É uma ótima sugestão não só para jornalistas, como para qualquer eleitor. É a gente que paga para que os políticos tenham poder, eles são nossos servos, devem responder todas as nossas perguntas e respeitar a imprensa. Mas geralmente não é assim, especialmente em países com pouca experiência democrática, como o Brasil. Por vezes, pensamos que nós eleitores e a imprensa é que devem servir aos políticos ou ao governo.
Trato aqui de dois exemplos em dois países diferentes de duas perguntas sem medo feitas por um jornalista e por uma eleitora. O primeiro exemplo foi brilhantemente relatado pelo jornalista Augusto Nunes. É o caso do jornalista Danilo Gentili que foi impedido de gravar no Senado depois de fazer uma pergunta ao sendaor Renan Calheiros, reconhecido por seus trambiques. Gentili perguntou:
“Ter você como membro do Conselho de Ética é o mesmo que ter Fernandinho Beira Mar no Ministério Antidrogas?”.
Renan reagiu, chamou a polícia do Senado, que proibiu o jornalista de trabalhar.
Gentili fez, sem dúvida, uma question with boldness. Você até pode achar grosseira, mas em um país de solidez democrática, jamais seria admitido que o jornalista fosse impedido de trabalhar no Senado, onde ficam representantes e servos do povo.
Além disso, a indignação de Augusto Nunes seria capa de jornal em um país sério. Não vi nenhuma capa, nem reportagens em telejornais. Nada, passou em branco essa afronta a liberdade de imprensa. Mas o que esperar de uma imprensa, em que um jornal (Estado de São Paulo) está há mais de um ano sendo censurado pelo presidente do Senado Federal, enquanto outro jornal (Folha de São Paulo) mantém esse representante do povo entre seus articulistas? Isto é, nem a imprensa brasileira defende a liberdade de imprensa.
O outro caso ocorreu nos Estados Unidos ontem.
O Obama foi homenagear as vítimas do 11 de setembro, depois da morte de Bin Laden, visitando ontem o memorial em Nova York. Resolveu convidar os familiares das vítimas para um encontro. Acontece que uma dos familiares resolveu fazer uma pergunta sem medo.
A Fox News entrevistou essa familiar, chamada Debra Burlingame. Ela é irmã do piloto Charles Burlingame que dirigia o avião que foi jogado no Pentágono.
Abaixo tem parte da entrevista dela. Não é toda a entrevista, pois ficaria muito longa (se quiserem assitir a entrevista completa cliquem aqui). Após o vídeo, em azul, relato uma parte do que ela disse mas que não está no vídeo aqui mostrado , porque nesta parte ela descreve o ambiente do encontro com Obama e traduzo também o que ela diz no vídeo (tradução sem ser palavra por palavra)
Burlingame descreve o encontro com Obama - Foi criado um ambiente amigável. Havia comida nas mesas, em uma ambiente agradável, pois todos os familiares se conheciam e alguns há muito tempo não se viam. Em cada mesa, havia uma cadeira vazia que Obama deveria se sentar para conversar com cada família.
Obama chegou como um vizinho que chega para um churrasco, dizendo "oi todo mundo". Ele não se sentou em nenhuma cadeira vazia, resolveu ficar em pé. As pessoas tiraram fotos com ele, abraçaram o presidente, apertaram a mão dele. Obama era o cara mais popular em uma festa que todo mundo queria ir.
Obama chegou como um vizinho que chega para um churrasco, dizendo "oi todo mundo". Ele não se sentou em nenhuma cadeira vazia, resolveu ficar em pé. As pessoas tiraram fotos com ele, abraçaram o presidente, apertaram a mão dele. Obama era o cara mais popular em uma festa que todo mundo queria ir.
Burlingame descreve seu encontro com Obama (essa parte está no vídeo acima) - Quando chegou a minha vez, eu me apresentei e disse que eu era uma das suas maiores críticas, acho que ele ficou surpreso, mas eu disse que no domingo a noite eu fiquei muito orgulhosa dele (por causa da morte de Osama Bin Laden), agradeci muito pelo o que ele fez. Então, ele me abraçou.
Mas eu disse: "Eu tenho uma questão para você". Obama perguntou: qual é?
Eu disse a ele que Eric Holder (Advogado-Geral do país) continuava tentando processar os agentes da CIA que fizeram os interrogatórios (usando métodos próximos de tortura) para conseguir as informações que levaram ao local onde estava Bin Laden. Daí eu falei para Obama: "sei, como advogada, que o presidente não pode interferir no trabalho do Advogado-Geral, mas isso não impedia dele fazer um discurso contra o processo de Holder". Neste momento, Obama respondeu: "Não, não farei isso" e deu as costas para mim e foi embora.Burlingame fez uma pergunta que muitos jornalistas, com medo do poder, não fazem. Parabéns para ela. A pergunta dela virou notícia, está em inúmeros meios de comunicação dos Estados Unidos e ontem, durante o primeiro debate entre possíveis candidatos de oposição, virou tema de discussão.
Bill O´Reilly, que tem o programa mais assistido no horário nobre da TV a cabo dos Estados Unidos, disse que Obama não irá fazer o que Burlingame pede porque se o fizer perderá o apoio da extrema esquerda americana, que é a fonte de seu poder. E o próprio Obama já declarou que é contra os métodos de interrogatório de Bush, mesmo sabendo que eles foram essenciais para achar Osama Bin Laden. Isto é, Obama colhe os frutos da política de Bush, manteve a prisão de Guatânamo e todas as políticas de segurança de Bush, mas não pode discursar a favor delas.
A hipocrisia foi mostrada por uma cidadã que soube fazer uma pergunta sem medo e não se intimidou com o "ambiente agradável".
2 comentários:
Uma coisa que não entendo é essa Guatânamo... os EUA tem uma prisão, envolvida em diversos problemas, e em Cuba.
Quanto ao Gentili. Não foi a primeira vez que isso aconteceu com ele. Ou foi outro do CQC.
Mas, então, quanto ao pensamento da inversão de ordens (político-povo), muda um dia. Quem sabe nas próximas eleições.
Caro Eduardo,
Há um acordo de 1903 entre cuba e Estados Unidos para que a Baía de Guatanamo seja alugada de forma pérpetua aos Estados Unidos. Hoje Cuba diz que o acordo é ilegal.
Os Estados Unidos usam o local para prender terroristas, pois eles não se enquadram na convenção de Genebra como soldados de um país e os próprios países desses presos não o querem lá.
Sobre os presos de Guâtanamo, eu comentei aqui sobre um relatório. Veja lá: http://thyselfolord.blogspot.com/2010/05/por-falar-em-guatanamo.html
Abraço,
Pedro Erik
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