Muitas vezes quando debato sobre casamento gay, alguém me diz: "Esquece, Pedro, não tem jeito, este negócio vai passar. A história está do lado dos gays."
Eu já falei aqui que o melhor livro que li no ano passado é do filósofo Edward Feser, imagem do livro acima. Ele é brilhante.
Hoje, eu li um artigo que ele escreveu em seu site sobre como o movimento de aceitação do casamento gay e da comunhão para pessoas divorciadas que casaram novamente alcançou o status de moralmente superior ao ponto de achar que a história está do lado deles.
Feser sempre aponta para as fontes filosóficas para aceitação destes erros. O texto é muito longo e merece ser lido com muita atenção. Eu teria um prazer de traduzi-lo todo e passá-lo para diversas pessoas e colocar no blog. Mas não tempo agora.
Vou colocar aqui apenas a sequência de argumentos, a sequência da uma boa ideia do texto. O texto se chama Nudge, Nudge, Wink, Wink (que literalmente significa Cutuque, Cutuque, Pisque, Pisque, mas quer dizer "Vá empurrando o argurmento até que todos aceitem").
Aqui vai a sequencia de argumentos do texto.
1) Inicialmente, Feser fala da tese de H.P.Grice que se chama "implicature", que é o ato de implicar uma coisa dizendo outra coisa. Um dos exemplos para explicar implicature é: você está olhando para um quadro e alguém lhe pergunta se você gostou da obra. Você responde que gostou da moldura (o que implica que você não gostou da obra do artista).
Outro exemplo: você teve um encontro às cegas com uma pessoa, depois do encontro alguém lhe pergunta se você gostou do encontro e você responde que gostou do restaurante (o que implica que você não gostou do encontro).
2) A abordagem da implicature foi usada no artigo Why Homossexuality is Abnormal, no qual o autor (Micahel Levin) explica que qualquer legislação em favor dos homossexuais "implica" uma ação bem maior, implica que a moral foi alterada, o impacto é bem maior do que o ato de legislação, é uma mudança cultural, todos devem aceitar a homossexualidade como natural e normal.
Isso agora é fato na sociedade. Diz Feser:
Same-sex marriage” and antidiscrimination laws are now routinely defended, not on grounds of neutrality, but on the basis of the decidedly non-neutral judgment that moral (or any other) disapproval of homosexuality can only possibly stem from bigotry, ignorance, religious fanaticism, or plain mean-spiritedness. As Justice Scalia famously complained, opponents of “same-sex marriage” are now treated as if they were the “enemies of the human race,” and their defeat is widely regarded both as a moral imperative and the inevitable next stage in the progress of civilization. Meanwhile, whether out of fear, lack of conviction, or both, the most prominent conservatives don’t even bother to address the fundamental moral question anymore, but feebly retreat into considerations of secondary importance, such as federalism or judicial activism. And even then, everything they say is hedged with panicky assurances of their tolerance and compassion. The moralistic fervor is now all on the liberal side, and as any serious conservative should know, you cannot beat moralism with quibbles about procedure.
So, the “dominant narrative” on the pro-“same-sex marriage” side is: “We have the moral high ground, history is on our side, and conservatives’ retreat from the moral field, desperate resort to secondary issues, and semi-apologetic, defensive presentation show that deep down they know it’s true.” Now, judges, lawmakers, and political candidates know that this is the “dominant narrative,” and they know that “same-sex marriage” advocates and society at large know that they know it.
Traduzindo o argumento acima, as legislações que ocorrem em favor dos casamento gay fazes as pessoas que defendem a homossexualidade posicionarem como moralmente superiores. E segundo elas, a "história está do lado delas". Os que resistem a aceitação do casamento gay são tratados como inimigos da humanidade.
3) Depois de algumas considerações, Feser, que é católico, passa a falar do comportamento da Igreja Católica.
Ele disse que os elogios às causas gays e o silêncio do clero "implica" aceitação da cultura gay dominante. E também é o caso da aceitação dos divorciados.
O que os críticos da Doutrina da Igreja querem é alterar a Doutrina e a Teologia completamente, para que a Igreja aceite toda a agenda esquerdista: casamento gay, comunhão para divorciados que se casam novamente, mulehres como padres, etc.
