália uma dessas coisas.
Se nós desejamos levar em consideração o significado romano do termo, nós podemos dizer que o ato contra a natureza não respeita as convenções sociais estabelecidas por Deus na criação.
A referência a Gênesis 1 permite-nos entender que a proibição não é de jeito nenhum invalidada por questões de "tendências" ou orientação. Todo ato homossexual é na sua materialidade que é contrário ao desejo divino manifestado, se imposto ou consentido.
Atenção literal ao sentido dos textos do Novo Testamento mostra claramente que atos homossexuais são considerados gravemente contrários à Lei divina. É importante entender que esta qualificação moral negativa é a consequência lógica de um coisa mais positiva.
Deus desejava criar o homem para ser uma aliança com ele. Isto é manifestado na diferença sexual. A comunhão entre homem e mulher é a primeira revelação do amor de Deus pelo homem.
A diferença permite a expressão da complementaridade, assim tornando possível o dom das pessoas. O corpo sexuado manifesta isto. O ensinamento da Igreja está em perfeita continuidade com o que a Escritura diz sobre o assunto.
Q: Há aqueles que dizem que há exemplos de relações homossexuais no Velho Testamento. Alguns dizem que Davi e Jonathan tiveram uma relação deste tipo.
O texto em 1 Samuel 18:1-5 mostra gestos e palavras que expressam um profundo relacionamento entre Jonathan e Davi.
Embora os termos usados descrevem uma ligação afetiva real, o uso comum deles no Velho Testamento de maneira alguma permite que vejamos uma relação homossexual. Por exemplo, você pode ver Jacó e seu filho Benjamin no Gênesis 44:30-31. A expressão "amar como a si mesmo" - como a sua alma - é frequente - Levítico 19:18:34.
O verbo amar, no contexto da aliança, tem uma dimensão política, o beneficiário considerado como sócio ou superior. Mais ainda, o presente que Jonathan faz para Davi de suas armas ilustra a transferência de suas prerrogativas, entre as quais estava o direito de sucessão do trono de seu pai. É um gesto político. No texto, no entanto, Davi acaba tomando o lugar de Jonathan - 1 Samuel 23:17.
Outras passagens, elaboradas por Innocent Himbaza em nosso livro, ilustra a amizade entre Jonathan e Davi. Todos os gestos que foram relatados entre estes dois homens, entretanto, podem ser feitos entre pais e crianças - Jacó e Benjamin; entre irmãos - José e seus irmãos; entre padrasto e afilhado : Jethro e Moisés; entre amigos próximos - Jonathan e Davi; entre guerreiros - Saul e Davi, Jonathan e Davi; entre irmãos e irmãs na fé - Paulo e os Efésios. Nós nos arriscamos em interpretar o último de forma equivocada aqui, mas estes são gestos usuais e normais entre pessoas que são próximas.
Nós podemos afirmar que nada nos textos que nós nos debruçamos permite ver qualquer homossexualidade entre Davi e Jonathan, nem mesmo implicitamente. Se em algumas épocas uma expressão é ambígua pelo espírito moderno, lendo no contexto remove qualquer possibilidade.
Q: A Igreja prega o amor ao próximo, mas por vezess é recriminada por colocar barreiras ao amor, uma vez que não entende a necessidade de amor de todo ser-humano. Se a Igreja não aprova a homossexualidade, qual a mensagem de esperança que ela pode dar para uma pessoa que encontra na homossexualidade o meio de se entregar ao amor?
O sofrimento de um homossexual pode ser muito grande e não entendido por pessoas que não experimentam esta situação.
De fato, nosso mundo é marcado pelo amor heterossexual. Mesmo a civilização chinesa, que dificilmente é suscetível a cultura judeu-cristã, também vive esta realidade. Naquela civilização, homossexualidade também é percebida como fora da norma.
A pessoa homossexual experimenta um sofrimento interno atestado por estudos psicológicos, mas ela também sofre do confronto com o mundo que muitas vezes a julga e condena.
Esta rejeição é por vezes violenta. De fato, todo mundo passa uma fase no seu desenvolvimento psicológico de ambiguidade no plano sexual na adolescência. Uma pessoa pode ser, por algum tempo, atraída por pessoas do mesmo sexo, sem ser homossexual! Se este estágio de crescimento é mal vivido e não terminado, ele resulta em sofrimento psíquico.
Subsequentemente, cada confrontação com homossexualidade provocará este sofrimento, o qual será traduzido em comportamento violento. Aprender a considerar uma pessoa homossexual sem reduzi-la a sua orientação sexual pode ser difícil e levar a reconhecer a pobreza pessoal de cada um.
Em face da situação, a Igreja, na fidelidade da Bíblia, reconhecendo que a homossexualidade ativa não é bom para a pessoa, forçosamente afirma, na mesma fidelidade com a palavra de Deus, que toda pessoa, seja qual for sua orientação sexual, tem a mesma dignidade e de maneira alguma deve ser objeto de discriminação injusta. Como cada pessoa batizada, homossexuais são chamados a santidade e a viver aqui e agora no relacionamento vivo com Cristo na Igreja.
A mensagem do Evangelho é a fonte de esperança para estas pessoas e a Igreja testemunha isto. Comunidades cristãs podem ser lugares onde pessoas vêem seus sofrimentos aceitos e entendidos. Assim elas serão então hábeis, com o apoio dessas comunidades, para procurar responder ao chamado de Deus.
Nós temos um magnífico exemplo disto na amizade entre Julien Green e Jacques e Raissa Maritain. Pessoas homossexuais assim testemunham hoje que eles têm sido hábeis para caminhar com o apoio de outros cristãos e construir uma vida feliz. O desenvolvimento de relações amigáveis e fraternais em castidade é um importante passo na cura espiritual e psicológica.
A amizade com Cristo é certamente o principal apoio e guia no caminho. Ele é o melhor dos amigos. Esta amizade é nutrida na vida de fé, oração e sacramentos. O homossexual desejoso na busca de Cristo encontrará um apoio indispensável. Ele quer ser uma aliança com cada um, encontrando a pessoa do jeito que ela é, conduzindo a pessoa para Ele mesmo com o contínuo apoio da misericórdia divina.
É uma longa e difícil trajetória, mas possível. O desenvolvmento da homosexualidade no Ocidente é um apelo para os cristãos criarem novos lugares para ajudar aqueles que estão feridos na sua sexualidade.
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