quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"Se tivesse explodido, nós não estaríamos conversando"

Bob Woodward, famoso jornalista americano que detonou a saída de Richard Nixon da presidência no início dos anos 70, lançou um livro sobre as guerras que o Obama está empreendendo para derrotar o terrorismo islâmico. O jornalista teve acesso a várias reuniões de gabinete e pode, assim,  mostrar o que pensa Obama e seus generais.

Ontem em entrevista a Bill O'Reilly, Woodward disse que a grande diferença entre Bush e Obama em matéria de guerra, é que Bush sentia que tinha uma obrigação moral de libertar o povo sob o jugo de ditadores ou seitas islâmicas (Saddam Hussein e Talibã), enquanto o foco do Obama são as questões domésticas, ele deseja sair o mais rápido possível de qualquer guerra. Gosta de estabelecer datas para saída de tropas. A minha posição é que em guerra não se pode determinar tempo e que o Estados Unidos devem derrotar os ditadores que alimentam o terrorismo também por uma questão de segurança doméstica.

Um detalhe do acompanhamento das reuniões com Obama e que está levantando muita discussão nos Estados Unidos, é que em certo momento Obama diz que os Estados Unidos podiam "absorver" um ataque terrorista até maior que o de 11 de setmebro de 2001 porque o país é forte e tem uma população resistente. Foi uma frase realmente infeliz, ninguém, muito menos um presidente, pode dizer isso.

Mas como estratégia de guerra, o livro de Woodward confirma o que muitos analistas dizem: o problema está no Paquistão, país aliado dos Estados Unidos.

No início de maio, um cidadão norte-americano nascido no Paquistão chamado Faisal Shahzad tentou explodir uma bomba na Times Square em Nova Iorque. A bomba não explodiu, mas os Estados Unidos consideram que o ataque terrorista foi um sucesso pois nem a inteligência americana nem a paquistanesa previram ou inibiram o ataque. Por isso, o general James L. Jones disse em meados de maio ao presidente paquitanês Asif Ali Zardari que "se bomba estivesse explodido, eles não estariam tendo aquela conversa". Isto é, os Estados Unidos teriam entrado com força total sobre os terroristas que estão se abrigando no Paquistão.

Bob Woodward disse que  a administração Obama reconhece que um dos grande problemas para derrotar o terrorismo , considerado o "cancer", é que o Paquistão não é confiável como aliado. A corrupção e a adesão de muitos militares e agentes de inteligência do país ao Talibã e a al-Qaeda evitam o sucesso das ações militares norte-americanas. Os próprios paquistaneses estão fornecendo abrigo aos terroristas.

Grupos terroristas ligados ao Talibã, como o Tehrik-e-Taliban (TTP)Lashkar-e-Taiba (LeT), estão sendo protegidos por membros da inteligência paquistanesa e estão planejando ataques aos Estados Unidos, por meio de pessoas que têm passaportes com fácil trânsito dentro dos Estados Unidos.

Obama pediu quatro coisas ao governo paquistanês: plena entendimento entre os serviços de inteligência, mais cooperação em ações com o terrorismo, rapidez na aprovação de visto de americanos para atuar no Paquistão e acesso a listas de passageiros de aviões.

Por outro lado, Zardari (e o próprio Estados Unidos também) tem que lidar com uma população que não gosta dos Estados Unidos. A população, em geral, acredita que foram os Estados Unidos que planejaram os ataques de 11 de setembro.

Ontem, no jornal Wall Street Journal, Bret Stephens mostrou uma pesquisa da Universidade de Maryland que mostra que apenas 2% dos paquistaneses acreditam que foi a al-Qaeda que atacou as torres gêmeas em 11 de setembro de 2001.

Os Estados Unidos está atacando por meio de bombas teleguiadas algumas regiões do Paquistão, com autorização do país, para derrotar algumas células terroristas. Mas ainda há bastante fragilidade e a conclusão dos generais é de que é necessário "some boots on the ground" (exército nas regiões) para finalizar a guerra no Afeganistão contra o Talibã e reduzir as chances de ataques terroristas da al-Qaeda.
 
Interessante é que hoje há um ótimo texto no Washington Post sobre a guerra contra o terrorismo, que menciona que há relatórios que dizem os paquistaneneses não têm o mesmo senso de urgência dos Estados Unidos, pois o país já sofreu vários ataques terroristas e não entendem por que um simples ataque nos Estados Unidos é visto de forma tão traumática.

Isso mostra realmente uma diferença de civilização!

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