O resultado do último sínodo "implicou" a aceitação da Igreja a esta cultura esquerdista. Dizer que homossexuais são bem-vindos "implica" em aceitar o casamento gay. Não é culpa totalmente da imprensa que distorce os textos da Igreja, as ações dos membros do clero "implicam" aceitação.
4) Feser então explica como as coisas chegaram a este ponto de quase destruição dos ensinamentos de Jesus.
Ele coloca dois fatores:
- O Abandono da escolástica, do tomismo, da tradição da Igreja, que exige definições precisas e lógicas.
The first is what I have identified elsewhere as the chief cause of the collapse of Catholic apologetics, dogmatic and moral theology, and catechesis: the abandonment of Scholasticism. Thomists and other Scholastic theologians and philosophers, and the churchmen of earlier generations who were given a Scholastic intellectual formation, emphasized precision in thought, precision in language, precision in argumentation, precision in doctrinal and public statements, and extreme caution about novel theses and formulations which might undermine the credibility of the Church’s claim to preserve and apply doctrine, and not manufacture or mutateit. Say what you will about the (purported) limitations of Scholastic theology and philosophy, there was, in the days when Scholasticism held sway, never any doubt about exactly what a statement from a bishop or from the Vatican meant and about exactly how it squared with Catholic tradition.
Por exemplo, por dois milênios o clero declarou que é necessário conversão à Igreja para a salvação, hoje em dia se fala em diálogo com todas as religiões e se condena o proselitismo (eu falei disso aqui no blog).
- O segundo fator é aceitação do liberalismo, que implica que a vontade é superior ao que é certo e errado. A verdade é superada pela vontade. O liberalismo quer "libertar" o individuo de todas as supostas amarras culturais, políticas e religiosas. Não se deve conter a homossexualidade, pois ela seria um ato de liberdade. A liberdade virou um valor acima de todos os valores. Diz Feser:
Liberalism is the offspring of Ockham’s voluntarism, the prioritizing of the will over the intellect. Press voluntarism as far as it will go and you are bound to conclude that what the will chooses is more important that what the intellect knows. Objective truth itself is bound to come to seem an oppressive imposition on the will. For Aquinas, of course, this has things precisely backwards. The will is subordinate to the intellect, and has as its final cause the pursuit of the objective truth that the intellect grasps. And if the objective truth of the matter is that you deserve a punishment of death, or ought to convert to Catholicism, or ought to restrain your sexual impulses, then it is just tough luck for the will if what it wants is something else. (I speak loosely, of course. It is not really “tough luck” for the will; such submission is what is truly good for the will.)
Now as every Thomist knows, there is some truth to be found in more or less any erroneous system of thought. Hence there is, naturally, some truth in liberalism. The free exercise of the will really is a good thing. But it is a good that is subordinate to the higher end for which it exists, namely the pursuit of what is really true and good.
4) Finalmente, Feser, dá uma palavra de otimismo.
Para reverter as "implicações" das palavras imprecisas e do silêncio, só com renomadas e fortes palavras em favor da Doutrina e dos ensinamentos de Jesus.
E reitera, que acredita que assim como superou o arianismo, a Igreja vai superar o liberalismo.
This is not unprecedented in Church history. The Arian heresy exerted enormous pressure on the Church. It had political power, won the support of many bishops, and was difficult to combat because of the ambiguous language in which it was often formulated. Even Pope Liberius, though he did not bind the Church to error, temporized. The heresy took centuries to die out completely. No doubt there were churchmen at the time keen to emphasize the “gifts and qualities” of Arians, to “accept and value” the depth and sincerity of their devotion to the Arian cause, and to affirm the “precious support” Arians provided one another.
In light of what has happened at the Synod, some orthodox Catholics are inclined to channel Kevin Bacon in Animal House, while others are inclined to freak out. Both tendencies are mistaken. The truth is that things are pretty bad, and also that they are not that bad. This kind of thing sometimes happens in the Church. Liberalism will suffer the same fate as Arianism, but it may take a very long time for the Church entirely to flush it out of its system, and things may get a lot worse before they get better. For the moment and no doubt for some time to come, too many churchmen will continue to respond to the liberal spirit of the age with a nudge and a wink and glad-handing bonhomie. But in the end the Church will, as she always does, heed the words of her Master: Let your ‘Yes’ be ‘Yes,’ and your ‘No,’ ‘No.’(Matthew 5:37).
Brilhante, Feser. Leiam todo o texto.
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